A
redução da velocidade de queda
A
memória da economia de mercado e dos media corresponde aproximadamente
à memória de uma criança de três anos. No entanto, talvez deva ser recordado
o “serviço” de previsões das instituições oficiais, relativamente à
evolução da economia global. No Verão de 2008 ainda se celebrava, em previsões
que iam até 2020, a retoma da conjuntura, nunca reconhecida como conjuntura de
deficit. À medida que a crise financeira se começava a manifestar, havia
"fins de alerta" periódicos. O pior já passou, ouvia-se ainda em
Setembro. Após as "Segundas-Feiras Negras" nas bolsas de valores,
insistiu-se na afirmação de que a economia real era saudável em si mesma e
apenas seria um pouco afectada pelo desastre da economia financeira. Para 2009
esperava-se um crescimento apenas ligeiramente mais fraco. Quando a economia
mundial entrou em queda, os institutos económicos, acometidos de dúvidas sobre
si mesmos, já não se dispunham a emitir mais qualquer prognóstico. Mas o
aprendido não esquece. Recentemente, o título da "Wirtschaftswoche"
era: "Hurra, ainda estamos vivos". O optimismo profissional
apropriou-se da fórmula segundo a qual, de acordo com o Instituto IFO, a
velocidade da queda teria começado a abrandar.
Mesmo
fisicamente, trata-se de uma imagem bastante enviesada, porque em queda não se
consegue abrandar; a questão, quando muito, é a natureza da aterragem. O novo
optimismo faz lembrar a velha anedota do homem que caiu do avião sem pára-quedas
e, a meia altura, diz: "Até aqui tudo bem". Que um colapso histórico
se possa resolver a contento de todos apenas em alguns meses é, naturalmente,
uma esperança vã. A crise económica mundial não se desenvolve linearmente,
mas aos solavancos. Se neste momento se tem esperança no alcance dos programas
económicos globais, no valor de aproximadamente dois biliões de dólares, está-se
a esquecer o que é decisivo. Em primeiro lugar, os esqueletos no armário dos
balanços dos bancos e dos conglomerados empresariais estão ainda longe de ter
sido removidos; os “bad banks” simplesmente adiaram o problema e ainda está
para vir a próxima onda de write-off necessários (como por exemplo nos
sistemas de cartões de crédito). Em segundo lugar, com a transferência do crédito
para o Estado, o potencial inflacionário está à espreita; a curto prazo uma
conjuntura inflacionária poderia passar por cima das barreiras levantadas
contra a crise. E, em terceiro lugar, não há quaisquer novos potenciais de
valorização real à vista, que pudessem gerar uma retoma auto-sustentada, de
acordo com o "motor de arranque" keynesiano baseado na dívida.
A
parte de leão dos programas conjunturais coube até agora à China. Lá já se
pagam subsídios do Estado para a compra de frigoríficos e máquinas de lavar.
Mas com isso nem sequer se pode compensar no curto prazo a ruptura da exportação
de sentido único. Mesmo com um subsídio, o poder de compra do mercado interno
chinês é demasiado pequeno para poder compensar a queda do consumo dos EUA. Além
disso, os subsídios do Estado aplicam-se apenas aos bens produzidos na China e
não ajudam nada os exportadores do resto do mundo. O programa de simulação
está a ser pago a partir do gigantesco excedente de divisas, em moeda dos EUA,
divisas ameaçadas de desvalorização pelos igualmente gigantescos pacotes de
salvamento, financiados pelo banco central nos EUA. É de esperar um surto de
inflação nos EUA e na China, a irradiar para todo o mundo, estando
simultaneamente iminente a segunda onda da queda do consumo dos EUA e,
consequentemente, da exportação global. A próxima vergonha do
"pensamento positivo" é inevitável. Ilimitada parece ser apenas a
perda de realidade das elites capitalistas, que já não sabem que fazer.
Original
VERLANGSAMUNG DER
FALLGESCHWINDIGKEIT in www.exit-online.org
Publicado em Neues
Deutschland, 22.05.2009.