O
CAPITAL E A HISTÓRIA
A
confiança no capitalismo parece inabalável, até na esquerda. Ele renascerá
como Fénix das cinzas de todas as crises e iniciará novas retomas. Entretanto,
já não pode ser negado que estamos actualmente confrontados com uma queda histórica.
Uma nova crise económica mundial com consequências imprevisíveis está na
ordem do dia da história. Porém, apesar de tudo, a pergunta geral é apenas:
Quando é que a crise acaba? Que capitalismo virá após a crise? Esta
expectativa alimenta-se do entendimento de que o capitalismo é o "eterno
retorno do mesmo". Os mecanismos fundamentais da valorização permanecem
sempre os mesmos. É verdade que há revoluções tecnológicas, convulsões
sociais, mudanças nas "relações de forças" e novas potências
hegemónicas. Mas esta é apenas uma superficial "história de
eventos", um eterno sobe e desce de ciclos. Nesta perspectiva, a crise é
meramente funcional para o capitalismo. Ela leva à "limpeza", pois
desvaloriza o capital em excesso. Assim se abre caminho para novos processos de
acumulação.
Esse
entendimento não leva a sério a dinâmica interna do capitalismo. Mas há também
uma visão diferente. Segundo esta, a valorização só existe realmente numa
dinâmica histórica de desenvolvimento crescente das forças produtivas. Não
se trata apenas de mudança tecnológica, mas também são estabelecidas novas
condições de valorização. É por isso que o capitalismo não é o
"eterno retorno do mesmo", mas um irreversível processo histórico,
que conduz a um ponto culminante. Pois no decurso da história interna do
capitalismo restringem-se as possibilidades de valorização. A força motriz é
a libertação da força de trabalho, tornada cada vez mais supérflua por meio
dos agregados tecnológico-científicos. O trabalho, no entanto, constitui a
substância do capital, porque só ele produz mais-valia real. O capitalismo só
pode compensar esta contradição interna através duma expansão do sistema de
crédito, ou seja, através da antecipação de mais-valia futura. Este sistema
de bola de neve, no entanto, tem de esbarrar em limitações, caso se estenda
este adiantamento demasiado longe no futuro. Nesta perspectiva, as crises não têm
apenas uma "função de limpeza", mas agravam-se historicamente e
levam até uma barreira interna da valorização.
Cabe
agora a pergunta sobre qual o estatuto da nova crise económica mundial. Os
representantes da segunda opinião são acusados de apenas quererem esperar pelo
fim do capitalismo. Mas o atingir de uma barreira interna não substitui a
emancipação social, pelo contrário, apenas lançaria a sociedade mundial no
caos. Poder-se-ia muito mais acusar os representantes da primeira opinião de
que eles, sim, pretendem esperar ingenuamente que o capitalismo seja relançado,
após a "limpeza". É esta a esperança que muitas esquerdas partilham
com as elites dominantes. Mas o que acontece se a situação não se comportar
assim? Se não pode ser especificado qualquer novo potencial de valorização
real, a teoria da "limpeza" não passa de uma fórmula vazia. Uma nova
produção com trabalho intensivo, no entanto, está longe da vista. A posição
geral de expectativa poderá sofrer um mau despertar. A questão teria então de
ser: o que vem após o capitalismo? A mera nacionalização das categorias
capitalistas não é mais uma opção, pois ela já faz parte da história. Se
esta crise tem de ser resolvida com a civilização, talvez seja necessário
mais do que esperar pela próxima retoma.
Deutsch
KAPITAL UND GESCHICHTE in www.exit-online.org Publicado em Neues Deutschland,
Berlim, 24.04.2009.