As Metamorfoses do Yuppie Teutónico

Prefácio à nova publicação

 

O texto "As Metamorfoses do Yuppie Teutónico", de 1995, é publicado novamente na homepage da exit!, na rubrica "Aktuelles", dado que hoje, às vezes, mesmo nas discussões no contexto da exit!, parece como se a viragem à direita dos últimos anos tivesse caído do céu de repente. Este texto mostra que já antes eram previsíveis alguns desenvolvimentos que agora atingem o ponto culminante – alimentados pelo crash de 2007/8 e pela dinâmica da crise social mundial, que necessariamente trazem consigo movimentos massivos de refugiados – e significam um novo nível de barbárie e decadência pós-modernas. Tendo a primeira publicação, em meados dos anos 90, sido recebida com forte desagrado na redacção da Krisis de então e no respectivo meio, entretanto há anos que o "anti-semitismo estrutural", no contexto dos processos de globalização, constitui um componente estável da Krisis residual. É claro que o conflito de então nem sequer é mencionado.

O artigo sobre o "Yuppie Teutónico" baseia-se, entre outras, em análises anteriores de Jürgen Elsässer, que entretanto se converteu à direita, à moda da frente transversal, como outros (antigos) esquerdistas. Suas considerações do início dos anos 90, em muitos aspectos plenamente acertadas, confirmam-se hoje nele mesmo: ele tornou-se aquilo para que então insistentemente alertara.

As tarefas da crítica da dissociação-valor então formuladas não foram entretanto concluídas, mas continuaram a ser desenvolvidas a traços largos, justamente no que define a relação de mediação entre "raça"/anti-semitismo, classe e género (por exemplo, Scholz, “Diferenças da crise – crise das diferenças”, 2005), sendo que também foi evidenciada a central estrutura de exclusão no que respeita ao anticiganismo, amplamente negligenciado na esquerda (designadamente, Scholz, “Homo sacer e os ciganos”, 2007).

 

Roswitha Scholz pela Redacção da exit!, Novembro de 2018

 

 

 

 

Roswitha Scholz

 

As Metamorfoses do Yuppie Teutónico

Chauvinismo do bem-estar, esquerda dos anos 90 e anti-semitismo de capitalismo de casino

 

 

Nos últimos anos, e sobretudo mais recentemente, com pogroms racistas contra requerentes de asilo, "estrangeiros" etc., torna-se perceptível um crescente sentimento anti-semita ou proto-anti-semita, de modo aberto e latente. Os "especuladores", por exemplo, são apanhados no fogo cruzado da crítica, e também nos círculos esotéricos as tendências anti-semitas, racistas e social-darwinistas se espalham cada vez mais.

Nos anos 80 poucos pensariam que tal desenvolvimento fosse possível. Os/as autistas hedonistas do consumo eram geralmente considerados companheiros inofensivos e pacíficos que, na melhor das hipóteses, mesmo fazendo algum mal na disputa do relacionamento, ainda assim poderiam depois mudar de sítio, numa alegre existência singular. Por isso é tempo de examinar as metamorfoses dos indivíduos teutónicos na época do capitalismo de casino, examinando também a sua importância em algumas posições da esquerda radical. Pois parece-me que continua a ser tabu entre várias esquerdas precisamente a crítica desta fase e das correspondentes formas de consciência, como constituinte para atitudes e actos de violência racistas e anti-semitas cada vez mais frequentes, pelo menos desde 1989.

Se aqui continuo ironicamente a falar na forma masculina do "yuppie teutónico", criticando a sua imagem branqueada em algumas concepções de esquerda, e do "Zé Povinho alemão" etc., com isto de modo nenhum quero dizer que só os homens são racistas e anti-semitas, que só eles podem mostrar atitudes viradas para a concorrência e para a defesa dos direitos adquiridos (veja-se também a minha crítica ao movimento feminista – Scholz, 1995). No entanto, uma vez que se trata de figuras estabelecidas, o masculino deve ser mantido. Inversamente, serão discutidos abaixo não apenas o capitalismo, o capitalismo de casino etc., mas também o capitalismo patriarcal, o capitalismo patriarcal de alta tecnologia etc.

Este problema aponta para quanto a história patriarcal está coagulada na linguagem, e quão difícil é geralmente desenvolver um estilo de escrita não-patriarcal sem perder a fluidez. É precisamente essa dificuldade que aponta para a justificação fundamental da "political correctness" (mesmo que as exigências no domínio linguístico possam ser por vezes exageradas); uma posição que encontra resistências particulares, especialmente na Alemanha, mesmo entre muita gente na esquerda.

Para não perder a linha de pensamento, por vezes renuncio à forma feminina adicional. Nesse contexto, a análise da relação entre racismo, anti-semitismo e sexismo tem de ser adiada para outra ocasião; também a mudança nas relações de género nas últimas décadas, na sua importância para as tendências nacionalistas da nova direita, não será para já abordada. Sem perder de vista estas importantes observações, as metamorfoses do yuppie teutónico vão agora ser examinadas.

 

1.

Os anos 80 foram, como se sabe, o auge do "capitalismo de casino". Na esteira do thatcherismo, das reaganomics e do conservadorismo sempre-em-pé de Kohl na antiga RFA, em suma, da viragem conservadora-liberal, voltaram a entrar em cena a prontidão para o serviço, a orientação para a concorrência, a competência, o desejo de sucesso e virtudes cívicas semelhantes, juntamente com uma postura exibicionista de gabarolice e luxo, acompanhadas pelo aumento simultâneo da chamada "nova pobreza". Fosse o yuppie agora apenas um fenómeno mediático ou não, sua figura representa certas atitudes que geralmente caracterizam os anos 80, e que atravessaram todas as classes e camadas, com suas metamorfoses pós-modernas em diferentes "milieus", como se diz desde então significativamente na sociologia cultural. Também a cultura, a cultura de debate, a cultura alimentar, a decoração de interiores, a "etnicidade" e a "estética" fizeram carreira desde então, numa variedade de cores e formas. Certamente que isto começou já na época do movimento alternativo, com a conversa das "duas culturas", como Wolfgang Pohrt constata (ver Pohrt 1993a, p. 127ss.), enquanto também o slogan do "pluralismo de mundos da vida" fazia boa carreira; em todo caso, esse fenómeno floresceu apenas no tempo em que o cuidado com um "estilo de vida cultivado" começou a tornar-se absolutamente "trendy" e a "moda" se tornou moda.

Mesmo nas zonas da cidade de Londres habitadas maioritariamente por "negros", por exemplo, essas tendências podem ser observadas: "Na década de 1970 e até aos primeiros anos da de 1980 falava-se da manifestação de não fazer nada, como cultura do quarteirão negro. As pessoas ficavam numa esquina ou à frente duma loja de discos todo o dia, recusando-se a fazer de idiotas perante os outros por causa bens de consumo questionáveis. Hoje, apesar do elevado desemprego, não se vê ninguém na esquina. Muita gente tem um ou dois empregos na economia paralela. Todos trabalham como loucos, estão envolvidos em negócios legais e/ou ilegais. Jovens jamaicanos já não vêem mal em limpar as casas de banho do McDonalds, se assim puderem pagar o novo Volvo ou roupas novas. Em Brixton, as drogas pesadas têm hoje o seu papel, e regressaram as lutas de gangues, com desfechos fatais. O thatcherismo deixou a sua marca. Prevaleceu o modelo americano de reprodução – consumo contra bom comportamento" (Jacob, 1993a, p. 89).

O que o músico pop "negro" Linton Kwesi Johnson refere como o "modelo americano de reprodução", numa entrevista com Günther Jacob em 1991, não é assim tão americano. "Consumo contra bom comportamento" é ainda mais válido no Estado de bem-estar social bem mais desenvolvido da RFA, especialmente nas formas do capitalismo de casino dos anos 80.

Ainda me lembro do meu estudo de pedagogia social, que terminou na segunda metade dos anos 80. Mesmo entre os "pedagogos sociais" – eles próprios hoje geralmente imaginados como consumidores de cereais, barbudos, de cabelos compridos, em jeans e de camisa larga, incessantemente pregando "paz-paz", com as mãos postas e em voz alta – havia muitas pessoas que, apesar da bolsa de estudos suficiente ou do satisfatório subsídio dos pais, ainda procuravam um emprego, simplesmente porque queriam ir para casa de táxi depois da ida ao bar da má-vida, em vez de usarem o transporte público. Aceitavam-se 15 horas de sufocante ar de fábrica por semana, com pessoas que não se pode aguentar, para pagar um certo "nível". Não muito tempo atrás dizia-me um trabalhador de 20 anos, da fábrica "Quelle" dos Produtos "Joop", que viajar de metro seria "descer abaixo do seu nível". Em vez de comprarem um bilhete por dois marcos, porem um livro debaixo do braço e sentarem-se calmamente no metro, as pessoas assumem as dificuldades mais absurdas, a fim de supostamente poderem fazer uma "vida agradável". De certa maneira, o aclamado e também denunciado "divertimento dos anos 80" (Bodo Morshäuser) foi assim duramente conquistado. (1)

Num primeiro tempo, parecia que a reviravolta conservadora-liberal na antiga RFA não era bem assim. Kohl colocara Geissler e Süßmuth em lugares centrais. Na realidade, os de 1968 tinham conquistado a vitória – assim parecia. O sociólogo da moda dos anos 80 (e também dos anos 90), Ulrich Beck, imaginou assim uma individualização, cuja dificuldade era acima de tudo a dificuldade da escolha. Uma reviravolta conservadora-liberal "genuína" não poderia vir depois disso! Na "alegre sociedade do risco", em última análise, tudo pode mudar apenas para melhor, "democraticamente", empurrado pelos novos movimentos de protesto, que navegam suavemente na sociedade em pretensão reformista, numa fase de "modernização reflexiva". Mas não, a sociedade já tinha passado por tudo isso e zarpou daí para fora. O lema de Margaret Thatcher "Não há sociedade, há apenas indivíduos" veio depois de Beck, na medida em que não ficou em vigor nenhum quadro de referência de teoria social abrangente, para os indivíduos libertados dos laços tradicionais. Tudo isso, no entanto, colorido de social-democracia verde.

Muitos dos (ex-)manifestantes, entretanto tornados chiques e cansados do movimento, foram agora, finalmente, postos a dormir pelo João Pestana das ciências sociais, Beck, com a sua canção de embalar, ou então os seus livros corresponderam a este sentimento generalizado e, provavelmente, também por isso foram tão bem acolhidos.

Assim pôde uma pessoa – contradizendo a experiência e o conhecimento próprios – esconder de si mesma a orientação para a concorrência, que surgia com cada vez mais força, na sequência da cada vez maior 'individualização' conservadora-liberal, e até mesmo imaginando ter dado um contributo colossal para a "liberalização" do sociedade, como participante do antigo movimento. Vindos do antigo movimento, cada vez mais yuppies do mundo da vida ocuparam habilmente nichos no mercado e no Estado. Não poucos deles têm sido desde então definitivamente o que deles diziam os críticos desde sempre: pequenos burgueses, orgulhosos do seu negócio, do seu "projecto" (apoiado pelo Estado social), da sua tasca etc., com uma mentalidade pós-moderna capitalista de casino de mestre padeiro ou mestre hospedeiro, que é permeada pela sua própria capacidade, e gostaria, por exemplo, de dar as boas-vindas da cidade aos dignitários do SPD do compromisso sobre o direito de asilo, como convidados/clientes, de forma confidencial e com espírito empresarial.

Rastejante, lenta e secretamente, junta-se à individualização orientada para a concorrência, recém-descoberta e desde logo euforicamente festejada – apresentada por Beck de modo plenamente desdramatizado – um nacionalismo que em parte já se podia encontrar nos "novos movimentos sociais". Ao mesmo tempo, a violência nas famílias cresceu novamente nos anos 80, os actos de violência racista aumentaram e as organizações de extrema direita recuperaram mais popularidade.

 

2.

A unificação alemã trouxe depois uma "renacionalização" em frente ampla, com a qual muitos não tinham contado, assim que a ressaca se seguiu à mudança de moeda na Alemanha Oriental e à embriaguez neoliberal. Rostock, Mölln, Solingen e o desenvolvimento subsequente falam por si. "Kohl revela-se o chanceler do capitalismo de casino, que acabou por conseguir uma jogada ainda maior. Quando, após a unificação alemã, a conta tem que ser paga, o apelo à política desperta" (Bude, 1993, p. 446).

De repente, o yuppie teutónico, durante anos mimado, já não era tão bom perante o establishment que agora, sem a menor cerimónia, se redefinia como simples "cidadãos": "Muito depende de nós, os cidadãos. Nós temos de mudar. É necessária uma mudança de padrões. O princípio da economia social de mercado é indispensável como princípio económico, mas não deve ser usado indevidamente como desculpa para a inacção. O bem comum tem de voltar ao primeiro lugar. É um escândalo que a violência, a corrupção e o impulso egoísta para o enriquecimento sejam considerados normais, enquanto a consciência da injustiça desencadeada nas circunstâncias é abruptamente aplacada, com a referência à "auto-regulação do mercado". Estamos fartos de viver numa sociedade do gamanço, onde a corrupção não é mais a excepção e onde há muito dinheiro envolvido. Há coisas mais importantes na vida do indivíduo, assim como na vida da nação" (Dönhoff et al., 1992, p. 18s.).

No Manifesto publicado por Dönhoff & Cª, "Porque o país tem de mudar", a crítica do capitalismo é feita em benefício da nação, com expressa manutenção do capitalismo, que agora deve servir em primeiro lugar o objectivo do "bem estar do povo", sendo preciso puxar-lhe as rédeas em conformidade. O capitalismo, desde 1989 por maioria de razão forçosamente neoliberal, cresceu e ultrapassou o establishment, pretendendo-se agora que a individualização que necessariamente o acompanha seja contida a partir "de cima", por uma crítica nacionalista do capitalismo. O ataque ao "instinto de enriquecimento individual" serve a expansão do Estado-nação e da "Fortaleza Europa": "Sem reflexão sobre as virtudes do passado, sem autocontenção e poupança, sem renúncia e solidariedade, os alemães arriscam-se a pôr em perigo a si mesmos e aos seus vizinhos" (texto de badana). Diz-se que os estrangeiros devem "poder entrar", desde que isso sirva para impedir que os alemães se extingam.

As interdependências económicas internacionais são certamente tidas em conta, com o objectivo de tirar o máximo proveito para a "Alemanha" na crise. Do mesmo modo se defende implicitamente uma vida quotidiana pequeno-burguesa, em que tudo tem a sua ordem. Isso corresponde à crítica da sociedade permissiva e ao recurso à "tradição, à religião e hábitos sociais", como necessários aglutinantes sociais (p. 104). O indivíduo em Dönhoff & Cª deve agir de acordo com o mercado, mas basicamente, como no exército, subordinando-se ao propósito colectivo, ao "bem comum", que agora vem primeiro. É precisamente desta maneira paradoxal que se pretende preservar o padrão civilizatório da individualidade. Não em último lugar, o uso do termo "sociedade rapace" ["Raffgesellschaft"], que também constitui uma reminiscência da distinção entre capital rapace e capital criador, assim incluindo talvez um ressentimento anti-semita, torna a posição do Manifesto nacionalistamente conservadora e questionável.

Ora, com excepção de algumas recensões críticas, o "Manifesto" foi por toda a parte bem recebido em "terras alemãs". As edições dispararam e ainda há um monte de exemplares em muitas livrarias. Será que o yuppie teutónico, que representava o sentimento geral, pelo menos desde meados dos anos 80 e mais ainda no início dos anos 90, agora de repente, após a unificação, a vertigem do marco alemão e a euforia neoliberal, está diferente, mais ponderado? Será que o nosso cosmopolita teutónico de repente se tornou boa pessoa, nacionalista alemão e simultaneamente altruísta? Será que ele abandonou o seu "desejo de enriquecimento individual" tão rápida e abruptamente? Dificilmente. Pelo contrário, há muitos indícios de que ele tentou retirar-se para onde as condições parecem mais favoráveis, devido à diferente situação económica, para onde ele acredita que agora se pode desenvolver melhor, dado o espaço de manobra cada vez mais apertado: para o campeonato nacional.

Estando o seu nível de vida ameaçado, o seu hedonismo da diferença orientado para a concorrência, surgido no decurso da individualização, vira-se contra os "outros", que não têm passaporte alemão nem correspondem à imagem das pessoas da Europa Central. E ele lembra que já nos tempos do movimento pela paz se falou do "nacional", e se desenvolveram sentimentos patrióticos. A repentina queda, na crise económica, das elevadas esperanças de prosperidade antes despertadas (especialmente após a unificação), tanto a leste como a oeste da Alemanha (quem não se lembra do slogan da Alemanha Oriental: "Helmut leva-nos pela mão e conduz-nos à terra do milagre económico"), e os concomitantes medos existenciais acabaram por levar a que os indivíduos do capitalismo de casino se transformassem em praticantes do amoque e violentos criminosos racistas e anti-semitas – ou delegassem, consciente ou inconscientemente, "tarefas específicas" nos seus violentos rebentos considerados inimputáveis.

Assim surgiu uma situação que, em muitos aspectos, se assemelha à descrita por Hannah Arendt para o período entre as duas guerras mundiais. O "individualismo há muito habitual (...) teve por consequência que o mesmo destino que, com monótona mas abstracta uniformidade, tocava a grande número de indivíduos não evitou que cada qual se julgasse a si próprio, em termos de fracasso individual, e criticasse o mundo em termos de injustiça específica (...) No entanto, mesmo esta amargura egocêntrica que, encarada sob o ponto de vista da psicologia individual, se tornou a imagem de marca de toda uma geração, não era algo que eles tivessem em comum, embora todas as diferenças individuais acabassem por se fundir num ressentimento generalizado; o egocentrismo não permitia que surgissem interesses comuns, sendo, por isso, muito frequentemente acompanhado de uma característica debilitação do instinto de autopreservação. A abnegação, não como bondade, mas como sensação de que a própria pessoa não tem importância, de que o próprio eu pode, a qualquer momento, ser substituído por outro, tornou-se um abrangente fenómeno de massas" (Arendt, 1991, p. 510s.).

Não será o que Hannah Arendt aqui descreve mais válido ainda hoje, quando, com o desenvolvimento do Estado de bem-estar social e com a fase do capitalismo de casino que acabou por se lhe sobrepor, os processos de individualização estão muito mais avançados do que nos tempos da República de Weimar? O "egocentrismo da concorrência" está hoje mais ligado a uma imparável auto-indiferença. E é precisamente esta a hora para os fundadores da ordem autoritários, e para os autores de manifestos que andam à sua volta.

 

3.

A relação entre momentos conservadores e nacionalistas nos "novos movimentos sociais", no desenvolvimento do capitalismo de casino na Alemanha, no egocentrismo orientado para a concorrência nos anos 80 e 90, na queda da situação económica, no maciço movimento para a direita e nos conexos egocentrismo e "abnegação" (no sentido de Hannah Arendt) nos últimos anos, pouco ou nada foram objecto de atenção em algumas posições de esquerda. Muitas vezes, o conservadorismo e o nacionalismo dos "novos movimentos sociais" são de facto criticados; acontece, porém, que é deixada de lado justamente a fase yuppie do capitalismo de casino, com a sua ênfase no trabalho, na competência e no luxo, bem como o conexo egocentrismo. (2) Mas é precisamente a consideração dessa fase que me parece indispensável, se se pretender esclarecer um racista chauvinismo do bem-estar e um novo anti-semitismo de capitalismo de casino (que discutirei mais adiante).

Assim critica, por exemplo, o redactor da "Konkret", Wolfgang Schneider, não sem razão, o Manifesto de Dönhoff & Cª, que (não passaria de) "uma colecção de lugares comuns tirados do repertório de uma crítica cultural e social compatível com o fascismo" (Schneider, 1994, p. 170). E ainda observa certeiramente: "Consequentemente, todos aqueles que ‘estão fartos’ de viver numa ‘sociedade rapace’, mas não querem derrubar as suas relações de propriedade nem emigrar para a Groenlândia ou para a Papua-Nova Guiné, devem enforcar-se rapidamente, se fazem favor" (p. 173). No entanto, no conjunto, depois de ler o texto, fica a impressão de que a crítica da "busca capitalista do lucro", o "apelo à renúncia" e o "ressentimento contra a riqueza", que se podem encontrar em Dönhoff & Cª, já seriam sempre uma crítica correcta. Na consideração indiferenciada – e na conexa formulação pejorativa – permanece oculto que tal raciocínio, apenas em associação com o objectivo de "todo o povo", com suposições autoritárias, com as queixas sobre a decadência dos valores tradicionais e com a mobilização contra o "parasitismo social" etc., torna-se um raciocínio conservador de direita.

A crítica de Herbert Marcuse às "falsas necessidades" e a crítica a que "por causa de bens de consumo questionáveis a pessoa se torne idiota perante os outros", como diz Linton Kwesi Johnson na entrevista acima, é verdadeiramente impossível, de um ponto de vista como o de Schneider. E é igualmente impossível uma crítica ao chauvinismo do bem-estar, que quer viver à custa "dos outros". (3) Já não se pode perguntar: que bem-estar? O que isso significa de qualquer maneira? À custa de quem se obtém em dadas circunstâncias? A crítica de um entendimento de bem-estar nos países industrializados altamente desenvolvidos, autistamente egocêntrico e em alguns aspectos também questionável em termos de conteúdo, é, assim, para a direita, sempre implicitamente equiparada ao "ressentimento contra o bem-estar." Como é usual na sociedade mercantilizada, na crítica de Schneider é tida em conta apenas a quantidade e o "em geral" do bem-estar, ficando os aspectos qualitativos para trás.

Ora é perfeitamente correcto atacar as ideias de renúncia da direita. Há muito que não é segredo para ninguém o facto de agora existirem tendências massivas de empobrecimento e miséria nos países industrializados altamente desenvolvidos, e de as desigualdades sociais estarem a aumentar. Por isso a questão não é se o estilo de vida dos que "não passam necessidades" também apresenta traços grotescos e se será desejável generalizá-lo. Por exemplo, em certos segmentos da classe média pós-moderna, como é o caso do muito esforçado solteiro de luxo, com seu apartamento de cinco assoalhadas, ou de alguns desportos caros, que provavelmente são muitas vezes praticados apenas por razões de status.

Na polémica indiferenciada de Schneider, a crítica do consumo dos "frankfurtianos" já quase cai (implicitamente) para o canto direito, crítica a que os da geração de 68 se tinham referido positivamente, e com toda a razão. É completamente absurdo comparar o "terror do consumo" dos anos 60 e 70 com o dos anos 80, quando a pobreza cresce, especialmente desde a viragem conservadora-liberal. Além disso, perde-se assim de vista que o desenvolvimento, desde os anos 50, que parte da orientação no sentido da produção para a orientação no sentido do consumo (e que não exclui uma orientação para o trabalho mais ou menos forte em vários estágios deste período) foi um processo interno do capitalismo, que atingiu o pico no período neoliberal dos anos 80 e início os anos 90. Até mesmo Wolfgang Pohrt, que anos atrás era famoso designadamente pelos seus ataques à crítica do consumo feita pelo movimento alternativo, na qual ele (considerando também as aspirações nacionalistas dos novos movimentos de protesto, talvez com alguma razão) pressentia atitudes anti-americanas, se sentiu obrigado a escrever: "O Ocidente deixou de brilhar, a sua estrela caiu há muito tempo, quando em 1989 ele inesperadamente voltou a cheirar o que tinha de sentir como a brisa da manhã. Pela primeira vez na história, o capital tornou-se um ídolo de massas. Sua encarnação na moeda de referência marco alemão alegrou a multidão de tal maneira que parecia que Buñuel estava a filmar a história bíblica da "Dança à volta do bezerro de ouro". A noite da conversão da moeda apresentou cenas blasfemas de arrebatamento religioso. Para o Ocidente, a intoxicação no Leste foi a droga que o fez esquecer, por um momento, a sua própria depressão e decadência" (Pohrt, 1993b, p. 10).

A caça ao "Mamon", construído por alguns à direita e à esquerda como "não-alemão", e as saudades neonacionalistas casam assim perfeitamente. A orientação conservadora de direita na década de 90, na crítica da era neoliberal Reagan-Thatcher-Kohl (o último significativamente ainda no poder), representava assim apenas a sua continuação, que ainda hoje prossegue, numa reforçada orientação para a concorrência tipo Rambo e Sigurd, que se pretende amortecer por um espírito de comunidade voltado para trás. As ideias de pseudoprosperidade surgidas nos anos 80 e início dos anos 90, no contexto de uma política neoliberal conservadora, com base numa ideologia e mentalidade de luxo e de desempenho, não podem portanto ser deixadas passar como o relativamente "bom", o relativamente "não reacionário", "não-alemão” etc., contrapostas ou pelo menos intocadas pelas actuais tendências conservadoras de direita e populistas. Mas é assim que parece em alguns críticos de esquerda, sendo sobretudo o aspecto rígido do desempenho nos "dourados anos 80 neoliberais" frequentemente suprimido na argumentação implícita.

A isto corresponde que uma crítica do individualismo egocêntrico neoliberal, em última análise, permanece tabu em Schneider: "Todos eles tratam mais ou menos extensivamente a questão de como manter a ordem da sociedade burguesa em face da crise, contra as tendências destrutivas do desenvolvimento capitalista, que naturalmente não são assim tão simples, mas são designadas por ‘individualização’" (Schneider, 1994, p. 174). É perfeitamente natural que Schneider aqui ataque a intenção da maioria dos actuais críticos da individualização de manter a ordem burguesa na crise, e questione o quadro de referência dos críticos do capitalismo. No entanto, tem-se a sensação de que se pretende que o individualismo egocêntrico dos anos 80 não seja chamado como tal. A questão aqui seria situar esta "estranha" forma de individualismo em seu ter-se tornado capitalista, e assim também no actual contexto capitalista (de casino), em vez de mesclá-la em "tendências destrutivas do desenvolvimento capitalista" não especificadas e, em última análise, obscurecê-la. No entanto, não é pelo simples facto de a crítica social das tendências de individualização dos últimos anos também ser feita por conservadores de direita, incluindo defensores light do comunitarismo da sociedade civil, que ela é completamente errada.

Schneider constrói assim uma crítica explicitamente própria do egocentrismo orientado para a concorrência da sociedade (burguesa) do ganho, na acepção do Hannah Arendt, que teria de ser modificada, com base no nível social recém-alcançado na fase de capitalismo de casino.

Wolfgang Pohrt, no entanto, está bem ciente da análise de Hannah Arendt no volume "Tempos difíceis" e vê paralelos com os dias de hoje. Mas evita uma crítica adequada da era yuppie do capitalismo de casino neoliberal, abstraindo de algumas excepções, como a passagem acima citada, estranha ao restante. Em geral, ele evita mencioná-la clara e sistematicamente, e fazer referência à fase anterior dos "novos movimentos sociais". Fá-lo quando muito de passagem e discretamente. Assim, no seguinte trecho: "Os movimentos de massa apocalípticos dos anos 80 eram inspirados não pela ideia de salvação, mas pela ideia de destruição – reconhecível no facto de que no lugar de protestos love in surgiam agora protestos die in, encenações infantis de morte em massa, com caixões, mortalhas e cruzes tumulares. Em algazarra macabra, expressava-se a certeza da morte de pessoas que viam a vida através dos olhos do assassino em massa, em termos do seu possível envenenamento, poluição ou contaminação radioactiva. ‘Aproveita o dia, pois quem sabe o que o amanhã traz’, dizia complementarmente o lema tácito dos hedonistas alternativos amigos do consumo simultaneamente emergentes. ‘Depois de mim, o dilúvio’ foi a filosofia de negócio da riqueza efémera criada sob Reagan e Thatcher" (Pohrt, 1993b, p. 10). Pohrt recorre também muito bem à "perda do mundo" e ao "abandono" dos indivíduos massificados, com recurso às ideias de Hannah Arendt; mas falta a referência ao concomitante egocentrismo orientado para a concorrência vindo da sociedade burguesa do ganho, embora ele hoje dê nas vistas.

De algum modo como em Schneider, pretende-se que a fase neoliberal e o culto do ego por ela marcado deveriam ser retirados da linha de fogo. O Zé Povinho alemão deve ser incondicional e unilateralmente fantasiado como o Zé Povinho da comunidade, do sossego e da disciplina, vegetariano compulsivo, que separa o lixo, oscilando como um pêndulo e hipocritamente boa pessoa.

Que o Zé Povinho alemão é também um Zé Povinho da concorrência, do hedonismo, da carreira, jogador de bolsa, que atingiu perfeitamente o nível de socialização posterior ao fim da Segunda Guerra Mundial e o conexo padrão e estilo de vida de "homem do mundo" pura e simplesmente não se encaixa bem na concepção de Pohrt/Schneider. O desenvolvimento teutónico do guitarrista zé-ninguém para Madonna, do estilo de calças largas para roupas de marca, do freak psico barrigudo para freak tecnicamente obcecado pelos computadores, de fã de Bahro para fã de Baudrillard e de Butler não é objecto de reflexão, nem a amálgama dos respectivos pares de opostos é vista: de facto também as roupas de marca podem muito bem dar cartas no Tarot, também o yuppie estilizado de single pode separar o lixo, e também o freak dos computadores não prefere necessariamente o tomate hidropónico. E, neste contexto, também não se vai reconhecer que é precisamente este Zé Povinho, concorrencial-ecologista-hedonista-esotérico e high-tech, nas suas complicadas distorções, que, em tempos tornados economicamente difíceis, para poder manter pelo menos razoavelmente as suas posições, foge para essas mesmas ideologias nacionalistas da comunidade representadas por Dönhoff e Cª.

 

4.

Igualmente pouco debatida entre a esquerda hedonista é a época do capitalismo de casino e, acima de tudo, o correspondente egocentrismo, que actualmente tanto está dando nas vistas. Talvez seja porque essa variante de esquerda é em si mesma um produto típico da época do capitalismo de casino. É surpreendente que as auto-reflexões da esquerda de cultura pop muitas vezes, no que respeita à sua existência na década de 80, se refiram, de certo modo em termos subculturalmente imanentes, ao próprio "milieu de trabalhador da cultura" e/ou à sua relação com outros agrupamentos de esquerda; a sua própria classificação, no entanto, num contexto histórica e socioeconomicamente maior, encontra-se quando muito na margem: "O que, no movimento de ocupação de casas, deveria ser a própria vida ‘autodeterminada’, além e contra o Estado e a sociedade de consumo, era, na esquerda boémia da auto-experiência, em que o pós-modernismo aproveita e desfruta, o que estava em promoção nos métodos de auto-realização, refinamento e diferenciação. A palavra mágica era ‘estratégico’ – tudo o que era feito poderia justificar-se pelo facto de poder ter sucesso, em termos de ganho de conhecimento, de recodificação, de choque semântico, de desconstrução, que poderiam abalar o lado simbólico das relações, como um primeiro passo necessário" (Diederichsen, 1994 a, p. 150).

Aqui se assumia deliberadamente as condições do capitalismo de casino e se procurava vencê-las com os seus próprios meios. O jogo com os signos em certas cenas correspondia ao jogo simultaneamente na moda na bolsa de valores da sociedade "oficial". No jogo com os signos, uma desconstrução no fundo meramente contemplativa torna-se (não em último lugar dirigida contra o "pessimismo cultural" da escola Frankfurt), obviamente, o "Aproveita o dia, pois quem sabe o que o amanhã traz", e a "filosofia empresarial" do neoliberalismo conservador tenta virar o "Depois de mim o dilúvio" em termos quase politicamente ofensivos e hedonistas, com alegria de viver. Ao que também corresponde que se cultivava um estilo de vida "de luxo": “Aos tempos de alimentação apenas com cerveja seguiram-se os do gosto sofisticado" (Diederichsen, 1994a, p. 174). A concentração no "aqui e agora" é óbvia.

Portanto, o "trabalho abstracto" não foi fundamentalmente rejeitado, e permaneceu-se nessa área onde um homem (menos "uma mulher", porque na esquerda pop-cultural trata-se principalmente de uma boémia masculina) podia colocar na balança as suas habilidades criadoras (o "capital cultural" – Bourdieu), numa típica mistura pós-moderna de afirmação e oposição. O "grande compromisso (contradição, sintoma) dos anos 80 (era) o que dizia: Continuamos radicais, mas também trabalhamos com o mercado, caso contrário seríamos alheios à realidade (ou mesmo: é muito mais radical trabalhar com o mercado)" (Diederichsen, 1994 a, p. 157). Que muitos (ex-)esquerdistas radicais e seus primos alternativos, pelo menos desde a segunda metade dos anos 80, decidiram trabalhar com o mercado e com o Estado, e "estar nessa" do hedonismo do consumo, cada vez mais – realistamente – sem se imaginarem como continuando a ser da oposição radical, foi coisa de que a esquerda pop-cultural, obviamente, não se apercebeu. A fim de se demarcar, precisa-se – essa a minha suspeita – da imagem vanguardista de uma "esquerda puritana", cuja realidade existe basicamente apenas na forma da preocupação.

Na esquerda hedonista, de certo modo como no caso de Beck, o sujeito pós-moderno foi a estrela das alternativas a estabelecer para unilateralmente promover civilização, em muitos aspectos "refinadamente" pintado de correcto, mesmo se aqui estavam representadas, com gestos radicalmente individualistas, as teorias mediáticas da ausência do sujeito e da "ausência do eu"(!). A orientação para a concorrência e o egocentrismo do indivíduo do capitalismo de casino, bem como a problemática de um hedonismo com isso mediado, não são vistos. Em relação a este ponto, a auto-reflexão na década de 90 é substituída por um tocar do tambor "hedonista" ainda mais alto, como se vê, por exemplo, na revista "Die Beute" [O Saque]. É precisamente desta maneira paradoxal que se pretende combater as tendências de direita nos anos 90. Ao mesmo tempo, pretende-se manter, de maneira bastante "conservadora", os precarizados direitos adquiridos dos anos 80 do capitalismo de casino e alargá-los nos anos 90. Os "sinais" do tempo são em todo o caso favoráveis a isso: cultura pop, teorias mediáticas etc. são grandes tópicos em todo o discurso burguês-teutónico dos anos 90.

Isso não quer dizer que a esquerda pop-cultural não tenha, em muitos aspectos, características muito simpáticas, assim como os "alternativos" em alguns casos; a questão da ecologia nos últimos tempos apenas por eles foi trazida para discussão, e o problema da opressão das mulheres apenas pelo novo movimento das mulheres foi massivamente introduzido na arena do debate. Na esquerda pop-cultural, por exemplo, é o "cuidado" de um pensar em si que é dirigido contra a "esquerda dogmática" (embora seja também um produto neoliberal), trazendo, no entanto, aspectos que o ultrapassam. Ou a insistência no "prazer", embora o seu entendimento hedonista facilmente ameace torná-lo em hedonismo, em ideologia, apresentando, portanto, também momentos repressivos. Seu recurso à festa, à discoteca etc. também aponta para o "outro" que seria possível numa sociedade pós-monetária.

Para o efeito, no entanto – e isso abalaria tais concepções nos seus fundamentos – teria de se desistir da ideia de dissidência na afirmação, e de um amplamente indiferenciado "refinamento de massas" (Diedrich Diederichsen) nas suas formas actuais. Pois em tais suposições e, portanto, numa "falsa imediatidade", corre-se o risco de uma auto-entrega massiva às condições dadas. O hedonismo da diferença propagado nas cenas da cultura pop só poderia frutificar se não tivesse mais de passar pelo buraco da agulha da mediação da concorrência na forma da mercadoria.

Nesse contexto, um conceito difuso de hedonismo, que às vezes se encontra, em princípio posicionado positivamente, também é problemático; e de modo nenhum apenas na esquerda que pode ser classificada na cena da cultura pop. Existe o perigo de dar “cobertura” às necessidades da vida pequeno-burguesa-pós-moderna, que são a expressão de um egocentrismo casino-capitalista inteiramente não-oposicionista. Precisamente no capitalismo de casino dos anos 90, não se aplica mais a equação hedonista = já sempre não pequeno-burguês. O tecno-fan que vive em devassidão, pelo menos no tempo livre, por exemplo, pode ao mesmo tempo ser um normalizado (chauvinista do bem-estar). Igualmente (para além do lugar comum de esquerda, que também Adorno considerou, que mesmo no prazer do "vulgar" consumo  mercantilizado há momentos que não estão incluídos na forma da mercadoria), mesmo com a melhor boa vontade, não consigo descobrir momentos de oposição, por exemplo, no turista teutónico no Kilimanjaro, para dar outro exemplo. Este submete-se à sua busca de "excitantes" viagens radicais, acompanhado por carregadores negros, separados do resto do ambiente africano exótico e devastado, que o cidadão do bem-estar não prova. Atormentado-hedonista-com fome de experiência, ele mergulha, pirando-se momentaneamente do grande negócio, de uma latrina no Kilimanjaro para outra, instaladas de propósito para ele segundo critérios europeus, até conseguir subir ao cume, no entanto sempre preocupado apenas consigo. Finalmente, ele reclama, na praia especialmente demarcada para ele, dos "negros estragados” pelo turismo, cujo rosto revela que eles, pelos seus serviços de mordomo, provavelmente teriam contado com uma gorjeta melhor. Por exemplo, adequada para os gabinetes particulares de turistas, em todas as partes possíveis do mundo, onde o teutão sempre se encontra apenas consigo mesmo.

Exemplos tão "reais" poderiam ser citados ainda mais. Eles também mostram que no teutónico "homem das zonas pedestres" (Diedrich Diederichsen) o potencial de progresso projectado para ele, especialmente nos anos 80, não é facilmente preenchido. (4) Pelo contrário, a pretensão do sofisticado teutónico de ser capaz de suportar tudo isso em sua estreiteza é até mesmo uma razão para excluir os outros que vêm a "nós", como é testemunhado pelos tumultos racistas dos últimos anos. "Compreender a si mesmo como cidadão de uma nação rica de exportação, com interesses globais legítimos, essa é a base geral do sentido alemão de superioridade, que ainda mantém uma marca específica pelo conhecimento colectivo sobre o passado fascista. Antes de questionar todo esse contexto, prefere-se matar aqueles que, como vítimas do mercado mundial, vêm para os centros ricos" (Jacob, 1993b, p. 217).

Tanto a posição da Schneider como a de Pohrt e Diederichsen têm em comum que eles, mais ou menos explicitamente, vêem a "ideologia alemã" – o que certamente também está certo, mas no entanto é redutor – apenas na estupidez da comunidade, no romantismo da natureza, na emoção contra o comércio etc. (construídos como americanos), assim "protegendo" afinal o yuppie teutónico orientado para a concorrência, com seus interesses na defesa dos direitos adquiridos. Se as atitudes e exigências consumistas em Pohrt e Schneider são vistas implicitamente quase como um escudo contra as tendências nacionalistas alemãs e fascistas, não devendo portanto ser atacadas, pelo menos directamente, na esquerda hedonista são, no fundo, a base subjetiva para a mudança social em geral.

Precisamente neste contexto, em geral raramente se discute em certas partes da esquerda que a Alemanha, afinal, é uma das nações económicas principais, que isso inclui um elevado "nível comercial", que se procura manter tanto individualmente como também nacional e socialmente – e que é precisamente a partir deste "nível" que o teutão pós-moderno se relaciona com a sua autoconsciência. É paradoxal que, no caso da argumentação de esquerda, não raro o "terceiro lance para potência mundial" seja simultaneamente levado em conta. Admitindo que se compartilha esta hipótese, isso só seria possível hoje pressupondo um determinado alto padrão económico e tecnológico da Alemanha no mercado mundial e, portanto, também um alto nível de consumo, com a correspondente estrutura de necessidades dos sujeitos teutónicos, e não eventualmente com uma orientação ideológica para necessidades de consumo reduzidas, que corresponderia a um menor grau de socialização e de tecnologia.

Uma coisa me parece certa: o teutão high-tech do final do século XX já não é atraído pelas simples cabanas germânicas; é verdade que ele dá ouvidos a bajuladores da alta cultura, como Botho Strauß  ou Syberberg, mas cada vez mais prefere também lidar com teorias de cultura pop, que vêm dos "EUA", e não está interessado em continuar a ter cuidados de saúde à moda do Dr. Eisenbart (mesmo que possa estar disposto a cortes financeiros parciais na crise). E isso é bom, afinal não se trata de voltar ao carro de bois, e agora realmente não tem de ser sempre apenas Goethe. No entanto, isso não é necessariamente um consolo, pois também está mediado com um "querer-ter" (Gunther Jacob), sendo que, por outro lado, precisamente na música pop, também "A montanha chama" (pseudo-)parodisticamente e, na verdade, o próprio teutão high-tech nos últimos anos regressou cada vez mais a colinas e bosques alegadamente históricos, para organizar jogos new age com charlatães caros. Por isso mesmo, também é necessário recorrer a estas relações, à época do capitalismo de casino, ao correspondente egocentrismo orientado para a concorrência (incluindo a paixão de jogador desenvolvida desde os anos 80) para entender o renascido anti-semitismo, agora ele próprio pós-moderno.

 

5.

Ao sujeito casino-capitalista-egocêntrico é prestada mais ou menos obviamente demasiada protecção, ou mesmo reverência, e não apenas nas posições anteriormente discutidas. Também em artigos e escritos de autores da "Krisis" se encontram indícios de uma avaliação bastante positiva do yuppie teutónico. É o caso do ensaio de Johanna W. Stahlmann: "Pretty Woman. Reflexões sobre uma ida ao cinema, ou porque à exaustão da rapacidade não se segue nenhum renascimento da criatividade" ("Krisis" nº 10), que também é relevante para o problema, que a seguir interessa, da análise do novo anti-semitismo:

"As relações sociais mudaram, o que significa que os seus protagonistas humanos mudaram, a sua consciência pertence a uma realidade modificada. Neste estado, eles vão agora ao cinema sem saberem que lhes é pregada a moral dos tempos passados (no filme "Pretty Woman", onde o especulador se saiu mal, ao contrário do "capitalista que cria", RS), envolta nas vestes dos desenvolvimentos mais recentes, seja da moda ou dos mercados financeiros. Que a consequência não pode ser ódio contra a especulação personificada no filme, nem a consequência social pode ser pogroms de assalto já deveria ser claro, a partir do simples facto de que uma parte talvez não negligenciável dos cinéfilos, na sua maioria jovens, ela própria especula, ou pelo menos confronta-se com dinheiro e acções. Na Alemanha, 60% da população activa está no sector de serviços, o que significa que eles impingem seguros aos inocentes, gerem carteiras de acções, vendem álcool diluído ou má comida e cortam cabelo a preços exorbitantes. Quando eram crianças costumavam ir visitar a avó apenas para sacar algum dinheiro, e obtiveram um crédito a descoberto na conta-corrente desde os 15 anos de idade. Também estão sempre prontos a abandonar um pouco a ética profissional para estudarem, assim obtendo empréstimos estudantis ou da assistência social, para depois se tornarem corretores ou especialistas em publicidade" (Stahlmann, 1990, p. 70).

Este texto, ao contrário de algumas outras publicações na esquerda, tem a vantagem de ter em conta o desenvolvimento do capitalismo de casino, especialmente nas suas implicações económicas (superestrutura financeira precária, o tornar-se obsoleto do "trabalho abstracto" etc.), que ele coloca num contexto histórico onde também tematiza a consciência dos sujeitos do capitalismo de casino. Esta última tematização acontece, no entanto, em minha opinião, de uma maneira completamente equivocada. Pois não conta minimamente com o repetido afloramento de todo o tipo de tendências populistas na época do capitalismo de casino, considerando-as simplesmente impossíveis no yuppie teutónico! Mesmo assim "o conhecimento colectivo recalcado do passado fascista" pode expressar-se, precisamente como recalcado. A partir do facto objectivo de que as actividades de criação de valor são cada vez menos, e que hoje a maioria se ocupa no sector de serviços "improdutivo", conclui-se que o especulador normalizado mediano já não é capaz de pogroms de assalto ou outros, e que as atitudes anti-semitas, como as do estereótipo judeu = especulador, se tornaram assim impossíveis.

Mais uma vez nos aparece aqui a alegre mentalidade dos anos 80, que também pode ser constatada em Ulrich Beck e em Diedrich Diederichsen, e que basicamente se caracteriza por sugerir que a concorrencial existência capitalista de casino deveria, afinal, ser encarada como um "jogo" infantil e, neste contexto, o teutónico indivíduo aleatoriamente "especulador"-jogador devia ser altamente apreciado, como sempre 'progressista', ou pelo menos concebido como "inofensivo": "A nova consciência do quotidiano tem de justificar a sua existência mais como indivíduo que se torna (aleatoriamente) especulador e especulativo do que como trabalhador criador de valor. Claro que isto se revela algo mais difícil do que a reabilitação do proletariado, o que leva ao estranho fenómeno de que para as mónadas juvenis muitas vezes é bastante penoso ser empregado bancário, estudante de pedagogia social, aprendiz de cabeleireiro ou vendedor de roupas, o salto para a vida oferecida de emprego aleatório facilmente falha" (Stahlmann, p. 70s.).

Esta foto com exposição longa do espírito dos anos 80 é agora simplesmente prolongada para o futuro. Embora precisamente a posição da "Krisis" tenha previsto, muito antes de quaisquer outras, os desenvolvimentos dramáticos da crise, aqui ainda se assume que o sujeito da aleatoriedade dos anos 80, (implicitamente) concebido como tolerante, também construído embelezado nos media e em algumas teorias, ainda assim continua a ser como é, e também continua a mostrar a sua atitude optimista na crise. Correspondentemente, os indícios no filme "Pretty Woman" que apontam numa direcção diferente têm de ser reinterpretados para corresponderem à despreocupação dos anos 80. Assim, este texto também se baseia no auto-equívoco ideológico dos anos 80. Também aqui são ignorados a orientação para a concorrência e para o desempenho, de novo agravada na segunda metade dessa década, bem como o conexo egocentrismo, então ainda apaziguado pelo multiculturalismo de Heiner e pela suavidade de Süßmuth.

Stahlmann ainda sabe "que à fase de inovação que absorvia trabalho seguiu-se um período de luta especulativa pelo último pedaço do bolo" (ibid, p. 68). Já nos anos 80, o vil debate sobre o direito de asilo começou a envolver cada vez mais o público, e os republicanos chegaram ao Parlamento Europeu. Que o yuppie-especulador-normalizado de tudo é capaz foi o que ele provou o mais tardar dois anos após a publicação do artigo "Pretty Woman", face a Rostock e aos subsequentes actos de violência anti-semitas, que ele aplaudiu em silêncio ou em voz baixa, e até mesmo abertamente. Pois o Estado social está agora constituído como Estado nacional (mesmo estando conectado por meio do crédito com a superestrutura financeira especulativa global), e, quando "outros" pretendem obter uma parte do "bolo", o yuppie teutónico fica indignado; do mesmo modo que não acha graça quando se trata dos seus empregos, que – a seu ver – os "outros" lhe poderiam tirar. E no caso é indiferente se ele é empregado no sector produtivo ou nos serviços.

Por isso, não surpreende de maneira nenhuma que nos anos 90 também o especulador "real" tenha acabado por ficar na linha de fogo e, assim também se pudesse reconectar um ressentimento anti-semita, em oposição à teoria de Stahlmann, que pressupõe que a ideologia do capital rapace e do capital criador apenas poderia pegar em épocas anteriores, enquanto o trabalho criador de valor ainda estava em expansão (ver Stahlmann, 1990, p. 66).

O ressentimento anti-semita não abre aqui (ainda?) caminho, mas em muitas exposições e comentários nos últimos tempos (incluindo o "caso" Leeson e Banco Barings) já era palpável. Por exemplo, em numerosos comentários de jornal, como o seguinte: "Os bancos centrais e os políticos financeiros (...) (não encontraram nenhuma resposta) para o risco que resulta da acumulação do poder financeiro nas mãos de talvez apenas 200 ou 300 grandes especuladores a nível mundial. Esses grandes investidores tiraram a lira italiana do sistema monetário europeu e, em 1987, provocaram a queda da bolsa. Se eles perdem a confiança na liderança política de um país e retiram o seu capital, deixam a respectiva moeda de rastos. Em quem eles confiam, elevam a sua moeda ao pódio, seja isso realmente justificado ou não. Os políticos e até mesmo os governadores dos bancos centrais têm pouco para opor a isso, em tempos de livre circulação do capital e de fronteiras abertas, suas acções cada vez mais são impostas pelos especuladores, que prosseguem os fins que lhes interessam e não os que servem o bem comum. É tempo de mudar isto, se não se quer que um dia também o sistema financeiro global entre em colapso como o banco Barings" (Nürnberger Nachrichten de 28. 2. 1995, p. 2).

Partindo de argumentos com conclusões tão apressadas, falta apenas um pequeno passo para a loucura da "conspiração judaica mundial", mesmo que o honesto handy-dandy se enfatize ainda mais em outros artigos de jornal. Certamente que um insulto destes ao especulador não é nada de especialmente "alemão". Mas é problemático que neste país ele possa prosseguir em toda a paisagem mediática, sem que em ninguém sejam evocadas a recordações do passado nacional-socialista, com seus estereótipos anti-semitas, que implicitamente são projectados.

 

6.

Uma ideia central de Moishe Postone sobre o extermínio sistemático e maciço dos judeus durante o nacional-socialismo, único na história, diz que os judeus foram identificados com o "valor" (sobre o que se segue ver Postone, 1988). Em seguida, o "duplo carácter" da mercadoria, como valor (que aparece no dinheiro) e valor de uso (que aparece no produto), deixa o "trabalho" aparecer falsamente como momento ontológico, e a mercadoria, como mera coisa de uso. Na percepção, ambos deixam de ser vistos como resultado de relações sociais, que são na realidade. Através do "duplo carácter" do capital, como processo de trabalho e processo de valorização, a produção industrial aparece assim no plano lógico do capital como processo criativo meramente material, em contraste com o capital financeiro improdutivo. Concreto e abstracto apresentam-se assim como opostos. O capitalismo aparece apenas no "abstracto", enquanto o "concreto", embora igualmente na forma capitalista, é hipostasiado. Assim, no nacional-socialismo, tanto o "sangue", o solo, a natureza, o povo etc. quanto a produção industrial são vistos como princípios opostos ao abstracto. O concreto aparece agora como "natural", ocorrendo um ataque unilateral e, portanto, falso à razão abstracta, ao direito abstracto, contra o dinheiro, o capital financeiro etc. E este abstracto aparece agora, na maneira anti-semita de pensar, na figura "do judeu". Que não só representa o abstracto, mas nele é personalizado o abstracto.

Todas as características do valor, ou seja, intangibilidade, abstracção, universalidade, mobilidade etc., são identificadas com "o judeu". Assim, o judeu no nacional-socialismo, de acordo com a interpretação de Postone, é equiparado não só com o dinheiro e a esfera da circulação, mas com o capitalismo por excelência, deste sendo retirados os componentes concretos, tais como tecnologia e indústria, e apresentando-se o capitalismo apenas no abstracto. Para uma série de mudanças sociais (a urbanização explosiva, a deterioração dos valores tradicionais, o declínio das camadas e classes tradicionais, a formação de uma cultura materialista-moderna etc.), que podiam ser observadas especialmente antes de 1933, apenas o "abstracto" é tido em conta. Os judeus tornaram-se então "personificações do domínio internacional incompreensível, destrutivo e infinitamente poderoso do capital"; visto assim, Auschwitz – paradoxalmente – foi "uma fábrica para o 'extermínio do valor'" (Postone, 1988, p. 221 e 224).

Moishe Postone tenta entender o anti-semitismo em seu significado para o nacional-socialismo. Mas como se poderia hoje expressar o anti-semitismo, depois de o nível das forças produtivas ser completamente diferente, de o trabalho abstracto diminuir cada vez mais, de a sociedade se caracterizar não em último lugar por atitudes hedonistas de consumo, tendo "o valor" assim começado a tornar-se obsoleto há muito tempo? Que existe a possibilidade de um novo anti-semitismo, admite, em outro artigo da "Krisis", Ernst Lohoff ( "Krisis" nº 11): "O ressentimento anti-semita sobrevive como uma possível formação de reacção, naqueles que nas lutas concorrenciais da sociedade capitalista do trabalho ficam pelo caminho" (Lohoff, 1991, p. 72). Lohoff vê assim perfeitamente o egocentrismo concorrencial de que fala Hannah Arendt; especialmente em suas "potencialidades pós-modernas" para o ressentimento anti-semita. Lohoff insiste, com razão, que o novo anti-semitismo é algo "novo" hoje, em contraste com o nacional-socialismo. Em minha opinião, no entanto, esta insistência em historicizar criticamente não deve conduzir a que a linha histórica desapareça no "novo", sendo assim oferecida uma oportunidade de recalcamento do passado nacional-socialista. É assim que soa um pouco no texto de Lohoff. Mesmo o qualitativamente "novo", na saída histórica da relação de valor, tem a sua história anterior. Não está claro por que um deva ser aqui colocado contra o outro. Também se deve ter em conta que já desde a controvérsia dos historiadores se trabalha no debate público para a banalização do passado nacional-socialista.

Jürgen Elsässer, por outro lado, diz: "Já se a economia alemã escorregar do segundo para o quinto lugar no ranking mundial, se a descarga da pulsão na mania do automóvel não puder continuar sem limites, os compatriotas vão chorar como escravos de Wall Street, e procurar culpados pela miséria, precisamente no arsenal da memória colectiva (...) Na Alemanha, este anti-semitismo primário choca com o anti-semitismo secundário até aqui dominante" (Elsässer, 1994, p. 391). (5)

É absurdo, considera-se, que até ao início dos anos 90 os pubs se chamassem "Freudenpark" [Parque da alegria] ou 'Wall Street': agora há realmente sinais de que "os compatriotas se sentem como escravos de Wall Street", numa situação em que a Alemanha ainda nem sequer recuou assim tanto na posição no mercado mundial. Tanto Lohoff como Elsässer também assumem que, com o aumento da crise, o anti-semitismo, que há muito tempo grassa numa escala maior no Leste, também se manifestará com mais força no Ocidente.

Neste contexto, penso que é decisivo o facto de a economia, de certo modo, já há muito estar simulativamente mediada com o "capital fictício" (Marx), e de o continuado desenvolvimento da crise hoje, não em último lugar, se mostrar também reforçado no nível (superficial) dos mercados financeiros. Em caso de crashes bancários e financeiros não serão examinados como "culpados" os contextos sistémicos, assim deixando claro que todos e cada um constituem o sistema, pelo contrário, como já agora é claro nos media, procuram-se "culpados" para prender: os "especuladores".

Portanto, é justamente ao contrário do que pensa J. W. Stahlmann: precisamente porque hoje a maioria presta serviço no sector "improdutivo", economicamente mediado por empréstimos do Estado, por capital improdutivo etc., e correspondentemente a crise se faz notar especialmente nas "esferas mais elevadas dos mercados financeiros", por isso mesmo de futuro não estão excluídos pogroms e tendências anti-semitas associadas. O facto de o "trabalho honesto" do "homem pequeno", mesmo se ele impinge as garantias de inocência, ser objecto de antigas-novas honrarias, já é evidente hoje em dia. Precisamente porque o emprego remunerado é percebido em quebra, sem possibilidade à vista de uma "vida melhor", ele tornou-se (novamente) de alta importância. Assim, por exemplo, hoje também muitos antigos "enfants terribles" da esquerda mais não anseiam do que poder levar uma vida normal e discreta na rotina diária. A domesticação da sociedade avança. (6)

E também já hoje é claro que, assim, também o "capital criador", embora ou precisamente porque se tornou menos importante no contexto económico global, é invocado como um valor moral: "O ímpeto de jogador de azar, para do dinheiro fazer mais dinheiro, num abrir e fechar de olhos – e de facto sem o desvio laborioso através da produção e distribuição de coisas úteis (ou seja, a produção e consumo de sucata, que arruína o homem e a natureza construídos à maneira capitalista, RS) – estendeu-se aos mais sérios bancos e grupos industriais. Em vez de investirem os seus volumosos fluxos e excedentes de caixa na economia real e em novos postos de trabalho, como outrora na economia de mercado solidamente social de Ludwig-Erhard, corretores da bolsa e directores financeiros transformaram os mercados de capitais em pomposas lojas de apostas e casinos" (Spiegel, no. 37, 12.9.1994, p. 99). Como se dependesse da sua boa vontade, o capital deveria pelo menos parecer "criador", como nos bons velhos tempos romantizados, quando nos anos 90 já vivemos no "capitalismo de casino" (ibidem, p. 100).

Se realmente viesse a um grande colapso financeiro, tudo seria "um caos". O pânico (já há muito que ele se faz notar no mundo inteiro, em ataques amoque, ataques de seitas e, não em último lugar, na violência racista e nas guerras civis) espalhar-se-ia mesmo entre aqueles que ainda não fossem perdedores. A suposição de vencedores e perdedores é problemática, pois na era pós-moderna do capitalismo de casino simplesmente já não se pode considerar absolutamente "grupos seguros" (ainda muito menos do que na República de Weimar), como se vê no desbaste dos quadros médios nos últimos anos, na sequência da "lean production". Potencialmente, o vencedor de hoje já é o perdedor de amanhã. É precisamente essa fundamental insegurança social total que poderia torná-lo susceptível a pogroms. Em tal situação, a "abnegação" de que fala Hannah Arendt seria perfeita. Estereótipos anti-semitas antigos poderiam surgir de novo, descaradamente e sem rodeios.

No caso de uma "probabilidade máxima de acidente" do mercado financeiro, hoje o ressentimento anti-semita, ancorado nos "especuladores", poderia em alguns ir mesmo mais longe: "O judeu" manda abaixo o "nosso" sistema económico, retirando assim a toda a gente a base da vida. Neste contexto, as teorias da conspiração, como sugerido no comentário acima do "Notícias de Nuremberga", podem tornar-se perigosas. Já hoje – após extinta a embriaguez neoliberal, agora com um pouco de ressaca – se vêem alguns yuppies teutónicos, que até há pouco, apesar de tudo, eram considerados mais ou menos mentalmente sãos, perante a leitura dum calhamaço da teoria da conspiração, ficarem sussurrando envergonhadamente um pedido de desculpas por serem apanhados. A mulher da loja de produtos biológicos, que faz dança do ventre, põe-nos na mão um prospecto sobre um volumoso romance ligeiro da teoria da conspiração, com as palavras "muito interessante". A "Silvio-Gesellice" (Robert Kurz), segundo a qual a taxa de juros é a raiz de todos os males, está a alastrar a um nível alarmante, e todos os tipos de possíveis orientações new age e de "velhos" círculos esotéricos, como os antroposofistas etc., têm cada vez mais saída. É agora, finalmente, evidente que algumas manias esotéricas nos "novos movimentos sociais", inicialmente apenas com efeitos esquisitos, há muito que cresceram em direcções social-darwinistas, anti-semitas e racistas – em combinação com a crescente orientação concorrencial e medos existenciais difundidos na sociedade em geral.

A onda psico-esotérica, que no fundo incha cada vez mais já desde meados dos anos 70, pode ser vista, em sua inclinação unilateral na crítica, como uma fuga para o abstractamente pseudoconcreto, como negação do abstracto ela própria meramente abstracta. Já nos anos 80 e antes, mudanças sociais dramáticas se tornaram visíveis. O capitalismo tornou-se capitalismo de alta tecnologia desde meados da década de 1970, como evidenciado pela informatização, mediatização e comercialização quase totalmente abrangentes das relações sociais. Esses desenvolvimentos ocorreram a uma velocidade de tirar o fôlego. Não é por acaso que os debates sobre a individualização ocorrem nesse período. Embora o yuppie teutónico (e não apenas o do sexo masculino) se tenha acostumado ao seu computador, e muitas vezes se tenha tornado francamente louco por ele, apreciando todas as possíveis comodidades esperadas do desenvolvimento da alta tecnologia (da selecção de programas de televisão até às viagens de longo curso): é precisamente a afluência de que desfrutam os círculos new age e as várias seitas esotéricas e grupos psíquicos que sugere que, em última análise, ele não se dá assim tão bem com esse desenvolvimento extremamente dinâmico.

Obviamente que há uma tensão no yuppie teutónico. Em situações de crise aguda, juntamente com as teorias da conspiração, ela poderá possivelmente levar a que as rápidas mudanças radicais do capitalismo de alta tecnologia sejam por alguns identificadas com "os judeus". Como já aconteceu antes, poderia "a rede das forças dinâmicas (...) que não se conseguem compreender (...) ser percebida na figura do judaísmo internacional" (Postone, 1988, p. 246). Tendências anti-semitas podiam hoje resultar não só do facto de "o judeu" ser equiparado com o valor, mas mesmo do facto de o valor, precisamente na e através da sua própria abstracção, ter sido ele próprio levado a um (substancial) desaparecimento (visível no plano superficial, por exemplo, no desenvolvimento da microeletrónica que poupa postos de trabalho), sem que ao mesmo tempo as suas coerções e critérios tenham sido ultrapassados. É certo que parece improvável que se repita a aniquilação dos judeus organizada pelo Estado, como no caso do nacional-socialismo; a isso se opõem a globalização, os laços internacionais e assim por diante. Mas continuam a ser possíveis pogroms, profanações de cemitérios, e outras perseguições e discriminações em larga escala.

 

7.

Os padrões de pensamento anti-semitas diferem do ressentimento racista. Jürgen Elsässer diferencia, recorrendo a Moishe Postone, entre um "nacionalismo ocidental", que corresponde ao chauvinismo do bem-estar e que na tradição colonialista se dirige racistamente contra o "sub-humano", e um "nacionalismo étnico". O nacionalismo étnico, em contraste com o nacionalismo ocidental, dirige-se contra os "estrangeiros" em geral, mesmo que "tragam" algo economicamente, o que faria com que o nacionalismo ocidental os tolerasse. O principal inimigo do nacionalismo étnico são os judeus que estão em oposição à "própria nação", imaginados como vencedores do mercado global e como "super-homens", e dos quais é suposta uma "conspiração judaica" (ver Elsässer 1994, p. 390). No entanto, à luz das décadas de 1980 e 1990, creio que é necessário pôr a questão da conexão entre o racismo do chauvinismo do bem-estar e o (novo) ressentimento anti-semita.

Como está bem expresso no texto de Johanna W. Stahl, foi precisamente o espírito do tempo neoliberal dos anos 80 que foi marcado por uma euforia especulativa geral em vários níveis (será de citar aqui centralmente também a generalizada diversão barata com o relacionamento, que continua inalterada até hoje ). O que o cliché considerava "tipicamente judeu", fazer negócios, especulação bolsista, "cobiça", um gesto cosmopolita e assim por diante, o yuppie teutónico, na época, achou muito provocador; sem mencionar a ganância de muitos alemães orientais, que hoje às vezes se vêem tão "prejudicados comercialmente". Depois da chamada "fase rural" dos anos 70 e início dos anos 80, o yuppie teutónico banhou-se francamente na abstracção. A fase de luxo, até ao começo dos anos 90, está naturalmente em relação com isto. Pois ela foi centralmente o escoamento do boom fictício de uma economia mundial financiada pelo deficit, que exigia tais atitudes.

No entanto, uma vez que esta economia, com sua alta tecnologia e elevado nível de consumo, está a acabar nos países altamente industrializados, o yuppei teutónico do chauvinismo do bem-estar ataca e fecha as fronteiras aos requerentes de asilo; ele quer manter incondicionalmente o mais elevado nível de consumo, sob condições económicas deterioradas. Pertence em certa medida à "essência da reacção de direita" que, depois, estenda para "dentro" as fronteiras fictícias entre dentro e fora, entre "estranhos" e "locais". Por isso, ironicamente, também pode acontecer, por exemplo, aos políticos que eles, sendo suspeitos de parasitas e de corrupção como os beneficiários dos apoios sociais, sejam igualmente arrastados pela cidade nus, num carro de grades, com o carrasco à espera deles com carvões em brasa. Todos aqueles que, segundo os rumores, não ganham "decentemente" o seu dinheiro, ou causam custos "improdutivos" ficam agora de repente na linha de fogo. O lema capitalista para idiotas, caminho livre para o "mais capaz", por maioria de razão se aplica agora.

Ora no decurso da nova crise chega-se, é claro – na mesma linha de decadência da economia mundial – a todos os tipos de turbulência nos mercados financeiros, a "falências na construção", aparentemente devidas a especuladores "indecentes" (Schneider), a crashes bancários (mais recentemente no Barings) etc. Há muito tempo que as consequências negativas da individualização high tech na concorrência neoliberal se podem ver, por exemplo, na violência juvenil. E agora, depois de o processo de exorcismo à la Dönhoff & Cª se ter desenrolado no que diz respeito à "parte de especuladores" opulenta e orientada para a concorrência na fase neoliberal próspera, o yuppie teutónico pode também desprender-se dos especuladores "verdadeiramente" traiçoeiros e egoístas, com os quais já não tem nada a ver, e entregar-se a um anti-semitismo que se torna mais ou menos aberto. Agora ele descobre "Barões ladrões em palácios de vidro" (Hans G. Möntmann) e conduz – fortemente apoiado pelo público em geral – a luta "Sozinho contra os bancos" (Christa Lobner). O yuppie construtor de casas e endividado sem cuidado sente-se agora ameaçado pelos bancos e pelo "vermelho ao esbanjamento". Quase se poderia dizer que o yuppie teutónico foi longe demais, a jogar simplesmente com a existência de especulador, de acordo com o lema: não era bem isso, fiz assim apenas "como se"!

Mas este processo de exorcismo começou já nos anos 80, por exemplo nesse filme "Pretty Woman". A esse respeito J. W. Stahlmann tem de facto razão, embora apenas em metade, quando ela escreve no seguinte ponto, sobre o arbitrário sujeito da especulação pós-moderno: "Uma coisa no entanto estes sujeitos-objectos não podem: concluir a paz com a socialização do valor por encontrarem nela alguma perspectiva, eles não serão mais heróis criadores, nem com a melhor das boas vontades, quando muito serão a própria personificação do rapace sujeito do dinheiro. Este último, no entanto, é um sujeito apagado e ofegante, cujo fim está acontecendo actualmente nas pequenas e grandes farsas dos mercados financeiros. Também deste ponto de vista se explica por que esse divertido filme não pode mostrar nada além do sorriso da aleatoriedade. É feito por e para pessoas que estão incomodadas consigo mesmas" (Stahlmann, 1990, p. 73). Exactamente! Talvez esses sejam os piores, os "gananciosos" perseguindo o dinheiro, e sentem-se envergonhados, especialmente se desliza do inconsciente que já os antigos indicaram que tal comportamento era “judeu''. O sentimento de vergonha é desde logo vergonhoso por ter sido reprimido, e, talvez deste modo, prospera precisamente o ressentimento anti-semita.

O mito pós-moderno dos anos 80, do consumidor desfrutando inofensivamente (segundo J. W. Stahlmann com "mentalidade de vigarista"), que se podia/pode encontrar frequentemente, também não está certo na medida em que ele consegue explicar sem mais as suas atitudes de querer-ter hedonistas-consumistas na crise (e não só) como um assunto privado; então ele já não tem nada a ver com as atitudes de querer-ter "prejudiciais ao bem comum" na grande esfera pública, por exemplo, nos especuladores (implicitamente construídos como judeus). Isto pode ir tão longe que ele até foge aos impostos, enquanto clama publicamente por leis tributárias mais rígidas. Por maioria de razão, nada o impede de reclamar contra os "requerentes de asilo", quando ele próprio beneficia de ajuda social (também já terá havido juízes conservadores que, em processos de aborto, impuseram punições draconianas, mas no entanto obrigaram a amante a fazer um aborto). Esta estrutura fundamental capitalista, que resulta da separação entre esfera pública e esfera privada, ainda faz bastante efeito, mesmo em tempos pós-modernos. É também por isso que J. W. Stahlmann não tem razão.

Correspondentemente, o yuppie teutónico, que agora na década de 90 se comporta como "respeitável", manda os seus psicólogos examinar a "alma patológica dos especuladores", podendo abster-se de o fazer no seu caso: "Em muitos especuladores certas características de personalidade são particularmente pronunciadas. Eles são extremamente motivados pelo rendimento, orientados para a concorrência e mesmo oportunista e materialistamente loucos por lucros. Sua disposição em assumir riscos é particularmente alta, já que o risco no seu ambiente é uma norma social. Problemas e falhas são recalcados, porque no fim apenas os vencedores contam. Além disso, a maioria dos especuladores tem uma ideologia da viabilidade, de modo que eles são propensos para as chamadas ilusões de controle: eles sobrestimam a sua capacidade de conseguir explicar, prever e influenciar eventos nos mercados financeiros. Aqui, muitas vezes autoglorificação e ansiedade fazem par, numa mistura paradoxal" (Carsten Lüthgens / Stefan Schulz-Hardt: Spiel ohne Grenzen [Jogo sem limites], em Die Zeit nº 12, 17 de março de 1995).

É verdade que neste artigo também é notado que tais qualidades são possuídas por outras pessoas, simplesmente não tão pronunciadas. Mas, precisamente por isso, este texto é bem adequado às projecções do yuppie teutónico mediano, que consegue ver a sua própria orientação para o rendimento e para a concorrência, a orientação material etc. como "saudável" e "normal", fora da patologia supostamente "especial" dos especuladores. Basicamente, no entanto, a citação acima sobre "a alma dos especuladores" mostra o estado do indivíduo libertado, na "sociedade do risco" (Ulrich Beck) e na "época do narcisismo" (Christopher Lasch), como numa lente ustória, sendo que esta época em geral, especialmente em tempos de crise, flutua individual e colectivamente entre as fantasias de omnipotência e as fantasias de impotência. Hoje, Deus sabe que o "risco" é quase uma "norma social" para todos. Desde a viragem de Reagan-Thatcher-Kohl só contam os vencedores e anuncia-se, portanto, um semblante de bom humor que "recalca problemas e falhas", para nunca prejudicar o "sucesso" com qualquer instabilidade mental. "Pensamento positivo", por assim dizer, que não por acaso deixou de ser tido como máxima nos círculos new age há algum tempo, e há muito tem lugar cativo nos seminários para gestores.

Atitudes orientadas para a oferta e para o consumo, e "mergulhos no dinheiro", assim como um correlativo estilo de vida flexível – mais ou menos voluntariamente escolhido – estão assim longe de ser um baluarte contra o anti-semitismo, como parecem, por exemplo, em Stahlmann, que ingenuamente pressupõe uma identificação do yuppie teutónico com a imagem do "judeu", e conclui que ele não pode mais ser anti-semita! O caso é exactamente o contrário. Especialmente na crise, as atitudes hedonistas consumistas, em ligação com interesses de concorrência e de defesa de direitos adquiridos, acolhem em si o ressentimento racista e chauvinista do bem-estar, bem como o anti-semita. Em suas projecções, o yuppie teutónico, no decurso do desenvolvimento continuado da crise, vê-se talvez cada vez mais como "sub-humano" face a "os judeus", tal como ele mesmo considera os "estrangeiros" requerentes de asilo com cor de pele diferente como "sub-humanos" que lhe poderiam tirar alguma coisa!

 

8.

Consequentemente, o yuppie teutónico não saiu em meados dos anos 90 do seu ser yuppie, apesar de todos os choques, embora também o nível de jogo na crise tenha mudado, e o alto fluxo das bolsas (como era pelo menos o sentimento do público em geral nos anos 80) talvez já não esteja tanto "em curso" para o yuppie normalizado gabarolas. Para isso o jogo, o jackpot, a loteria são tanto mais, quanto menos caros são. Sua "ganância" é em muitos aspectos inabalável, mesmo que hoje em dia, no caso o yuppie teutónico, seja ele mesmo castigado nos media: "Enquanto isso, o pedaço de sorte mantido pelo povo jogador tem crescido em proporções gigantescas. Isso aumenta a ganância e aumenta o prazer do jogo. Mas, de qualquer modo, é cada vez maior a caçada mesmo à pequena pechincha, é quase omnipresente – mais claramente na televisão. Aqui há concursos por rotina" (Spiegel, 37, 12.9.1994, p. 98).

Mas também a outros níveis se joga, o que mantém as coisas. No discurso teutónico geral dos anos 90, contra o discurso do colapso, das catástrofes e do apocalipse, que põe fim a tudo, está a política, a razão, a história etc., e, contra um discurso antropológico biologista ainda (?!) mais marginalizado, com igual direito está um discurso de "bom humor", que não quer deixar-se irritar de modo nenhum. Tem-se mesmo a impressão que os medos existenciais e o desamparo promovem imensamente a paixão pelo jogo, e que os indivíduos, os cientistas, os teóricos e os filósofos do jogo podem aceitar a possibilidade de um jogo sem limites. Porque esta possibilidade ilimitada de jogar é o ponto de partida de muitas visões do futuro e utopias dos anos 90.

Contra isso polemiza, por exemplo, Wolf Dieter Narr, contra projectos comunitários e da sociedade civil, mas também contra os mais recentes debates políticos e democráticos, como se encontram especialmente no Beck da invenção da política nos anos 90, que emanam de uma "contingência quase ilimitada" e, tanto empírica e teoricamente como também em termos de possibilidade de realização, dificilmente têm qualquer chão debaixo dos pés: "Tempos gloriosos parecem despontar deste espaço de manobra chegado aos seus limites, percebido em termos de teoria da acção. De acordo com a chance, em todo o caso. As contingências globais florescem, é um prazer viver e investigar em tal sociedade do risco ‘pós-metafísica’, tornada completa e integralmente aberta a nível mundial (...). O aviso de Milan Kundera de uma ameaça de ‘Insustentável Leveza do Ser’ pode ser ignorado, quando a facilidade do ser aliviado individualistamente parece ser possível em toda a parte. A terra habitada como um animado pluriverso" (Narr, 1994, p. 589). Rien ne va plus. Neste contexto, é claro, têm de ser mencionadas também as outras "naturezas jogadoras", o Schulze da Sociedade da Aventura e o Gross da Sociedade Multiopcional, que estão presos, ou antes, estão sentados ao lado do Beck da Sociedade do Risco, no departamento de fenomenologia da Universidade de Bamberg, e têm feito feliz o solícito mundo teutónico com as suas opções-concepções do mundo curado – libertados de quaisquer maiores imposições de crítica social.

Mas também a preferência por teorias dos media, o jogo com os signos e com as identidades – com base em certas cenas da cultura pop, que tinham um biótopo social ideal nos anos 80 – estão derramados no discurso teutónico geral. Desafiadora se torna uma hostilidade aos média e à tecnologia, (antes) muitas vezes generalizada e carregada de ressentimento, e alguns menos radicais indícios pensativos das eventuais consequências negativas de uma abrangente ‘mediatização integral’ da sociedade, agora oposta a uma igualmente geral euforia mediática a cair para o outro extremo. Os media em si estão-se transformando num "tema mediático animado" (Wolfgang Welsch). Ciberespaço, simulação computacional e, neste contexto, o afastamento da imagem humanista do homem são as palavras-chave, às quais se ligam as esperanças para o futuro. No "tecnodiscurso", geralmente se assume que "a capacidade ilimitada de simular é apenas uma questão de tempo. Nas palavras de Peter Weibel: 'Então, a realidade torna-se um texto do poder, então os objectos tornam-se signos no discurso do poder'" (Köster, 1993, p. 797).

Com a ajuda da mediatização e da estetização abrangentes, pretende-se que todos os problemas da humanidade estão agora resolvidos, sendo encontradas novas formas de práxis auto-organizada e solidária, sem pôr minimamente em questão a base na forma da mercadoria capitalista (para a crítica ver também Mayer, 1994).

Do mesmo modo, nos debates sobre o trio classe, "etnia" e género que, desde 1989, tanto os defensores estabelecidos de uma bonsai mudança social multicultural verde e social-democrata nas universidades como certas partes da oposição radical da esquerda restante mantêm simultaneamente em suspenso, constantemente se "recodifica", "desconstrói" e joga com identidades e signos etc. O significado e o absurdo dessas estratégias teóricas e práticas são aliás objecto de discussão.

O livro de Judith Butler "Problemas de género", por exemplo, causou grande sensação (não só no feminismo). Nele ela pede um jogo institucionalizado com as identidades de género, a fim de perturbar a ordem simbólica de género. Travestis e transexuais estão em alta na pesquisa em ciências sociais e nas publicações do espírito do tempo. E assim também não admira que a nossa Johanna W. Stahlmann, na verdade, seja também de "natureza masculina", mas use um pseudónimo feminino, ou seja, que jogue fielmente em seu texto com as identidades de género. Não deve ser completamente negado aqui que o "jogo com as identidades" também pode, de certo modo, trazer algo; mas, visto no seu conjunto, também por ter sido descoberto por um amplo público mediático, revela-se, sobretudo em situações de crise, como uma limpeza simbólica dos problemas sociais, e como ofuscação das disparidades sociais e das relações de poder. (7) Neste contexto também há o perigo de a mera crítica unilateral do universalismo (ocidental) nas concepções pós-estruturalistas poder ser tomada e reinterpretada de modo anti-semita.

Em vários artigos – de certo modo com razão – constata-se uma boemização da sociedade. O estilo de vida de uma anterior vanguarda generalizou-se hoje. Questionável, no entanto, é quando o problemático é desdramatizado nas pós-modernas vidas (de desemprego) massivamente precárias e é comparado com a vida (livremente escolhida) do artista: "A semelhança das formas de trabalho e de vida dos desempregados e dos artistas é sempre impressionante. Ser marginal significa hoje ser indiferente, mas cada vez mais frequentemente também significa ser classificado como ameaçador para o consenso do resto" (Diederichsen, 1993a, p. 12). Através da comparação com o artista, à situação da vida pós-moderna precária é dado um charme elusivo, sendo-lhe conferida uma aura lúdica. Para além do facto de que precisamente ao artista e ao teórico da cultura pop, que Diederichsen tem em mente, ultimamente não tem sido dada pouca atenção no reino teutónico (de marginalização é que não se pode falar).

Os poderes criativos realmente também existentes na vida dos desempregados apenas poderiam desenvolver-se, na minha opinião, se incluíssem centralmente um debate sério de toda a situação individual e social (obsoletismo do trabalho abstracto etc.) e não continuassem a ser embelezados por romantizações baseadas em analogias questionáveis. A existência dimensionada precária, ou mesmo o medo dela, também inclui o risco de tombar para o pogrom, precisamente se ela é marginalizada na consciência social e, ao mesmo tempo, luta por reconhecimento e integração, de modo concorrente, denunciatório e ordinário (o facto de também os artistas "estabelecidos", antes e ainda hoje, de modo nenhum estarem imunizados contra as tendências de direita, como as de Castorf e Cª recentemente provam outra vez, deixo eu aqui fora de consideração).

Há certamente outros níveis de jogo nos anos 90: o jogo com a morte deveria necessariamente ser mencionado aqui, não só nas auto-representações de doentes com SIDA, mas também nas olheiras pintadas e entretanto consideradas chiques da top model Nadja Auermann, por exemplo; um jogo que talvez represente o intermédio entre um clima de casino e um clima de catástrofe. Mas esta enumeração basta por agora.

Nos anos 80 e início dos anos 90, o cliché do jovem yuppie era representado com o Financial Times debaixo do braço, mala de executivo cara, pós-moderno corte de cabelo à jovem Hitler (!) e brinco na orelha, o protagonista da era neoliberal. Tem algo de pérfido: Não muito tempo depois da queda do pico da especulação e da economia do capitalismo de casino, o "especulador do dinheiro Leeson", como lhe chamou denunciatoriamente a Spiegel, é levado preso algemado. Toda a sociedade tola dos anos 80, do "homem pequeno" até ao establishment, agora não quer saber mais nada de si mesma. É o jogador infeliz, com suas narcisistas fantasias de omnipotência em (supostamente) "animado pluriverso", tendo por fundo mais prováveis novos desenvolvimentos de crise, cuja cara alegre dos anos 80 se contorce agora no rosto pequeno-burguês crispadamente teutónico, o dedo indicador esticado, e não falta muito para se ouvir o apelo: "Acabem com ele, é um especulador". O medo anda aí, o especulador ("certo", possivelmente imaginado como "judeu") poderia agora acabar por estragar o jogo ao yuppie teutónico, jogo que este tem usado desde o início dos anos 90 também como agente paliativo, e por isso, ao contrário dos anos 80, mais uma vez o pratica – em potência – como imitação.

 

9.

Nesta situação, para fazer frente a uma atmosfera que contém tendências anti-semitas, seria necessário abster-se tanto do infantil "discurso do bom humor", como de um "pessimismo cultural" suportado com voz ridiculamente grave, especialmente na esquerda (como Robert Kurz também já disse de um editor desta revista e do seu estilo); (8) tanto a agora muito elogiada necessidade de Spengler, com o não raramente correspondente sussurro nacionalista, como o igualmente teutónico discurso da easy life completam-se e formam os pólos extremos que compõem a atmosfera dos anos 90. Eles pertencem à síndrome geral, que poderia produzir mais pogroms e surtos irracionais. Em vez disso, deveriam ser conduzidos debates sérios sobre o que fazer na situação geral precária dos anos 90, e quais as alternativas de acção teóricas e práticas que se abrem, numa perspectiva emancipatória. Neste sentido, também é necessário ter em conta as metamorfoses descritas do yuppie teutónico e afastar a ideia de um mero teutão rural simplesmente consumidor de cereais, com tendências e potencialidades autoritárias (de resto, também existente na variante de consumidor de porco assado), ideia ainda acalentada por alguns na esquerda.

Em particular, no que diz respeito à situação nos mercados financeiros e aos problemas sociais, tais como a falta de habitação etc., bem como às consequências negativas de um súbito surto de alta tecnologia, mediatização e comercialização nos últimos anos, seria necessário elucidar os contextos sistémicos na forma da mercadoria, para pelo menos fazer a tentativa de retirar a base à busca de bodes expiatórios e a um concomitante ressentimento anti-semita. Aqui o yuppie teutónico, por assim dizer como sujeito-objecto deste contexto sistémico geral, teria de ser fortemente confrontado consigo mesmo, chamando a sua atenção para as respectivas projecções, com referência ao passado nacional-socialista e sua história anterior que, como se sabe, já uma vez se distinguiu por um sussurrar de runas, como trovoada de aço.

Precisamente quando se sabe dos "limites do iluminismo" (Detlev Claussen) e das relações sociais fossilizadas, com os seus pós-modernos sujeitos pequeno-burgueses, nada mais resta do que tocar para essas relações a sua própria melodia, a fim de, se não houver a presunção de as fazer dançar já, então talvez as levantar e provocar um pouco, para fora do seu rígido movimento que constitui um perigo público.

E é precisamente a visão desses limites que também proíbe rejeitar à partida iniciativas contra o racismo e o anti-semitismo, desde que não nadem na onda nacionalista, por não terem o "correcto" ponto de vista crítico do valor e anti-capitalista. Já os "novos movimentos sociais" dos anos 70 e 80, em cujo rasto essas iniciativas se mantêm, nunca foram absorvidos pelo conservadorismo, como pensavam/pensam alguns esquerdistas. Na situação de crise dos anos 90, na minha opinião, trata-se de contar com toda a gente que ainda é sensível e que preservou uma consciência da injustiça e um bom senso no sentido de Hannah Arendt, ou seja, com uma posição diametralmente oposta à da sabedoria da mesa de café, hoje novamente tão popular: "O honesto é sempre o estúpido" e o mais antigo lugar-comum do darwinismo social da sociedade burguesa: "Quem não trabalha não come".

Na crise agudizada, alguns da esquerda residual que ficou irão possivelmente juntar-se a uma triste tradição da antiga esquerda, mesmo àquele ambiente "anti-capitalista" meramente superficial e carregado de ressentimento dos "tipos mudos", que implica tendências anti-semitas e, por exemplo, participar – sucumbindo às personificações – na barata caça aos "especuladores". Outros na esquerda já eu vejo juntarem-se, aberta ou secretamente, a choramingar em volta do Lulu-yuppie teutónico. Como ele era tão belo, lambido, cosmopolita, hedonista e tolerante, tão amoroso na sua máscara de não alemão nem fechado em si – em perfeito contraste com a populaça pequeno-burguesa crispadamente provinciana. Aqui está ele – o yuppie teutónico, ele mesmo.

 

 

 

 

(1) Este aspecto não foi por mim suficientemente destacado no artigo "A Máscara da Morte Vermelha. Capitalismo de casino, movimento das mulheres e desconstrução", tendo o lado hedonista dos anos 80 sido muito enfatizado (Scholz 1995).

(2) Claro que isso não se aplica a todos na esquerda. Por exemplo, Jürgen Elsässer tematiza esta fase sob os títulos "Pós-fordismo e pós-modernidade" e "Pós-modernidade e anti-modernidade", incluindo também as considerações de Hannah Arendt (Elsässer 1992, p. 115ss.). E também a redacção da revista "17° C", em seu artigo "Contra a vitimização alemã", demarcando-se de pontos de vista da antiga esquerda que ignoram os processos de modernização e ainda vêem o "carácter autoritário" como causa dos recentes desenvolvimentos da direita, questiona: "De que ‘barbárie’ é o hedonista capaz?" (nº 10, 1995, p. 26). Em certo sentido, a fase do capitalismo de casino também é abordada aqui (ver também o ensaio de S. G.: "Notícias dos espíritos: O 'regresso do fascismo'", na mesma edição.

(3) O facto de o dilema do chamado Terceiro Mundo hoje consistir precisamente em não ser mais explorado, como tem sido muitas vezes referido ultimamente, não pode ser seriamente abordado aqui. Pois é absurdo o suficiente, ser essa mesma circunstância, que provoca conflitos bélicos e movimentos de refugiados, que também faz com que "os outros" venham até "nós". Se o estado de coisas económico é afirmado num sentido tão barato, então, para mim, aí se exprime já o chauvinismo do bem-estar.

(4) Diederichsen, no artigo mais recente "O Miserável e o Experiente. Drogas, Tecno, Desporto" (1994 b), conhece pelo menos em parte as conexões mostradas aqui. Ele separa diferentes variantes de hedonismo: um hedonismo protestante-flagelante, que só vem a si na canseira, um hedonismo de drogado, quimicamente facilitado, e o êxtase dos miúdos tecno, sendo que ele obviamente toma partido pelos dois últimos. Atitudes de chauvinismo do bem-estar e problemáticas tendências de individualização casino-capitalistas não são, significativamente, o seu tema. Uma crescente orientação para a concorrência e para o trabalho é apenas marginalmente discutida, sendo a argumentação sublinhada mais implicitamente. Em vez disso, para Diederichsen trata-se de "por uma vez fazer uma pausa e ver o que o mainstream negoceia e vai adoptar em breve, em relação a estilo de vida, drogas, exclusão e pôr na ordem, segurança interna, plenos poderes da polícia e reavaliação do êxtase em tempo de projectos de consenso" (Diederichsen de 1994 b p. 7). Intenções de exclusão são, assim, criticadas, especialmente contra os dealers construídos como "estrangeiros", sendo mostrado o fantasma da poluição e do envenenamento que lhes está associado – ambos os temas em minha opinião muito justificados, mas mesmo assim reduzidos na apresentação analítica. Fica um pouco a impressão que é o medo do seu próprio hedonismo ou possibilidades de êxtase que move a escrita. O texto de Diederichsen, em muitos aspectos bastante simpático, também apela basicamente à "em si" sociedade hedonista para se opor ao Estado repressivo dos ano 90, sem perguntar como uma e outro são simultaneamente possíveis e se relacionam.

(5) Por "anti-semitismo secundário" entende aqui Elsässer, como é costume na ciência especializada, "anti-semitismo devido a Auschwitz – não apesar de Auschwitz, mas devido a Auschwitz. Este anti-semitismo de tipo novo exprime-se, por exemplo, na 'tese da exploração' (Israel quer 'fazer negócio com a culpa dos alemães'), na consequente rejeição de reparação e, especialmente, na exigência de 'finalmente ser deixado em paz' e não ter de continuar a ouvir falar da culpa alemã" (Elsässer, 1992, p. 72).

(6) Um dos principais yuppies teutónicos também sabe que a figura do zelador retorna na década de 90 e mais uma vez surge um novo filistinismo: o "pesquisador de tendências" Matthias Horx (1993, p. 118s.).

(7) É para mim mais que suspeito, por exemplo, quando homens heterossexuais brancos, que lutaram anos e anos contra as imposições feministas, e para os quais nunca o sexismo nem a homofobia são colocados nas discussões como um problema sério, sejam ao mesmo tempo ardentes fãs de Judith Butler. Surge inevitavelmente a má suspeita de que se quer assim livrarem-se de todo o questionamento da heterossexualidade masculina branca e da dominância masculina que lhe está associada na sociedade. Uma pessoa apropria-se do estilo, do habitus das mulheres e dos gays e, com esse procedimento (supostamente) subversivo, pode "perturbar" a ordem simbólica de género, e até apelar para uma concepção feminista, sem ter de enfrentar a questão do poder (que também já não é colocada nas concepções pós-estruturalistas como relação de dominação). Em discussões públicas em que, por exemplo, o comportamento masculino na discussão é criticado, a pessoa pode-se então mesmo retirar de tal crítica que estaria de facto a fixar a ordem de género simbólica, e agora com a consagração do progressismo, quase a insistir que tudo mantém a sua ordem patriarcal. Aliás (e não em último lugar) na apropriação do estilo e do habitus das mulheres pode-se expandir a própria identidade masculina (não abolida), e até mesmo ser uma mulher melhor, nomeadamente como o sempre melhor homem (enriquecido com o lado feminino). Uma atitude que já foi constatada pelas pesquisadoras feministas nos românticos, e que em tempos de crise como hoje, quando a auto-estima masculina afunda, pode ser bastante tentadora. Com tudo isto, então – na mais elevada conformidade heterosexual – em casa vai-se com a namorada para a cama, que, alto lá, é "como pessoa" e "questão completamente privada", não é nada de teórico, não é nada de político... Contra isto tem de ser defendida a própria Judith Butler, cuja concepção ainda alega ser contra o sexismo e a heterossexualidade compulsiva e, pelo menos em termos estritamente teóricos, recusa a aceitação da arbitrariedade, embora em "Problemas de género" alimente a discussão de tal interpretação.

(8) Assim escreve, por exemplo, também Diedrich Diederichsen: "O bom humor é mais progressista que o pessimismo cultural" (Diederichsen 1993 b, p. 114). Eu acho que nem um nem outro podem ser a perspectiva.

 

 

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Stahlmann, Johanna W.: Pretty Woman. Reflexionen über einen Kinobesuch oder warum dem Überdruß des Raffens keine Renaissance des Schaffens folgt [Pretty Woman. Reflexões sobre uma ida ao cinema, ou porque à exaustão da rapacidade não se segue nenhum renascimento da criatividade]. In: Krisis 10 (1994) 53-74.

 

Original Die Metamorphosen des teutonischen Yuppie. Vorwort zur Neuveröffentlichung in: www.exit-online.org. Tradução de Boaventura Antunes (12/2018)

 

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