O OPTIMISMO NO REINO DA FANTASIA
A Primavera agora começa já antes do Natal, não só no que respeita às previsões meteorológicas, mas também nos prognósticos de conjuntura dos media e dos políticos para 2007. Porém, tudo indica que desta vez se está a desperdiçar antecipadamente a pólvora do optimismo barato no que ao emprego diz respeito. O pretexto foi dado pela notícia de que o número oficial de desempregados tinha descido um pouco abaixo dos quatro milhões em Novembro. De facto, graças ao bom tempo, pôde continuar-se a trabalhar ao ar livre e por isso as empresas de construção civil registaram o número mais baixo de desemprego em Novembro dos últimos dez anos. Obviamente, não é a temperatura do ar das últimas quatro semanas que pode servir de base a uma retoma geral. Também o ligeiro aumento de emprego com desconto para a segurança social é meramente relativo. Pois, em primeiro lugar, continua um deficit de 1,5 milhões desde 2000 e, em segundo lugar, 70% dos novos empregos são contratos a prazo ou em empresas de trabalho temporário. O número de relações de trabalho precário cresce tanto quanto o número de desempregados feitos desaparecer das estatísticas através de medidas estatais.
O crescimento da conjuntura interna através do desenvolvimento do mercado de trabalho será seguramente tão pouco significativo em 2007 como nos anos anteriores.. Pelo contrário, é de esperar que a elevação da taxa do IVA tenha repercussões negativas. Daí que a muito celebrada previsão de crescimento de bancos e institutos fique em média nos 1,3 %; na realidade, tal como com as notórias esperanças de crescimento do ano passado, muito pouco para sequer arranhar a base de desemprego continuamente construída nas últimas duas décadas. A mini-retoma depende, tal com antes, apenas das exportações, ou seja, da frágil conjuntura mundial, que é suportada sobretudo pelas bolhas financeiras e por isso pode vir abaixo repentinamente. Enquanto se escuta com agrado as vozes de confiança do reino da fantasia, simultaneamente cresce a suspeita de um crash iminente nos mercados internacionais de crédito e de empréstimos. Pois o arriscado financiamento a crédito das batalhas de fusões e aquisições dos últimos meses por todo o mundo criou um enorme potencial de falência dos Private-Equity-Fonds, que pode levar a uma reacção em cadeia nos empréstimos às empresas em 2007.
Com a falta de ar no mercado financeiro global está ligado também o facto de que a economia americana parece finalmente perder o fôlego como locomotiva da conjuntura mundial em 2007. Se a ruptura no mercado imobiliário americano continuar e se juntar a uma crise de dívidas globais de fusões e aquisições e de empréstimos às empresas, também o mercado de acções voltará a cair. Com isso seria programado o receado "hard landing" da conjuntura do consumo de muitos anos nos USA. Porém, como é sabido, este consumo endividado é que tem alimentado uma parte cada vez maior da conjuntura de exportação global. Para as empresas da Alemanha não estão em causa apenas as exportações directas para os Estados Unidos. Também uma parte considerável das exportações para os vizinhos da União Europeia ou para a China (por exemplo, de máquinas-ferramentas) depende indirectamente do consumo dos Estados Unidos. Pois todos estes países importam componentes de produção para, por sua vez, servirem a via exportadora de sentido único sobre o Pacífico ou sobre o Atlântico. A conjuntura de 2007 apresenta-se mais do que nunca como conjuntura mundial imediata com centro de gravidade norte-americano. Um primeiro sinal poderá surgir com as vendas de Natal; não aqui, mas nos Estados Unidos.
Original OPTIMISMUS IM REICH PHANTASIEN in Neues Deutchland, 15.12.2006