O
poder político-militar pode tornar-se potência económica. Mas, apesar disso,
esse poder não está em posição de afastar duradouramente as leis de
funcionamento do capitalismo, mesmo que influencie as formas de desenvolvimento
da história do mercado mundial. Capital mundial precisa de dinheiro mundial
como padrão de medida das relações monetárias. Disso dependem o comércio
mundial e o sistema financeiro global. Como a ligação do dólar ao ouro foi
cortada em 1973, passou para o lugar do ouro a máquina militar sem concorrência
dos EUA, com a sua “economia de guerra permanente”. A função de poder de
garantia global e a ideologia do “porto seguro” tornaram-se poder económico;
o dólar-armamento passou para o lugar do dólar-ouro. É neste constructo que
se baseiam a globalização, a economia das bolhas financeiras e a conjuntura de
deficit dos últimos vinte anos. O preço foi um endividamento externo dos EUA
em dimensões astronómicas.
No
debate sobre a crise financeira crescente, cujo epicentro é constituído pelo
sistema bancário dos EUA, é suspeito que pouco se fale da função de dinheiro
mundial do dólar. Todos sabem que nem o Euro nem qualquer outra moeda pode
assumir este papel. Um regresso à ligação ao ouro é impossível na base das
estruturas de endividamento global e tão-pouco se vislumbra um poder militar
alternativo; ele seria igualmente impossível de financiar. Porém, a crise
financeira, cujo fim não está à vista, coloca fundamentalmente em questão o
constructo da economia do dólar. Presentemente, a Reserva Federal dos EUA
esgota as munições apenas para salvar os balanços dos bancos e evitar a fusão
nuclear do sistema financeiro. Já não resta qualquer opção para injecções
adicionais na conjuntura, tanto mais que o sector público dos EUA está
altamente endividado a todos os níveis e a quota de poupança é ínfima.
Com
isto há o perigo de cair a pique não só a conjuntura de deficit, mas também
a capacidade de financiamento da “economia de guerra permanente”. Os EUA
precisam de um afluxo diário de vários milhares de milhões de dólares de
capital monetário global. Enquanto funcionou este afluxo, a guerra do
ordenamento mundial pôde aparentemente ser financiada pela caixa para despesas
postais, sem grandes efeitos sobre a economia mundial. Porém, a queda do dólar
face ao euro, tal como a fuga para o ouro, assinala que essa fonte começa a
secar. Faz-se notar também uma enorme pressão de valorização sobre as moedas
asiáticas. Segundo as contas do ex-presidente do Banco Mundial, Josef Stieglitz,
só a guerra do Iraque, com todos os seus efeitos colaterais, custou mais de um
bilião de dólares. Não faltarão consequências dramáticas da crise
financeira para os custos do armamento e da guerra nos próximos anos.
Os
anúncios feitos sem condições por ambos os candidatos presidenciais de
gigantescos programas conjunturais não passam de fumaça; quanto ao
financiamento da máquina militar e das suas intervenções nem uma palavra. Na
realidade, o próximo presidente dos Estados Unidos terá de pagar as favas do
desastre financeiro. Se a guerra do ordenamento mundial fracassar, extingue-se
também a função da potência de garantia global e chega ao fim o dólar-armamento.
Então não haverá objectivamente qualquer possibilidade de revalorizar outra
vez o dólar, através de meras declarações diplomáticas, por exemplo dos
ministros das finanças e dos presidentes dos bancos centrais do G-8. As consequências
estão à vista. O comércio mundial no quadro da globalização poderá ser
estrangulado, não só pelo fim do milagre do consumo dos EUA, mas também por
uma crise monetária global, na sequência da crise do dólar.
Original
WELTMACHT
UND FINANZKRISE em www.exit-online.org.
Publicado em “Neues Deutschland”, 18.07.2008