O
desencantamento das estrelas do crescimento
Nos
últimos anos, a Ásia e a Europa de Leste, em parte com taxas de crescimento de
dois dígitos, têm sido consideradas “as” regiões-boom da economia
mundial. Ainda que as condições sejam diferentes em cada caso, é possível
verificar alguns pontos comuns nos países do pretenso milagre. O crescimento
turbo é uma ilusão óptica, porque a base de partida era muito baixa; na Ásia,
por causa dum subdesenvolvimento estrutural, com uma participação
relativamente elevada da economia da terra no produto social, e na Europa de
Leste, por causa da brutal desindustrialização após o colapso do socialismo
de Estado. Já no passado desabaram sucessivamente altas taxas de crescimento
com base de partida muito pequena, por exemplo na América Latina.
Tanto
no caso da Ásia como no da Europa de Leste, acontece que as taxas de
crescimento rápido já não assentam num desenvolvimento económico nacional
coerente, mas numa ligação problemática a cadeias globais de criação de
valor dos conglomerados ocidentais. O resultado em ambos os casos foi a abertura
de um fosso entre estruturas de exportação com base em baixos salários no
espaço da globalização, por um lado, e o progressivo desmantelamento da antiga economia
interna com grandes potenciais de pobreza, por outro lado. Agora a euforia de
crescimento já ingenuamente projectada durante anos recebe o primeiro balde de
água fria.
A
conjuntura de deficit global foi aquecida por uma enchente de dólares
desencadeada pelo banco central dos EUA. Com isso foi inflacionado o sistema
monetário mundial, em parte através da ligação directa ao dólar, como na Ásia,
em parte através dos efeitos indirectos sobre a importação de petróleo, ou
de componentes de produção. A inflação, que na União Europeia se aproxima
da marca dos 4% e já a passou nos EUA, atingiu as estrelas do crescimento na Ásia
e na Europa de Leste com uma força ainda maior. Na China, na Índia, na Indonésia
e na Tailândia a inflação já subiu a perto dos 10%, no Vietname chegou aos
25%. Os “tigres” do Báltico estão com uma inflação acima dos 10%, a Letónia
já com cerca de 18% e a Roménia também já ultrapassou os 8%.
Por
todo o lado o crescimento insuportável do custo de vida levou já a revoltas.
No Vietname houve mais de 300 movimentos grevistas, na Roménia entraram de
greve os empregados da fábrica de automóveis Dacia, tomada pela Renault, e os
do fornecedor alemão Leoni; na Letónia os marítimos ameaçam com greve. Em
parte foram impostos aumentos salariais de 30%. Com isso cai rapidamente a opção
de baixos salários para os investidores ocidentais. No Báltico o crescimento
quase estagnou no primeiro trimestre de 2008. Para o Vietname há sinais de um
desenvolvimento semelhante. Estes países tornaram-se as procelárias da crise,
ainda antes de a conjuntura do deficit global ter chegado ao fim, por força da
iminente quebra do consumo nos EUA.
Enquanto
o fogo de palha começa a apagar-se na Europa de Leste, também o excedente
comercial da Ásia cai “como uma pedra”, segundo informação de banqueiros
americanos. Sem contar com a China, no primeiro trimestre de 2008 já houve uma
queda de 30 mil milhões de dólares. Nos círculos financeiros paira o fantasma
de uma nova crise asiática, porque a inflação ameaça forçar valorizações
monetárias e subidas de juros. Até agora os sinais de paralisação nos
pequenos países da Ásia e da Europa de Leste fizeram-se notar apenas na
periferia, porque o volante do circuito do deficit do Pacífico entre a China e
os EUA ainda roda. Mas isso pode mudar dramaticamente já em breve.
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