POLÍTICA INDUSTRIAL DE ÁREA DE RECREIO
O medo ronda e não apenas a Alemanha, S. A. em queda. Enquanto ainda se festeja a retoma (que já se desfaz de novo) como resultado da globalização, repentinamente fervem grandes receios de que seja apenas uma questão de tempo até que a primeira grande empresa do índice DAX seja tomada por um investidor financeiro transnacional, chupada e deitada fora como uma "casca inânime". A Daimler, após o desastre da Chrysler, ou até o Deutsche Bank são considerados possíveis candidatos. A febre de aquisições foi considerada com benevolência enquanto apenas fazia subir os índices da bolsa e as global players com sede na Alemanha intervinham em força. Agora descobre-se de repente que o caso pode ficar sério, se gigantescos Investment Fonds como o Blackstone, que já entrou na Telekom, não recuarem sequer perante os bocados maiores. Prontos para a batalha estão também os fundos estatais dos países produtores de petróleo e dos países em crescimento, que pretendem aplicar na aquisição de grandes empresas ocidentais as astronómicas reservas monetárias (só na China mais de 1,2 biliões de dólares) resultantes do rolo compressor das exportações unilaterais.
De repente, o governo federal põe-se a pensar alto sobre a defesa, contra os investidores financeiros, das indústrias chave como telecomunicações, banca, correios, logística e energia. Esforços similares se fazem notar em França, Espanha, Itália e Estados Unidos, onde em 2006 o Congresso proibiu a aquisição de seis portos americanos pelo fundo estatal do Dubai. Mas esta nova "política industrial" tem pés de barro. O limite interno da valorização real tornou-se estrutural na terceira revolução industrial que, juntamente com a globalização, promoveu o novo capitalismo de bolhas financeiras, o qual ameaça agora devorar os próprios pais. Foram as grandes empresas ocidentais que, com os seus investimentos de outsourcing na China, desencadearam a avalanche de exportações a partir daí, bem como uma conjuntura deficitária mundial e a explosão dos preços do petróleo. Agora vem a consequência lógica no plano monetário, quando as trasbordantes reservas de divisas da China e dos países produtores de petróleo regressam como capital financeiro para aquisições. Se estes investimentos forem proibidos pela política industrial, então a contradição tem que se resolver violentamente de outra maneira, no plano das divisas, com a necessária aceleração do fim da conjuntura deficitária global.
As medidas de defesa não merecem crédito, até pelo facto de que foi a própria política de privatizações dos governos que, ao colocar as infraestruturas antes públicas como as telecomunicações, os correios e a energia na forma de sociedades por acções, as disponibilizou para as aquisições do capital financeiro, com todas as consequências. Ironicamente, não falta a esta história o facto de o mesmo governo federal que se defende dos fundos estatais asiáticos simultaneamente promover à força, contra todas as resistências, a privatização e cotação em bolsa dos caminhos de ferro. Assim se produz por mão própria uma nova vítima potencial de aquisição hostil. Não é possível inverter a marcha da roda da globalização de crise e os seus aprendizes de feiticeiro não conseguem escapar às contradições acumuladas. O presidente da BDI [Associação Federal da Indústria Alemã], Thumann, e os dirigentes empresariais temem as consequências das medidas defensivas nacionais, tal como temem secretamente o desastroso destino de uma aquisição hostil. O que todas as manobras de bastidor deixam ver é que a requentada ideia de uma política industrial não passa de uma área de recreio onde se perfilam os artistas da política.
Original SPIELWIESE INDUSTRIEPOLITIK in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 27.07.2007