CAPITALISMO POPULAR
Já no antigo movimento operário havia a ilusão de que no capitalismo a repressão se basearia, não nas formas fetichistas do valor e do "trabalho abstracto" (Marx), mas unicamente no "poder de disposição" subjectivo dos capitalistas, através da propriedade privada sobre o capital real e sobre o capital monetário. A expressão jurídica da relação de capital era confundida com a sua essência. Por isso se acreditava que a solução seria o Estado como "empresário geral", sob a direcção do "partido dos trabalhadores", na base das formas não suplantadas do moderno sistema produtor de mercadorias. O capitalismo de Estado fracassou historicamente. Mas a mesma ilusão se manifesta também, ainda que do lado oposto, na ideia ocidental constantemente requentada de um "capitalismo popular". Em vez da participação do Estado nos meios de produção, a chamada "justiça social" deveria ser realizada através da participação das massas no capital privado. Com esta ideia gasta pretende agora o presidente do SPD, Beck, ir atrás do sentir popular profundo, ao propagandear um "Fundo Alemanha" amplamente disseminado, tendo por objectivo a propriedade do capital "para todos". Em contrapartida, o chefe da CSU Stoiber favorece a participação dos empregados em cada empresa individual, através de "salários-investimento".
Na época do milagre económico este conceito deu pelo nome de "acções populares" e no caso do conglomerado Volkswagen foi realizado, em parte, com elevada participação estatal. A Volkswagen, estabelecida no nacional-socialismo, dava assim de volta à "comunidade popular" alemã um certo dividendo sobre o mercado mundial; muitas famílias ganharam com isso uns milhares de marcos extra. As altas taxas de crescimento tornaram possível este doce. Contudo, as acções populares eram uma questão secundária; o crescimento dos salários reais é que levava em primeira linha à prosperidade do consumo. Agora pretende-se instrumentalizar politicamente a recordação das acções populares para acalmar o povo. Na crise da terceira revolução industrial e da globalização, porém, a situação é outra. Torna-se agora o critério principal o que não chegou a manifestar-se no boom do pós-guerra, isto é, a participação no capital como participação no risco. Enquanto Beck pretende obter isso à maneira nacional-social, no plano da economia nacional, Stoiber pretende-o à maneira neoliberal, no plano da economia empresarial. Em ambos os casos trata-se de acorrentar os seres humanos, para a vida e para a morte, às funções da valorização do capital.
A propaganda dos indivíduos como "empresários da sua própria força de trabalho" deve assim ser flanqueada com o "capitalismo popular". Mas o capitalismo só funciona como dependência de salário, tendo em vista a produção de mais-valia, seja qual for a forma jurídica da propriedade. Mesmo os "empresários trabalhadores" individualizados ou as quintarolas alternativas não levaram senão à auto-exploração. Uma participação mais alargada na economia das bolhas financeiras, com que se pisca o olho também aos sindicatos, hoje só conduzirá à arriscada co-responsabilização pelos salários reais decrescentes e pela crescente pressão do serviço. Um preço elevado para uma mini-propriedade simbólica do capital que a qualquer momento se pode desfazer no ar. É o que mostra a privatização da Telekom, que também foi tratada como uma espécie de acções populares, com o aconselhamento do spot publicitário bem disposto do actor Krug. Muitos empregados da Telekom sabem de sobra como uma pessoa se sente na qualidade de pequeno proprietário de acções, que já não valem quase nada, enquanto o Sindicato Ver.di negociou uma forte redução do salário juntamente com um prolongamento do horário de trabalho.
Original VOLKSKAPITALISMUS in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 29.06.2007