CONCORRÊNCIA PARA BAIXO
A força de uma moeda assinala sempre uma posição relativa. Se a cotação de uma moeda sobe relativamente a outra, isso quer dizer, segundo os livros, que a força económica da respectiva economia nacional é maior em comparação com a outra. Mas, sob as condições dum capitalismo mundial altamente integrado, isso já não é verdade. O sistema de referência fundamentalmente modificado ainda não entrou nos livros. De facto as oscilações das cotações já pouco têm a ver com as paridades de poder de compra da economia interna dos diversos países. A cotação exprime sobretudo o afluxo e refluxo do capital monetário, entretanto sob a égide da economia de bolhas financeiras de âmbito mundial, que circula livremente entre as diversas zonas monetárias. Naturalmente, para a economia mundial, é significativa sobretudo a relação entre as moedas centrais.
Os últimos anos foram marcados pela queda do dólar, sobretudo face ao euro. Este desenvolvimento acelerou-se sob a pressão da crise financeira global, que partiu do sistema de hipotecas dos EUA, como é sabido. Esperava-se, por isso, que a inevitável repercussão sobre a conjuntura real atingisse com especial violência os EUA. Pelo contrário, a zona euro, segundo se dizia, poderia escapar à ruptura nos EUA, porque os países emergentes da Ásia e da Europa Oriental estariam em posição de, sem mais, assumir o papel de locomotiva da conjuntura mundial. Este optimismo profissional era mais que ingénuo. De repente, caíram no esquecimento a globalização e a corrente de exportação de sentido único a ela associada e dependente do milagre do consumo endividado dos EUA, e supôs-se um espaço económico relativamente autónomo na Ásia e na Europa.
Como era de esperar, esta fé optimista não demorou a cair no ridículo. A recessão, a partir dos EUA, já atingiu tanto a União Europeia como o Japão, e faz-se notar também nos países emergentes da Ásia e da Europa Oriental. Em poucas semanas a cotação do dólar face ao euro e ao iene subiu aceleradamente. Com igual velocidade, as esperanças transformaram-se no seu contrário. Agora, de repente, diz-se que a ruptura conjuntural ocorrerá sobretudo na Europa e na Ásia, enquanto nos EUA o pior já teria passado, mesmo antes de ter começado. A nova locomotiva, segundo o coro dos profetas do fim de alarme, não será senão a antiga; e, de imediato, haverá um novo crescimento geral, graças à abalada economia dos EUA.
Contudo, ninguém sabe donde virá o poder de compra para a conjuntura dos EUA, dependente do consumo em 70%. Após a estatização dos grandes bancos de crédito hipotecário dos EUA, o deficit do orçamento de Estado ameaça atingir dimensões surreais. O afluxo de reservas de divisas dos países emergentes já não pode alimentar o consumo, mas quando muito os empréstimos do Estado para financiar as amortizações no sistema bancário. Nesta situação, a oscilação das cotações ocorre perante um pano de fundo de fraqueza absoluta do capital mundial, que perdeu o abastecimento a partir das bolhas financeiras. É, por assim dizer, uma concorrência para baixo, em que as paridades das moedas apenas assinalam qual delas parece estar de momento mais afectada pela recessão. A locomotiva da conjuntura real mundial já só existe como fantasma, na fantasia da corporação dos economistas.
Original WETTLAUF NACH UNTEN em www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 12.09.2008