À ESPERA E A TOMAR CHÁ

A miséria do debate sobre os programas de conjuntura

Robert Kurz

Como era de esperar, a cimeira sobre a conjuntura que decorreu na Chancelaria não deu em nada. Enquanto o Fundo Monetário Internacional e os institutos económicos anunciam números horrorosos da queda da conjuntura, os representantes do governo, empresas e sindicatos não conseguiram qualquer acordo concreto. A reivindicação sindical de um terceiro pacote de apoio à conjuntura foi posta de lado. Não admira, pois os partidos da grande coligação estão apenas de olho uns aos outros sob o signo das próximas eleições federais. Já não são capazes de elaborar planos comuns em maior escala. É óbvio que a crise não assentou. O que acontece é que programas adicionais são guardados para as campanhas eleitorais. Os quais irão repercutir-se na próxima legislatura, seja quem for o governo. Entretanto, a palavra de ordem a bordo do Titanic é: esperar, tomando chá, e insistir nas declarações de optimismo profissional.

O segundo pacote de apoio à conjuntura não só é muito pequeno, como também vem demasiado tarde. Se é que as medidas (construção de estradas, reabilitação de escolas, etc) têm efeito, será apenas no próximo ano. Até lá, a queda desenvolverá a sua própria dinâmica. O esgotamento dos prémios de abate de viaturas, que já agora não conseguem absorver a quebra das exportações, abrirá então mais um buraco nos números das vendas da indústria automobilística. Após a cimeira sobre a conjuntura, apenas as associações patronais podem esperar que os seus clientes, no quadro do trabalho a tempo parcial em crescimento explosivo, sejam isentos de descontos para a segurança social. Esta despesa não só é cara, mas também não vai longe. De acordo com as previsões cautelosas dos institutos económicos, o número de desempregados na Alemanha crescerá entre um e dois milhões até o início de 2010. Muitas pequenas empresas poderão mesmo assim ser incapazes de pagar o trabalho a tempo parcial.

O efeito de um terceiro programa de conjuntura é duvidoso, tendo em conta a dinâmica de crise global. Mas o orçamento de Estado será com isso submetido a um teste de resistência. Os avales do Estado, apoios e programas de investimento já rebentam todos os limites ao endividamento auto-impostos. Essa é também a razão pela qual a grande coligação em ruptura já não quer sujar as mãos com novas intervenções onerosas. O próximo governo será provavelmente uma missão suicida. Na cimeira de conjuntura após as eleições federais são de esperar programas de emergência desesperados. Até então, faz-se de conta. A classe política já não acredita em si mesma, embora agora todos queiram fazer de Obama alemão. O qual, de resto, também não tem qualquer ideia de solução; o glamour da obamania já se desfaz passados poucos meses. Talvez os perdedores das eleições fiquem em posição mais confortável. Entretanto, as pessoas deixam-se empurrar para a habitual campanha mediática. O chá da espera pode ter um sabor um pouco insípido.

Original ABWARTEN UND TEE TRINKEN in www.exit-online.org Publicado na edição online do semanário Freitag, Berlim, 24.04.2009.

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