NA LUTA

Carta Aberta aos Interessados e Interessadas na EXIT!

Robert Kurz

Meus caros

Este ano não enviámos a habitual carta mendicante para estimular a glândula do sentimentalismo em vésperas de Natal. Como se demonstrou, não foi preciso nenhum particular incitamento à animação para mobilizar o apoio à teoria crítica do valor-dissociação. Sem qualquer publicidade, na passagem do ano chegaram-nos diversos donativos, grandes e pequenos; entre eles um excepcionalmente "volumoso". O que leva a concluir que há bastante gente, a diversos níveis, que segue atentamente as nossas publicações e está interessada em que prossiga o processo de elaboração teórica posto em marcha. Agradecemos de todo o coração por esta ajuda urgentemente necessária. A actividade da EXIT! está assim financeiramente assegurada por mais um ano.

Este apoio é tanto mais de assinalar quanto não têm faltado diversas "cenas" de ódio contra a elaboração da teoria crítica do valor-dissociação e contra o círculo da EXIT!. Quanto a isso não vale a pena chorar, pois uma viragem [Umwälzung] teórica só pode realizar-se no campo da controvérsia e de certa maneira tem que mostrar-se eficaz na luta; não no sentido de "resultado" de lance rápido e pouco duradouro no mercado das opiniões, mas como continuidade e coerência teórica, com grande fôlego. A pós-modernidade acabou, mas a sua celebração da discricionariedade teórica, da mera descontinuidade, fragmentação e percurso de contingência faz-se sentir ideologicamente como uma crescente "teologização", nietzcheanização e heideggerização da crítica na crise. Com isso não se suplanta o marxismo tradicional tornado obsoleto, tal como não se suplanta com o rebentar da própria crítica do valor-dissociação para rebaixá-la a uma metafísica da praxis e do movimento. Se o movimento social não pode andar a toque da justificação teórica, tão pouco pode inversamente tornar-se o limite da reflexão teórica. Só pode tornar-se socialmente eficaz uma teoria que afirme a sua própria importância e não seja vesga ao ponto de querer ter êxito através da "utilização" popular. Por isso a EXIT! continua a recusar-se à agit-prop barata, tal como às falsas exigências neo-utopistas. Em vez disso trata-se de uma ligação de elaboração teórica do conceito, análise social e crítica da ideologia, em que esta última tem que ser mais fortemente fundamentada na teoria da ideologia. Em última instância há que esperar mais capacidade de intervenção de tal procedimento do que da acrobacia no espírito do tempo ou do marketing "crítico do valor".

Os limites externos da divulgação da teoria crítica do valor-dissociação também são seguramente marcados pelo processo da crise social. Por um lado, a luta diária pela sobrevivência faz com que o interesse pela reflexão crítica se apresente para muitos como um "luxo desnecessário", sem valor alimentar para as necessidades imediatas. Por outro lado, mesmo na própria discussão teórica faz-se notar um novo gesto de perturbação [Betroffenheit] que, quando muito, serve para encobrir os banais interesses da concorrência. Neste contexto é de significação central a ameaçadora ou já manifesta "queda da nova classe média", significação que não contraria a individualização, mas constitui sua parte integrante. É exactamente com este fenómeno de crise e com a respectiva ideologização até ao interior da esquerda que alguns autores e autoras da EXIT! querem ocupar-se no futuro. Aqui se inclui a análise sociológica e crítica-da-ideologia deste processo, tal como a continuação da polémica com a habitual defesa da teoria de um limite interno absoluto do capitalismo na 3ª revolução industrial. O ano de 2006 chegou ao fim com renovada propaganda mediática duma "mudança da tendência" para a prosperidade, para a qual não há nenhum fundamento, mas apenas esperanças ilusórias. O debate prende-se com os movimentos conjunturais de superfície, permanecendo mais que nunca por reflectir a sua precária mediação na economia mundial. O que torna mais urgente que se continue a desenvolver e a fundamentar a teoria da crise da crítica do valor-dissociação. Para o efeito deve sair finalmente este ano a publicação já anunciada para o debate em torno da "substância do capital" (do conceito de trabalho abstracto).

É claro que não é possível de todo fundamentar apenas do ponto de vista do conteúdo as actuais controvérsias e rupturas no contexto da crítica social. Para a subjectividade de crise pós-moderna nada mais conta; por mais que se deixe andar, ela não pretende impor nada, a não ser a si mesma. Este fenómeno geral em instituições e grupos sociais não se detém perante os relacionamentos [Zusammenhängen] que pressupõem outro trato [Umgang] entre si, porque o seu conteúdo é a crítica das próprias relações. Mas as referências ao conteúdo tornam-se frágeis quando não passam de biombos para a encenação de necessidades de auto-afirmação. Quanto mais a polémica teórica é mal vista, tanto mais crassamente se fazem valer o conflito pessoal e personalizado sem conteúdo, a intriga, o encadeamento [Seilschaft], a ruptura sem mediação. Degradou-se a antiga cultura de debate da esquerda; as cisões, como se vê por todo o lado, são cada vez menos fundamentadas no conteúdo, as diferenças de conteúdo agem como se fossem meramente pessoais ou de forma de organização e inversamente tentativas desenfreadas de fazer-se valer são carregadas de pseudo-conteúdo e de questões formais de organização. Para a EXIT! pelo contrário trata-se em primeiro lugar de uma capacidade de discussão interna, que simultaneamente consiga distinguir relações internas e relações externas. A elaboração teórica da crítica do valor-dissociação não pode ser nenhuma "pátria" identitária, na qual deva caber cada nariz para cada um e cada uma; mas exige uma ligação intelectual e pessoal que possa aguentar diferentes seres humanos, posições e acentuações num espaço comum. Também neste aspecto o projecto de teoria crítica do valor-dissociação foi obrigado a afastar-se do modo geral capitalista e de esquerda.

Os autores e autoras que suportam a EXIT! apresentaram no ano passado muitas contribuições que desenvolveram a sua eficácia muito para além das "cenas" de esquerda fixadas no passado. O que também se repercutiu nos convites para apresentações, recensões etc. Apesar de todas as limitações sociais à reflexão teórica cresce a necessidade de trabalhar a teoria e a análise da crítica do valor-dissociação. Ao grande público como sempre dirige-se o convite para se decidir por uma assinatura. As contas de uma editora duma revista teórica baseiam-se no número de assinaturas e aqui qualquer pequeno crescimento é importante. Caso contrário continuaremos naturalmente a precisar de doaçoes para o grande fôlego da "praxis teórica". Uma outra possibilidade de apoio é entrar na associação que suporta a revista EXIT!

Robert Kurz pela redacção da EXIT!, Janeiro de 2007

Original IM HANDGEMENGE. Offener Brief an die InteressentInnen von EXIT!

 

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