O
SPD, OS RICOS E A MORAL
Talvez
a única razão para a subida da social-democracia alemã nas sondagens seja
porque o governo de coligação preto-amarelo vai dando de si uma imagem cada
vez pior de semana para semana. O antigo partido do "novo centro"
imaginário recuperou a alma social na oposição. Pelo menos procede como se
assim fosse. A moção de estratégia do Presidium do SPD para o próximo
congresso do partido exige o aumento da taxa máxima de IRS de 42 para 49 por
cento; em todo o caso, apenas para rendimentos superiores a 100 mil euros. Além
disso, as fortunas privadas deverão ser novamente mais taxadas. Há um pequeno
problema de credibilidade: O SPD avança assim heroicamente contra a diminuição
dos impostos dos ricos que foi por si introduzida no tempo do Chanceler Schröder.
Pode
certamente ser posto em dúvida que o passo atrás tenha resultado de uma visão
mais aprofundada. Entretanto, os próprios ricos ultrapassaram o SPD pela
esquerda. Não há talk show em que um
titular de elevados rendimentos não venha afirmar o quanto está contra o baixo
nível da sua tributação. Ainda antes do SPD, titulares de grandes fortunas
exigiram para si aumento dos impostos, para que o Estado pudesse cumprir sua
missão. Nos E.U.A., os multimilionários uns atrás dos outros aparecem a
querer doar de metade ou mais da sua fortuna.
Se
os ricos e super-ricos vêm assim de saco e cinza, até mesmo o FDP tem de se
engasgar com o costumeiro raciocínio sobre a pura “inveja" dos menos
remediados por culpa própria. Se o cinismo social era considerado chique no
ponto alto da conjuntura das bolhas financeiras e de deficit, no crash
global são publicamente denunciadas as insaciáveis goelas da avidez, as quais
agora se revelam como modelos de filantropia desinteressada. O SPD tem pactuado
com todas as conjunturas do espírito do tempo sócio-económico nos últimos
dez anos. Primeiro deu sem escrúpulos aos que já tinham; depois foi o
vociferar contra os gafanhotos; finalmente, há que participar na ressaca moral,
logo que também a clientela dos ganhos de topo entra nessa. O repensar
contemplativo deve, no entanto, ser devido ao receio de que a crise económica
mundial não acabe tão depressa como se esperava, e que as suas consequências
ainda não dominadas deixem a sociedade cair possivelmente num estado caótico.
Mas
a moralização da economia chega em todo o caso tarde demais. Enquanto há
dinheiro com fartura, porque a cornucópia da conjuntura deita por fora, as
elites não querem saber nada disso - e a classe política adverte contra as
reivindicações excessivas não os ricos, mas sim os pobres. Agora que a máquina
da valorização gripou e, apesar de todos os discursos de fim de alarme, passou
a emitir ruídos estranhos, então já não adianta muito pretender ser
finalmente decente. O capitalismo não é uma questão de boa vontade. É o próprio
modo de produção de riqueza que se revela um problema, que não pode ser
resolvido com a mera justiça distributiva. Mesmo que os multimilionários dos
E.U.A. façam doação de toda a sua fortuna, até ao último cêntimo, não será
através da generosidade subjectiva que se vai evitar a ameaçadora segunda
queda da conjuntura económica. Infelizmente não é possível fazer a doação,
para uma boa causa, do sistema de produção de mais-valia abstracta como tal,
para finalmente poder haver paz social.
Original
DIE
SPD, DIE REICHEN UND DIE MORAL
in
www.exit-online.org.
Publicado na edição impressa de Freitag,
02.09.2010