01.09.2022: Evento online, organização Brasil/Alemanha, com Fábio Pitta
As mortíferas contradições do capitalismo a partir do exemplo da recente produção de soja no Brasil: alimentos suficientes, mas mesmo assim fome
O Brasil é o maior e mais eficiente produtor de soja do mundo. A produção de soja, por sua vez, não é simplesmente a de um alimento a ser consumido no mundo todo. No capitalismo, entendido como uma maneira dos seres humanos se relacionarem através das mercadorias, toda e qualquer satisfação de necessidades humanas está submetida ao imperativo da obtenção de lucros pelos capitalistas. Tal obtenção apenas pode ocorrer por meio da exploração do trabalho assalariado no momento da produção da mercadoria. Conforme a acumulação de capital avança, os capitalistas concorrem para produzirem cada vez mais rápido, a fim de vencerem a concorrência, disso resulta o desenvolvimento da produtividade do capitalismo. A partir dos anos de 1970, com a intensificação da produção de mercadorias, o trabalha assalariado passa a ser expulso do processo produtivo, travando a acumulação de capital, que passa a ter que se simular nos mercados financeiros para ocorrer. O mesmo acontece com a produção de alimentos, que se tornam commodities num processo conhecido como de financeirização do capital. Principalmente a partir do século XXI, as commodities passam a ser negociadas nos mercados de derivativos de futuros, ou seja, onde apenas seus preços são negociados, muitas vezes sem a entrega física das mercadorias. Os investidores passam a ganhar com o diferencial de preços, o que realimenta as tendências altistas, causa inflação e acaba por formar uma bolha financeira. Como o trabalho vivo fora expulso do processo produtivo, não é mais possível ao capital acumular valor suficiente para se ampliar, cada mercadoria passa a representar menos trabalho para produzi-la, num processo de contradição entre sua materialidade e seu valor. No caso das commodities, seus preços passam então a ser formados nos mercados de futuros, estes determinando os preços presentes das mercadorias e simulando, assim, que o capital está acumulando, embora esteja em crise de sua lucratividade. Os processos de inflação dos preços nos mercados de futuros de commodities passam então a definir a produção de alimentos, como é o caso da soja. Passam inclusive a fomentar a expansão em área e em intensidade, expulsando comunidades de seus territórios, destruindo a natureza e expulsando ainda mais o trabalho vivo do processo produtivo, o que aprofunda a crise da sociedade em que vivemos. Só para termos uma ideia, apostas de investidores fizeram os preços das commodities dispararem ao longo da pandemia e estes estão agora sendo transmitidos para os preços reais destas e criando uma inflação mundial generalizada. As commodities não incluem apenas alimentos padronizados, como o caso da soja, ou seja, também a energia, o petróleo, é uma commodity e seus preços fictícios impactam a economia global. No atual momento de crise do capitalismo, a questão não é a falta de alimento, mas as contradições da sociedade na qual vivemos, as quais conduzem ao aprofundamento da miséria e destruição da natureza, ao mesmo tempo que as commodities passaram a funcionar como se fossem investimentos na ação de uma empresa em bolsa de valores. Na verdade, estamos vivendo sob uma nova bolha financeira que está sendo inflada e que está prestes a estourar.
Organizadores: Comissão Pastoral da Terra – Regional Piauí, Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Grupo Exit Koblenz/Alemanha, Grupo de projeto „Ultrapassar o Capitalismo“, Rede Ecumênica Rhein-Mosel-Saar/Alemanha.
Horário: 01 de setembro de 2022, 15:30 de São Paulo e Piauí/Brasil (Evento Online)
Mais informações em www.exit-online.org e www.oekumenisches-netz.de
Inscrição: Favor se inscrever enviando email para ambos os endereços: info[at]oekumenisches-netz.de / pitta.fabio[at]gmail.com. Após isso iremos retornar com o link para participação no evento.