FIM DA MODERAÇÃO?

Os novos conflitos salariais numa conjuntura mundial instável

 Robert Kurz

Há muito tempo que isto está um caso sério. Na Alemanha, o nível salarial geral está a cair há mais de 15 anos, acrescendo a isso a liquidação das prestações sociais e dos serviços sociais públicos. Este lastimável desenvolvimento foi justificado com as exigências objectivas dum capitalismo mundial sem alternativa. Efectivamente isso mais não é que a prova evidente de que esta forma de riqueza abstracta produz cada vez mais pobreza concreta. Mas os sindicatos não têm sensibilidade nenhuma para as questões sociais de princípio; estão reduzidos à mera co-gestão da crise social. Na Alemanha acresce a isso a tradicional falta de uma cultura de resistência. O orgulho no menor número de dias de greve no mundo ocidental tornou-se um boomerang, pois o campeão mundial das exportações caiu para o fundo da escala de rendimentos na Europa. A consequência foi a votação com os pés: dramática redução de associados dos sindicatos unitários, um número crescente de trabalhadores alemães nos países vizinhos na União Europeia e o surgimento de pequenas organizações profissionais dispostas para a luta.

Sob o signo da muito invocada retoma, em 2008 deve começar a mudança de tendência. A pressão dos associados é de tal ordem que os sindicatos anunciaram reivindicações de aumentos salariais de 7 a 9%, os valores mais altos dos últimos anos. Até o SPD no governo, que supostamente redescobriu o seu coração social, perante a campanha eleitoral que se avizinha, insiste em "aumentos salariais razoáveis". Simultaneamente, porém, a tão festejada nova prosperidade, que finalmente deve chegar aos "de baixo", já volta a desmoronar-se, pois a conjuntura do déficit do Pacífico, pela qual foi puxada a indústria de exportação europeia nos últimos dois anos, assenta em pés de barro. A situação instável das instituições financeiras em todo o mundo, a partir da crise do crédito hipotecário nos Estados Unidos, ameaça deixar pendurada a primavera conjuntural, enquanto, como reverso da economia das bolhas financeiras, cresce o potencial de inflação e reduz-se a capacidade de intervenção dos bancos centrais.

Em vez da esperada retoma auto-sustentada, segundo o padrão do milagre económico, poderia regressar a estagflação dos anos setenta, com força acrescida, e com ela o debate já quase esquecido sobre uma suposta espiral salários-preços. Ainda antes de ter começado a ronda das negociações salariais já o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, acompanhado dos "peritos económicos", vem prevenir contra acordos salariais elevados, com os quais seriam promovidos novos aumentos de preços. Os sindicatos terão de se preparar para duros combates, se realmente quiserem pôr fim à tendência para a redução dos salários. No âmbito da velha política de compromisso, o Instituto Alemão de Pesquisa Económica esperava, para 2008, uma miserável subida dos salários reais de 0,7 %. Preparam-se acordos "comedidos", mas de imediato devorados pela inflação. Para isso não vale a pena encenar greves de aviso simbólicas, nem vir para a rua com apitos.

O dilema dos sindicatos não está apenas na incerteza da conjuntura mundial. Como é sabido, a nova pobreza de massas é também resultado da precarização estrutural das relações de trabalho. Com a queda do nível geral de rendimentos ocorreu simultaneamente um violento alargamento do leque salarial, pelo qual os sindicatos são co-responsáveis, ao aceitarem os salários de miséria nas áreas externalizadas; em total acordo com o mote dominante de que qualquer "trabalho" seria melhor do que nenhum trabalho. Também o recuo parcial da taxa de desemprego assenta sobretudo no alargamento do trabalho a tempo parcial mal pago, que é imposto pela administração do trabalho. Quase todo o sector de prestação de serviços está já precarizado; as greves-alfinetada do sindicato Verdi nos últimos meses no comércio de retalho nem sequer se notaram.

Consequência fatal: tanto quanto se permite tomar "um trago da garrafa", segundo o Semanário Económico [Handelsblatt] ele deve ficar limitado aos "verdadeiros sectores do boom", como é o caso da construção de máquinas. Só será possível traçar uma linha de resistência se os sindicatos saltarem sobre a sua própria sombra e, pela primeira vez na história do pós-guerra, deixarem de fundamentar as reivindicações na falsa objectividade das condições do enquadramento conjuntural. Quem ligar toda a sua legitimação a esta retoma tremida já perdeu. Naturalmente que o desacoplamento das necessidades sociais vitais da lógica das exigências objectivas da economia seria um passo em terreno desconhecido. Na prática isso poderia significar retirar das mãos da retórica de campanha eleitoral a exigência de um salário mínimo legal suficientemente elevado; ou seja, transpor o limiar da greve de massas política. Só isso seria um efectivo fim da moderação.

Original ENDE DER BESCHEIDENHEIT? in www.exit-online.org. Publicado em Freitag 11.01.2008

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