A
ressurreição do keynesianismo é mais que duvidosa
Quanto
mais claramente se faz notar a queda da conjuntura global de deficit, mais altos
se tornam os apelos a favor de um programa estatal de conjuntura, desde o sábio
da economia Bofinger, passando pelo ministro da economia Glos e pelos
sindicatos, até bem dentro do espectro político de esquerda. Precisamente
perante o regresso da estagflação dos anos 70, exumam-se variantes das
receitas keynesianas, que então fracassaram e empurraram as elites capitalistas
na fuga em frente para a “revolução neoliberal”. Agora regressam os mesmos
problemas, no nível mais elevado da globalização. É mais que duvidoso que a
óbvia bancarrota da doutrina neoliberal possa ser vencida pela ressurreição
do keynesianismo.
Todos
os programas conjunturais são limitados ao espaço do Estado-Nação. Porém, já
não existe conjuntura nacional. O que estatisticamente ainda é referido como
tal, há muito que é parte integrante de uma conjuntura mundial integrada, com
orientação para a exportação de sentido único, que tem como ponto de fuga o
“milagre do consumo” dos EUA apoiado no deficit. Quando este sorvedouro
terminar, o que ainda só está iminente, é de esperar um efeito dominó
negativo sobre todo o conjunto encadeado da economia mundial. O declínio
conjuntural em toda a União Europeia, na Europa Oriental e em parte também já
na Ásia é apenas o indício deste desenvolvimento. Sob estas condições,
programas nacionais de conjuntura poderiam, na melhor das hipóteses, ter o
conhecido efeito da gota de água no oceano. Simultaneamente regressa, como na
estagflação dos anos 70, o dilema da política monetária, como dilema de política
conjuntural. Os bancos emissores precisariam de subir os juros de referência
para eliminar a inflação; por outro lado, precisariam de baixar os juros, para
estabilizar a conjuntura que submerge. Injecções estatais na conjuntura, por
meio de tomadas de crédito para o efeito, como prevê a receita keynesiana,
agravariam este dilema. Pois uma procura crescente de crédito por parte do
Estado puxa para cima a taxa de juro no mercado, encarecendo os investimentos e
agravando o potencial inflacionário.
Além
disso, as munições do keynesianismo já foram realmente esgotadas. Pois o
neoliberalismo era mais keynesiano do que queria fazer crer. As intervenções
estatais foram apenas num sentido diferente, já não direccionadas para
programas sociais, investimentos na educação e infra-estruturas. Por um lado
houve o keynesianismo do armamento, desde o Presidente Reagan, que conduziu ao
“porto seguro” dos EUA o capital monetário global excedentário. Por outro
lado, as orgias de desregulação e privatização abriram caminho para a
“inflação de activos” da economia das bolhas financeiras, com que foi
alimentada a conjuntura mundial. Com a crise financeira global e o surto de
inflação igualmente global chega ao fim este crescimento baseado no deficit.
Para evitar a “fusão nuclear” do sistema financeiro, os Estados já tiveram
de aportar enormes somas para saneamento dos balanços dos bancos; e este
processo ainda não chegou ao fim. O keynesianismo do armamento, das bolhas
financeiras e do saneamento já esgotou as possibilidades do Estado, antes que
pudessem ter sido tomados em consideração quaisquer programas de apoio à
conjuntura.
O mainstream cada vez mais neoliberal dos economistas exige, em vez de um programa de conjuntura, mais “reformas da economia de mercado”, sobretudo a desregulação do mercado de trabalho. Salta à vista a falta de lógica deste argumento perante a conjuntura. Já a Agenda 2010 em vigor levou a que os supostos “êxitos no emprego” da administração coerciva estatal, através de baixos salários e aumento do tempo de trabalho, fossem de par com o secar do consumo interno. O fim da conjuntura de exportação repercutirá também sobre os precários postos de trabalho fictícios surgidos à sua sombra. De grande actualidade seria exigir não a delegação nas forças milagrosas do Estado, mas uma resistência social sem hesitações por um drástico aumento dos salários e das prestações sociais do programa Hartz-IV indignas de seres humanos, em nome dos interesses vitais. Este critério, porém, parece já não desempenhar qualquer papel, quando os sindicatos e a esquerda já se limitam a funcionar como forças de manutenção junto à cama de enfermo da capacidade funcional capitalista e dão tratos à imaginação sobre a desordem vigente. O dilema estrutural do capital mundial nos limites da globalização “financeiramente induzida” mais uma vez chama a atenção para a falta de uma alternativa social.