ZERO
VÍRGULA NICLES
Ainda
ontem os peritos não sabiam como se escreve crise histórica e hoje já ela está
a terminar. Tão depressa que as coisas podem andar. A história também já não
é o que era. De qualquer modo, segundo o Instituto Estatístico Federal da República
Federal, houve um crescimento de 0,3 por cento. Pequena pergunta: em relação a
quê? Em relação ao trimestre anterior. Na comparação anual, a que realmente
interessa, parece ser um pouco diferente. As exportações ainda estão cerca de
20 por cento abaixo dos valores do ano passado. E, se houvesse em 2010 um por
cento de crescimento, seria naturalmente calculado a partir do nível da queda a
que se chegou. E supondo um aumento assim modesto levaria muitos anos até poder
ser alcançado novamente o nível da conjuntura de deficit de 2004 a 2008. Como
tal, a mensagem actual de alegria equivale a "zero vírgula nicles". O
facto de a recessão poder ser assim declarada “acabada” constitui apenas
mais uma prestação vencida do pensamento positivo. Mas, na realidade, o seu
efeito retardado sobre o mercado de trabalho ainda não chegou. Tanto mais que a
grande onda de falências apenas está a começar. Em breve, o colapso do comércio
mundial vai afectar muitas empresas de transporte de mercadorias, desde os armazéns
ambulantes que circulam pelas estradas, passando pelo transporte ferroviário e
aéreo de carga, até às companhias de navegação e aos portos, dado o enorme
excesso de capacidade de circulação de contentores nos mares de todo o mundo.
A seguir é a vez da indústria de bens de capital e de componentes. Idêntica
é a tendência na indústria automobilística, cuja alimentação artificial,
através dos prémios de abate, se está a acabar, não só aqui, mas em grande
parte da União Europeia. Para não falar da remoção dos montes de esqueletos
nos armários do sistema financeiro, que até agora não passou das declarações
de intenções. Mas tudo isto não é nada. Uma pequena elevação da moral histórica
na silly season, ainda por cima algumas semanas antes das eleições
federais, abre grandes perspectivas. A única questão, na verdade, é saber
para quem.
Original
NULLKOMMANICHTS
em www.exit-online.org. Publicado
Na edição online do semanário FREITAG de 13.08.2009