SEMINÁRIO EXIT! 2025
17 a 19 de Outubro, em Mainz
Pós-colonialismo – Decolonialidade – Novo imperialismo de crise
Pós-colonialismo e decolonialidade são temas muito discutidos actualmente. Se a partir da década de 1980 o pós-colonialismo era hegemónico, desde a década de 2010 fala-se cada vez mais de decolonialidade. No entanto as diferenças entre os dois conceitos nem sempre são claras. Em termos gerais, o pós-colonialismo trata da problematização das estruturas de poder coloniais e da (desconstrução) das identidades culturais num contexto universitário. Em contrapartida, a decolonialidade apresenta-se como anti-académica, passando para primeiro plano os movimentos sociais fora da universidade, embora com fundamentos académicos. Nesse contexto, a crítica dos subalternos é geralmente omitida. Neil Larsen escreve, em conformidade: «O pós-colonial claramente não se prestará tão bem à ... criação de slogans». Ele intitula o seu texto «O reaccionário jargão da decolonialidade», tendo como pano de fundo a crítica de Adorno ao «jargão da autenticidade» (The Reactionary Jargon of Decoloniality, Jacobin, 29.12. 2023) [Trad. port. de Pedro Silva: O reacionário jargão da decolonialidade, jacobin.com.br, 18.09.2024].
O seminário Exit deste ano centra-se principalmente na discussão do conteúdo das teorias pós-coloniais e decoloniais no contexto da actual crise da sociedade global. No final do seminário, tendo como pano de fundo o desenvolvimento objectivo da crise, pretende-se esclarecer a diferença entre um novo imperialismo de crise de hoje e o imperialismo «clássico» do passado – algo que as perspectivas pós-coloniais e decoloniais ainda não têm bem em conta. Falta-lhes um conceito de totalidade social (mundial), que também teria de dar espaço a uma perspectiva ideológica e do mundo da vida, e não apenas à perspectiva político-económica, que é o que lhes interessa particularmente no caso das abordagens decoloniais. Seria necessário incluir não em último lugar abordagens em termos de crítica da dissociação-valor, para lá de essencialismos, mas no contexto de uma perspectiva de totalidade agora justamente fragmentada, em seu conteúdo e não em sua aparente existência imediata.
Sexta-feira, 19h00 – 21h30
Supressão e conservação do homem branco (Robert Kurz)
Robert Kurz já se dedicou ao tema do colonialismo e do anticolonialismo no seu ensaio de 1993, «Die Aufhebung des weißen Mannes» [Trad. port. de Raquel Imanishi Rodrigues: Supressão e conservação do homem branco, obeco.online.org]. Ele via a minoria dos homens brancos como executores da lógica e da racionalidade na forma da mercadoria – essa a sua tese. Tendo como pano de fundo a crítica da dissociação-valor, ele chega à seguinte conclusão: «As forças produtivas, extravasadas pelo próprio sistema de mercado, intervêm de modo tão profundo na natureza interna das necessidades humanas e na natureza externa do mundo vegetal e animal no solo, na água e no ar que estes conteúdos sensíveis não podem ser reprimidos e violados por muito tempo. Com isso, contudo, os movimentos de emancipação dos trabalhadores assalariados e dos antigos povos colonizados esbarram em seus limites. Estes também não irão longe se continuarem a adoptar a forma social do homem branco… As mesmas forças produtivas que produziram, na forma do sistema de mercado, a crise ecológica e a crise das relações entre os sexos são responsáveis por um desemprego em massa, crescente e global… Mesmo porque essas mesmas forças produtivas engendraram o mercado mundial totalizado, enredando globalmente a humanidade. O velho nacionalismo libertador do movimento anticolonialista gira em falso… A guerra dos sexos, as catástrofes sociais e ecológicas, o fundamentalismo pseudo-religioso e a guerra civil étnica mostram que o mundo ocidentalizado sai dos trilhos… As formas sociais ocidentais, formadas na era dos descobrimentos, não são suficientemente avançadas para poder incorporar o mundo único que é seu próprio produto… Nessa medida, o fim efectivo da colonização externa e interna ainda se encontra à nossa frente e, enquanto meta para o século XXI, pode ser resumido em uma fórmula curta: Supressão e conservação do homem branco». O ensaio será apresentado por Roswitha Scholz numa versão resumida.
Sábado, 10h00 – 12h30
Depois do pós-colonialismo é antes da descolonização (Justin Monday)
Ultimamente está-se de novo a descolonizar. Não ainda totalmente, mas em breve, assim que o precariado académico tiver transferido a «gramática da decolonialidade» de Walter Mignolo dos seminários de literatura para os livros didácticos. O pós-colonialismo, que ainda é considerado a última moda nas páginas culturais, parece ter sido mais um mal-entendido. Teria sido «um dos mitos mais poderosos do século XX» que «a abolição das administrações coloniais equivalia a uma descolonização do mundo». Pelo contrário, isso teria levado ao «mito de um mundo ‘pós-colonial’». Pelo menos é o que afirma Ramón Grosfoguel, ao lado de Mignolo, outro dos grandes nomes do género.
No entanto não se fez ouvir o clamor da cena pós-colonial, que poderia facilmente interpretar esse disparate a-histórico como um ataque identitário. Pelo contrário, considera-se que é um bom complemento ao que se tem escrito nos últimos anos. Em todo o caso também não se tem nenhuma ideia realmente brilhante para explicar por que razão a hierarquia e as instituições do capital mundial, claramente em crise, ainda devem ser chamadas de pós-coloniais. Afinal os marcos dessa viragem histórica mundial, como a independência da Índia e do Paquistão da Inglaterra, já remontam a mais de 75 anos, que não foram exactamente tranquilos. Poderia portanto estar na hora de um novo conceito que resuma a constituição política do capital mundial de forma a atribuir a situação das antigas colónias às formas sociais actuais.
Mas não parece que o espectro pós-colonial seja capaz de o fazer. Por isso a palestra abordará numa análise crítica da ideologia a questão de como se constituiu a teoria pós-colonial, que deve ser levada muito mais a sério do que a novilíngua decolonial, e por que razão se encontra agora em apuros.
Sábado: 15h30 – 18h
Sem um conceito de totalidade social (mundial) na crise não há libertação. Sobre o «contradiscurso da modernidade» de Enrique Dussel como filosofia e ética da libertação (Herbert Böttcher)
O historiador, filósofo e teólogo argentino-mexicano Enrique Dussel, nascido em 1934 na Argentina, é um teórico influente no contexto latino-americano. O que se deve ao facto de o seu pensamento ser multidisciplinar e marcado pela visão da América Latina como lugar na periferia económica, política e cultural, um lugar que está fora do campo de visão dos centros, mas é dominado por eles. É a partir da perspectiva de um lugar tão original que Dussel desenvolveu a sua “filosofia da libertação”.
Actualmente, no âmbito da discussão sobre uma visão pós-colonial e decolonial do capitalismo e da modernidade de influência europeia, é frequente referir-se a «filosofia da libertação» de Dussel. A sua perspetiva prática e ética parece ser atraente. A palestra trata do recurso de Dussel às culturas indígenas da América Latina e às tradições de pensamento enraizadas na filosofia europeia (de Descartes a Levinás, do Eu ao Outro e sua exterioridade). A partir da sua reflexão nos seus contextos político-económicos e culturais, ele desenvolve o seu «contradiscurso da modernidade». Este ganha forma numa «filosofia da libertação», que Dussel, por sua vez, ligando-se a Levinás, delineia como «ética da libertação».
A apresentação pretende mostrar que, apesar do peso que Dussel atribui à contextualização político-económica da sua reflexão, esta permanece presa em categorias marxistas tradicionais (trabalho vs. capital, dominantes vs. oprimidos, etc.). Ele acusa a teoria crítica inicial de ter rompido com estas categorias, ignorando, porém, o seu conceito de totalidade social. Consequentemente, Dussel também não consegue desenvolver um conceito de totalidade social (mundial) e muito menos reflectir sobre o seu carácter de crise. Em vez disso, ele busca refúgio numa ética da exterioridade orientada para o Outro em vez de para o Eu e aterra numa transformação social que é apresentada como democratização. Isso pode agradar a académicos activistas e argumentadores, mas não pode romper emancipatoriamente com as relações ruindo na crise e ainda assim caoticamente «dominantes».
Sábado, 19h00: Assembleia Geral
Domingo, 10h00 – 12h30
O que é o imperialismo de crise? E em que difere do imperialismo clássico de épocas anteriores? (Tomasz Konicz)
O imperialismo de crise é a busca da dominação estatal – realizada por meios económicos, políticos ou militares – na era da contracção do processo de valorização do capital. Os aparelhos estatais dos centros do sistema mundial aspiram a dominar numa crise sistémica alimentada por avanços permanentes na produtividade que, por um lado, produz regiões económica e ecologicamente devastadas, principalmente na periferia, e, por outro, impossibilita o surgimento de um novo regime de acumulação, no qual o trabalho assalariado em massa fosse valorizado na produção de mercadorias. Este processo de crise é acompanhado por um aumento do endividamento mais rápido do que o crescimento da economia mundial e faz surgir uma humanidade economicamente supérflua, como ilustrado pelas crises de refugiados dos últimos anos.
Isso também revela a diferença fundamental em relação ao imperialismo de épocas anteriores, uma vez que este ocorreu numa fase histórica de expansão do capital – que teve início na Europa no século XVI – impulsionada precisamente pela maciça exploração assassina da força de trabalho e dos recursos. Esta tese será desenvolvida mais detalhadamente na palestra.
Local do seminário
Jugendherberge Mainz
Otto-Brunfels-Schneise 4
55130 Mainz
Acessos
De comboio: A partir da estação, linhas de autocarros 62 e 63 em direcção a Weisenau-Laubenheim, paragem "Am Viktorstift/Jugendherberge".
De carro: No anel viário A60 Mainz-Darmstadt, saída em Weisenau/Grossberg em direcção a Innenstadt/Volkspark.
Custos por pessoa com alojamento e alimentação, de sexta a domingo:
Quarto com duas camas com duche/WC: 90 euros por pessoa (12 lugares)
Quarto individual com duche/WC: 110 euros (7 lugares)
Há 19 lugares disponíveis.
Participação apenas no seminário: 20 Euros. Participação apenas no seminário com pensão completa: 40 Euros. Favor indicar opção.
Por favor não transferir antecipadamente, mas trazer dinheiro.
Quem não pretender alojamento, mas apenas algumas refeições, indique por favor quais no momento da inscrição (pequeno-almoço, almoço, café da tarde, jantar).
Aos/às participantes que não queiram ficar na pousada pedimos para procurarem um alojamento externo. O gerente de pousada da juventude indicou-nos o Hotel Stiftswingert (em Stiftswingert 4, Tel 06131-982640) e o Hotel Ibis (Junto à Südbahnhof; Holzhofstr 2, Tel 06131-2470); o centro de conferências é facilmente acessível a pé a partir de ambos.
Desconto
Quem tiver dificuldade no pagamento não deve desistir do seminário, mas colocar o problema no acto da inscrição para se conseguir um desconto.
Inscrição
Por favor, indique no momento da inscrição se deseja comida vegetariana. Caso contrário, assumimos comida não vegetariana.
Inscrição por e-mail: seminar@exit-online.org.
Original exit!-Seminar 2025: Postkolonialismus – Dekolonialismus – neuer Krisenimperialismus, in: www.exit-online.org, 20.08.2025. Tradução de Boaventura Antunes