O OUTONO DO OPTIMISMO

Robert Kurz

O ritual repete-se de ciclo em ciclo, de legislatura em legislatura, de ano para ano. Quanto mais altos são os números do desemprego e mais deprimida se apresenta a conjuntura, tanto mais os conselhos de peritos e o governo federal se exercitam no pensamento positivo. Prognostica-se por cá a inversão de tendências e a prosperidade, sempre para o futuro próximo. Mas a desilusão vem na peugada, o Outono do optimismo chega cada vez mais depressa. Já murcharam as florescentes perspectivas de prosperidade pintadas para o ano 2005, antes de chegarem a ver a luz da realidade. O crescimento no terceiro trimestre baixou 0,1 % na Alemanha e 0,3 % na zona Euro e parece ter chegado à completa paralisação.

Na verdade esta crise de crescimento é profundamente estrutural e secular, e já não pode ser vencida pelo desenvolvimento conjuntural, que é quase nulo. No nível de produtividade da terceira revolução industrial a fasquia para novos investimentos rentáveis fica cada vez mais alta e a produção com cada vez menos trabalhadores. Daí as sobrecapacidades globais e os correspondentes processos de encerramento (por cá, por exemplo Opel, Karstadt). E não se vislumbra uma nova tecnologia de base relativamente trabalho-intensiva e com potencial de crescimento. Pelo contrário, os potenciais de racionalização da microelectrónica estão ainda longe do esgotamento. Mesmo a pretensa maravilha do crescimento chinês deve-se apenas ao baixo nível de partida do PIB per capita, para além de estar unilateralmente dependente dos astronómicos deficits externos dos Estados Unidos. Com a passagem do crescimento extensivo a intensivo, também na China a curva de crescimento cairá a pique; e isto sem ter em conta os riscos da industrialização para exportação, como placa giratória na criação de valor dos conglomerados transnacionais ocidentais.

Na Europa, dois factores externos se tornaram responsáveis pelo recorrente acesso de fraqueza do crescimento, a saber, o elevado preço do petróleo e o elevado curso do Euro face ao dólar, que é péssimo para as exportações. Mas até estes obstáculos ao crescimento estão estruturalmente condicionados. Novos grandes campos de exploração petrolífera são coisa do passado, o petróleo do mar do Norte está a chegar ao fim e há muito tempo que há sub-investimento nas instalações de extracção disponíveis – não em último lugar porque se situam todas em regiões de crise global. O preço do petróleo a longo prazo ainda vai subir mais. Mais alarmante contudo é o simplesmente imparável voo do Euro nas alturas. Pois isso significa que a fé cega dos investidores internacionais na última potência mundial começa a desfazer-se, seguramente também em consequência do desastre no Iraque. Porém, a imensa sucção importadora com que os Estados Unidos recolhem o excedente de mercadorias do mundo (em primeiro lugar a torrente de mercadorias da China) está totalmente dependente da permanente afluência de capital dinheiro internacional. Se o dólar cair mais, porá em perigo esta afluência e constituirá para os Estados Unidos a ameaça dum colapso financeiro de grandes proporções. A ser verdadeiro este cenário, as consequências para a economia mundial certamente já não seriam susceptíveis de descrever com o conceito de uma mera fraqueza de crescimento.

Original alemão HERBST DER OPTIMISMUS no semanário Freitag, Berlin, 19.11.2004.

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