QUE FAZER COM O LIXO TÓXICO DOS BANCOS?

Por que se transformam os planos do governo em farsa

Robert Kurz

Os títulos que perderam o valor nas carteiras dos bancos têm uma desesperada semelhança com os resíduos nucleares, ou com o legado da catástrofe de Chernobyl. Infelizmente não se pode removê-los para um depósito definitivo nem metê-los num caixão hermético. Pois trata-se de títulos com vencimento a médio ou longo prazo. Transferi-los para “bad banks” apenas adia o problema para os próximos anos. Portanto, existe uma querela sobre quem, em última instância, há-de ficar com a responsabilidade. Nos E.U.A., o Estado assumiu todo o risco. Contudo, isso aplica-se apenas aos problemas surgidos nos balanços até agora. Que esqueletos ainda estão no armário era o que deveria revelar um "stress test" a cada banco. Este teste, porém, tornou-se uma farsa: as necessidades futuras de saneamento seriam supostamente de "apenas" 75 mil milhões de dólares. Esta notícia desencadeou um pequeno fogo de artifício nas bolsas. Posteriormente, veio a público que o teste fora falsificado e que só a soma actual de amortizações já é aproximadamente duas vezes mais elevada. Acresce que o crash do crédito ao consumo ainda não ocorreu e é esperado para os próximos meses.

Na Alemanha, a forma de constituir um ou mais "bad banks" ainda está nas estrelas. Na concepção do Ministro das Finanças, Steinbrück, está prevista a trasladação do lixo tóxico alemão para sociedades constituídas para o efeito. O "complexo compromisso" (Handelsblatt) implica, no entanto, que os próprios bancos fiquem responsáveis pelos papéis de refugo e que transfiram de imediato 10 por cento do valor fictício contabilizado para o fundo de salvamento dos bancos. Para as finanças públicas poderia então estabelecer-se um "valor zero". Esta farsa de "salvação dos balanços" temporária não se aplica, porém, aos bancos dos Lands em dificuldade. Aqui prevê-se um tratado público; os papéis tóxicos devem ser transferidos para uma instituição de direito público. No fundo é a ideia de uma fusão dos bancos dos Lands, com cortes drásticos de pessoal associados.

Entretanto, a Comissão Europeia decretou para os bancos dos Lands alemães a redução dos valores do balanço e a concentração em algumas áreas de negócio. Mesmo as chamadas participações “não estratégicas”, que estão para venda, devem ser transferidas para os “bad banks” semi-públicos ainda não constituídos. É o caso de opções especulativas, provocadas pela própria Comissão Europeia com a orientação neoliberal para a economia das bolhas financeiras, uma vez que ela impôs a redução das garantias do Estado na actividade própria dos bancos dos Lands (apoio às PME e financiamento de infra-estruturas públicas). Neste aspecto, os papéis invertem-se de forma incrível. Na verdade, prevê-se simultaneamente uma "abertura" dos bancos dos Lands fundidos a "investidores externos". Ninguém acredita que estes se interessem pelas necessidades vitais de financiamento público. O keynesianismo de salvamento é apenas a continuação do neoliberalismo por outros meios. Se os papéis lixo tóxico se venceram, sem que um milagre os faça valer alguma coisa, todos os planos de "bad banks" ruirão, duma maneira ou doutra.

Original WOHIN MIT DEM GIFTMÜLL DER BANKEN? in www.exit-online.org Publicado na edição online do semanário Freitag, Berlim, 15.05.2009.

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