UM TRAGO DA GARRAFA

Os escolhos na discussão das tabelas salariais

Robert Kurz

"A economia está a mexer e o proveito é outra vez só para os bosses?" Até a cadeia de televisão marcadamente neoliberal N-TV se referiu com esta formulação populista à participação dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados/as na celebrada conjuntura da retoma. Os gestores propuseram 3% para as negociações de tabelas salariais que se avizinham, em sectores chave como a metalurgia e a química; nada mais que o acordo para a metalurgia em 2006. Uma parte da direcção do Sindicato IG-Metall pretendia desta vez 7%; mas acabou por se ficar numa reivindicação de 6,5 % - para evitar uma grande diferença entre o valor proposto e o valor mais tarde acordado, como foi dito. Tendo em conta o que se passou nos últimos anos com os tempos de trabalho crescentes, os salários reais em queda, a cada vez maior pressão no serviço, as inúmeras concessões, como por exemplo nos subsídios de Natal e de férias, já seria mais que tempo de uma subida do salário acima da média. Evidentemente que a questão é, de novo, onde está a força sindical para a luta.

A mudança estrutural no sistema do salário poderia mais uma vez sair gorada. As tabelas salariais de base há muito que estão esvaziadas. Muitas empresas abandonaram o contrato colectivo, sobretudo na Alemanha Oriental. Mesmo no interior do contrato há uma crescente concentração no pessoal dos sectores nucleares. Muitos empregados em trabalho subcontratado de curto prazo deixaram de estar abrangidos pela tabela do sector, apesar de trabalharem na mesma empresa. Além disso, os grandes conglomerados (e não só) cindiram através do "outsourcing" partes inteiras do emprego para sectores de prestação de serviços essencialmente mais mal pagos. E muitos/as ex-trabalhadores/as da indústria depois do desemprego encontram-se em relações de emprego precárias, fora da segurança social obrigatória. A diminuição de sócios nos sindicatos também tem que ver com o facto de os trabalhadores que deixam de ser abrangidos pelos contratos já não se sentirem representados. Nos anos setenta e oitenta ainda era uma parte integrante das reivindicações contratuais a elevação particularmente dos salários mais baixos. No seguimento da cisão, vigora a divisa: longe da vista, longe do coração. As ainda assim magras subidas das tabelas já não visam o nível salarial geral, mas admite-se um leque salarial que cava fossos cada vez maiores.

Entretanto, mesmo entre os trabalhadores a tempo inteiro grassa o medo, como se vê na Airbus e na indústria automóvel. Os processos de racionalização e de globalização continuam desenfreados, completamente independentes dos desenvolvimentos conjunturais de superfície. As baixas por doença dos empregados em geral desceram ao valor mínimo desde a introdução do subsídio de doença; mesmo com febre e a chocar bacilos, as pessoas arrastam-se ao local de trabalho. A orientação sindical para sectores nucleares de emprego cada vez mais pequenos vai de par com uma capacidade de implantação decrescente. Com o romper dos limites dos sectores, com o incluir da exigência de salário mínimo delegada aos políticos, naturalmente que a conversa não é, de maneira nenhuma, sobre um debate social de "greve de massas"; grande é o medo da perda de controle.

Isto tem também uma razão mais profunda. Quando agora se reivindica beber "um trago da garrafa", a fundamentação ainda aponta timidamente para a invocada retoma. É um velho problema dos sindicatos o facto de eles ligarem as suas reivindicações, não às necessidades da vida, mas sim à capacidade de acumulação do capital, "do ponto de vista da economia". Contudo, no passado, existia em pano de fundo a questão da alternativa social, ainda que vaga. Após a derrocada do socialismo de Estado, quanto a isso continua a abrir-se apenas um buraco negro. Que fazer, porém, quando a Primavera da conjuntura em grande medida dependente dos circuitos de deficit globais (como por exemplo a indústria de exportação chinesa de sentido único) se revela mais uma vez como uma bolha de sabão? De qualquer maneira os sindicatos não endurecem a sua actuação. Ver-se-á por quanto tempo ainda se usarão os velhos rituais.

 

Original EIN SCHLUCK AUS DER PULLE in www.exit-online.org. Publicado em "Freitag", Berlin, 23.02.2007

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