VEM AÍ O INDIANO

Robert Kurz

Há muita agitação, não só no ramo do aço, mas também nos media e na classe política da UE: O grupo empresarial do milionário do aço Lakshmi Mittal pretende, através de uma tomada hostil, adquirir por mais de 19 mil milhões de euros o maior conglomerado europeu do aço Arcelor, cujas fábricas principais estão em França e nos países Benelux. Os nostálgicos keynesianos vêem a identidade nacional e europeia ameaçadas pelas pretensas novas potências mundiais, a Índia e a China; os eufóricos neoliberais querem ver aqui uma justiça abençoada da globalização. Thomas Hanke afirmou num editorial do Handelsblatt: "Antigas colónias tornaram-se concorrentes iguais. Não há melhor prova da dinâmica de desenvolvimento do capitalismo".

Em comentários destes só está certo que Mittal nasceu na Índia. Porém, há muito tempo já não é indiano, mas tem passaporte britânico e reside na área londrina de multimilionários Kensington Palace Gardens. O seu avanço não tem nada a ver com uma ascensão nacional-económica da Índia. Na realidade a Índia, tal como a China e a maioria dos países do antigo Terceiro Mundo, no início dos anos 90, sob a pressão da crise de valorização global, desistiram de qualquer perspectiva de desenvolvimento nacional integral e abriram-se ao capital transnacional. De facto, no caso da Mittal-Steel trata-se de um conglomerado transnacional britânico-neerlandês com sede em Roterdão, que é dirigido a partir de Londres. Não há qualquer base indiana; o grupo tem 175.000 empregados em quatro continentes e 14 países, entre os quais Trinidad e Tobago, Casaquistão, Argélia, China, Polónia, Roménia, República Checa, Bósnia, USA (International Steel) e Alemanha (Hamburger Stahlwerke). Para a O.P.A. da Arcelor estabeleceu-se no oásis fiscal suíço uma nova holding, que anteriormente tinha a sua sede nas Antilhas Neerlandesas.

É uma piada de mau gosto descrever esta aglomeração de capital como a industrialização da antiga colónia Índia. Até o boom do aço e das matérias-primas, aparentemente da economia real, em cuja corrente se executou a ascensão de Mittal, baseia-se no fim de contas no endividamento da economia dos EUA, que é fornecida com correntes de exportação de sentido único de todo o mundo. No espaço desta frágil estrutura de deficit realizam-se em todos os ramos processos de concentração transnacionais; segundo dados da Deutsche-Bank-Research, o mercado mundial do aço será a curto prazo dominado por uma mão-cheia de global players com uma capacidade de cem milhões de toneladas cada. Afinal, trata-se aí menos de uma mais valia real, proveniente da produção de aço, do que de um crescimento fictício, obtido através de ganhos diferenciais na circulação, no "mercado empresarial" de títulos financeiros. Em toda a parte as indústrias são sacudidas no meio do boom impelido pelo déficit. Seja como for que terminar a luta pela Arcelor: é previsível que no âmbito da reorganização serão despedidos milhares de operários, enquanto não será criado nenhum posto de trabalho novo noutro sítio, muito menos na Índia. Mittal-Steel é a manifestação típica de um capitalismo de minoria transnacional, como ele resultou da crise de valorização da 3ª revolução industrial. A expansão dos Global Players é idêntica a uma desindustrialização lenta em muitos países, que há muito chegou também à Europa. É preciso algum atrevimento para fabular aqui de uma "dinâmica de desenvolvimento do capitalismo".

Original DER INDER KOMMT publicado no Neues Deutschland em 10.02.2006

Tradução de Nikola Asif

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