Greve do Voto

Mortos vivos dominam o mundo

1

Não há nada mais estranho

Que falar de um defunto

Que inda vive pelo mundo

Pode isso?...Eu lhe pergunto.

Prepare-se caro amigo,

Bote tino no que eu digo

Porque esse é o nosso assunto.

2

N’é história de Trancoso

Mas é brabo imaginar

Que uma "alma morta" volte

Do além pra governar

Num jogo de faz de contas

Pois segure aí as pontas

Que essa é mesmo de lascar.

3

Não houve choro nem vela

No enterro dos desgraçados

Porém eles continuam

A jogar, cá com os seus dados

- Eita cena horripilante!

"Nada é mais hilariante

Que o desdém dos finados"

4

Bom, o caso foi assim:

O primeiro que morreu

O seu nome era Trabalho

Quase ninguém percebeu

As tais tecnologias

Acabaram com seus dias

O capital lhe corroeu.

5

Quando ele bateu as botas

O estado foi no roteiro

O estado não produzia

O maldito do dinheiro

Vivia às custas do imposto

Que o trabalho a contragosto

Pagava a seu companheiro...

6

O Trabalho, enfim, morreu

Levando com ele o Estado

E sua tia Dona Política

No caixão bem do seu lado

Um tal de Capitalismo

Com seu santo iluminismo

Lá também foi enterrado

7

Pois ele serrou o pau

Onde ele tava escanchado

- Eis o limite econômico

Por ele mesmo montado

O feiticeiro provou

Do fetiche que criou

E morreu envenenado

8

Nós já falamos do assunto

Pegarei, pois, um atalho.

Espero caro leitor

Passado na casca do alho

Que você tenha então lido

O polêmico e atrevido

Cordel do fim do trabalho.

9

Meu caro amigo eu lhe digo

Que esse papo é palpitante

Mas não vou escavacar

Mais os mortos doravante

A minha língua afiada

Se concentra na finada

Cuja história é intrigante.

10

O fim de Dona Política

Que do estado era espoleta

Foi mesmo um deus nos acuda

Foi guerra de "picareta"

Pobre da Dona Política

Que já vinha bem raquítica

Pou! Bateu a caçoleta

11

Mas saiu da cova rasa

Fugindo dos urubus

Levadas por seus filhotes

Um bando de papangus

Nela fizeram um "serviço"

Uma espécie de feitiço

Do tempo dos brucutus

12

Hoje como alma penada

Ronda as ruas da cidade

E invade as nossas casas

Com a maior facilidade

É a finada Política

A marmota sifilítica

Que voltou da eternidade.

13

Pelas vias de Brasília

Continua ela na espreita

Ainda arrasta correntes

As da esquerda, as da direita

- Coisa sobrenatural!

No cenário mundial

Muita gente lhe rejeita.

14

Faz tempo que ela partiu

Prá cidade do pé junto

Mas os poderes da terra

Cuidam bem desse presunto

Capricham na maquiagem

Pois o que importa é imagem

Prá manter "vivo" o defunto.

15

Pra isso contam com a mídia

A porta-voz do espetáculo

Da tenebrosa matrix

Que é da defunta o oráculo

Quer manter o pensamento,

E nosso comportamento

Tudo sob o seu tentáculo.

16

E nesse balangotango

Da tal barbárie global

Eleitor virou calango

Um refém do capital

A política se extingue

Tudo virou ‘marketingue’

Do espetáculo venal

17

Mas vender não fica bem

Candidatos na tevê

Porém eles sempre vendem

Como produto a você

E tem quem compre o babaca

" Pagando bem cara a paca"

Pra o país ir de arriê.

18

É que a tal democracia

Farsa representativa

Nascida na Grécia antiga

Virou comédia lasciva

Na tal pós-modernidade

É templo da impunidade

E da corrupção massiva...

19

A fraude Lula é um exemplo

Fundiu Fernando um e dois

Governos caldo de bila

Que ele tanto contrapôs

Com Lula agora "infernando"

O brasil vai afundando

Pior pra quem vem depois.

20

Aqui no caso do Lúcio

E também do Juraci

A mesma esculhambação

Que acontece por aí

Do Japão, um dos modernos,

Indo ao quinto dos infernos

Só se escuta o tititi.

21

Falando de Fortaleza

A bandalheira é a tônica

Esquerda e direita unida

A sem-vergonhice é crônica

Montam um estratagema

Para salvar o sistema

Com a velha farsa eletrônica.

22

Pois todos os candidatos

Sabem bem que estão mentindo

Que não tem mesmo saída

Por onde eles estão indo

Que a política já morreu

Nas idéias mofo deu

A tal ética tá se esvaindo.

23

Mas a finada política

Em adiantado estado

De putrefação total

Quer fazer de abestado

"Os tais inocentes úteis"

"Mas a gente ‘samo’ inúteis"

Pra viver encabrestado.

24

É que quando a gente vota

Estamos é transferindo

Nossa função de sujeito

Para quem tá assumindo

O poder no nosso nome

E quando esse assume some

Pra depois voltar fingindo.

25

Assim a cada eleição

Vem um novo fingimento

Seja então no executivo

Ou mesmo no parlamento

A mentira é sempre a mesma

A gente como uma lesma

Fica só no pensamento.

26

O sistema tá lascado

Mas não quer cair sozinho

Não sem antes afundar

O planeta nosso ninho

Tamanho é seu apetite

Aqui tá outro limite

Desse sistema mesquinho:

27

É o limite ecológico...

Bastaram quinhentos anos

Desse tal capitalismo

E este já causou mais danos

Do que seus antecessores

Isso em todos os setores

Fruto dos modernos planos.

28

Eis o antropocentrismo

- Quase toma todo verso

Blá blá blá iluminista

Palavreado perverso

Que nos informa que o homem

Esse pobre lobisomem

É o centro do universo.

29

E foi-se a mata atlântica

Com a galera do Cabral

Todos os ecossistemas

Já estão passando mal

A camada de ozônio

Da natura um patrimônio

Sofre um ataque infernal.

30

O que dizer da Amazônia

A nossa rica floresta

Virou paraíso donde

Moto-serra faz a festa,

Os "Pilatos" lavam a mão

Para essa devastação.

Como salvar o que resta?

31

Era isso a tão badalada

Missão civilizatória

Do dito capitalismo?

Leia-se ação predatória

Do homem branco ocidental

Pensando que ele era o tal

Trouxe foi o fim da história.

32

Pois cientistas calculam

Que nosso planeta Terra

Só dura cinqüenta anos

Se perdurar essa "guerra":

- Desmatamento de empreita...

- Os transgênicos na colheita...

O ciclo da vida encerra.

33

Pensa a maioria que

Grana traz felicidade

Vive em alienação

No mundo da falsidade

Com a política e o trabalho

Esperando o rebotalho

Da própria barbaridade.

34

Porque a história humana

É história tão somente

Das relações fetichistas

Onde a mente engana à gente

Dando às coisas os poderes

Até inventando seres

Que têm dom onipotente.

35

No início criaram os totens

No período da caverna

De deus em deus o dinheiro

O totem da era moderna

Que quer comandar só tudo

Nos botar cabresto mudo

Como escravo à vida eterna.

36

Pelo andar da carruagem

O leitor pegou a pista

A crítica agora arrocha

O sujeito iluminista

Sujeitado ao capital

Não passa dum canibal

Monstro frio e calculista.

37

Nossa vida foi tomada

Por tais fetiches malditos

Somos fruto da cisão

Herdeiros dos mesmo mitos:

Discriminação racial,

Do macho patriarcal

Inda preso aos velhos ritos.

38

Viver num mundo cindido

Não é brincadeira não

Castração do feminino

Fez da gente aberração

Treinados desde meninos

Para sermos assassinos

Bom exemplo de machão.

39

Já pras mulheres o rito

É ser uma fêmea no lar

Ser macho na vida pública

A crise administrar

O mundo ficou complexo...

Que se usa o próprio sexo

Pro mercado enfeitiçar.

40

Isso parece loucura!

Infelizmente não é,

Pois as relações humanas

Viraram hoje esse banzé

Mediadas pelo dinheiro

Cujo poder feiticeiro

Virou profissão de fé.

41

Por isso que defender

A verdadeira política

É papel de demagogo

Pois hoje o gume da crítica

Deve ser contra o sistema

Acabar com essa ‘pustema’

Com os mitos e sua mítica.

42

Mas a nossa paciência

N’é cacimba de areia

Desçamos da arquibancada

Pois a coisa aqui tá feia

Quanto mais passividade

Mais e mais atrocidade

Pelo mundo então campeia.

43

Morte a tudo que for mito

Inconoclasmus agora

Nenhuma imagem será

Preservada aqui nesta hora

Final desse vil sistema

Liberdade é nosso lema

E em nosso peito mora.

44

Vamos então preparar

Uma greve diferente:

Greve do voto que urge

Denunciar consciente

O tal jogo eleitoral

A manobra oficial

Para engabelar a gente

45

Embaixo do pé do boi

Quem fica calado é sapo

Sapo a gente nunca foi

Enfrentemos o sopapo!

Depende da nossa fala

Pra descartar essa mala

E nos livrar desse trapo.

46

Não podemos mais ficar

Comendo na cuia alheia

Quem quer realmente faz

Preparemos nossa teia

Vamos parar de eleger

Cobra para nos morder

Paremos de levar peia.

47

"Há males que vem pro bem"

Diz o dito popular

A falência do sistema

Que acabei de demostrar

Trouxe à luz do dia um tema

O qual tem urgência extrema

Para a gente ‘respostar’.

48

A emancipação humana

É o tema do momento

Nós podemos nos livrar

De tudo que é sofrimento

Mas não existe receita

Uma fórmula perfeita

Para esse procedimento.

49

Porém uma coisa é certa:

A nossa felicidade

Não virá pela política

Mas da nossa atividade

Duma luta diferente

Resgatando realmente

A nossa dignidade.

50

Nós temos algumas pistas

Pra gente se emancipar

Que pode ser a saída

Para revolucionar

Mudar o cotidiano

Para o nosso lado humano

Livremente se expressar:

51

A emancipação humana

É a resposta concreta

Porém sua construção

Não se dá em linha reta

Requer flexibilidade...

Com solidariedade,

Democracia direta:

52

Buscando a sobrevivência

De maneira solidária

Às soluções coletivas

Invés da ação solitária

Pode ser o embrião

Da chamada autogestão

Da vida comunitária.

53

Esses núcleos de defesa

Da nossa sobrevivência

Não deve ficar restrito

Apenas a resistência

À barbárie do sistema

Será uma luta extrema

Pondo fim sua existência.

54

Paralelo a tudo isso

Tocamos a transição

Cada espaço libertado

É mais uma posição:

- Núcleo de contra-poder,

Contracultura e lazer

- Germe de transformação.

55

Isso porque hoje as máquinas

Vão nos substituir

E nós de posse do tempo

Poderemos decidir

Tudo de forma concreta

Democracia direta

É um caminho a seguir.

56

Na Grécia não tinha máquinas

Os escravos trabalhavam

Para que os homens livres,

Que no ócio pleno gozavam,

Pudessem então decidir

Diretamente o devir

Assim administravam.

57

A democracia direta

É o começo do novo

Onde a sociedade nova

Dirigida pelo povo

Decide então produzir

Bens úteis pra dividir

E não pra vender de novo.

58

Esse mutirão jamais

Poderá ser comparado

Com trabalho, pois não é.

Não se produz pro mercado

E sim pra comunidade

Segundo a necessidade

Conforme for planejado.

59

E essa atividade será

Entre todos dividida

Não haverá desemprego

Sobrará tempo prá vida

Esse tempo libertado

É tempo desalienado

Mais vida prá ser vivida

60

Mas a emancipação

Só será efetivada

Se as mulheres atearem

Fogo na fetichizada

Que é base da violência

E da subserviência

Da mulher domesticada

61

E se nós homens também

Junto com as companheiras

Assumirmos essas novas

Idéias alvissareiras

É adeus capitalismo

Fim do patriarcalismo

E de todas as barreiras

62

É deletar o sistema

Truncar a devastação

Salvar o planeta urgente

Encarar nova missão:

- Novas tecnologias

- E fontes de energias

Prá uma eco-produção

63

Pois a luta ecológica

É anticapitalista

Não há como defender

A luta ambientalista

Separado da geral

Luta se contra o capital

E seu viver fetichista

64

Finda também a cisão

Entre gente e natureza

Seremos parte do todo

Que foram pela vileza

Desse sistema separadas

Pois veremos integradas

Nossas vidas na beleza

65

E findaremos por tanto

Com a separação entre a arte

E nosso novo viver

Ela não será encarte

De uma atormentada alma

Mas terá da vida calma

A mais criativa parte

66

Prá isso nós precisamos

Uma coisa compreender

Que não existe sujeito

Preparado prá fazer

Toda essa transformação.

Requer conscientização

Prá poder acontecer

67

É sujeito quem desperta

Outro sujeito prá luta

Pois o capital não aceita

Passivamente a disputa

Pode querer intervir

Prá tentar escapulir

Usando da força bruta

68

A reconquista da vida

Depende de nossa ação

Contra a pulsão de barbárie

Dessa civilização

Violenta e decadente

Fruto, historicamente,

Da sua própria desrazão

69

A nossa felicidade

Deve ser conquista nossa

Ninguém virá nos salvar,

Pois isso não há quem possa.

Emancipação se faz

Por quem se achar capaz

Isso é coisa minha e vossa...

70

Pois a felicidade é

Planeta desconhecido

Que vivemos a procura

Muito o temos perseguido

No esforço dessa lida

Muitos dedicaram a vida

E não foi tempo perdido

71

Pois hoje no mundo há grupos

Que compartilham com a gente

Desses novos pensamentos

E querem seguir em frente

Mudar a rota da história:

- A luta emancipatória!

Para mudar o mundo urgente!

72

Precisamos construir

Esse grande movimento

Que definitivamente

Ponha fim esse tormento

Que aflige a humanidade

Prá termos paz, liberdade,

Prazer e contentamento

73

Esse novo movimento

Será internacional

Que seja a rede do bem

Contra o sistema do mal

Nada de maniqueismo

De guerras e terrorismo

Nossa luta "é na moral"

74

Não terá hierarquia

A rede é horizontal

Cada qual faz a sua parte

Não tem ninguém mais igual

Liberdade de expressão

De crítica e reflexão

Será coisa natural

75

Por hoje vou encerrando

Este informe bem rimado

Fazendo um apelo a todos

Que ninguém fique calado

Desafio outros poetas

Debaterem essas metas

Prá ver o "tarrabufado"

76

Mas de que amanhã se trata?

Nos pergunta outro poeta

Eu respondo na batata

Ser feliz é nossa meta

Se esse cordel ajudar

Mais alguém a despertar

Foi certeira nossa seta

77

Greve do voto é também

Sinal desse despertar

Pois quando a população

As eleições boicotar

Será o fim da tramóia

Político arma tipóia

Eis que o bicho vai pegar

78

Nenhum morto vivo vai

Continuar governando

Esse nosso belo mundo

Nenhum ídolo mandando

Nem novos nem velhos Mitos

Ninguém mais seguindo ritos

O mundo se humanizando

FIM

Critica Radical

Email: criticaradical@bol.com.br

Rua: Pe. Mororó, 952-Centro-Fortaleza-Ce

Fone: (085) 3081.2956

http://obeco-online.org/