AS LIÇÕES DO CONFLITO AEG
Foi uma verdadeira luta e não um protesto meramente simbólico e portanto desamparado: após mais de um mês de greve, que em parte paralisou a cadeia transnacional de criação de valor do grupo Electrolux, os trabalhadores da AEG de Nuremberga conseguiram melhorias importantes na convenção colectiva de segurança social, no que concerne à reforma antecipada, à sociedade ocupacional* e sobretudo às indemnizações. Desde o princípio era claro que o fecho da fábrica não podia ser evitado. Mas a greve fez com que os custos desta medida para a empresa ascendessem a um valor estimado em 600 milhões de euros. Foi um dos poucos casos em que o pessoal não se deixou levar como um rebanho de cordeiros para o matadouro. Assim está provado que uma luta defensiva social que emprega meios de poder reais, mesmo no processo da desindustrialização, não tem de ser infrutífera. Contribuiu para isto o efeito público da greve. O exemplo poderá fazer escola. Se encerramentos de fábricas acordados na mesa verde das centrais dos grupos de empresas encontrarem em qualquer lugar uma vontade de luta semelhante, será imposta uma distribuição diferente dos custos sociais.
Contudo os resultados são insuficientes. Sobretudo os empregados mais novos, para os quais uma reforma antecipada está fora de questão, foram prejudicados pela fórmula de indemnização que é remuneração ilíquida vezes anos de actividade vezes 1,8. Isto causou uma grande irritação. O facto de o compromisso ter revelado deficiências afinal de contas tem as suas causas na falta de força de uma luta local isolada. Uma vez mais se põe a questão de uma constituição transnacional da resistência social. A Electrolux quer encerrar metade das suas fábricas na Europa. É atingida também a fábrica espanhola em Fuenmajor; a fábrica sueca em Mariestad e a italiana em Florença serão diminuídas. E também a deslocação para a Polónia não tem de ser a última palavra, se por exemplo a China ficar mais em conta. Mas não há troca de comunicações entre os empregados. Nos sindicatos, limitados ao nível nacional, contactos transnacionais "de baixo" ao nível das empresas nem são vistos com bons olhos; teme-se a perda de controlo e deixa-se antes com a fundação Friedrich Ebert um internacionalismo tradicional inconsequente. Os sindicatos vão ter de decidir a longo prazo se querem levar por diante o seu próprio desenvolvimento como "empresas de prestação de serviço" nacionalmente limitadas, ou se querem tornar-se num novo movimento social transnacional.
A outra questão é se lutas defensivas sociais podem ganhar uma perspectiva ofensiva. A referência permanente à rentabilidade da fábrica da AEG de Nuremberga teve pouca força porque, sob as condições da crise de valorização e da globalização, os lucros da produção real de mercadorias já não importam. A resistência social vai ter de questionar o próprio critério da rentabilidade. Não é o apático ressentimento contra "o capital financeiro" que se requer, mas sim uma nova crítica do modo de produção capitalista que esbarrou nos seus limites, para além do antigo socialismo de Estado nacional. Teria sido exigir muito esperar do conflito da AEG logo um tal debate. Mesmo assim não se trata aí de um utopismo oco, mas da perspectiva de crítica social das lutas futuras. A crise não dorme, vai avançar e abranger todas as condições de vida. Sem uma discussão sobre alternativas sociais que vão até às raízes a defensiva social continua apática.
* Sociedade constituída pela empresa para ocupar pelo menos por um tempo limitado o pessoal que perdeu o emprego
Original DIE LEHREN AUS DEM AEG-KONFLIKT
publicado em Neues Deutschland de 10-03-2006
tradução e nota de Nikola Asif