Fodemos a EXIT! !?
Pois agora também nós fomos apanhados/as; depois de o grupo anti-alemão No Tears for Krauts, já há uns anos, ter enviado à revista Phase 2 um artigo falso, que foi aceite e os fez passar por parvos, aconteceu-nos agora o mesmo (ver abaixo), com duas/dois autoras/es da Bahamas usando os pseudónimos Hannah Odenbach / Amelia Xiomara. Começámos realmente por discutir se o texto seria uma farsa; a maioria da redacção acabou por chegar à conclusão de que seria provável que se tratasse de impaciência juvenil, que queria dar à sua inquietação com a Bahamas uma expressão um tanto desajeitada. Uma vez que nunca tínhamos respondido ao artigo da Bahamas contra nós, Das Wundmal der Wirklichkeit. Zur Verleugnung der ersten Natur in der Wertabspaltungskritik [O estigma da realidade. Sobre a negação da primeira natureza na crítica da dissociação-valor] (Gensler/Klingan), decidimos então publicar o antitexto com algumas correcções, mesmo se tudo ainda estava longe de perfeito. Considerámos e consideramos o texto original na Bahamas tão baixo que não vale a pena discuti-lo. Portanto, não há aqui necessidade de uma crítica elaborada, em termos de conteúdo e linguísticos – este o nosso ponto de vista.
Questionámo-nos mesmo, a brincar, se essa crítica a nós feita na Bahamas não seria logo de início uma farsa, pois já conhecemos essas pessoas há muito o suficiente e sabemos do que são capazes; mesmo podendo parecer que a Bahamas, pelo menos desde 2001, se tem tornado uma revista satírica, com um gritante belicismo racista e um imperialismo de exclusão apologético, com tendências para a AfD e os PEGIDA, que afinal apenas pretende dar tanga. Mas essas pessoas são, infelizmente, tudo menos brincalhonas. O caminho percorrido pelos pais fundadores anti-alemães Pohrt e Elsässer, para citar apenas os mais destacados, infelizmente já diz tudo. Nestas circunstâncias, o texto de Odenbach/Xiomara também não pode causar muito dano, o mal estava feito desde o início, pensámos nós. Para as Bahamas nem sequer se pode escrever um artigo falso, disso já elas se ocupam. Mas com a sua acção, entendida como bem "refinada", de lançar um texto falso, Gensler/Klingan provam que perderam qualquer confiança na sua própria argumentação em termos de conteúdo, pelo que foi contraposta à crítica da dissociação-valor uma mera encenação clownesca.
Deixando de lado as gafes estilísticas, o texto falso está correcto no conteúdo em muitos pontos, por exemplo, no que respeita à biologização e ontologização da relação de género. Os/as críticos/as da Bahamas, portanto, sabem perfeitamente onde estão errados/as do ponto de vista da crítica da dissociação-valor; mas, já no texto da Bahamas, não mostravam vontade de debater connosco objectivamente numa boa polémica. O texto falso reafirma a orientação conservadora do texto da Bahamas, que não se limita a operar uma desrealização da hierarquia de género, mas está de facto prisioneira de uma "ortodoxia hiper-masculina" (uma formulação bem acertada, aliás). Com o texto falso pretendem à partida imunizar-se contra possíveis objecções, que estão à vista. O debate de conteúdo com a posição da EXIT! é assim deslocado para um plano meramente formal. Para os/as escribas da Bahamas trata-se sobretudo do estilo, de tautologias, da maneira de escrever, da gramática, da ortografia, etc. Uma pessoa teria de possuir informação detalhada sobre os debates na esquerda acerca de cada peido, a fim de entender as suas alusões, ou então ter aprendido de cor os textos de Lilli Gast, a fim de desmascarar como falsas as suas formulações espúrias. Os/as autores/as da Bahamas vivem obviamente no seu próprio mundo mesquinho e assumem que o resto da humanidade também lá estará, mas atribuem aos outros o carácter de seita. Consideram-se manifestamente o umbigo do mundo, como se não houvesse nada mais importante. Eles atestam aos grupos de esquerda uma centração fecal (seja lá isso o que for), mas eles próprios, na sua fixação anal, não estarão longe disso. É simplesmente ridículo exigir de nós uma verificação de cada citação e depois ainda saber se Rank e Ferenczi tinham barba ou não. Na sua mania da correcção, não ficam nada atrás dos pequenos comerciantes de computadores em actividade obsessiva, que de resto têm em mira.
Acreditamos à partida nos autores convidados e não farejamos constantemente uma farsa por antecipação. Mesmo agora, não vamos garantir que algo assim não volte a acontecer no futuro, logo que um texto, independentemente disso, atinja razoavelmente o tema – ainda que talvez nos pudesse ter desconcertado o facto de o texto falso estar escrito de forma tão desarticulada como a publicação da Bahamas, que pretendia criticar. Além disso acreditamos que as partes responsáveis da esquerda procuram debater connosco em termos de conteúdo e polemicamente, não se deixando distrair com manobras evasivas infantis e tolas, à la Bahamas.
O procedimento dos/das autores/as da Bahamas também mostra, o nosso ver, que a coisa está a fermentar no ambiente anti-alemão e por isso se tem de recorrer a truques baratos. Surpreende-nos a importância que temos para a Bahamas, há muito que não temos nada a ver com esse tipo de "antigermanismo" (independentemente de eles ainda assim se chamarem ou não) e consideramos – como já foi dito – que uma discussão sobre isso seria uma perda de tempo. Por essa razão, de facto, também encarámos talvez de ânimo bastante leve a redação e a revisão do texto falsificado. Os comunicados da Bahamas falam por si – e isso significa, no seu caso, contra si. Talvez se devesse aconselhar os/as autores/as da Bahamas a escrever falsificações anticríticas apenas dos seus próprios artigos – as quais são, obviamente, muito melhores que o original –, a desenvolver o seu conteúdo com cuidado, e, em seguida, procurar um bom editor. Então haveria um pouco menos de absurdo neste mundo. Gensler/Klingan, cujo sexo é uma questão que entre si fica, apenas aplicaram um clister a si mesmos/as, com a sua falsificação.
O texto falso e o link para o "outing" vão ficar na homepage da EXIT!, como documentos da mentalidade Bahamas.
Só mais uma coisa, correndo agora o risco de, finalmente, ter um efeito penetrante: Gensler e Klingan continuam a ser sinceramente convidadas/os para o nosso seminário da EXIT! em Outubro. Parece-nos que, quando se trata do terror da exclusão e da viragem à direita, ainda há muito que aprender com algumas pessoas da Bahamas, em termos de crítica da ideologia.
Roswitha Scholz pela redacção da EXIT!, 14.09.2016
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Nota prévia
Que a crise fundamental afecta, além da reprodução material, também a reflexão espiritual é o que se pode ver não em último lugar no interior da crítica social. Os debates conduzidos pela esquerda criticamente desarmada, teoricamente tornada superficial e hoje ela própria se tornando bárbara com as circunstâncias não estão à altura do tempo nem lá perto, aplicando-se isto ultimamente de modo especial às "Bahamas", cuja pretensão de legitimidade no sentido da "teoria crítica" há muito que desapareceu. Assim, eles aumentam o fogo contra a crítica da dissociação-valor. Uma vez que a "crítica categorial", naturalmente, não pode referir-se à ateoria da esquerda encenada em qualquer subterrâneo abandono, nem tornar-se nisso, calha bem que tenha sido enviada para a redacção a seguinte polémica, que aqui documentamos com gosto.
A redacção da EXIT!, Julho 2016
Hannah Odenbach e Amelia Xiomara
Ortodoxia hipermasculina em vez de limite categorial?
Apesar de, ou talvez porque a crítica da dissociação-valor não é entendida por muitos opositores, há anos que ela anda na boca de toda a gente. Assim, por exemplo, um em cada dois artigos da revista “sobre a totalidade” Mole (1) refere-se agora decididamente a Roswitha Scholz. Não se pode aqui explicar com mais detalhe em que medida esses textos fazem justiça à crítica da dissociação-valor. No entanto agora Katharina Klingan e Paulette Gensler, duas críticas da ideologia das quotas, também deixaram a sujeira contra a crítica fundamental da dissociação-valor nalgumas páginas da revista belicista e misógina Bahamas. (2) A seita crítica da ideologia simplesmente não vai dar descanso. Presumivelmente eles também não podem simplesmente fazê-lo porque, caso contrário, quase ninguém leria as suas folhecas. Então têm de evidenciar-se à custa da crítica da dissociação-valor, porque não conseguem produzir algo de teoricamente substancial. Mesmo a crítica do valor fundamental objectivista, felizmente ultrapassada pela EXIT!, era e continua a ser para eles uma farpa cravada nos olhos ensanguentados – e como o ciclope Polifemo na Odisseia rodam agora descontrolados, gritando pelo super-pai – ou melhor, pelos super-pais. No entanto, uma vez que não podem envolver-se com a crítica da dissociação-valor (mais concretamente, colocam-se de forma bastante activa à defesa contra ela), o seu grito é tão sem sentido como o "Ninguém!" do ciclope. Aqui eles consideram-se o valente Ulisses, em que Adorno e Horkheimer já reconheceram de modo equivocado e totalmente a-histórico o sujeito burguês masculino e branco ocidental [MBO], o qual somente foi realizado com o princípio da forma capitalista, ou seja, apenas nasceu do capital. Muito no espírito neoliberal dos seus comparsas androcêntricos tardo ou pós-iluministas, as duas autoras apresentam aqui a tese de um eclectismo sociologístico, segundo o qual o mercado sozinho aboliria já em breve as relações assimétricas de género, ou seja, o "patriarcado produtor de mercadorias" (Roswitha Scholz). O próprio jovem Marx, com o qual a crítica da dissociação-valor de resto não tem nada a ver, teria desafiado para um duelo tais pessoas, que proclamam isto em seu nome. Para o seu projecto, elas constroem uma mistura de biologismo militante e, além do misticismo do valor, agora também um enérgico misticismo maternal. Com este fetichismo uterino formulado cientificamente, partem em cruzada contra a crítica da dissociação-valor, para defender das supostas usurpações da crítica feminista categorial a família burguesa, que até no plano da psicologia social já está sempre sujeita a um princípio formal androcêntrico. Assim se tornam numa criatura bem patética. Elas ladram como um Cérbero pós-moderno que pretende guardar o reino da morte – aqui a crise final – da crítica da dissociação-valor e nem sequer percebe que o tempo desse reino há muito chegou ao fim.
A sua própria matriz, dominada pelos homens e endeusadora do valor, força-as aqui a uma existência de homens que tomam o desejo pela realidade. Na psicanálise por elas considerada supostamente "ortodoxa" – os intermináveis motivos bíblicos ​​desses círculos dão geralmente muito que pensar – isto significa identificação com o agressor, este último na forma dos seus "companheiros" do sexo masculino. Assim, elas são apenas a outra face da medalha androcêntrica em tempos de "asselvajamento do patriarcado" (Scholz), ou seja, a contraparte dos militantemente bonzinhos "adornitas encasacados" (Späth). De forma ainda mais androcêntrica que o marxismo do movimento operário, para elas o feminismo já nem sequer é uma mera contradição secundária, que deve ser ignorada, mas é considerado como “simplesmente inexistente". Apesar de todas as vestes pseudopolémicas elas são afinal tão hipersensíveis que não aguentam de nodo nenhum que Daniel Späth tenha posto o seu sagrado Freud de pé, situação em que mais concretamente nessas circunstâncias com isso ele impediu simplesmente que os executores da "ideologia anti-alemã" (Kurz) continuem a mutilar o Marx exotérico e Freud. Depois de Thomas Maul já ter evidenciado que gostaria simplesmente de "penetrar com seu grupo de apoio nos belicistas ocidentais no estádio de completa paralisia teórica e não na crítica radical da dissociação-valor", o cãozinho fraldiqueiro, que parece considerar-se um cão de guarda, agora recebe portanto apoio, mas, como era de esperar, os "Mujahidin do valor" (Robert Kurz) atiram bem por cima do seu alvo ou visam demasiado curto. Mas quem adoça a boca à redacção dos mares do sul com mel suficiente, garantindo assim um lugar no hall of fame da economia da atenção da crítica da ideologia, pode deixar que lhe dêem uma palmadinha nas costas e imaginar ter aqui havido mesmo crítica da dissociação-valor ou até tê-la atingido. Ambas as autoras alinham assim nesta meta-associação masculina, em que um homem ou especialmente também uma mulher tem de adaptar-se, se pretende obter reconhecimento. Justamente porque a dissociação-valor se consuma num metaplano, também as mulheres, os negros, as lésbicas etc. podem muito bem nele participar, para o que o tratado fornece um exemplo perfeito. Aqui a "Stasi da razão masculina e branca ocidental" (Späth) seria muito melhor que se dissolvesse num círculo evangélico de leitura da Bíblia, podendo aí exercer animadamente a exegese linguística para representar a ortodoxia correcta no seu gesto inquisitorial. Não seria surpresa nenhuma vê-los em breve ao lado dos fundamentalistas defensores da vida, com cruzes às costas através de Berlim. Alternativamente, poderia dar-se-lhes um passe permanente para o museu de história natural mais próximo, para que pudessem continuar a entregar-se ao seu naturalismo, sem continuarem a incomodar aqueles que aspiram a uma crítica da sociedade.
O que resta de momento são aqueles pequenos grupos de nicho, como os fetichistas da universidade No Tears for Krauts que, de modo bastante semelhante ao comediante hipster Jan Böhmermann, que a si próprio se considera um crítico social, gostam de colocar um texto falso na Phase 2, para depois eles próprios o criticarem, saltando duma posição para a outra – o que mostra que os textos, se ainda o são, já são apenas solilóquios. Tanto quanto é presunçosa a crítica à sua própria imitação, assim são tépidas as produções próprias sérias, provando que a própria ideologia, tal como a troca por ela fetichizada, há muito se tornaram insubstanciais. São motivadas pelo "tédio narcisista" (Lasch) e pelo desejo de um "valor de atenção", em vez de terem um assunto sério, o que por sua vez exigiria uma atitude consequente. Em vez de submeterem seus textos "reais" a uma crítica tão fundamental como a dos seus textos falsificados, eles tentam desesperadamente fazer com que a crise final do modo de produção capitalista se extinga com champanhe e caviar. Aqui não constitui surpresa nenhuma que se refiram em grande parte ao comentador Wolfgang Pohrt que entretanto afirma e festeja abertamente o capitalismo. Afinal eles já sempre reforçaram a componente da teoria crítica hostil à teoria e ignoraram alegremente ou até esconderam os aspectos críticos da razão e do iluminismo.
O histerismo selvagem que apesar disso se segue em direcção à EXIT só prova que os seus próprios "limites internos" os obrigam a uma permanente reacção aos outros, pois com o desaparecimento do trabalho abstracto a "substância psíquica" já não pode ser construída sem exterior. O resultado é apenas uma mistura selvagem de citações escolhidas aleatoriamente, cujo contexto provavelmente só existe no inconsciente dos bahamitas – com o que esses exemplares da crítica da ideologia exprimem uma impressão bastante explícita do "inconsciente social androcêntrico" (Scholz). A sua "força" consiste apenas no facto de que eles ainda pioram insuportavelmente a ideologia maternal, que já estava manifestamente presente em Adorno e Horkheimer. O artigo inteiro está, finalmente, desde o início relacionado com o individualismo (metodológico) biologista, que tenta negar a dissociação-valor num plano ou metaplano superior de abstracção, sendo que ela continua a aparecer em toda a parte com toda a clareza; ainda que não imediatamente apreensível na acepção do positivismo. Naturalmente que se referem aqui aos dois revisionistas da psicanálise, Sándor Ferenczi e Otto Rank, – distinguidos sobretudo pela barba – que a crítica feminista da psicanálise Lilli Gast acusou com razão de fetichização da mãe, obscurantização e esoterização. Afinal seria "quase impossível carregar a tocha da verdade através de uma multidão sem chamuscar a barba de alguém" (Lichtenberg). Mas, de qualquer maneira, uma barba não faz um filósofo.
Também as Bahamas parecem agora ter chegado ao sabor da ciência natural ou, como eles dizem, da "bioanálise". Trata-se aqui de um reducionismo darwinista e em parte mesmo lamarckiano, que acaba por desembocar consequentemente numa pura antropologia, diametralmente oposta à crítica social negativa das categorias e que sobretudo critica à crítica da dissociação-valor um "feminismo sem mulheres" (3) ou um "marxismo sem pessoas" (4), por não considerar suficientemente os seus amados pseudo-sujeitos burgueses e em vez disso olhar "por trás das costas" (Marx) dos protagonistas para a história da imposição lógico-categorial do capital e da sua actual dessubstanciação.
O “ser humano em geral”, observado e imediatamente construído do lado anti-alemão, que eles curto-circuitam com o sujeito MBO burguês, teria contudo ainda, no jargão anti-alemão, o desejo da "verdadeira (!) gravidez" (5), "de regressar ao estádio original (!) na água, percorrendo a ascendência animal." (6) Isto é agora mitologia, num plano já insusceptível de ser conseguido por qualquer Homero. O arrazoado é que "a criança anseia por regressar literalmente à (!) mãe." (7) Assim se desloca a auto-proclamada crítica da ideologia para o mundo dos contos de fadas, que já representa sempre uma projeção do desejo e uma narração puramente masculinas e está muito longe da crítica social radical antipatriarcal. Como se o Jargão da autenticidade nunca tivesse existido, eles deleitam-se agora com os mitos da origem característicos dos "caminhos errados" de Heidegger, tratando-se assim, tanto no caso das estradas armadilhadas anti-alemãs como no caso destes, de puros becos sem saída. Precisamente no caso da mini-divisão dos anti-alemães, de quem nunca se sabe muito bem se representam apenas um velho idoso ou um cadáver já morto e que “criticam” incessantemente de modo superficial a ontologia existencial, aplica-se a "ironia da história de que a 'ideologia alemã' da nacionalidade étnica do sangue pode perfeitamente ser instrumentalizada, pelo menos em parte, pelo imperialismo de exclusão de todo o Ocidente" (8).
A partir da sua hipostasiação do prototípico sujeito individual isolado – de acordo com a sua ontologia do sujeito, mais pós- do que tardo-burguesa, de preferência ocorrendo como pessoa jurídica civil do Estado de direito – segue-se imediatamente a negação do inconsciente, tanto social como androcêntrico, uma vez que "foge à determinação." (9) Elas escondem alegremente o facto de se tratar aqui exclusivamente da sua determinação. Consideram a dissociação-valor, que prosseguiu a crítica até ao inconsciente, "uma divisão do inconsciente em duas esferas" (10), sem perceber que estas são apenas as duas faces da mesma moeda. De maneira nenhuma é “passado” algo para o inconsciente social (11), pelo contrário, esse algo apenas foi realmente desenvolvido pela crítica da dissociação-valor.
Naturalmente que a categoria género não é existencial-ontológica, mas feita social e INCONSCIENTEMENTE, em vez de simplesmente “devinda” à maneira heideggeriana-naturalista (12).
Os membros da seita anti-alemã não reconhecem que a própria "dessexualização do sexo" (Adorno) é um índice da desnaturalização do ser humano. É precisamente por isso que a dissociação pós-moderna do desejo na necessidade (a que a Bahamas dá grande valor), tal como formulada Daniel Späth, é muito mais adequada do que o apego às passagens anatómicas de Freud (A anatomia seria o destino) que, por sua vez, os pseudo-investigadores genitais da Bahamas parecem preferir – como também dizem preferir a inveja do pénis androcêntrica à inveja do falo da crítica feminista e, já por isso, retiram o resto do ferrão que ainda existe na intenção psicanalítica. Há muito tempo que já não lhes parece ser possível aplicar a dialéctica ao seu objecto.
Pelo contrário, agora nas Bahamas parte-se de uma "divisão natural do trabalho" entre homenzinhos e mulherzinhas para a "produção" de crianças, com referência aos lugares mais absurdos em Marx e Freud, e consuma-se uma reacção biologista, que intervém mesmo a favor de "ideologias maternais e teorias da vinculação (...), porque ... apelam para uma realidade biológica” (13). Somente as mães e não as mulheres teriam sido oprimidas no "patriarcado produtor de mercadorias” (14), e os homens, como não podem engravidar, não participariam natural e automaticamente na "reprodução natural". Em vez de uma dissociação-valor absolutamente também social e inconsciente, a relação de género assimétrica seria uma decisão consciente das mulheres porque "as mulheres sabem que ganham menos e, portanto, permanecem mais do que os homens em casa para cuidar das crianças." (15) Mecanismos sociais estruturais intensamente androcêntricos, que também se inscrevem perfeitatamente nos indivíduos sem que estes fiquem por isso completamente absorvidos no seu conceito, são focalizados pelas Bahamas em ​​"desejos ocultos" nebulosos e insondáveis das mulheres, assim provando que a sua posição mais faz lembrar As cinquenta sombras de Grey, ou a “usurpação androcêntrica” descrita por Daniel Späth, em que não raramente a violação é explicada com o "desejo" da mulher.
O “recalcamento dos órgãos genitais femininos" supostamente “independente do género…” é considerado na ilha caribenha como humanamente "necessário" (!), uma vez que "as mulheres reais seriam uma estranha (!) recordação". (16) Não se fala aqui nada da socialização do valor, pelo contrário, trata-se de uma constante antropológica que simplesmente não se poderia mudar. Para um homem (ou também para uma mulher) a coisa pode tornar-se extremamente fácil, pois em vez de crítica social faz-se simplesmente pesquisa positivista ou mesmo afirmação da natureza.
Da mesma forma se lê a recusa de uma relação entre valor e pulsão de morte. Elas põem simplesmente de lado a questão da relação dialéctica. Na verdade, é "bastante simples: claro (!) que não ". Assim se pretende proibir a crítica; também relativamente à pulsão de morte induzida pela crise temos de "recusar-nos a usá-la politicamente." (17) Deve-se percebê-la de modo naturalista e não de outra forma. Tudo isso só serve para rejeitar a importância fundamental da concorrência universal e da crise final para o surgimento da pulsão de morte. A pulsão de morte seria então, supostamente segundo Freud, até mesmo a pulsão da sorte (!), (18) com o que o ser para a morte de Heidegger corresponde inteiramente ao ser para o valor anti-alemão, em que o valor prometeria uma vida com sorte. Na medida em que estão comprometidas com o valor androcêntrico e seu princípio formal psíquico, elas também têm de ser duramente atingidas pelas até agora (!) três feridas narcisistas que foram inflingidas aos anti-alemães: Robert Kurz, que por meio da teoria da crise categorial retirou ao valor a sua pretensão de eternidade e provou em seus escritos sobre as guerras de ordenamento mundial que o Ocidente não é um refúgio para a liberdade; Roswitha Scholz, cujo desenvolvimento da crítica da dissociação-valor suplantou tanto a crítica do valor fundamental objectivista como as três ondas do feminismo redutor e com isso apresentou a primeira reformulação abrangente de uma crítica do capitalismo crítica do patriarcado; e a abrangente crítica do iluminismo e da razão de Daniel Späth, que agora também se dirige ao domínio da psicanálise e ao seu tema central, o complexo de Édipo.
A acusação de que a crítica da dissociação-valor apenas pode ser provocada por já não ser possível "ganhar o pão como teórico profissional" (19) é um daqueles individualismos metodológicos pessoais tipicamente bahamitas. O próprio Robert Kurz acabou por observar que "o toucinho do passado fordista é muito grosso ainda" e por isso a teoria da crise não pode motivar uma pessoa em termos individualistas. Ele também fez notar que em vez de "lógica e verdade absolutas" (20), como as Bahamas dizem denunciatoriamente, se deve dar “particular atenção ao problema da lei da negação da negação" (Kurz). O terciário fazer do fetiche do valor o palhaço da aldeia, que não existe em Marx, mas que apenas positivistamente teve de ser criado, explica assim "a totalidade quebrada da pós-modernidade tardia" e responde a esta com tentativas cada vez mais repetidas de exclusão pública da crítica radical da crise e do patriarcado, com propósito auto-tranquilizador. Deste modo colocam os seus próprios "limites sócio-psicológicos" (Späth) de forma descaradamente aberta. Com a sua negação da "substância psíquica" elas aproximam-se do parentesco com Jacques Lacan, cujos desabafos linguisticamente reducionistas seguiam justamente aquele mesmo reflexo.
Ora, cão atingido pára de ladrar. Poderia então contrapor-se confiadamente que os cães que ladram pelo menos não mordem; mas não é assim tão simples, pois, por um lado, eles ladram por causa das observações de Daniel Späth e, por outro lado, representam ao mesmo tempo um belicismo militarista. Há os tais neocons e fãs de Trump alemães que querem rasgar o véu da cabeça de todas as mulheres, mas não estão em posição de as colocar porta fora, ou seja, trata-se do "estrangeiros fora!" em embalagem intelectual. Com muita pena sua, no entanto, muito dificilmente os seus irmãos de armas dos EUA virão a correr ajudá-los com um bombardeamento de superfície contra a EXIT. Resta-lhes portanto – completamente sozinhos – apenas joguinhos psicológicos, aquele "psicologismo para pobres" que Robert Kurz e Daniel Späth já criticaram suficientemente. Para eles trata-se de denunciar os/as críticos/as da dissociação-valor como crianças, e até mesmo de exigir imediatamente um tutor na respectiva redacção. Os anti-alemães já sempre se foram armando em departamento de censura. Mas, mesmo se eles ainda predominam em certos média berlinenses, como a Jungle World ou a Konkret, o fim desse predomínio parece estar lentamente a ficar à vista. Não em último lugar, a crítica da dissociação-valor retira-lhes o ar ideológico que respiram e desmascara os seus textos como uma autêntica farsa. Quanto mais eles ainda tenham em consideração os/as críticos/as da dissociação-valor como sendo "no conjunto gente erudita" (21), tanto mais baixos têm de ser os seus golpes para ainda os/as denunciar. Isto vai tão longe que chega ao ponto de não se coibirem de "recomendar realmente uma terapia psicanalítica" (22) a Daniel Späth – ou seja, ameaçam com aquela forma pós-moderna de alcatrão e penas que antes costumava ser usada de preferência contra o preto, ou contra quem de alguma forma tivesse violado a "razão" e a moral locais. (23)
Depois do assalto ao cadáver de Robert Kurz, agora tentam a sua sorte na falta de atenção a uma cisão na crítica da dissociação-valor. Sendo Anselm Jappe apresentado como alguém com quem "pelo menos ainda se pode falar" (24), é completamente escamoteado que este já explicou muito detalhadamente a sua opinião contra os anti-alemães (25) e que a nosso ver há a este respeito uma posição muito unida nos círculos da crítica da dissociação-valor e próximos. Uma tomada hostil parece, portanto, muito improvável.
A fracção Bahamas parece particularmente atraente para os fascistas da linguagem académicos, que pouco diferem dos pós-modernos, mas que em geral não lidam com a linguagem anti-académica da crítica da dissociação-valor. Também neste plano se reflecte a essência da crítica da dissociação-valor, para o que Roswitha Scholz tem repetidamente chamado a atenção nos seus livros. Quais professoras dum curso intensivo de alemão, as críticas da gramática assinalam agora com gosto qualquer preposição alegadamente errada, a fim de não terem de ir ao conteúdo do que está escrito. O seu nível de crítica linguística corresponde praticamente ao de Bastian Sick (Der Dativ ist dem Genitiv sein Tod: O dativo é para o genitivo a sua morte), mas fica à partida por esclarecer até que ponto esses joguinhos fazem sentido no contexto de uma crítica do pensamento que deve estar identificado. Neste sentido, cada preposição "erradamente" usada, cada vírgula em falta e cada "erro de tradução" devem ser considerados contradições com o “Der Ton macht die Musik! ["O tom faz a música!"] maçadoramente preciosista com a língua alemã e ultrapatriarcal, com o qual os bahamitas tentam infantilizar os seus críticos.
Como Sherlock Holmes, que se tornou tendencialmente um protótipo do sujeito androcêntrico principalmente por suas generalizações misóginos e racistas, com re-edição em numerosos pastiches, essas pessoas cultivam uma relação puramente críptica entre os seus objectos e a linguagem, que julga decifrar em qualquer sequência de signos um acrónimo ou aprónimo com um significado mais profundo por trás. Com Sherlock Holmes, que reverenciou e defendeu Wagner, os anti-alemães também compartilham o seu amor clandestino por anti-semitas como Kant e têm de defendê-los de qualquer crítica. Bem na constituição positivista do detective mestre Holmes, os Bahamitas censuram agora à crítica da dissociação-valor, em última análise, a falta de cientificidade ou da "possibilidade de se provar" a dissociação-valor, sem perceber que a redacção da EXIT, ao contrário dos ideólogos burgueses anti-alemães – esses aspirantes a inimigos do Estado com cátedra –, virou explicitamente o tempo da sua existência contra a vida académica e nunca se contentou com uma carreira nesta. O conteúdo da acusação absurda de "confusão e troca permanente de conceitos psicanalíticos" (26) deveria muito mais ser considerado como uma deliberada limpeza de Primavera na arrecadação dos conceitos, com a qual Robert Kurz começou, enquanto os anti-alemães antes e depois choram como facto consumado a morte do esplendor imperial no museu de cera empoeirado e se animam com recordações. Assim, o reducionismo da teoria crítica parece algo ao nível do passado – está completamente degradado ou corroído. O que resta é apenas uma grelha teórica que já não tem absolutamente nada em comum com o velho e sempre enganoso esplendor do iluminismo excepto a sucata. Quem não quer perceber isto deve antes inscrever-se numa escola de aspirantes a psicoterapeutas e praticar lá o "afiar do conceito", o qual no entanto nunca sairá do século XX. Embora a psicanálise reflectida, que também pode ser considerada perfeitamente como "teoria da constituição da forma psíquica" (Späth), sirva como instrumento adequado de análise da relação entre o indivíduo e a sociedade, ela oferece automaticamente a alguns monoteóricos demasiado zelosos a possibilidade de, por meio de conceptualidades psicanalíticas "ortodoxas", denunciar os adversários políticos de forma inadmissível, ou mesmo patologizá-los como completamente malucos. As antipatias em relação à psicanálise já só são alimentadas pelo uso errado da doutrina freudiana como tecnologia de animação psicologista na batalha ideológica simulada.
Quando a fracção da Bahamas agora escreve que "não querem ter razão", (27) com isso já provam as suas próprias auto-dúvidas aparentemente atormentadoras. Daqui em diante, a “crítica” anti-alemã, chupada da teta há muito seca da razão e do valor, borbureja na superfície social com arranjos de pequena escala, brincando consigo mesma. Pode-se partir do princípio confiadamente que com mais uma ou duas ejaculações deste tipo elas vão engravidar. Por enquanto este artigo é assim apenas outra borbulha rebentada da peste da esquerda, ou seja, "desta aberração da história da decadência da esquerda." (Kurz) Se o título da última edição é "A ilha", continua a ser pouco de esperar que os "yuppies teutónicos" (Roswitha Scholz) alguma vez realmente "emigrem para as Bahamas" (Knut Mellenthin), pois para isso eles são simplesmente demasiado alemães.
Se por uma vez olhassem para si mesmos, poderiam começar a perguntar-se se não será sobretudo o próprio hidrocéfalo burocrático que lhes fez sentir o próprio nascimento como extremamente traumatizante, o que parece revelar-se repetidamente nas suas "sessões terapêuticas e experiências com LSD" (28). Entretanto será aconselhável que as Bahamas não só fiquem de bico calado, mas de preferência mantenham todas as bocas fechadas e canetas quietas, porque o seu ganir é insuportável. Mas ideologia maternal como esta continuará a deparar-se com a crítica, até que essas folhecas acabem finalmente por se dissolver como merecem, sem terem recebido o almejado prémio de abate. Até lá elas são apenas uma forma mais rara e difusa do fenómeno excepcional de teóricos/as cujos textos, mesmo todos juntos, formam somente Hocus Pocus.
(1) http://magazin.umsganze.org/wp-content/uploads/1.pdf.
(2) Katharina Klingan e Paulette Gensler: Das Wundmal der Wirklichkeit. Zur Verleugnung der ersten Natur in der Wertabspaltungskritik [O estigma da realidade. Sobre a negação da primeira natureza na crítica da dissociação-valor]. Bahamas 73. p. 68-78.
(3) Bahamas 73. p. 71
(4) Bahamas 73. p. 74
(5) Bahamas 73. p. 72
(6) Bahamas 73. p. 70
(7) Bahamas 73 p. 72
(8) Robert Kurz: Ökonomie der Ausgrenzung. Der globale Krisenkapitalismus und der Balkan, [Economia de exclusão. A crise global do capitalismo e os Balcãs], então ainda na Jungle World de 05.05.1999 . On-line: http://jungle-world.com/artikel/1999/18/30940.html.
(9) Bahamas 73. p. 69
(10) Bahamas 73. p. 69
(11) Bahamas 73. p. 69
(12) Ver. Bahamas 73. p.70.
(13) Bahamas 73. p. 70
(14) Ver Bahamas 73. p. 76
(15) Bahamas 73. p. 76
(16) Bahamap. 73. p. 72
(17) Bahamas 73. p. 74
(18) Ver. Bahamas 73. p.74.
(19) Bahamas 73. p. 73
(20) Bahamas 73. p. 73
(21) Bahamas 73. p. 69
(22) Bahamas 73. p. 69
(23) Cf.: Ritzmann, Iris: „Aus ‚Jaunerkindern’nützliche Bürger machen. Das Waisenhaus als aufgeklärte Erziehungsinstitution“ ["Fazer das crianças vadias cidadãos úteis. O orfanato como instituição de ensino esclarecida"]. In: Wolf, Butcher, Steinlaus (Hg.): Child Care. Kulturen, Konzepte und Politiken der Fremdbetreuung von Kindern aus geschlechterkritischer Perspektiv [Child care. Culturas, conceitos e políticas da assistência estrangeira a crianças a partir da perspectiva da crítica de género]. Weinheim/Basel: Beltz Juvena 2013 245-259.
(24) Bahamas 73. p. 67
(25) Anselm Jappe: Es gibt sie noch, die guten Deutschen [Eles ainda existem, os bons alemães]. On-line: http://www.exit-online.org/link.php?tabelle=autoren&posnr=330.
(26) Bahamas 73. p. 75
(27) Bahamas 73. p. 70
(28) Bahamas 73. p. 71
Original Wir haben die EXIT! gefickt!? in http://www.exit-online.org.
Tradução de Boaventura Antunes