SEMINÁRIO EXIT 2023
15 a 17 de Setembro, em Mainz
CRISES NA CRISE – CORONAVÍRUS, GUERRA E CASH-CRASH
Crise climática, crise financeira, crise dos cuidados, crise dos refugiados, crise do coronavírus, crise da democracia, crise do ordenamento geopolítico e assim por diante. Já há muito tempo que se fala por todo o lado de uma "crise múltipla" ou de "múltiplas crises". Na perspetiva da crítica da dissociação e do valor, é evidente que não se trata aqui de fenómenos isolados e aleatórios, que possam ser simplesmente adicionados, mas sim de um sistema patriarcal capitalista fetichista, essencialmente determinado pelo capital como sujeito automático e pela dissociação das actividades reprodutivas e sua delegação sobretudo nas mulheres, que constitui o contexto condicional de todas estas crises.
Apesar do renascimento do marxismo e da crítica do capitalismo que se pode ver nos últimos anos, ainda se procuram vias para lidar com estas múltiplas crises na imanência, em vez de questionar radicalmente todo o modo de produção e de vida. Neste contexto, no seminário Exit! deste ano queremos analisar mais de perto o coronavírus, a guerra na Ucrânia e a desolada situação dos mercados financeiros.
Sexta-feira 19.00 – 21.30
Roswitha Scholz:
Going back, back into time… Da crítica do valor para uma crítica truncada do capitalismo?
Desde o coronavírus, o mais tardar, que se têm vindo a acumular divisões na sociedade, incluindo na esquerda. Está a espalhar-se um pensamento transversal que nem sequer se detém perante a crítica da dissociação e do valor. Também no seio do projecto Exit! ocorreu uma cisão. Uma parte dos (antigos) "críticos do valor" banaliza a ameaça do coronavírus, vê a medicina ao serviço do capital e do Estado, evidencia os interesses da indústria farmacêutica e aproxima-se das narrativas das teorias da conspiração. Na guerra da Ucrânia tendem a ficar do lado de Putin, em vez de se concentrarem nas estruturas e processos sociais globais, de que o Ocidente também não pode sair ileso. A crítica do fetiche passa para segundo plano; os actores e os interesses é que determinam em grande medida a análise. Tais "críticas do valor" implicam um anti-semitismo estrutural e oferecem pontos de ligação às ideologias de direita. As objecções a esta avaliação, que também existem, também serão tema da palestra.
Sábado 10.00 – 12.30
Thomas Ebermann, Hamburgo
Pandemia, "normalidade" e crítica das necessidades
Com o livro "Störung im Betriebsablauf [Perturbação no processo operacional]", publicado em maio de 2021, Thomas Ebermann formulou uma posição crítica às formas e instrumentos para "lidar" com a pandemia de SARS-CoV-2. Ele vira-se contra um Estado que exige sacrifícios para manter a operação capitalista; contra a banalização de uma doença mortal por parte da direita e da esquerda; contra a falta de consideração e a brutalidade de sujeitos moldados pela dominação; contra a produção contínua de falsas necessidades; contra a grande promessa de salvação destes dias de que, se todos fizermos o esforço certo, poderemos em breve regressar à "normalidade"; e contra a ideia de que esta "normalidade" é algo por que vale a pena lutar. Ebermann: "O meu ponto de partida continua a ser que há um cálculo necessariamente capitalista subjacente ao 'plano' do Estado alemão, nomeadamente o equilíbrio entre as vítimas aceites e a prevenção de 'demasiadas' infeções que afectariam o necessário reservatório da mercadoria força de trabalho – mantendo-se a lealdade ao Estado e ao seu pessoal dirigente e de oposição construtiva, claro". Ebermann apurou a sua crítica a três mensagens conformistas centrais na revista konkret 4/2022:
– "Nós" ultrapassámos bem a pandemia. Aqui os 171.992 mortos (Robert Koch Institut em 17.04.2023) e os doentes graves, bem como os que sofrem de "COVID longo", foram empurrados para a obscuridade. Só quem adere à racionalidade da economia política pode argumentar desta maneira.
– O sector da saúde e as "infra-estruturas críticas" devem manter-se. O pensamento crítico tem de se virar contra este "princípio da aceitação do dano colateral".
– Manutenção ou regresso rápido à "normalidade". A "normalidade" é a "produção continuada de mais infelicidade", que se expressa "no facto de o ser humano minar sistematicamente as suas condições de vida neste planeta ... através do modo de produção capitalista".
A crítica a 3. leva à crítica das necessidades, que devem ser denunciadas como pertencentes ao sistema existente, mas ao mesmo tempo não devem ser condenadas de cima do cavalo.
Sábado: 15.30 – 18.00
Tomasz Konicz:
Crise financeira e desdolarização do dinheiro mundial?
O orador procurará explicar as principais características do processo de crise na esfera financeira após o fim da grande bolha de liquidez, que foi sustentada pela política monetária expansiva dos bancos centrais no neoliberalismo tardio. Com o início da crise em 2020 (pandemia de Covid e guerra na Ucrânia), o anterior modus da economia global das bolhas financeiras parece ter-se esgotado, uma vez que os bancos centrais têm de reagir à dinâmica da inflação com uma política monetária restritiva, o que por sua vez desestabiliza a esfera financeira e abranda a economia. Assim na apresentação examinar-se-á, por um lado, este impasse da política monetária da administração da crise do capitalismo tardio, que de facto tem de se equilibrar entre a ameaça de inflação e de deflação, bem como os seus esforços de ajustamento aparentemente contraditórios. Poderá a produção de capital fictício na esfera financeira ser reorganizada e ainda mais prolongada, ou será que estas medidas de procrastinação da crise, que culminaram num verdadeiro capitalismo do banco central, atingiram os seus limites?
Na segunda parte da conferência, por outro lado, será abordada a questão de saber até que ponto a actual fase de crise poderá ser acompanhada por uma mudança de hegemonia e pela substituição do dólar americano como moeda de reserva mundial. Poderá a China em ascensão suceder aos desgastados EUA como potência hegemónica global e estabelecer um novo sistema mundial que substitua o "Ocidente"? O capitalismo de Estado chinês não deve ser aqui mal entendido como uma alternativa ao sistema, como ainda é costume, por exemplo, entre as secções regressivas da esquerda em desintegração, mas sim como parte do sistema mundial capitalista, que está sujeita às mesmas contradições internas e externas que o Ocidente em declínio. O orador procurará não só delinear estas distorções sócio-ecológicas na China e na periferia e semiperiferia cada vez mais dependentes de Pequim, mas também traçar a interacção entre os ciclos hegemónicos de longo prazo do sistema mundial e as dinâmicas da crise. A narrativa largamente difundida de que a actual fase de crise é apenas uma mudança de hegemonia será confrontada com a realidade da crise, a fim de lhe retirar o fundamento económico e ecológico.
Sábado 19.00
Assembleia Geral
Domingo 10.00 – 12.30
Herbert Böttcher
A caminho da aniquilação do mundo: o que Walter Benjamin nos faz pensar perante o perigo iminente
A guerra na Ucrânia é uma expressão da crise global que também afecta cada vez mais as grandes potências. As "guerras de ordenamento mundial", travadas sobretudo nas regiões em desintegração da periferia, estão a tornar-se cada vez mais difíceis de manter afastadas dos centros. Em ligação com outras crises globais (clima, fuga e migração, perda de controlo por parte dos actores políticos e o agarrar de âncoras de salvação autoritárias e identitárias), têm o potencial de desencadear uma conflagração mundial aniquiladora. Em "A Guerra de Ordenamento Mundial", Robert Kurz analisou a dinâmica aniquiladora inerente ao capitalismo e que se agrava com as crises. O vazio da forma capitalista de produção e reprodução desemboca no "nada" e, por conseguinte, na aniquilação.
Walter Benjamin reconheceu muito cedo que a história capitalista burguesa, que se vê a si própria como história de progresso, está de facto inscrita na catástrofe. O seu entendimento da história, em que o passado e o presente entram numa nova constelação face ao "momento de perigo", abre os olhos para crises e catástrofes. Benjamin enfatiza que o "continuar assim" é a catástrofe. Na sua reflexão sobre a história, contra o mitológico tempo fluindo no "retorno do mesmo", ele estabelece categorias de ruptura: de interrupção, de imagem dialéctica, de dialéctica em paralisação....
"No momento do perigo" – que é evidente na guerra na Ucrânia e nos contextos de crise que a acompanham – o pensamento de Benjamin, que alcança a totalidade do contexto fetichista capitalista – ainda que necessitando de ser completado – pode interromper reflexivamente a normalidade vigente. Contra a tendência para apostar regressiva e ressentidamente no controlo autoritário e na nação, na classe e na identidade, no interesse e na conspiração, face à escalada dos potenciais de crise e de aniquilação, passa para o centro da reflexão a ruptura com as relações fetichistas vigentes, como pré-requisito indispensável para uma perspetiva de salvação.
Local do seminário
Jugendherberge Mainz
Otto-Brunfels-Schneise 4
55130 Mainz
Acessos
De comboio: A partir da estação, linhas de autocarros 62 e 63 em direcção a Weisenau-Laubenheim, paragem "Am Viktorstift/Jugendherberge".
De carro: No anel viário A60 Mainz-Darmstadt, saída em Weisenau/Grossberg em direcção a Innenstadt/Volkspark.
Custos por pessoa com alojamento e alimentação, Sexta a Domingo:
Quarto com duas camas com duche/WC: 90 euros (24 lugares)
Quarto individual com duche/WC: 110 euros (6 lugares)
Há 30 lugares disponíveis.
Participação apenas no seminário: 20 Euros. Participação apenas no seminário com pensão completa: 40 Euros. Por favor, informe-nos em conformidade!
Por favor não transferir antecipadamente, mas trazer dinheiro.
Quem não pretender alojamento, mas apenas algumas refeições, indique por favor quais no momento da inscrição (pequeno-almoço, almoço, café da tarde, jantar).
Aos participantes que não queiram ficar na pousada pedimos que procurem um alojamento externo. O gerente de pousada da juventude indicou-nos o Hotel Stiftswingert (em Stiftswingert 4, Tel 06131-982640) e o Hotel Ibis (Junto à Südbahnhof; Holzhofstr 2, Tel 06131-2470); o centro de conferências é facilmente acessível a pé a partir de ambos.
Desconto:
Quem tiver dificuldade no pagamento não deve desistir do seminário, mas colocar o problema no acto da inscrição para se conseguir um desconto.
Inscrição
Por favor indique na inscrição se deseja comida vegetariana. Caso contrário, assumimos não vegetariano. Por email: seminar@exit-online.org.
Original EXIT – SEMINAR: 15.-17. September 2023 in Mainz, Krisen in der Krise – Corona, Krieg und Cash-Crash: www.exit-online.org. Tradução de Boaventura Antunes