ECONOMIA
E PSICOLOGIA
Nos últimos meses, o saudável
entendimento burguês do quotidiano tem-se interrogado repetidamente por que não
puderam os peritos de topo prever a mais grave crise desde há 80 anos, ficando
tão surpresos com ela como o homem comum. A razão para esta falha deve ser
procurada no facto de a economia oficial não dispor de conceitos teóricos para
poder perceber o potencial de auto-contradição no interior do desenvolvimento
capitalista em geral. Ao contrário da crítica da economia política de Marx,
ela vê o processo de valorização como uma lei quase-natural, sem contradições.
É por isso que ela não se preocupa com o contexto de "trabalho social
total", formação do valor e sistema de crédito. Em vez disso, ela trata
apenas de “factores” exteriormente relacionados. Nesta perspectiva, a produção
de um derivado financeiro é tão real como a produção de uma máquina de
lavar roupa, até prova em contrário. Nas chamadas contas nacionais são apenas
registados empiricamente os fluxos de renda em dinheiro, não importando a sua
origem.
Com base nesta anti-ciência, houve apenas
alguns inconformados que ultimamente reconheceram pelo menos um desencontro nos
dados empíricos, de modo que puderam prever a insustentabilidade da bolha
hipotecária e a sua ruptura, não conseguindo, contudo, prever o impacto disso
do conjunto do sistema. A grande maioria dos economistas calculava alegremente
que a conjuntura global de deficit continuaria nos próximos anos, nalguns casos
até lá para 2020. A embaraçosa vergonha destas previsões já é coisa do
passado. Agora, a crise é explicada "psicologicamente", porque não
pode haver nenhuma contradição objectiva no sistema. Fiel ao lema de que a
economia é "90 por cento psicologia" reduz-se o desastre financeiro a
comportamentos subjectivos errados, de que não se teria querido saber, e aqui
aplica-se bem a sabedoria dos nossos avós de que os malabaristas financeiros e
os seus clientes de algum modo viveram para além dos seus meios. Por outro
lado, o Estado tem de criar de novo “confiança” entre os actores
psicologicamente deprimidos, através de garantias e apoios conjunturais. Então
o clima económico recuperará novamente.
Do ponto de vista da teoria da crise de
Marx, na economia das bolhas financeiras dos últimos 20 anos foi-se acumulando
uma desvalorização que se situa no limite interno da valorização real. A
sensibilidade dos agentes económicos não tem nada a ver com isso. Tanto os
economistas como os práticos da gestão sentem naturalmente que desta vez a
terapia da psicologia económica poderia ser um completo fiasco. Mas não podem
dizer isso em voz alta, pois, caso contrário, seria declarada uma profecia
negativa auto-preenchida pelo suposto alarmismo, pois por esta via eles estariam
a mandar de novo abaixo a recuperação psicológica. Assim, os institutos económicos
dependentes dos subsídios e portanto do bom comportamento político já se põem
a prever o fim da crise e já descortinam imaginários horizontes radiosos.
Quando estas esperanças, retiradas por magia da cartola, cairem novamente em
desgraça, os peritos poderão exigir pelo menos um prémio de lealdade pelo seu
conveniente optimismo profissional. Então ficará definitivamente claro que a
ciência económica usa um nome falso.
Original ÖKONOMIE UND PSYCHOLOGIE In www.exit-online.org . Publicado Neues Deutschland, 30.01.2009.