DINOSSAUROS À VENDA

A Daimler-Chrysler e a Volkswagen no negócio da liquidação da Alemanha-SA

Robert Kurz

Até há pouco tempo, as trabalhadoras e trabalhadores dos maiores conglomerados automobilísticos alemães podiam olhar de cima, com pena, os desempregados, candidatos ao Hartz-IV e precarizados de baixos salários. No sector primordial das indústrias fordistas, pelo menos o pessoal do núcleo central parecia continuar ainda socialmente sacrossanto na globalização. Daí uma certa disposição de os respectivos funcionários sindicais e príncipes dos conselhos de empresa, com a sua clientela, como uma classe relativamente privilegiada de vencedores da globalização, se dessolidarizarem pelo menos passivamente dos pouco protegidos salário-dependentes, para poderem continuar a velha Alemanha-SA como organização social de minoria no plano mundial. Agora se vê como era ilusória esta postura. O último bastião "aristocrático" do trabalho tradicional na indústria é arrasado. O que nos outros sectores já há muito faz parte do dia a dia surge finalmente também nas grandes empresas automobilísticas: encerramento de fábricas, deslocalização de segmentos centrais da produção para o extremo oriente ou para a Europa oriental, destruição em massa de postos de trabalho, redução drástica de salários.

Quando a Opel avançou com a decisão de reduzir o pessoal em quase um terço ainda houve uma pequena revolta, que mesmo assim depressa deu em nada. As reduções de trabalho foram evitadas apenas provisoriamente com a abdicação de salário. O radical programa de poupança na Opel foi atribuído, com uma pitada de anti-americanismo, às maneiras capitalistas do oeste selvagem da casa mãe General Motors. Entretanto, com o ataque massivo ao núcleo de emprego na Daimler e na Volkswagen, é a vez do núcleo central da própria Alemanha-SA. O programa de poupança do chefe nomeado para a Daimler-Chryswler, Zetsche, é no mínimo tão radical com o da Opel. E na Volkswagen estão suspensos dez mil empregados, tal como o célebre acordo colectivo de trabalho da empresa; o novo todo-o-terreno da classe Golf ainda será fabricado em Wolfsburg, mas com salários que já ficam 20 por cento abaixo da tabela.

Contudo, não é só a nação corporativa que é liquidada nas suas últimas reservas. A sociedade anónima mundial Daimler-Chrysler revela-se um flop; as novas compras da Chrysler e da Mitsubishi continuam a ser um sorvedouro. Daí que o supostamente grande responsável Jürgen Schrempp foi desterrado para o deserto como um falhado. A Volkswagen representa acima de tudo uma empresa em crise: as vendas estagnam, os lucros baixam; em Espanha, nos USA e até na terra prometida da China estão eminentes perdas de milhares de milhões. A crise da terceira revolução industrial derrete a força de trabalho global, por todo o lado há enormes sobre capacidades. Daí que os investimentos reais há muito se tornaram não rentáveis. Essencialmente na globalização não há produção de mercadorias, mas "investimento" em processos puramente circulatórios, nomeadamente a compra e venda de empresas e de partes de empresas. Porque, na falta de acumulação real, se tornou decisivo o ganho diferencial no "mercado de empresas", opta-se por esquartejar outras empresas que tragam lucro, em vez de preparar a própria.

Enquanto o Deutsche Bank depois de 80 anos na Daimler sai e os conglomerados de outros ramos se desintegram rapidamente, para conseguir vencer a concorrência no mercado de esquartejamento, em certos níveis de comando dos conglomerados alemães do automóvel pretende-se pelo contrário obter evidentemente o mesmo objectivo através de novas participações cruzadas. Assim a Porsche vai espectacularmente às compras para si como "cavaleiro branco" de 20 por cento da Volkswagen, para protecção contra tomadas hostis; e apesar dos desmentidos corre o rumor de que talvez também a Daimler-Chrysler pense abrigar-se nesta aliança familiar nacional. Enquanto se tem denunciado o corporativismo do até agora privilegiado segmento do trabalho, pretende-se salvá-lo em parte do lado do capital por medo dos hedge-funds. Mas isso pode revelar-se tão ilusório como a esperança dos empregados dos sectores nucleares e seus funcionários, que queriam tomar parte na globalização e continuar a ser alimentados fordisticamente. No negócio da liquidação da Alemanha-SA os dinossauros Daimler-Chrysler e Volkswagen são nacos gordos, cujo esquartejamento representa um ganho de milhões na circulação. Nem o capital consegue refugiar-se impunemente na cobertura nacional. É o que acabarão por sentir também Pieche na Volkswagen e Wiedeking na Porsche.

Original DINOSAURIER IM ANGEBOT in semanário FREITAG, Berlin, 07.10.2005

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