O FIM DE UMA LENDA
A General Motors, fundada em 1908 e até hoje o maior construtor automóvel do mundo, pertencia à lenda da época fordista e da automobilização global. Agora a G.M. apresenta-se como a maior ruína mundial da economia real. A filial fornecedora Delphi acumulou uma bancarrota de mil milhões, a produção automóvel contabilizou perdas de 4 mil milhões em 2005 só até agora. A gigantesca empresa está à beira da insolvência. É precisamente este navio almirante da estrutura industrial central nos USA e no mundo que se afunda. O que tem um carácter perfeitamente simbólico para a situação real da economia mundial. Após um longo período de incubação, amadureceu a liquidação das sobrecapacidades globais neste sector chave. As crises da Fiat na Itália, da Mitsubishi no Japão, da Volkswagen na Alemanha prosseguem no mercado central dos USA. Após a debacle do conglomerado Chrysler tomado pela Daimler agora também a G.M. perdeu a batalha dos descontos. A capacidade de crédito da empresa tinha baixado para o nível do retalho.
O desastre da maior empresa automobilística é um momento do movimento de descida aos trambolhões da economia real. A ela pertence também a explosão dos preços da energia, condicionada não conjuntural, mas estruturalmente. Está em perspectiva que o automóvel se torne um bem de luxo para uma minoria, apesar de agora as estradas ainda estarem entupidas. A época do elevado consumo de massas chega ao fim. A G.M. chegou a acordo com o sindicato UAW sobre a redução de custos em milhares de milhões nos seguros de saúde, que nos USA são essencialmente empresariais. Não podem faltar reduções drásticas de salários para a antiga "aristocracia operária" como na Europa. Em breve, as trabalhadoras e trabalhadores da indústria automóvel não poderão usar os seus próprios produtos. As buscas de salvação da economia empresarial implicam encerramentos de fábricas em grande escala. O que provocará depois uma reacção em cadeia junto de fornecedores de peças, prestadores de serviços e comércio retalhista regional. O boom de consumo da última potência mundial, USA, que vinha puxando pela economia mundial, é ameaçado de estrangulamanto progressivo.
Com isto, porém, também o famigerado "jobless growth" [crescimento sem emprego] é posto à prova; sobretudo quando ao mesmo tempo se esvazia a bolha imobiliária já amadurecida, que até agora ainda tinha alimentado um consumo económico irregular. Porém, o consumo de massas, sem o qual a mais valia não se pode realizar, continua a ser o fim necessário da cadeia de produção de valor. Não é apenas a crise social que vem à superfície, agora também nos USA, mas em última instância é a crise da produção de valor em si. Em termos de economia real, os prestadores de serviços baratos não podem compensar o derretimento da produção industrial de mais valia. O desmoronamento das sobrecapacidades na indústria automóvel aponta agora também para a superstrutura financeira do "capital fictício".
É duplamente significativo no caso da G.M. que, primeiro, tal como no caso de outras empresas, a filial financeira GMAC era a única "pérola lucrativa", e que, segundo, é esta pérola que os investidores financeiros agora têm que desfazer em cacos. Isto pode aliviar o balanço a curto prazo; a longo prazo, com isto a empresa perde a sua principal fonte de dinheiro no processo especulativo do capital financeiro desacoplado. Se a G.M. não falir simplesmente, a venda da parte financeira é o anúncio da desmontagem: o conglomerado será dissolvido, as partes individuais da empresa transformadas em massa para venda, num investimento financeiro puramente especulativo no "mercado de empresas". Porém, se este embuste continua a abrir brecha na base da economia real, então também toda a obra de arte do novo capital financeiro deixa de ser sustentável.
Original ENDE EINER LEGENDE, Neues Deutschland, 28.10.2005