Interromper a propaganda da guerra! Em vez de: Em frente para a catástrofe

 

Herbert Böttcher

 

 

A guerra da Rússia contra a Ucrânia está numa escalada cada vez mais perigosa, que pode conduzir a uma guerra mundial nuclear. Em vez do "mais do mesmo" sem sentido, a necessidade do momento seria a interrupção reflectida.

 

O "mais do mesmo" alimenta-se de alucinações ilusórias. É uma ilusão com auto-engano acreditar que, ao fornecer cada vez mais armas – incluindo equipamento pesado –, a NATO não se está a tornar parte da guerra, e que está a fazer tudo para evitar uma escalada nuclear. Na realidade, porém, a NATO está a transformar-se numa parte da guerra e a Ucrânia no campo de batalha de um conflito entre a Rússia e a NATO que tem vindo a aumentar há anos. Este conflito está agora a ser travado numa guerra brutal às costas das pessoas na Ucrânia. Está a exigir cada vez mais vidas, destruindo cidades e aldeias, destruindo meios de subsistência. Os seus efeitos mortais podem já ser observados na deterioração maciça das situações alimentares, especialmente em zonas de África.

 

Cada vez mais novas entregas de armas intensificam e prolongam a guerra, na qual são cometidas as atrocidades que são deploradas e denunciadas, mas a que, ao mesmo tempo, é dado espaço, prolongando a guerra e ameaçando conduzir a uma catástrofe nuclear. Este curso dos acontecimentos clama por interrupção e auto-reflexão crítica! Isto é tanto mais verdade quanto, no decurso da guerra, a NATO está a repetir ou a exacerbar os erros que para ela contribuíram: a sua expansão desenfreada para o Leste combinada com a renúncia ao controlo e limitação do armamento. Este "mais do mesmo" que causa forte perplexidade está agora a ser prosseguido num fornecimento incontrolado de armas à Ucrânia e numa perigosa escalada da guerra.

 

A resistência à auto-reflexão crítica reflecte-se na retórica pomposa, ingénua, simplista e por isso perigosa com que as entregas de armas e o rearmamento são justificados na coligação governamental, sobretudo pelo FDP e pelos Verdes, alimentados na oposição pela CDU/CSU e levados a cabo pelo SPD, ocasionalmente com má consciência e com atraso. Alimenta-se da perigosa contraposição de uma luta do "bem" contra o "mal", do racional contra o delírio. Quando se trata de guerra e armamento, descobrem o seu coração pela humanidade e pelos direitos humanos, a sua sensibilidade para "catástrofes humanitárias" aqueles que não demonstram sensibilidade nem desperdiçam preocupação com a "normalidade" das relações de crise capitalistas, quando refugiados se afogam no Mediterrâneo, são entregues a ditaduras, deportados para a morte, quando a fome é produzida, os meios de subsistência são destruídos e e..., em suma: Quando a liberdade e a democracia ocidentais mostram o lado negativo de morte, destruição e terror, sem os quais não podem "ser possuídas".

 

A exigência de interrupção e auto-reflexão crítica não implica uma justificação da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, mas a sua condenação sem "ses nem mas". No entanto daqui não se pode deduzir qualquer justificação para as acções sem sentido dos Estados da NATO. A auto-reflexão com interrupção face ao agravamento das catástrofes poderia revelar que na guerra pela Ucrânia os actores estão a confrontar-se no contexto do sistema mundial capitalista que está a enfrentar o seu limite interno e a desintegrar-se. É aqui que as alucinações imperiais da Rússia falham, tal como as dos EUA e da NATO. O mundo em desintegração também já não é militarmente 'controlável'. É precisamente isto que as intervenções militares falhadas dos últimos anos sinalizam. Em vez do reconhecimento crítico dos limites e do fracasso, a megalomania está a alastrar. Ela é expressão das relações fetichistas, que são determinadas pelo fim-em-si irracional de multiplicar o dinheiro/capital por amor de si mesmo. Quanto mais este fim-em-si abstracto esbarra no vazio, tanto mais intensamente liberta o seu potencial de destruição. Exige as suas "vítimas normais", o "sacrifício" de cada vez mais pessoas em processos de crise em escalada, e ao mesmo tempo o seu "sacrifício final", na medida em que o vazio do fim-em-si cada vez menos pode ser compensado e a ilusão de grandeza se torna uma ilusão de destruição. Não só os 'indivíduos' correm para o amoque, mas o próprio sistema insano corre para o amoque – executado pelos seus insensatos agentes impulsionados pela alucinação do sistema.

 

Da alucinação determinada pelo fetiche não pode ser derivado nenhum determinismo. É verdade que, no quadro das relações capitalistas fracassadas, não é possível uma saída imanente das crises que se agravam. Mas isto não significa que o caminho para a catástrofe nuclear esteja 'programado'. A interrupção é possível e ao mesmo tempo necessária. Com a exigência de interrupção, é retomada uma palavra de Walter Benjamin. É contra o curso da história rumo a uma catástrofe. A interrupção em vez de "mais do mesmo" poderia abrir uma janela de oportunidade para a reflexão crítica, e interromper caminhos que podem conduzir a uma catástrofe global, muito lá do que vivemos nas catástrofes "normais" do capitalismo de crise.

 

 

Original Die Kriegstreiberei unterbrechen! Statt: Weiter in die Katastrophe in www.exit-online.org, 11.05.2022. Publicado pela primeira vez em: www.oekumenisches-netz.de. Tradução de Boaventura Antunes

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