NO APERTO
DO CRÉDITO
Se não fossem os
malvados bancos, a crise já quase se teria desvanecido, a contento de todos.
Assim, o Ministro das Finanças Steinbrück reage com ar zangado, alegando que
as instituições de crédito não teriam cumprido o seu dever para com a
economia nacional. Só concedem créditos às empresas mediante condições
muito difíceis, ou então não concedem mesmo, embora eles próprios se possam
refinanciar junto do banco central a taxas de juros historicamente baixas. O que
Steinbrück esconde deliberadamente é que, segundo a versão oficial, foram os
empréstimos feitos frivolamente pelos bancos sem base de capital adequada que,
não em último lugar, levaram à crise financeira. Requisitos mais rigorosos no
que respeita a capitais próprios obrigam os bancos a restringir a concessão de
empréstimos ou a aumentar o seu custo. Nesta situação de nada adianta o nível
extremamente baixo dos juros.
Como as empresas também têm obviamente falta de capitais próprios e estão agora ameaçadas pelo famoso aperto do crédito, os reguladores estatais, que ainda há pouco tempo se apresentavam cheios de força nas suas declarações de intenções, já se encolheram outra vez. Regras mais rígidas para os capitais próprios dos bancos, como acabam de assegurar os ministros das Finanças do G20 em Londres, "provavelmente" só lá para 2012, se vierem a acontecer. Esta discreta marcha-atrás na tão apregoada reforma do mercado financeiro não vai certamente tornar os bancos mais generosos. Pois, independentemente das exigências do Estado, a partir do Outono eles vão ter de se ajustar às perdas de créditos numa magnitude sem precedentes. Está em curso a maior onda de falências desde a guerra. Devido ao plano de cortes dos conglomerados empresariais, alguns dos quais estão numa situação periclitante, não demorará muito tempo até que caiam as encomendas em toda a gama de indústrias fornecedoras. Será o fim de muitas delas. E o mesmo se aplica ao sector dos transportes. Ora, se em breve terão de ser abatidos ao activo créditos comerciais malparados em larga escala, por que hão-de os bancos continuar a conceder de mãos cheias créditos baratos a candidatos à morte potencial?
Contrariamente a toda a propaganda do optimismo, esta é a situação real, não só na Alemanha, mas em todo o mundo. A concessão de crédito global pelo sistema bancário caiu desde 2007 de 3 biliões para 1,1 bilião de dólares. Durante o mesmo período, a emissão de obrigações de empresas também cresceu rapidamente; até Julho do ano em curso foi alcançado neste sector, pela primeira vez na história do mercado de capitais, o volume recorde de mais de 1 bilião de dólares. Porém, esta mudança das necessidades de financiamento, de créditos bancários para a emissão de obrigações, apenas está ao alcance de empresas relativamente grandes, que no mercado do crédito entram em concorrência com as emissões de dívida pública também drasticamente expandidas, aumentando os custos das emissões.
O facto de os fundos e
investidores privados em geral estarem dispostos a comprar tais papéis de crédito
deve-se à grande massa de activos líquidos que não podem ficar sem aplicação.
Mas, se a onda global de falências se desencadear, naturalmente também o
mercado de obrigações das empresas entrará em colapso, pois aumentará
drasticamente o risco de perda total. Uma vez que as necessidades de
financiamento de cada vez mais empresas já não têm a ver com investimentos e
produção corrente, mas com a renegociação de créditos vencidos em situação
precária, as empresas não receberão de qualquer forma mais dinheiro do
sistema financeiro. O aperto do crédito é assim um mecanismo que se auto-reforça.
Seria realmente maravilhoso se a crise se despedisse antes mesmo de se ter
tornado realidade.
Original IN
DER KREDITKLEMME em www.exit-online.org.
Publicado em Neues Deutschland, 11.09.2009