Convite para o Seminário EXIT! de 27 a 29 de Junho de 2008

em Enkenbach/Palatinado

DIMENSÕES DO FETICHISMO

Caras amigas e caros amigos,

O nosso seminário deste ano vai decorrer em Enkenbach, no Palatinado (itinerário abaixo), estando subordinado ao tema “Fetichismo”; este ano será já em finais de Junho e não em Novembro como nos anos anteriores, por motivos organizacionais e tirando proveito da estação mais agradável.

Nos últimos anos o “fetichismo” tornou-se uma espécie de tema da moda. São-lhe dedicadas diversas publicações (incluindo livros) e seminários; conseguiu abrir caminho até aos suplementos literários e, pelo que se ouve dizer, diversos doutorandos que dele se ocupam não têm mãos a medir. Um desenvolvimento satisfatório, poder-se-ia pensar: pelos vistos, a noção de que o mundo (não) é uma mercadoria tem vindo a difundir-se desde os movimentos de crítica da globalização até ao Linkspartei [“Partido da Esquerda”, fruto da fusão do PDS – ex-SED, partido de regime da defunta RDA – com antigos membros da ala esquerda do SPD em torno de Oskar Lafontaine; N.d.Tr.], e mesmo até aos píncaros da economia e da política, da chancelerina Merkel ao presidente da Reserva Federal americana Bernanke. Por detrás da denúncia da “avidez” do mercado e dos especuladores, da “invasão de gafanhotos”, do “capitalismo de caravana” etc. espreita, porém, uma “crítica do capitalismo” extraordinariamente problemática e estruturalmente anti-semita. Embora nos últimos anos isso tenha sido constatado com alguma frequência, o processamento intelectual da matéria tem deixado a desejar.

Ora, no nosso seminário, o que pretendemos fazer é, em contraste com uma crítica meramente superficial do fetichismo, apontar algumas dimensões estruturais e históricas profundas da problemática do fetichismo que não se circunscrevem à dimensão do “económico”. Evidentemente tal empreendimento pouco pode passar de uma espécie de prospecção geológica. O nosso problema no planeamento foi que o tema “fetichismo” já representa um campo deveras amplo e nós nos vimos obrigados a escolher os pontos a abordar. Acresce que desta vez organizámos apenas quatro sessões, uma vez que nos anos anteriores as cinco palestras acrescidas dos respectivos debates acabavam por se tornar cansativas. Afinal convém que também sobre algum tempo para as conversas informais e pessoais. Esperamos que no decurso do debate ainda venham a lume alguns aspectos menos abordados. Segue-se o programa detalhado:

SEXTA-FEIRA, 27.06: Chegada

18.00 Jantar

19.00 Discursos do Fetichismo (Claus Peter Ortlieb)

“Fetichismo” em Marx é uma metáfora com que ele designa criticamente a forma das mercadorias, como uma relação social que assume a forma fantasmagórica de uma relação de coisas dotadas de vida própria. Ele vira assim polemicamente o discurso do fetichismo do seu tempo, aplicado à “pré-modernidade não esclarecida”, contra os seus autores esclarecidos. Simultaneamente, assinalando-se o carácter fetichista das mercadorias abre-se a via para uma apreensão sistémica da relação de fetiche que vai muito para além dos fetiches-coisas, que à partida eram a única coisa tida em mente. Nos discursos do fetichismo recentes (entre outros no muito falado livro “Fetichismo e cultura” de Hartmut Böhme e nos textos do pós-operaista John Holloway) esta diferença é frequentemente aplanada, sendo inflacionada a utilização do conceito de fetiche e virada de modo afirmativo ou inócuo a crítica marxiana do fetiche. Em polémica com tais discursos procurar-se-á chegar a uma mais exacta definição do conceito.

SÁBADO, 28.06.

10.00 O significado da crítica da relação fetichista homem-natureza em Marx para a crítica das relações capitalistas entre os sexos (Micha Böhme)

O objectivo da apresentação é tornar frutífero para a crítica da relação patriarcal entre sexos o conceito de natureza de Marx e o seu entendimento da sociedade na sua inversão fetichista. Por um lado, a sociedade comporta-se aparentemente como natureza. O que se tornou algo em termos sociais envolve a sua origem social em ideologia. Por outro lado, isso significa conceber a natureza sempre como socialmente formada e também percepcionada de forma socialmente mediada. Na explicação biológica das relações sociais, o devindo socialmente é considerado natural e assim legitimado. Isto aplica-se, não em último lugar, à relação entre sexos que, não obstante todas as modificações modernas, tem de ser considerada uma relação hierárquica, assimétrica e patriarcal. A crítica feminista procurou desvendar a fundamentação social desta relação entre sexos com os conceitos de sexo e género: para esta abordagem, o sexo corresponde ao género natural, ao passo que o género representa o sexo social. Assim, porém, por um lado ficava por questionar o sexo biológico e, por outro lado, o debate tendia a despromover a corporalidade, juntamente com o sexo, a um substrato sem importância. Na conferência, por meio da análise marxiana da relação Homem-Natureza, pretende-se relacionar reciprocamente e de forma mediada a qualidade do natural com a qualidade do social perante o pano de fundo do debate sexo-género (e em ligação ou confronto com Carmen Gransee, Judith Butler e Barbara Duden): que significado tem o entendimento marxiano da condição natural da sociedade e da condição social do que é natural para a crítica contemporânea das relações patriarcais entre os sexos?

13.00 Almoço

15.00 ENTRE A ESPADA E A PAREDE. As relações fetichistas da cultura europeia cristã como mecanismos complementares de opressão e doutrinação (Carsten Weber)

A história de toda a sociedade até aqui existente é a história de relações de fetiche. Assim postulou até à data a crítica do valor-dissociação, demarcando-se da vetusta teoria marxista, sem se deter a comprovar isso mesmo também para a Pré-modernidade. Enquanto a ocupação com o patriarcado produtor de mercadorias, como a relação de fetiche da idade moderna, já produziu uma extensa literatura, aguarda-se ainda a exposição das relações de fetiche pré-modernas. Na comunicação, à qual se segue um texto detalhado no próximo nº da EXIT!, questiona-se em primeiro lugar sob a forma de teses em que bases materiais e filosofico-religiosas se constituiu na Europa cristã uma matriz apriórica e crescentemente autonomizada de uma desigualdade hierárquica abrangente que se tornou norma coerciva para todos os seres humanos submetidos ao cristianismo. Chega-se à conclusão que esta matriz, pelo menos em partes essenciais e em novos amalgamamentos, se prolongou na modernidade até bem pelo século XX adentro, de tal modo que os seres humanos foram expostos a pesadas provações, sem precedentes na história, comprimidos entre duas relações de fetiche, uma antiga modulada e uma nova a desenvolver-se com dinâmica acelerada, ou seja, de certa maneira postos entre a espada e a parede. Como prova e ilustração a comunicação termina com a leitura de dois acórdãos do Supremo Tribunal Federal dos anos de 1954 e 1962, em que fica claro de que modo as ideias autoritárias pré-modernas continuaram a perpetuar-se até ao passado mais recente.

18.00 Jantar

19.00 Assembleia-Geral da Associação EXIT!

DOMINGO, 29.06.

10.00 RAZÃO FETICHISTA OU CRÍTICA CATEGORIAL? A dimensão profunda na crítica da economia política. (Robert Kurz)

No marxismo de partido e no do movimento, as categorias centrais da crítica da economia política de Marx foram sendo em grande medida mal entendidas, de modo positivista. Neste caso, na crítica do capitalismo o que está em causa é apenas um conhecimento mais aprofundado de determinações ontológicas do ser. A teoria de Marx, pelo contrário, com a hierarquia dos conceitos de fetiche da mercadoria, fetiche do dinheiro e fetiche do capital, pretende a abolição destas categorias. Há que alargar uma crítica assim entendida da moderna constituição de fetiche aos conceitos de fetiche do trabalho, fetiche do sexo, fetiche do direito, fetiche do Estado e da política, fetiche da democracia e da nação. Daqui resulta também uma mudança de paradigma da teoria da história, de uma “história de lutas de classes” sociologicamente reduzida para uma “história de relações de fetiche”. Acontece que a elaboração teórica de Marx já implica epistemologicamente a crítica do pensamento ontológico enquanto tal que, não se limitando a definir o conceito de sujeito como específico da moderna constituição de fetiche, também historiciza o próprio conceito da razão como conexão de “formas objectivas de pensamentos” (Marx) de relações fetichistas. Só assim se obtém, para lá de Adorno, uma dialéctica negativa consequente para o movimento da contradição capitalista, que rompe com o conceito de superação imanente da dialéctica positiva de Hegel e leva até ao fim a revolução teórica de Marx. No entanto só a suplantação prática da moderna razão fetichista poderia constituir o cumprimento real.

13.00 Almoço, e depois partida.

 

Itinerário para o centro de congressos Haus Mühlberg (Tagungs- und Freizeitstätte der Ev. Kirche der Pfalz), em Mühlberg 17, 67677 Enkenbach-Alsenborn (Ortsteil Enkenbach), Tel.: 06303 – 2337:

Enkenbach fica a cerca de 10 km a leste de Kaiserslautern, no troço ferroviário Bingen - Kaiserslautern; pode-se vir directamente da linha do Reno (Koblenz - Bingen), ou com transbordo em Kaiserslautern (aqui param também os ICEs da linha Mannheim - Saarbrücken - Paris Est). Também de automóvel é muito fácil chegar a Enkenbach: Na A 6 (Mannheim - Saarbrücken), saída para Enkenbach-Alsenborn 10 km a leste de Kaiserslautern.

Da estação ferroviária chega-se à Haus Mühlberg em cerca de 10 minutos a pé: saindo da estação à esquerda, na rua principal novamente à esquerda, após uma passagem sobre a linha férrea e um cruzamento (onde há um elefante) a cerca de 200 m está a casa no cimo do monte (Haus Mühlberg assinalada).

De automóvel, saindo da auto-estrada chega-se ao cruzamento com semáforos no centro da povoação; aí à direita ultrapassando a passagem sobre a via férrea e o cruzamento já referidos.

Custos por pessoa com dormida e refeições, de sexta a domingo:

Quarto duplo sem duche/WC (acessível no piso): 95 Euros

Quarto individual sem duche/WC (acessível no piso): 100 Euros

Quarto duplo com duche/WC privativo: 100 Euros

Poderá não haver disponibilidade de oferta para cada uma das três opções, pelo que os pagamentos serão efectuados apenas à entrada.

Participação apenas no seminário: 15 Euros.

Descontos: quem tiver dificuldade no pagamento não deve desistir do seminário, mas colocar o problma no acto da inscrição para se conseguir um desconto.

Inscrições: Por E-mail: seminar+@exit-online.org (por favor retirar manualmente o sinal +). Por correio: Verein für kritische Gesellschaftswissenschaften, Hanns v. Bosse, Am Heiligenhäuschen 68, 67657 Kaiserslautern.

Roswitha Scholz pela redacção da EXIT!

Original EINLADUNG ZUM EXIT!-SEMINAR 2008 VOM 27.6. - 29.6. IN ENKENBACH/PFALZ.

DIMENSIONEN DES FETISCHISMUS in www.exit.online.org

http://obeco-online.org/

http://www.exit-online.org/