TRUQUES DE PRESTIDIGITADOR NA BARRACA DOS MALABARISTAS

Chega a ser chocante a forma como o "clã de Nurenberg", nos seus comunicados, primeiro "de Bernd a Claus Peter", depois "de Karl-Heinz a Amir, fundamenta empiricamente, com solicitude recuperadora, o que ao longo de anos fora negado, desmentido e imputado ao reino da fantasia.

Se no documento de Bernd nós, os danos colaterais, ainda fomos acusados de estar na posição de "fiéis" de Bobby, sendo exortados a abraçar a "fé verdadeira", ou seja, a juntarmo-nos às pouco numerosas hostes dos quatro justos, entretanto, segundo o "escrito de justificação" de Karl-Heinz, até já firmámos acordos de dominação, redimimos a nossa "obrigação e dívida" e conjurámo-nos identitariamente com o "psicopata" Robert Kurz.

Ignorando a história moderna, opera-se com concepções de conotação pejorativa, que até na "ciência" burguesa primária já há muito foram decifradas e remetidas ao reino dos enunciados ideológicos; por outro lado, informa-se com toda a candura quais os topoi que podem ter conotação positiva, uma vez que supostamente poderão ajudar a operar uma "libertação". Da primeira categoria fazem parte, em especial, a "vassalagem", a "fé cega", a "obediência incondicional" (todos Bernd), a "humildade", a "obrigação" e a "culpa"; na categoria melhor enquadram-se a "livre vontade", o "indivíduo sensível" (segundo a interpretação de Karl-Heinz) e – estranhamente – outra vez a "culpa". À escala do relacionamento da Krisis, é tentada de um modo perfeitamente irreflectido a linguagem orwelliana do aparelho conceptual burguês constitutivo da ideologia.

Para dizê-lo desde já: Não fiquei nada surpreendida. A este respeito já há muito que eu estava "des-iludida"; e mesmo muito antes de 20.02, data em que se iniciou a nova era da Krisis, a da "doutrina verdadeira" que, no entanto, não consigo evitar denunciar como seu "vazio verdadeiro". Os aprendizes de feiticeiro de Oz apregoam no mercado as suas virtudes, executando diversos fliques-flaques (cambalhota para trás ou para a frente, designada por "revolução"); no entanto, por trás da cortina " amarelo-limão vivo" (o novo grafismo da Streifzüge), não há nada senão a figura emblemática de todas as limpezas, o "homem da vassourada". Vejamos, pois, os seus truques um por um:

SUBSUNÇÃO

A quem se atrever a desmascarar o fogo de vista encenado atira-se com o grande anátema da "subsunção". Não é que faltem subsunções nos panfletos dos "provisórios" – a começar pelo diagnóstico de um comportamento "psicopático" a Robert Kurz; pelo contrário, todas as suas acções são regidas pelo mote com lógica de subsunção, de que o rótulo não deixará de pegar. No entanto, neste âmbito encobre-se inteiramente o facto de que para um exercício de subsunção são necessárias não apenas normas socialmente objectivadas, mas também a "produção" das realidades correspondentes, que em seguida consubstanciarão a "factualidade". Agora, nos tempos da Modernidade, não têm a mínima utilidade a banha da cobra, o coração de lebre, ou o muco de sapo; antes se exige ao mago moderno do tempo objectivado que retire as ocorrências do seu contexto processual e da relação de reciprocidade dos actores; daqui resulta que ele, de ora em diante, pode apresentar entidades estáticas, inseridas num enquadramento de referência igualmente imóvel. Ele "faz" a História em íntimo acordo e de olhos fixos nas normas socialmente objectivas que, por seu lado, assim acabam por se revelar princípios metafísicos; acontece que se trata de máximas imutáveis de proveniência "exterior" que – supostamente – "regulamentam" uma dinâmica processual. Assim, antes de se começar sequer a aplicar a norma, duas coisas têm de acontecer:

  1. A transferência, em função do objectivo, dos acontecimentos para fora do tempo dinâmico, da relação de reciprocidade entre os actores e o contexto que os rodeia, para o eterno presente metafísico da sociedade burguesa,
  2. a depuração do substrato assim obtido de tudo aquilo que não se enquadra nos conceitos da racionalidade, ou seja, nos "grandes universais" (assim John Wycliff, o primeiro "ultra-racionalista").

Se o primeiro ponto pode dar aso a reflexões, ao menos de tempos a tempos, já o segundo ponto pelos vistos continua a enquadrar-se na categoria do "incompreendido", no que diz respeito à nossa tripulação ambulante da barraca dos malabaristas, contrariamente a todas as declarações da boca para fora. É que é precisamente aqui que um homem se pode ver livre da esfera separada do seu próprio ser, passando de ora em diante a poder deleitar-se com o "sensível" em abstracto. Aqui se enquadram com toda a certeza essas normas e os "sentimentos" a elas associados que apenas se foram formando no devir historicamente específico da universalidade abstracta e geral – nomeadamente a igualdade, a liberdade, a livre vontade e – quase me esquecia – a justiça. Tudo o mais que "foi e aconteceu" ou é considerado idêntico a estes "sentimentos" especificamente modernos, ou remetido para o reino da deficiência patológica, para de imediato poder ser aproveitado sobre o tabuleiro de jogo das entidades agora estáticas, como uma deficiência ora "objectiva" de determinados actores, em caso de dúvida evidentemente pertencentes ao campo dos respectivos "outros". O homem entrou finalmente no reino da liberdade e pode saltitar a seu bel-prazer entre os dois pólos da subjectividade masculina, branca e ocidental (um universalismo abstracto e uma "sensibilidade" não menos abstracta). O diagnóstico é elaborado tendo em atenção as normas socialmente objectivas (isto é, por subsunção), para, em seguida – mal cheguei, já parti – se apostrofarem a si próprios como indivíduos "sensíveis" seriamente abusados pelas humilhações, "negações, recusas de reconhecimento etc. Só é pena que toda a factualidade ofensiva do "indivíduo sensível" radique em exclusivo na esfera da sensibilidade abstracta da subjectividade masculina e burguesa.

No entanto mais fatal ainda é que tal implique uma retroprojecção sobre a sensibilidade "no seu todo" e que, por detrás deste padrão argumentativo, espreite um indivíduo humano supra-histórico, para cuja emancipação falta o reconhecimento de uma "conditio humana". Uma vez que tal esteja conseguido e imposto, tudo o mais se resolve – "naturalmente" sem mediação – como que por si próprio. "Quem, como nós, quiser desembrenhar a vida da abstracção" (Bernd) que enverede pela seguinte estrada real dos filósofos: O verdadeiro indivíduo sensível alcança a posse da sua existência no momento em que deixa de ver que a sua sensibilidade já só existe em abstracto. Os ilusionistas kantianos estão entre nós!

VASSALAGEM, FÉ

Perante o pano de fundo do "cenário" assim criado também se torna claro por que é que os ditos "neutros" devem ser integrados à viva força num ou noutro dos "lados". É exactamente a História que não apenas é ou melhor foi "contada" de uma forma pós-moderna, mas que também se tornou "real" com a utilização pelos "provisórios" dos meios de violência da forma burguesa, que já apenas conhece amigos ou inimigos devido à sua essência socialmente constituída– circunstância à qual Franz teve a "simpatia" de fazer referência sem quaisquer rodeios, na sua declaração inicial na reunião da redacção de 20.02. Se a "roda da sorte" das relações de troca dinâmicas entre actores e contextos que se constituem mutuamente for detida por causa da "gestão coerciva" de conflitos burguesa, as bolas em jogo também têm obrigação de ir parar aos campos previamente constituídos e não continuar selvaticamente a vaguear pelo disco. E se o fizerem ainda assim, será, de acordo com o ponto de vista de que "não pode ser o que não deve ser", efectuada a produção da verdade pela imputação e pela associação, e sem dúvida em conformidade com os contornos do delito anteriormente estabelecidos (ver acima).

Todos os que pensam de uma forma equilibrada e justa, portanto todos os que estão obrigados à generalidade burguesa e abstracta, são chamados a – ou melhor: devem – ajudar os que foram lesados nos seus "direitos". Assim as infracções não provocam apenas um abanar de cabeças generalizado, mas também levam a que se atribuam aos insubordinados defeitos semelhantes aos que são assacados ao causador de todos os males antes identificado (e como tal instituído pela via da subsunção) – Robert Kurz. No entanto, visto que talvez se consiga aproveitar o momento do movimento dos irregulares para os seus próprios objectivos, apenas se lhes atesta uma inimputabilidade temporária e constata-se que obedecem a um arcaico impulso de fidelidade dos Nibelungos. Trata-se de um truque dos mais banais do processo burguês de constituição de ideologias! O logro já começa pelo facto de a vassalagem ser representada como uma relação pessoal em que indivíduos concretos juram fidelidade a um outro indivíduo concreto, que é ilustrado de forma concreta como especialmente poderoso (violento?) – por assim dizer, a relação de violência nua e crua a encenar um exercício de obediência preventiva. Esta definição, da qual Bernd é o principal autor, é pura e simplesmente falsa. Se e na medida em que hoje podemos falar em vassalagem, trata-se de uma determinada relação social dos primórdios da Idade Média que, de resto, era uma época em que a maioria das pessoas vivia em várias mediações diferentes ao mesmo tempo. Ainda que Bernd se tenha visto obrigado a aludir ao mítico "tempo dos Germanos", nada pode ser dito a esse propósito, a não ser que os escritores romanos devem ter projectado a sua própria realidade, nomeadamente a relação clientelar, sobre o objecto das suas considerações.

Em todo o caso, a vassalagem da Idade Média primordial era tudo menos concretamente pessoal. Antes se tratava de um acto de auto-condenação mágica no âmbito do princípio de fetiche "salvação", cujo representante era o senhor feudal. Se quem prometia vassalagem faltasse ao seu dever, que não era positivo mas que apenas consistia em uma associação negativa (não fazer mal), ele não prevaricava (de uma forma pessoal e concreta) contra o senhor feudal, mas contra as bases da salvação, prejudicando-se antes de mais a si próprio. A consequência inevitável era a destruição do próprio infiel, não por parte da sociedade, porventura através de actos de vingança, mas pela perda da salvação. Ou seja, já estamos mergulhados no "sobrenatural" marxiano que, no entanto, é o sobrenatural de um tempo de cujas formas de pensamento baseadas em mediações sociais diferentes apenas conseguimos aproximar-nos a muito custo. Plof!, a bolha de sabão rebentou. Mais uma vez deixa de haver um indivíduo sensível e concreto que, de um modo perfeitamente "natural", aspire ou alguma vez tenha aspirado a satisfazer as suas necessidades. Ora aí está, um homem não devia andar a esgrimir conceitos não entendidos para, com os meios de um senso comum burguês, resolver conflitos sem mediação.

Resta ainda a conjuração da fé, que deve pôr os rebeldes nos seus lugares. Contrariamente à vassalagem, a de facto faz parte da Modernidade, já pressupõe um auto-relacionamento (Sou por ser um ente pensante!) e um relacionamento com o mundo masculino, branco e ocidental e constitui o enquadramento ideológico das contradições que resultam da cisão do indivíduo em abstracto-sensível e abstracto-geral. Certamente também antes da Modernidade a fé foi muita e intensa; no entanto, a utilização do mesmo "conceito" faz com que muito facilmente passe despercebido que, no alto alemão antigo, "gilouben" ou no alto alemão médio "gelöven" ("acreditar", raiz: ser amado/ter amor) configurava uma actuação das pessoas constituída através do princípio de mediação da época, a "salvação". Afinal os diversos "movimentos religiosos" da chamada Idade Média, por um lado o misticismo, por outro o ultra-racionalismo (validade dos grandes universais) tinham, perante o pano de fundo da alteração das relações, a finalidade de superarem a relação de mediação social para com a salvação ou o "salvador" e de tornar o Homem acessível de forma imediata, ou seja, privada. O primeiro formulador proeminente da imediatez racional foi o já referido Wycliff, cujos ensinamentos foram avidamente absorvidos pelos artesãos ingleses que pouco antes se tinham tornado "livres" e que inspirou a formação do "movimento herege" dos Lollardos. O conteúdo de fé do credo ora privado e imediato é constituído por um princípio metafísico inalterável, que define a forma do desenvolvimento da dinâmica com base em algo de exterior que, no entanto, em princípio é visível e está disponível para qualquer um por igual, impondo aos apóstatas, que são identificados como elementos perturbadores da ordem, seja ela divina ou natural, penitências ou castigos físicos. Qualquer homem pode agora tornar-se executor da verdade universal e "chamar à ordem" os apóstatas. Ao mesmo tempo uma pessoa está desde logo legitimada, visto que o princípio escapa a qualquer influência humana e atribui privilégios a título individual, como resumiu a doutrina calvinista da predestinação. Não é por acaso que as mulheres, identificadas com a dissociação do valor, são mantidas afastadas desta esfera desde o início da Modernidade, porque neste mundo reduzido, desprovido – e sobretudo abaixo – de um metaplano de reflexão não é líquido que se possa contar com elas.

No entanto, os novos "profetas" da Krisis nem sequer estão interessados em destruir a fé e em desmascará-la como uma estratégia de reconciliação de contradições baseada na forma imanente do pensamento, com um percurso quase sempre sangrento, mas sim em exortar os "neutros" a virarem costas ao seu suposto "deus salvador" Robert Kurz e abraçarem a verdadeira doutrina da Krisis nas pessoas dos provisórios. "Não acreditem em Robert Kurz, acreditem em nós!", clamam os pregadores no seu deserto. É que, como se explicou mais acima, no estado da imobilidade já apenas subsiste um pensamento de conserva (sobre esferas), ou: Um amigo (do homem) é uma pessoa que tem os mesmos inimigos que ele.

Se a socialização burguesa é puramente negativa, por maioria de razão o são as suas "soluções de conflitos". Não basta que o tempo seja detido no seu curso de forma realmente metafísica e a respectiva "História" se solidifique num sucedâneo liofilizado, depurado de todos os momentos que não se encaixem na forma do valor; também os "planetas" em redor devem suspender o seu movimento próprio e arrumar-se no padrão sistemicamente pré-definido. Os "provisórios" não se poupam a esforços para "legitimar" esta sua nova perspectiva com relação aos "neutros" e aos restantes sócios da Krisis:

SOMOS NÓS O POVO (A KRISIS), DIZEM OS "EMBUSTEIROS"

Os milagres não têm fim, como é próprio duma barraca de malabaristas. O público estupefacto, ou seja, "confundido", fica a saber que a "Krisis" existe mesmo duas vezes. Uma vez fisicamente, nas pessoas dos aprendizes de feiticeiros, e mais outra vez, como é de esperar em círculos ilusionistas, como espantalho (quimera destituída de vontade própria), isto é, como associação. No que diz respeito à primeira, à "verdadeira" Krisis, cai-se desavergonhadamente no "jargão da autenticidade", já não se tendo, contrariamente a declarações anteriores, quaisquer problemas em se apropriar de bom grado de uma terminologia heideggeriana de segunda mão (veja-se o "estar com" e "viver com" no "Amir-Papier" de Karl-Heinz) e também quanto ao resto se invoca de forma positiva e despreocupada o "rendimento" quantificado e as qualidades de liderança. Robert Kurz, que disso também é parte "autêntica", infelizmente está "de baixa", devido a um estado "psicótico"; o neutro resto da redacção de qualquer forma "não é produtivo", constituindo um adereço desde sempre apenas tolerado e acessório; o KOK e os sócios da associação, quando muito, apenas figuram como público passivo.

No entanto, terminados os malabarismos, os feirantes, em vez de fazerem a ronda pela assistência com o chapéu para recolher a sua "bem merecida" recompensa, dirigem-se com toda a confiança à associação – que "autenticamente" nem sequer é real – visto que essa forma destituída de conteúdo sempre assegura com alguma fiabilidade que a substância social chegue a eles sob a forma de dinheiro. É para isso – e apenas para isso – que serve a associação; e quem porventura queira colaborar no "projecto" Krisis como sócio, que pague as suas quotas e/ou apenas desenvolva qualquer actividade a mando e sob a supervisão da direcção ora novamente centrada em Nurenberg ("o novo grupo nuclear", Ernst Lohoff). Quem não ficar satisfeito sempre pode "abrir a sua própria loja".

Para além da pura falsificação do rótulo – leia-se o extenso texto na página da internet – a construção apresentada pelos "provisórios" não realiza outra coisa senão a velha e conhecida cisão da subjectividade masculina, branca e ocidental. Do lado abstractamente sensível é afirmado tudo aquilo que assiste e ajuda ao sujeito formado na luta de inclusão (justiça, igualdade, respeito com base em um "rendimento" quantificado etc.); o lado dos factos sociais, a objectividade abstracta e geral, pelo contrário, é representado como obstáculo à auto-realização, embora um homem tome certo gosto por essa forma, tendo em vista o afluxo de dinheiro que ela assegura, fazendo-se "um trabalho de abelha" para que a esse respeito nada mude.

Não admira que entre os nossos „provisórios" a filosofia existencialista celebre uma alegre ressurreição, mesmo que de forma um pouco envergonhada; é que, pelo seu conteúdo, ela descreve pormenorizadamente, e com bastante acerto, o "mundo da vida" moderno de indivíduos que não são capazes de encarar o contexto social de forma crítica ou que – nalguns dos casos – já nem o querem. E como de qualquer forma nos movimentamos num plano hierarquicamente inferior ao meta-plano da cognição, também Hegel pode entrar em acção, relativamente ao plano objectivo da forma. Neste sentido, a relação dos "provisórios" para com a forma social, aqui associação, não representa outra coisa senão uma "negação simples": A forma é "má", mas sem o conteúdo (dinheiro) não querem (eles) viver e para tal recorrem a padrões justificativos que já apenas se limitam a reproduzir a situação na sociedade.

CULPA

Nesta situação a minha proposta formulada na fase preparatória da reunião da redacção, que acabou por ser inviabilizada pelo golpe, foi "naturalmente" subsumida como "pura formalização" e – assim me pareceu – entendida como ataque às bases da sua própria reprodução. A este respeito não apenas não se teve em mente que os próprios neutros mantêm uma relação com a Krisis (como simpatizantes e como projecto a constituir) e com os implicados (redacção, direcção, sócios), mas também "não se deu" pelo facto de que a proposta apresentada nem dá uma conotação positiva à forma, nem a "nega pura e simplesmente". É que ambas as eventualidades teriam exigido uma referência a um dever predeterminado por intermédio da sociabilidade abstracta e geral, ou como o cumprimento da culpa/dívida (= dever), ou como a sua negação pura e simples. Em vez disso fizera-se a proposta de tomar consciência da forma e das necessidades dos envolvidos, sejam as dos protagonistas do "círculo interior" ou as dos sócios e apoiantes da periferia, a fim de se encontrar uma solução que não seguisse o padrão de "crime e castigo" ou "sacrilégio e sacrifício".

A categoria da culpa ou do dever (o que não deixa de ser sinónimo), tal como a relação de sacrifício que a acompanha, já teve uma longa carreira na história oriental e ocidental; embora esta não deixasse de mudar de figura de uma vez para outra, ela sempre foi constitutiva na História das relações de fetiche. Uma superação emancipatória da nossa socialização negativa pressupõe, em minha opinião, a superação da culpa e do sacrifício. Na medida em que, sob as relações vigentes, podemos de algum modo falar em culpa, uma semelhante dever pode unicamente consistir em examinar, com cada contradição que se revelar, se a forma do pensamento que é produzida através do contexto social não deixou já de corresponder à dinâmica social. Neste plano, também poderiam ser levadas em consideração aquelas necessidades e potencialidades que habitualmente são "dissociadas", devido à sua inabrangibilidade pelos conceitos burgueses.

Foi nesse ponto que vocês, os "provisórios", se negaram como o cavalo perante o fosso e preferiram descer a cortina amarela-limão. É melhor deixarem assim e ponham-se a andar.

Com saudações lacónicas

Petra

Abril de 2004.

Original alemão Taschenspielertricks in der Gauklerbude. Este documento corre nos círculos próximos da EXIT! junto com ‘Gender Trouble’ na Krisis (Gender-Trouble‘ in der Krisis , também conhecido por Frauenpapier)

Tradução OBECO

http://obeco-online.org/