Robert Kurz

RESGATE SEM GARANTIA

Karstadt é um caso limite de desvalorização, como a Opel

Grande demais para falir? A questão colocou-se pela primeira vez, em termos de risco para a totalidade do capital global, no caso dos bancos classificados como “sistemicamente relevantes”, que se tornaram casos dispendiosos de resgate para o Estado. Por outras razões, a empresa automóvel General Motors foi considerada suficientemente importante para tratar dela completamente. Neste caso o Estado moveu-se com a preocupação da localização industrial e do sentido dos votos. Agora que as nuvens de poeira da falência da GM pousaram um pouco, os auxílios estatais para a subsidiária alemã Opel tornaram-se duvidosos. Existem também casos em que a actividade do Estado samaritano não está em discussão. É o caso da falência do Grupo Arcandor, que tinha engolido marcas bem conhecidas do comércio a retalho, assim se arruinando completamente. A grande firma de vendas por correspondência Quelle, saída da sua massa falida, não obteve as boas graças do Estado nem dos investidores. Sacrificou-se o que antes era um exemplo admirável do milagre económico, e o complexo central em Nuremberg-Fürth é hoje uma cidade fantasma, como os antigos pavilhões da Grundig e da AEG. Por outro lado, empresa de centros comerciais Karstadt, salva da falência do mesmo Grupo Arcandor, com seus 25 mil empregados, após um período de vacas magras de administração da insolvência, atraiu sobre si já não o olhar paternal do Estado, mas olhares cobiçosos de sociedades de investimento.

Não é nenhuma novidade que os caçadores de pechinchas empresariais gostam de comprar ao desbarato, na crise, capital fixo e capital em mercadorias, antes de eles próprios falirem, ou de eventualmente chegar mesmo uma retoma geral. Para Karstadt havia três candidatos: um consórcio chamado Triton, o investidor privado Nicolas Berggruen e o grupo High Street (maioritariamente controlado pela Goldman Sachs e pelo Deutsche Bank). Espontaneamente isto suscita tão pouca confiança como as condições exigidas. Assim, os 98 municípios com lojas Karstadt foram forçados a renunciar aos impostos sobre o negócio. Berggruen conseguiu o contrato porque é o único que quer assumir todos os funcionários. No entanto, na condição de que o senhorio de Karstadt (que não é senão o grupo High Street, envolvido no negócio) concorde em reduzir fortemente a renda.

Se o negócio for para a frente, a administração de insolvência simplesmente aproveitou um bom momento. Enquanto a Quelle foi levada pelo turbilhão da crise de 2009, Karstadt entretanto manteve-se à tona de água, no ambiente dos programas de apoio à conjuntura económica. E ainda que tenham sido queimados no crash financeiro biliões de dólares e de euros, a inundação de dinheiro dos bancos centrais desde então alimentou novamente com liquidez os fundos de investimento. Portanto, os objectos da massa falida atraem mais desejos de compra, não importando se se trata do comércio de órgãos como partes do corpo das empresas ou de um interesse real na continuação do seu funcionamento. Os programas de poupança e as crises monetárias, com novas quebras económicas como resultado, poderão, no entanto, anular os cálculos de ambas as opções. Karstadt é, como a Opel, um caso limite de desvalorização do capital. Diz-se que o futuro da empresa e dos trabalhadores está garantido; mas o futuro, hoje em dia, talvez já tenha apenas o alcance de uma moratória.

Original RETTUNG OHNE GEWÄHR in www.exit-online.org.  Publicado em Freitag, 10.06.2010

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