Robert Kurz

 

A ECONOMIA EMPRESARIAL COMO JOGO DE RISCO

 

Para a clientela habitual o pior vilão não é o informador, mas o especulador. O "casino" do capitalismo financeiro há muito tempo que é responsabilizado por todas as crises económicas e sociais surgidas. Assim, o banqueiro tornou-se o protótipo do jogador irresponsável e é considerado o inimigo número um de todos os burgueses respeitáveis. A mesma consciência consegue, no entanto, encontrar um monte de coisas boas no capitalista industrial, que não anda metido na aérea superstrutura financeira, mas manda produzir objectos materiais, precisando para isso de postos de trabalho. Não se critica o capitalismo em geral, mas gostaria de se distinguir entre o jogo financeiro duvidoso e a economia real com os pés assentes na terra.

 

Mas estará o capital da economia real, com a sua base material, realmente tão longe do pensamento especulativo? Também o lucro industrial não está garantido à partida, mas tem de ser primeiro conquistado na concorrência. Uma vez que não há qualquer planeamento conjunto da produção social, nenhuma empresa sabe se pode vender os seus produtos. Assim, também a produção material é um jogo de risco no campo da concorrência universal e o gestor da economia real é também um jogador tal como o banqueiro de investimento. Apenas a aplicação é diferente: em vez de títulos financeiros, temos máquinas, matérias-primas e mão-de-obra.

 

Durante muito tempo a ciência económica pretendeu separar a concorrência de risco da noção de jogo de azar. As tentativas de aplicar a teoria matemática dos jogos ao comportamento económico vieram apenas de fora. Somente em 1994 é que John F. Nash (Princeton), John C. Harsanyi (Berkeley) e Reinhard Selten (Bona) receberam o Prémio Nobel como representantes da teoria económica dos jogos. Esta mudança na percepção tem algo a ver com a mentalidade pós-moderna, que gostaria de transformar toda e qualquer coisa num "jogo", mas não só. Nem tão pouco se trata apenas de um reflexo ideológico da economia das bolhas financeiras desde a década de 1980. Pelo contrário, foi a própria aplicação de risco na economia real industrial que mudou drasticamente.

 

O trunfo no jogo da concorrência, como se sabe, é a redução dos custos empresariais. Na economia real trata-se também, no caso, de assumir riscos, em sentido altamente material. Isto aplica-se, não em último lugar, às normas de segurança para lidar com substâncias e processos perigosos. A pressão da concorrência, agravada pela crise do capitalismo, há muito que atingiu esta área sensível. A outra face do mesmo desenvolvimento é a utilização de unidades de produção cada vez maiores e de técnicas cada vez menos maduras e menos controladas. Assim, o grande derramamento de petróleo no Golfo do México, em 2010, foi causado, segundo o relatório da investigação oficial, por uma estratégia empresarial rígida de redução de tempo e de custos do conglomerado de empresas participantes. A mesma política veio à luz do dia no caso do desastre nuclear no Japão; independentemente do facto de a energia nuclear já trazer em si uma carga de riscos incontroláveis.

 

Os especuladores financeiros, pelo menos, jogam apenas com papéis, mas os jogadores das grandes empresas industriais jogam com a natureza, com a vida e com a saúde das pessoas. Quem é mais irresponsável? A cadeia de catástrofes industriais causadas pela economia empresarial tornou-se nos últimos 30 anos tão cerrada como a cadeia de craches financeiros. E o próximo não tarda aí. The game must go on.

 

Original BETRIEBSWIRTSCHAFT ALS RISIKOSPIEL in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 04.04.2011

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