EXIT! Krise und Kritik der Warengesellschaft nº 12
Johannes Bareuther
O ANDROCENTRISMO DA RAZÃO DOMINADORA DA NATUREZA
Quando, no século XVII, figuras como Francis Bacon, Galileu e Descartes formularam o programa e as primeiras versões dum novo conhecimento da natureza na forma de leis e da correspondente filosofia mecanicista, as atrocidades patriarcais da caça às bruxas atingiam o seu auge na Europa. O presente texto trata desta coincidência histórica marcante. Revela-se que, na realidade, a ciência mecânica da natureza fica a dever-se essencialmente à socialização do valor que se impôs ao mesmo tempo, como já Eske Bockelmann demonstrou. Além disso, porém, também podem ser apontados os vestígios do crime fundador do patriarcado produtor de mercadorias, por assim dizer da “dissociação sexual original”, nas categorias e figuras da nova concepção da natureza. Vestígios que serão apresentados ao longo do texto, em conexão conceptual com a dialéctica entre a dominação interna e externa da natureza e a correspondente dinâmica do sujeito burguês masculino, podendo a dissociação sexual ser assim reconhecida como condição constitutiva da ciência moderna.
Robert Kurz
A LUTA PELA VERDADE
Fragmento póstumo, dirigido contra o mandamento pós-moderno de relativismo na teoria crítica da sociedade. Este mandamento é identificado como resultado da incerteza transitória, no final da época burguesa, em que também o campo de crítica do capitalismo legitimado com as ideias de Marx se apresenta muitas vezes como uma espécie de labirinto para quem está de fora. A resposta pós-moderna a esta situação consiste agora em viver a "perda de todas as certezas" não porventura como problemática, mas em elevá-la a dogma, a nova garantia de salvação, cuja promessa de felicidade consiste em já não ter de se comprometer com nada e deixar tudo em aberto. Qualquer posição determinada, que desde logo não reconheça também o seu contrário, é acerbamente criticada por este dogma. Mas essa imprecisão e ambiguidade não podem ser mantidas por tempo ilimitado porque a própria gravidade da situação de crise está a obrigar a uma definição. O pensamento pós-moderno, ao rejeitar uma nova clareza ou definição de conteúdo e pretendendo ver justamente nessa rejeição o novo em geral, está apenas a apelar ao potencial de barbárie nele adormecido, sendo apanhado de surpresa pela sua própria decisão infundamentada.
Roswitha Scholz
VIVA O FETICHE!
O texto, com o subtítulo "Sobre a dialéctica da crítica do fetichismo no actual processo de ‘Colapso da modernização’. Ou: quanto establishment pode suportar a crítica social radical?", examina em que medida a crítica do fetichismo no actual capitalismo em colapso não constitui ela própria o pano de fundo da ideologia de crise. Se outrora a crítica do fetichismo foi determinada por existências de bastidores, hoje ela existe nas mais diversas cores e formas. Não apenas está infiltrada no discurso da esquerda, mas ocupa mesmo círculos burgueses. E corre cada vez mais o risco de se tornar parte da administração da crise e dum novo entrepreneurship (empreendedorismo). O/a crítico/a do fetiche há muito se move num novo contexto de rede oportunista no declínio do capitalismo, o que ele/ela no fundo também sabe. Em vez disso, será bom ganhar distância em relação à própria história teórica, insistir numa dialéctica de crítica do fetiche e continuar “loucamente” a intervir no sentido do reconhecimento intransigente de uma necessária "ruptura categorial ou ontológica" (Robert Kurz). Por isso é preciso olhar com desconfiança as soluções simples, em termos de uma crítica da dissociação-valor rebaixada, tanto no contexto do seu tratamento científico como também na forma de pseudo-concepções práticas.
Daniel Späth
CRÍTICA DA FORMA E DA IDEOLOGIA DOS PRIMEIROS SISTEMAS DE HEGEL – II
A segunda parte do exame dos textos iniciais de Hegel expõe o “System des Sittlichkeit” [Sistema da eticidade] no qual Hegel dá testemunho detalhado da sua compreensão da dialéctica. O presente texto trata do primeiro sistema deste escrito hegeliano, o “Natursystem” [sistema da natureza]. Depois da relação entre intuição e conceito, desenvolvida por Kant na sua "filosofia transcendental", trata-se de elaborar as ligações epistemológicas entre Kant e Hegel, a fim de classificar tanto a “filosofia transcendental" como a "filosofia do espírito" no que respeita à ruptura categorial entre filosofia do sujeito e crítica do fetiche, entre dialéctica positiva e negativa. Perante este pano de fundo torna-se depois possível uma reflexão detalhada sobre a dialéctica hegeliana, que não em último lugar examina o seu ponto de referência social, assim se evidenciando já nesta primeira parte a parcialidade categorial de Hegel, no interior duma filosofia do sujeito baseada na lógica da identidade.
Roswitha Scholz
APÓS POSTONE
No texto, com o subtítulo "Sobre a necessidade de transformação da ‘crítica do valor fundamental'. Moishe Postone e Robert Kurz em comparação – e a crítica da dissociação-valor", são postas em destaque as diferenças entre Kurz e Postone do ponto de vista do “individualismo metodológico" (incriminado por Kurz). Expressas em termos esquemáticos, essas diferenças funcionam assim: enquanto Kurz insiste em ler “O Capital” como um todo e só depois observar a forma da mercadoria, situação em que o terceiro volume de “O Capital” assume importância, justamente para o processo das categorias reais de um colapso/decadência do capitalismo hoje observável também empiricamente, Postone agarra-se às primeiras 150 páginas de “O Capital” e desenvolve a partir daí o curso do capitalismo, sem consequências em termos de teoria da crise. Postone recorre basicamente à forma da mercadoria, Kurz à forma do capital. Ao mesmo tempo, Postone defende implicitamente um ponto de vista que tende a ser ideologicamente complacente com a classe média, não em último lugar porque coloca em primeiro plano sobretudo a ecologia, enquanto Kurz, bem consciente da questão ecológica, desmascara simultaneamente os interesses de classe média como ideologia; em Postone, no fundo, existe um "limite interno" apenas no plano da ecologia, mas não no da economia. Posto isto, Postone e Kurz (pelo menos no seu último livro "Dinheiro sem Valor") movem-se ambos no plano do capital como processo total. O plano da "dissociação do feminino" em relação ao valor (mais-valia), entendido em termos de dialéctica negativa, não surge em nenhum deles ou surge apenas secundariamente. Da perspectiva da crítica da dissociação-valor, no entanto, os diferentes planos, o plano material, o cultural-simbólico e – last, but not least – o psicanalítico terão de ser relacionados entre si, em seu entrelaçamento dialéctico e simultânea separação, no seu desenvolvimento processual. Só assim poderá ser suplantada a totalidade negativa, para além do individualismo metodológico androcêntrico, bem como do universalismo androcêntrico, o qual, afinal, apenas ele constitui essencialmente a decadência de crise do patriarcado capitalista.