Com
cada novo impulso da crise financeira e económica global deslocam-se os palcos.
O incêndio incontrolável salta inesperadamente dos bancos para diversas indústrias
e dos centros para diferentes regiões mundiais periféricas, regressando daí
ao ponto de partida com tanto mais violência. Tal como após os mercados
financeiros foi subitamente atingida a indústria automóvel e os seus
fornecedores, também a Islândia e a Irlanda foram inesperadamente atingidas após
os E.U.A. e a Europa Ocidental. A razão para esta peculiar evolução da crise
é um encadeamento estrutural e global, que nunca antes tinha acontecido nesta
dimensão. O profundo entrosamento da economia das bolhas financeiras com a
chamada economia real a todos os níveis também está simultaneamente integrado
nos sistemas transnacionais, nas mais diversas áreas e com os mais variados
prazos. A faúlha da crise atinge estes contextos complexos com velocidade
crescente e acende cada vez mais novos fogos. Agora é a vez da Europa Oriental.
Ainda
há relativamente pouco tempo o processo local de transição do capitalismo de
Estado para a integração no mercado mundial era considerado um modelo de
sucesso. Mas as altas taxas de crescimento de 7 ou 8 por cento deviam-se apenas
ao nível de partida extremamente baixo, após o anterior colapso e consequente
desindustrialização. Além disso, este crescimento veio junto com uma clivagem
social particularmente brutal. Acima de tudo, porém, o que se chamava com
optimismo “reconstrução” era apenas uma fachada de cartão. Na realidade não
houve transição absolutamente nenhuma para uma verdadeira participação no
mercado mundial, mas apenas para uma economia de endividamento totalmente
dependente. Enquanto a fraca reindustrialização se limitava a postos de
trabalho de baixos salários deslocalizados pelos conglomerados empresariais
ocidentais, os bancos ocidentais deitaram a mão ao sistema financeiro, que em
todo o Leste da Europa é constituído quase exclusivamente por filiais suas.
Deste
modo se inflou uma bolha de crédito especial na forma de afluxos maciços de
capital monetário. Isto diz respeito não em último lugar aos países membros
da U.E. ou candidatos ainda não integrados na zona euro. Aqui os Estados, as
empresas e as famílias endividaram-se cada vez mais em moedas estrangeiras,
principalmente euros e francos suíços. Com estes empréstimos se consumiu,
importou e investiu em sectores não produtivos despreocupadamente. Agora
esgota-se o fluxo de dinheiro, as moedas locais são desvalorizadas e os juros
dos empréstimos em euros e francos suíços explodem. Estão iminentes
bancarrotas estatais em série, da Lituânia à Ucrânia.
O
crash iminente dos devedores do Leste Europeu tem, evidentemente, sérias
consequências para os próprios credores, também eles já debilitados.
Instituições monetárias alemãs como o Commerzbank, e mais ainda o francês
Société Générale assentam numa massa de créditos malparados do Leste
Europeu. Pior é a situação de bancos austríacos como o Raiffeisen
International. Só os austríacos têm na zona de influência no antigo império
de Habsburgo créditos concedidos no montante de 230 mil milhões em dívida
que, note-se, representam tanto como 75 por cento do produto interno bruto do país.
Enquanto nos próximos meses serão necessários novos pacotes nacionais e
internacionais de salvamento para o Leste e seus credores, quebram as exportações
que nesta área há muito vinham crescendo de ano para ano. E já se anuncia o
próximo crash regional mundial, nomeadamente na Ásia. A tempestade de fogo que
varre a economia por todo o globo em ziguezagues selvagens ainda está longe de
ter atingido o ponto culminante.
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