Thomas Meyer

 

Entre a autodestruição e a ilusão de viabilidade tecnocrática

O transumanismo é a higiene racial actual

 

 

1. Introdução * 2. Sobre a produção de ideologia das ciências * 3. A mania da optimização transumanista: eugenia, aperfeiçoamento e perpetuação das fantasias do sujeito burguês * 4. O transumanismo como culto da morte da imanência total * 5. O transumanismo como espectáculo de masturbação narcisista * 6. Conclusão * Bibliografia

 

 

1. Introdução

O patriarcado produtor de mercadorias, como modo de produção, depende de uma forma de sujeito que lhe é própria. O ser humano, enquanto vive e respira, é forçado a conformar-se com esta forma de sujeito: é nela que a abstracção da dissociação-valor se concretiza, tornando assim real um processo social de abstracção. Isto acontece através de um correspondente disciplinamento e de uma subjectivação psicossocial com conotação de género. Como "agente do trabalho abstracto" (Robert Kurz), o sujeito burguês está submetido ao processo de valorização do capital, e, na sua função, ele próprio é obrigado a submeter todo o mundo a este processo, e a reproduzir as coerções por ele impostas.

Ora o processo de valorização tem a sua própria história, com as correspondentes convulsões, racionalizações, desenvolvimentos na tecnologia e revolucionamentos no processo de produção, e isto com possíveis desenvolvimentos e formas de realização imanentemente diferentes, sobre os quais, na melhor das hipóteses, só se pode "negociar" democraticamente de acordo com a forma (a maior parte das vezes nem isso aconteceu/acontece). Mas isto também significa que o próprio "agente do trabalho abstracto" tem de ser continuamente racionalizado, ou seja, os disciplinados têm de ser disciplinados novamente, e o regime de género tem de ser "ajustado" em conformidade: A submissão à forma da dissociação-valor não é uma situação definitiva, mas tem de ser continuamente actualizada, para que o processo de valorização possa progredir para níveis mais elevados (se isto é bem sucedido e com que distorções e sofrimentos das pessoas afectadas é outra questão). Então tudo está a ser revolucionado para que tudo possa permanecer igual. A fim de preservar a forma social, aquilo que lhe está sujeito será adaptado de novo à forma historicamente em processo, para que tudo nele se mova de acordo com a forma.

Por isso não é por acaso que, especialmente em tempos de crise e convulsões, se intensifica a formação de ideologia. No entanto, aqui quero concentrar-me na formação de ideologias de natureza científica (1) ou tecnocrática, como as que podem ser expressas em várias fantasias da corporação científica. Para isso, a ideologia transumanista deve ser desdobrada no aspecto de uma pretensão de racionalização e de inventário geral da própria espécie humana. O foco aqui não é portanto a mania da conspiração anti-semita ou similar. Ficará claro que o transumanismo é uma ideologia quase religiosa, orientada por uma mania de subjugação e de destruição, que se manifesta nas "fantasias de perpetuação" do sujeito burguês. A agitação transumanista pela submissão aos imperativos da sociedade da dissociação-valor assume traços delirantes, que se expressam numa hostilidade fundamental para com o corpo e na destruição do ser humano como ser físico, como espécie em geral. Deve ser enfatizado que a estrutura delirante do transumanismo não é a teia de alguns lunáticos, pelo contrário, ela está agora a desfrutar de grande influência. Laurent Alexandre, empresário, médico e agitador/propagandista do transumanismo, orgulhoso e sem qualquer inibição, sabe relatar o conteúdo, os objectivos e a disseminação do transumanismo: "Os transumanistas representam uma visão radical dos direitos humanos. Para eles, um cidadão é um ser autónomo que não pertence a ninguém além dele mesmo e que decide sozinho as mudanças que quer fazer no seu cérebro, no seu ADN ou no seu corpo, de acordo com o progresso tecnológico. Eles não vêem a doença e o envelhecimento como uma fatalidade. O principal objectivo dos transumanistas é a domesticação da vida (!) para aumentar as nossas capacidades. Segundo eles, a humanidade não deve ter escrúpulos em usar todas as possibilidades de transformação (!) que a ciência oferece. Trata-se de fazer do ser humano o campo experimental (!!) das tecnologias NBIC [nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia da informação e ciência cognitiva, TM]. Ele torna-se um ser em constante evolução, modificando-se e melhorando-se diariamente (!) por si mesmo. O ser humano do futuro será como um website (!) que é apenas uma 'versão beta', ou seja, um organismo protótipo que está constantemente a melhorar. Esta visão pode parecer ingénua. Na realidade, o lobby transumanista já está em acção pregando (!) a aceitação entusiasmada dos NBIC para mudar a humanidade. Este lobby é particularmente poderoso na costa do Pacífico, da Califórnia à China e à Coreia do Sul [...]. O entrismo (!) (2) dos transumanistas é impressionante: a NASA e a Arpanet, o antepassado militar americano da Internet, foram a vanguarda da luta transumanista. No presente, o Google (!) dá o tom e promete conduzir-nos a uma civilização transumanista cujo objectivo é melhorar-nos, desenvolver a inteligência do silício e matar a morte (!)" (Alexandre; Besnier 2017, 71). (3)

 

2. Sobre a produção de ideologia das ciências

Antes de passar ao transumanismo, é preciso delinear alguns aspectos da história da ciência. Como Alexandre também indica, as ciências NBIC (nanotecnologia, biotecnologia, informática, neurociência) desempenham um papel importante no discurso transumanista. Por isso vou abordar alguns aspectos do 'discurso da genética' e explicar como ele evoluiu para uma 'ciência da informação'. Discutirei depois a eugenia, até porque os transumanistas se referem abertamente ao pensamento eugénico. Esta secção pretende deixar claro que as ciências naturais contribuíram (e continuam a contribuir) para uma visão biologista e misantrópica do mundo e da humanidade e, ao contrário do seu próprio entendimento, podem muito bem ter um carácter ideológico.

A "produção científica de ideologia" tem lugar a vários níveis. Um reside na "interpretação" do curso da própria história da ciência: Este não é de modo nenhum predeterminado por meros "factos", mas é frequentemente afirmado como necessário, e é expresso no desenvolvimento de certas tecnologias e na correspondente investigação básica. São precisamente aquelas que prometem potencial de valorização. (4) Como regra, a consciência positivista não quer admitir isto quando fala de 'progresso científico'. O desenvolvimento da genética e da biotecnologia, por exemplo, que formula a pretensão de controlar a vida e de explorá-la industrialmente, pode ser classificado deste modo. Neste contexto, não surpreende que no início tenha prevalecido uma visão bastante simples de hereditariedade e genética, ou seja, uma visão de hereditariedade que seguia directamente os paradigmas da teoria da informação e assumia que a "comunicação" de material genético para a produção de proteínas, etc. só tem lugar numa direcção. Em sua monografia sobre o surgimento da genética moderna, Lily Kay escreve: "A especificidade química, outrora o tema dominante da bioquímica e de outras ciências da vida, foi reinterpretada como transferência de informação: Os portadores de especificidade tornaram-se portadores de instruções. O que significa esta mudança de nome? O discurso informativo reduziu a diversidade e a complexidade dos processos bioquímicos, nos quais inúmeras moléculas estavam envolvidas, a um par binário original da vida: ácidos nucleicos e proteínas. [...] [Os discursos] sobre propriedades e síntese de cadeias polinucleotídicas, estrutura e síntese de proteínas, e código genético foram todos aparentemente alinhados com o dogma central, uma via de sentido único de transferência de informação dos ácidos nucleicos para as proteínas. A síntese de proteínas tinha-se tornado um sistema de comunicação programado" (Kay 2005, 358s.). Como resultado, o material genético podia ser interpretado como informação genética e a biologia tornou-se uma ciência da informação. (5) Assim nasceu o conceito de "gene industrial" (cf. Then 2008, 135ss.), que há muito foi refutado pela epigenética, etc., e só tem validade em casos excepcionais, mas continua a ser industrial e ideologicamente eficaz, como o demonstram, nomeadamente, a "biologia sintética" e a "biologia digital (!)" (cf. Jansen 2015, 151ss.). Sabe-se que as teorias científicas desaparecem não porque tenham sido refutadas, mas porque os seus seguidores desaparecem (se o fizerem).

Outro nível de formação de ideologia nas ciências e seus derivados consiste na formulação de certas 'imagens do ser humano'. Estas imagens do ser humano são baseadas nos resultados (presumidos) de pesquisas básicas ou em extrapolações das mesmas. Estas últimas já podem assumir uma forma muito mítica, de modo que não é nada necessário que o "empírico" constitua de facto a base do entusiasmo dos cientistas. Tais imagens do ser humano assumem então uma natureza humana ontologicamente estabelecida, ou uma certa compreensão do ser humano segundo a qual, por exemplo, a mente humana pode ser considerada como uma espécie de computador e reduzida em conformidade. A compreensão do ser humano como uma máquina aproxima-se disto. Assim, os balanços energéticos podem ser determinados nos seres humanos exactamente do mesmo modo que numa caldeira a vapor, a fim de eliminar movimentos que supostamente causam fadiga prematura. Estas imagens do ser humano propagam assim uma racionalização do ser humano e do seu disciplinamento futuro ou já em curso como uma necessidade ou consequência de uma natureza supostamente humana. Deste modo, as mudanças estruturais do capitalismo e dos seus sujeitos são naturalizadas, a fim de tornar os seres humanos e a natureza disponíveis para a valorização em níveis superiores (cf. sobre a racionalização dos seres humanos, por exemplo, Rabinbach 2001, assim como Kurz 1999, 386ss). A realidade da vida das pessoas é naturalizada no sentido de que as restrições sociais são vividas como factos naturais, com o mesmo estatuto que a lei da gravidade. Não é, portanto, coincidência que o discurso sobre a "inteligência artificial" tenha surgido no preciso momento em que os próprios humanos já se tinham tornado máquinas (na imagem imposta do trabalhador masculino ideal) ou eram forçados a comportar-se como tais. O matemático Emil Post (1897-1954) ilustrou logicamente a sua teoria do computador usando o exemplo de um trabalhador da linha de montagem: assim como o trabalhador da linha de montagem processa um algoritmo, ou seja, executa um número finito de instruções de modo idêntico, o computador também executa as tarefas a ele atribuídas (cf. Heintz 1993, 166). Como os humanos e os computadores parecem ser capazes de fazer a mesma coisa, surgiu a crença de que os computadores poderiam ser inteligentes, e em maior medida do que os humanos. Aparentemente, esta crença baseia-se num conceito bastante restrito de inteligência, que equipara inteligência a aritmética (ver Irrgang; Klawitter 1990; Fischer 2003). O filósofo e opositor do transumanismo, Jean-Michel Besnier, escreve sobre este esvaziamento da compreensão da inteligência: "A deflação semântica do conceito de inteligência é em si um sintoma, nomeadamente do murchar, digamos, ou de uma preocupante simplificação da ideia que o ser humano faz de si mesmo" (Alexandre; Besnier 2017, 80). Esta "simplificação preocupante" ou desvalorização da existência humana torna-se particularmente clara quando os transumanistas deliram com o facto de que um dia a mente humana, que não consiste em nada além de bits e bytes, poderia ser copiada para um suporte de dados e assim se tornar imortal, ver abaixo.

Por outro lado, são procuradas justificações (pretensamente) científicas para o que deve ser feito com aqueles que caem fora do processo capitalista, que podem não se deixar disciplinar e que se tornam "existências que são pesos mortos". Foi assim que, no contexto do darwinismo social do final do século XIX e início do século XX, as catástrofes sociais não foram reconhecidas como consequência do sistema capitalista e das suas convulsões sociais, mas sim como resultado da hereditariedade e da "degeneração" biológica. Consequentemente, a reforma social só poderia ser alcançada através da "biologia aplicada", ou seja, através da esterilização forçada ou da "erradicação" dos chamados "degenerados". Os problemas sociais poderiam, portanto, ser resolvidos ou prevenidos no futuro, esterilizando as pessoas afectadas (cf. Weingart; Kroll; Bayertz 1992, e Trus 2002). Na República de Weimar, o programa eugénico também foi explicitamente justificado por uma redução nos custos do sistema de saúde (Weingart; Kroll; Bayertz, 262ss.). O darwinismo social, a eugenia e a higiene racial redefiniram assim as convulsões sociais como um problema biológico. Escusado será dizer que o biologismo nunca desapareceu e ainda hoje está a ser actualizado (ver Schulze; Schäfer 2012). Embaraçosamente, vários socialistas também conseguiram obter algum benefício da eugenia ou do darwinismo social (ibid., 108ss e Kurz 1999, 312ss; sobre a "aplicação socialista" (!) da eugenia na União Soviética, ver Shumeiko 2004, Serebrovskij 1929).

Esta biologização das condições sociais leva ao inventário geral do material humano. Em última análise, as questões de particular interesse são: Quem reproduz quanto? Se as pessoas já se estão a reproduzir, como racionalizar a reprodução, por exemplo, para reduzir os "custos da saúde"? Como se pode fazer da reprodução em si um processo técnico e capitalistamente controlável para, como se diria hoje, "conciliar família e trabalho" (cf. Meyer 2018)?

Naturalmente, submeter a população a um "inventário geral" também tem um fundo racista. Particularmente no decurso da descolonização do Terceiro Mundo, a "teoria da população" do padre reaccionário Robert Malthus foi actualizada, com a consequência de que as pessoas no Terceiro Mundo eram consideradas como "superpopulação", cuja natureza "desenfreada" poria em perigo ou impediria o seu "desenvolvimento económico". A fome teria portanto a sua causa no facto de as pessoas no Terceiro Mundo se terem "multiplicado demasiado" e não na agricultura capitalista nem na maravilhosa modernização em si (ver, por exemplo, Wichterich 1985).

Após a Segunda Guerra Mundial, a eugenia foi primeiro oficialmente desacreditada. Naturalmente que o famoso empreendimento científico não reviu realmente a sua contribuição para a eugénica política de extermínio dos nazis (cf. Weingart; Kroll; Bayertz 1992, 562ss). Embora eles se distanciassem da coerção governamental, eles defendiam a eugenia "voluntária" sem mais delongas. Após a Segunda Guerra Mundial, o Colóquio CIBA (6) de 1962 em Londres foi de grande importância para a renovada "propagação científica" da eugenia. Como correia de transmissão entre a eugenia pré-guerra e a pós-guerra, Hans-Jürgen Muller em particular desempenhou (7) um papel importante: a biologização do social não foi ultrapassada, mas apenas modernizada. Até hoje, a racionalização ou inventário dos seres humanos e a destruição da "vida indigna de ser vivida" são mobilizados quando se trata de "economia de custos", basta pensar nos debates sobre a eutanásia e o aborto de crianças por nascer (supostamente) com deficiência (cf. van Loenen 2015). As biologizações, tal como são formuladas pelo establishment científico ou por certos cientistas, e que prometem a justificação "científica" da desigualdade, foram sempre retomadas por radicais de direita, por exemplo, a sociobiologia ou a etologia humana da nova direita dos anos 70 e 80 (cf. Feit 1987, 93ss.). Um exemplo actual seria o "caso Kutschera", a cujas observações sexistas e homofóbicas de base biológica Birgit Kelle e Beatrix von Storch se referem (ver Biskamp 2019).

Provavelmente a fonte de ideias mais importante da "produção científica de ideologia" contemporânea é o chamado transumanismo. Estreitamente relacionado com isto, em parte sobreposto mas de modo nenhum idêntico, está o discurso sobre inteligência artificial, digitalização, robótica e engenharia genética. No transumanismo, em certa medida, é condensada a transformação do iluminismo em mito. Um grau particularmente elevado de ignorância social é expresso na tecnocracia do transumanismo e seus agitadores (como Ray Kurzweil). Os transumanistas sucumbiram à ilusão de que todos os problemas deste mundo são problemas técnicos e que eles próprios estão predestinados a resolvê-los, naturalmente através da inovação e da disrupção técnicas. (8) Os transumanistas gostam tanto de lidar com possibilidades ou fantasias de presumíveis possibilidades técnicas que não conseguem ver o presente. Segundo o julgamento de certos autores, estas visões são apenas mais uma forma de escapismo pós-moderno, para evitar o presente (cf. Becker 2015, 42; Jansen 2018, 202s., Jansen 2015, 286ss.). Ray kurzweil e seus homens não só não contribuíram em nada para a solução de qualquer problema, mas eles mesmos foram responsáveis por eles, até pela sua conexão com o "complexo militar-industrial" (cf. Jansen 2018, 168ss.). [9] Portanto a pretensão dos transumanistas é absurda. (Se os transumanistas acreditam ou não realmente na sua própria propaganda é uma questão em debate).

O que é particularmente marcante nos transumanistas é o seu determinismo tecnológico extremamente gritante. Para Kurzweil, por exemplo, o progresso técnico nada mais é do que uma continuação da evolução biológica (Kurzweil 1999, 35ss.). Mas o progresso tecnológico não só é aceite como inevitável, como também explicitamente exigido com todo o tipo de consequências assassinas: por exemplo, seria desejável que os seres humanos fossem dominados por uma IA (porque essa é a única forma de resolver os problemas mundiais). Deste modo, eles próprios se tornariam pós-humanos ou transumanos, ou seja, eles próprios se tornariam uma máquina. Eles se fundiriam com ela, assumiriam uma existência 'imortal', e, se não desaparecessem, mas permanecessem como seres de carne e osso, permaneceriam como geneticamente optimizados e possivelmente como espécimes estendidos ou melhorados por implantes técnicos e/ou drogas. No entanto, é parcialmente questionado se o domínio mundial de uma inteligência artificial seria realmente tão vantajoso. Na cena transumanista, existem de facto pontos de vista diferentes sobre algumas questões, como é bem conhecido no caso do fascismo. Ainda assim, opiniões diferentes ainda não fazem de uma pessoa um crítico ou oponente de princípio quando os "princípios" decisivos são afinal compartilhados: Nick Bostrom, que é visto por algumas pessoas como um "crítico" do transumanismo, reconhece que certos desenvolvimentos técnicos têm consequências desagradáveis ou são "abusados" e podem, portanto, ameaçar a própria existência da humanidade, mas ele não se opõe realmente a uma crença fundamentalista na tecnologia. Comum a todos os transumanistas é o seu determinismo tecnológico e a sua obsessiva preocupação com futuros fictícios. O próprio Bostrom especula sobre como uma "super inteligência" artificial (cf. Bostrom 2018b) poderia vir a existir, como poderia desenvolver-se ainda mais (o que em algum momento seria inimaginável e incompreensível para os humanos), e como se poderia garantir que seria bem posicionada em relação à humanidade e não a destruiria. Bostrom espalha esta tagarelice entediante por centenas de páginas

A seguir, então, trata-se de deixar claro que a ideologia do transumanismo, especialmente no determinismo tecnológico que advoga, expressa uma mania de subjugação às condições capitalistas, e que um certo desejo de destruição está associado à sua hostilidade fundamental ao corpo. Também são impressionantes as visões absurdas do futuro, que expressam as fantasias de perpetuação do sujeito burguês, assim recalcando a crise do sujeito e do capitalismo. O transumanismo tem características religiosas, mas, devido à sua atitude de subjugação às condições da dominação, permanece na pura imanência e não é minimamente capaz de transcender o presente, ou seja, de pensar algo que negasse a dominação e a falta de liberdade.

No entanto, deve-se ter em mente que os transumanistas, com todas as suas visões delirantes e a sua inflexível ilusão de domínio da natureza, não têm nada de realmente novo a oferecer em termos de conteúdo. Algo semelhante já foi formulado em tempos anteriores: Por exemplo, no mundo anglo-saxónico, desde os anos de 1920, por pessoas como John Desmond Bernal (1901-1971), John B. S. Haldane (1892-1964) e Julian Huxley (10) (1887-1975) (ver Heil 2010; Kohn-Waechter 1995). Também na Rússia, especificamente no início da União Soviética, o transumanismo foi antecipado pelos chamados "biocosmistas", entre outros, no contexto de uma iminente modernização da Rússia. Michael Hagemeister comenta assim as correntes russas: "A conquista da natureza e a ultrapassagem da morte são objectivos finais de uma crença intramundana no progresso e na redenção, cujas consequências terroristas já são conhecidas há muito tempo. [...] Em retrospectiva, torna-se claro como as doutrinas totalitárias de salvação alcançaram eficácia histórica. Mas o pensamento que inspirou as visões do início do século XX ainda não foi ultrapassado. A reivindicação da transformação e controle do universo e da abolição da morte baseia-se numa compreensão mágica da ciência e da tecnologia, no pensamento gnóstico de que o ser humano pode ganhar poder mágico sobre os poderes deste mundo através do seu conhecimento, e através dele transformar completamente o mundo para os seus próprios propósitos, a fim de se tornar omnipotente, omnisciente, omnipresente e imperecível – ou seja, divino. [...] Pode-se rejeitar os projectos russos do início do século XX como fantasias bizarras, mas eles retornam, apenas ligeiramente disfarçados, nas visões da hipermodernidade" (Hagemeister 2005, 65). Estas "visões da hipermodernidade" são sem dúvida as visões do transumanismo (e do discurso sobre inteligência artificial, biologia sintética, etc.).

 

3. A mania da optimização transumanista: eugenia, aperfeiçoamento e perpetuação das fantasias do sujeito burguês

Eugenia é, em certo sentido, a optimização do ser humano antes mesmo de ele nascer. Ou, como "eugenia negativa", contribui para a prevenir a existência de alguém manchado com algum tipo de falha (e essa "falha" é uma deficiência ou algum traço indesejável que é presumivelmente herdado geneticamente) e, portanto, é considerado nada mais do que uma "existência que é um peso morto". Se a pessoa já é nascida, então impede-se de trazer "a sua própria espécie" para o mundo (por exemplo, através da esterilização forçada). A eugenia negativa visa assim "erradicar" ou tornar incapazes de se reproduzir as pessoas com certas características. A "eugenia positiva", por outro lado, seria a "reprodução" de pessoas com certos traços, pelo que, se isso for conseguido pela manipulação genética, mais uma vez se assume que esses traços são hereditários (e podem ser controlados pela engenharia genética).

Enquanto em tempos anteriores o inventário do "material humano" incluía o exercício de coerção estatal (por exemplo, esterilização forçada) sobre aqueles que eram considerados "degenerados", hoje essa coerção é mais individualizada e faz-se passar por expressão da "liberdade individual" (por exemplo, diagnósticos pré-natais). Embora as esterilizações forçadas não sejam mais praticadas hoje (11) e sejam geralmente rejeitadas, a eugenia positiva, ou seja, a criação de pessoas com certas características desejáveis, é explicitamente defendida repetidas vezes: este é naturalmente o caso também de vários transumanistas. Laurent Alexandre, por exemplo, é um entusiasta muito franco das tecnologias reprodutivas: A "tecnomaternidade" (!) prevalecerá, o que inclui naturalmente "a selecção de embriões e a remoção de fetos não conformes (!)" (Alexandre; Besnier 2017, 27). Nick Bostrom escreve que os pais devem ser autorizados a optimizar geneticamente os filhos nascituros (cf. Bostrom 2018a, 91). (12) Mas, continua Bostrom, se eles não o fizessem, estando as tecnologias apropriadas disponíveis, seria irresponsável porque: "Ter-se-ia de pesar esse risco [o risco de ser heterónomo por manipulação genética, TM] contra os grandes riscos que um genoma inalterado implica. Onde estão disponíveis alternativas seguras e eficazes, seria irresponsável trazer alguém ao mundo com capacidades básicas reduzidas ou com maior susceptibilidade a doenças" (ibid., 103). Este pensamento é expresso nos discursos sobre as pessoas com deficiência. Assim, é claro que todo o aborto é voluntário, mas no final é considerado irresponsável a mulher grávida dar à luz uma criança deficiente. (13) Não é de admirar, então, que alguns transumanistas, que condenam ostensivamente a eugenia nazi e insistem na "voluntariedade" e na "liberdade individual", não resistam a impor uma obrigação (embora inicialmente [?] "apenas" ética) de modificar geneticamente embriões (cf. Savulescu; Ranisch 2009).

Economicamente falando, porém, é realmente "irresponsável" criar pessoas que "só custam e não trazem nada" em tempos de cofres vazios. Com um tal "planeamento de vida falhado" as pessoas afectadas reduziriam de facto a sua competitividade. É precisamente neste ponto que deve ser feita uma crítica a esta chamada "liberdade de escolha". No entanto, por regra, a imposição do terror económico de que a vida deve "ser calculada" não é vista, ou é apenas eticamente não vinculativa, contra o facto de o "valor" da vida humana não poder ser quantificado, etc. Tais argumentos éticos aparecem então geralmente, como por exemplo nos textos de Bostrom (cf. Bostrom 2018a), como objecções à ideologia transumanista ou "geneticocrática".

Basicamente, portanto, se olharmos para a ideologia dos transumanistas e seus sonhos tecnocráticos ou eugénicos, é necessário relacioná-los com os verdadeiros disciplinamentos e imposições capitalistas do presente. É de pouca utilidade combater visões transumanistas dizendo simplesmente que essas visões não podem ser implementadas, não são empiricamente defensáveis ou são simplesmente disparates. Isso não deixaria claro por que tal coisa está sendo propagada, por que ela cai em solo fértil e que necessidade do sujeito ela serve. (14)

A relação com o sujeito real e com as exigências que lhe são impostas torna-se particularmente clara no caso de aperfeiçoamento [Enhancement] ou optimização. Abstraindo dos auto-estímulos com drogas psicotrópicas, etc., a mania da auto-optimização consiste principalmente no fenómeno de massas do chamado registo de vida ou self-tracking: devido às tecnologias digitais, tais como sensores embutidos em telefones inteligentes, todo o tipo de dados podem ser gravados de quase tudo. O registo de vida ou o auto-registo significa, portanto, registar digitalmente a sua própria vida. No entanto, esta recolha excessiva de dados é inteiramente voluntária. Em parte, tem razões bastante "profanas": Por exemplo, as companhias de seguros de saúde cobram prémios ou taxas mais favoráveis se alguém não só "faz exercício suficiente" ou "come saudavelmente", mas também regista isso como prova e envia os dados para locais apropriados; o mesmo se aplica às companhias de seguros, se alguém registar o seu próprio comportamento na condução e assim "provar" que é um condutor "bem comportado" (cf. por exemplo Selke 2016, 140).

O registo de vida é usado para registar todo o tipo de eventos da vida e para depois os julgar por certos padrões quantitativos (ou para que as pessoas comparem entre si os resultados e tornem as suas vidas miseráveis um inferno em conjunto). Isto tem características claramente ascéticas e destina-se a racionalizar o próprio estilo de vida. Por exemplo, se todo o consumo de calorias for registado, o programa pode dizer quando o próximo sorvete de alto teor calórico é 'permitido' novamente (ibid., 146). Ou pense-se em "Apps desportivas" correspondentes em smartphones: o seu próprio jogging (lugar, tempo, velocidade, pulso e frequência de respiração) pode ser gravado para que possa competir contra si mesmo (!) da próxima vez que for correr. É claro que o registo de vida ou auto-registo não pára à porta do quarto: "Há também várias Apps para smartphone que podem ser usadas para monitorizar actividades sexuais: essas Apps usam os sensores no telefone para monitorizar o som e os movimentos de impulso quando o telefone é colocado na cama durante os encontros sexuais. Algumas Apps chegam a calcular as calorias queimadas durante o sexo e fornecem tabelas de campeonato, através das quais os homens podem avaliar suas proezas sexuais contra outros utilizadores da App [...]" (Lupton 2016, 21).

Assim, através do registo de vida (life-logging), o ser humano é suposto tornar-se uma caixa negra legível (tal como um gravador de voo): "O registo de vida é, assim, a promessa de romper com hábitos ruinosos para uma vida melhor. Na caixa negra, o cálculo matemático deve ser combinado com o pensamento racional, para mudar com sucesso o comportamento. Com a quantificação da própria vida, começa uma expedição para as últimas áreas inexploradas do eu. A promessa do registo de vida consiste precisamente em fazer da nossa vida, sob a direcção da caixa negra, um projecto permanente de optimização, no qual nos observamos, reconhecemos e mudamos a nós próprios com o objectivo de aumentar a eficiência. Este cálculo existencial moderno baseia-se na ideia de que o corpo tem de funcionar sem perturbações e que a sua própria existência pode ser concebida de modo a maximizar a sua utilização. Trata-se [...] da racionalização técnica e do controle das nossas vidas. A caixa negra é uma superfície de projecção ideal para o desejo de ordem, estrutura, segurança e auto-aperfeiçoamento de um ser humano que é entendido como estruturalmente defeituoso" (ibidem, 133).

Assim, o corpo torna-se um "estaleiro de obras e a saúde ligada a ele uma religião substituta" (ibidem, 136), cujo mandamento principal pode ser expresso no imperativo: "O principal é ser saudável!" . A "monitorização da saúde" associada ao registo de vida leva assim cada indivíduo a tornar-se "o gestor da sua saúde". Finalmente, "[n]uma sociedade que fica sem emprego remunerado, [...] a vigilância da saúde pode ser considerada como um trabalho substituto" (ibid.).

Bostrom é basicamente de opinião que o aperfeiçoamento, entendido como a melhoria e a criação de capacidades humanas, é desejável e inteiramente compatível com a "dignidade" humana. Se este aperfeiçoamento assume uma magnitude tal que, por exemplo, a inteligência média dos humanos é muito excedida, Bostrom fala das capacidades pós-humanas. Então, o que, segundo Bostrom, deve ser "aperfeiçoado" e como? Basicamente capacidades cognitivas, longevidade e emoções. Capacidades cognitivas, claro, para aprender mais rápido e mais, e o tempo de vida, para que, mesmo aos 200 anos de idade, ainda se possa fazer feliz a humanidade com novas sinfonias. O terceiro ponto é particularmente digno de nota. Bostrom imagina "seres pós-humanos" que "possuem capacidades mentais muito maiores às de qualquer ser humano que vive hoje em dia, têm controle completo sobre suas emoções e podem até ter sensações e modalidades sensoriais completamente novas" (Bostrom 2018a, 92, destaque TM). Desvalorizar sentimentos, considerá-los basicamente perturbadores e querer controlá-los, é uma clara expressão da mania androcêntrica de controle da natureza no ser humano. Tudo isso deve ser possível através da engenharia genética, neuroimplantes e drogas, ou seja, manipulações neuroquímicas do cérebro. Bostrom não concretiza mais, já que tais tecnologias não existem. Uma excepção em certa medida são todos os tipos de comprimidos, drogas, opiáceos, etc. que há muito se tornaram consumo em massa para suportar o terror da economia, para parar a depressão e as emoções "perturbadoras", como mostra a epidemia de opiáceos nos EUA. (15)

Assim, quando pessoas como Nick Bostrom fazem agitação pelo "Enhancement" e repetidamente se perdem nos sonhos tecnocráticos de um futuro transumanista, elas afirmam e alimentam a mania da optimização do presente. Bostrom também menciona que certamente não são poucas as pessoas que consideraram tal "aperfeiçoamento" de suas capacidades como sendo bem-vinda, mas ele não pergunta por que isso é assim. A razão para lutar por tais "aperfeiçoamentos" ou desejá-los é simplesmente para poder existir como sujeito capaz de valorização, perante exigências cada vez menos realizáveis. Estas exigências inquestionadas sobre o sujeito excedem cada vez mais as capacidades e possibilidades do ser humano em geral, de modo que o ser humano aparece como uma deficiência, como um modelo descontinuado. A competitividade dos seres humanos atinge assim cada vez mais os seus limites (ou seja, daquelas pessoas que ainda não pertencem aos permanentemente supérfluos, que ainda têm a "sorte" de ser "autorizadas" a valorizarem-se a si próprias), de modo que estas pessoas, logicamente, acreditam que afinal serão capazes de se provar em competição como portadores de força de trabalho, se adquirirem, por exemplo, a capacidade mental para aprender 30 línguas fluentemente num ano. Mesmo que isso fosse possível, é uma ilusão acreditar que o sujeito pudesse vir a descansar aí. O desejo de se tornar uma máquina em si ou de se desencarnar e ser imortal é, portanto, logicamente, uma extrapolação de exigências impossíveis e ilimitadas sobre o sujeito. Esta pode ser uma das razões pelas quais as fantasias de optimização dos transumanistas ou pós-humanistas também não conhecem limites, escreve Bostrom: "Demos um salto mental para um futuro pós-humano cuja tecnologia atinge os limites do possível. Os habitantes super-inteligentes deste mundo são autopotentes, ou seja, eles têm controle total e uma compreensão completa de si mesmos, assim eles são capazes de assumir qualquer condição interna e externa. Por exemplo, um ser autopotente poderia facilmente transformar-se numa mulher, num homem ou numa árvore, e todos os estados subjectivos lhe seriam acessíveis, fosse a luxúria, a indignação ou as experiências visuais e tácteis de um golfinho a brincar na água. Também queremos assumir que estes seres pós-humanos têm o controle total do seu ambiente, para que possam fazer não só cópias moleculares exactas dos objectos, mas também qualquer tipo de construção física para a qual tenham desenvolvido um desenho exacto. Seria possível para eles fazer desaparecer uma floresta de sequóias e depois construir uma cópia exata dela em outro lugar, só que agora ela poderia ser habitada por dinossauros ou dragões. Eles teriam tanto controle sobre a realidade física quanto programadores e designers têm sobre a realidade virtual hoje, mas poderiam pensar e implementar estruturas muito mais detalhadas (por exemplo, biologicamente realistas). Poderíamos dizer que as super-inteligências autopotentes vivem num 'mundo de plástico' porque podem transformar facilmente o seu ambiente como quiserem" (Bostrom 2018a, 139, destaque no original).

Bostrom, claro, não é um "caso isolado". Hans Moravec, que é considerado um dos principais especialistas em robôs e propaga o "upload" da mente humana para um suporte de dados artificial, também imagina algumas fantasias em que a inteligência artificial e/ou transumana/pós-humana se poderia tornar. Moravec chama essas inteligências "Ex". Estes Ex são inicialmente destinados a serem materiais, mas também devem ser capazes de se livrar da sua corporeidade, claro, para que os Ex possam "melhorar a sua competitividade". Como Becker já observou, essas fantasias obviamente "seguem sempre a lógica capitalista de crescimento, aumento e aceleração" (Becker 2015, 18, destaque no original) Moravec escreve assim em seu livro Computers Take Over Power: "Os Ex vão gastar infinitamente mais trabalho intelectual em suas acções do que nós, nativos (!) da Terra intelectualmente limitados podemos proporcionar. Mas [...] a expansão dos Ex no cosmos será uma questão altamente material, uma frente de onda que transforma matéria inanimada em máquinas e assim cria o pré-requisito para uma maior expansão. ...] Para se manterem competitivos (!), os Ex terão de crescer no local, refinando e reestruturando constantemente o material de que são feitos, dentro dos limites estabelecidos. [...] Ao reestruturar o espaço-tempo e a energia em formas ideais para o cálculo, os Ex irão optimizar e condensar os próprios cálculos, usando métodos matemáticos sofisticados. Cada grande avanço dos seus poderes mentais melhorará a sua competitividade (!) e aumentará a velocidade a que desenvolvem mais inovações. As áreas habitadas do universo transformar-se-ão rapidamente em ciberespaços onde nenhuma actividade material aberta pode ser reconhecida, enquanto o mundo da computação interna é de uma riqueza inimaginável. Os seres não serão determinados pelas suas fronteiras materiais-geográficas, mas irão criar, expandir e defender (!) identidades que se manifestam como padrões de informação no ciberespaço. Os antigos corpos de Ex individuais, transformados em matrizes do ciberespaço, fundir-se-ão, e o espírito dos Ex vagueará dentro deles como puro software. Com o aumento da capacidade, a superioridade do ciberespaço sobre os processos de transformação física [...] tornar-se-á evidente. A frente de onda dos Ex com seus processos grosseiros de transformação física é deslocada por uma onda mais rápida de transformações imperceptíveis do ciberespaço, até que finalmente tudo se torna uma bolha espiritual que se expande quase à velocidade da luz (!)" (Moravec 1999, 255ss.).

Aqui as fantasias androcêntricas de omnipotência são óbvias. Uma total dominação sobre a natureza e sobre si mesmo é retratada nestas visões, sem que tais afirmações apareçam como avisos distópicos – pelo contrário. Esta reivindicação de poder vai tão longe que até é considerado o desapego de uma existência material. O desprezo pelo corpóreo torna-se aqui extremamente claro, uma vez que este é para ser descartado em favor de mais competitividade. Nestas fantasias o nível material é suprimido em desejo, ou seja, recalcado, porque o 'ciberespaço' também depende de um substrato material. No entanto, se se pensar em expansão e optimização ilimitadas, a realidade material só pode ser um factor perturbador. Em certo sentido, busca-se aqui a "redenção através da tecnologia", como observou Becker (cf. Becker 2015, 18). Recalca-se aqui a crise do capital e do sujeito, na medida em que a valorização capitalista é considerada infinita, a valorização do valor também ocorre sem conteúdo material e, como diz Moravec, como uma 'bolha espiritual' que se expande para todo o universo quase à velocidade da luz. Assim, torna-se claro que nas fantasias dos transumanistas o capitalismo e o sujeito burguês dominador na natureza são projetados para a eternidade e, portanto, devem continuar a existir por toda a eternidade. O sujeito burguês recalca a crise e a finitude do mundo, que poderia ser definitivamente destruída pela mania de dominar a natureza. Nos tempos em que o sujeito se desintegra e a sua base social se rompe, ele quer perpetuar-se, como mostram claramente as declarações dos demagogos transumanistas. Portanto, não surpreende que nas fantasias transumanistas, nas quais simplesmente tudo parece possível, uma coisa não seja definitivamente possível: um mundo além do capitalismo. Bostrom também "surpreende [pela] sua falta de imaginação quando se trata de imaginar uma forma fundamentalmente diferente de sociedade" (Wagner 2016, 55). Assim, as fantasias dos transumanistas não são mais do que um enorme vazio, pois permanecem na imanência e nunca formulam a ideia de um mundo onde ninguém tivesse de melhorar a sua competitividade.

 

4. O transumanismo como culto da morte da imanência total

O transumanismo também se apresenta como uma religião, escreve Laurent Alexandre: "O transumanismo é a última etapa na evolução do pensamento religioso, que tem três etapas. Primeiro foram os politeísmos, a consequência lógica do xamanismo, que culminou com os romanos e os gregos. Depois as religiões monoteístas do livro. Hoje está emergindo uma terceira era, a era do ser humano deus (!). [...] Deus ainda não existe: Ele será o ser humano do futuro (!), dotado de um poder quase infinito graças aos NBIC. O ser humano vai realizar o que anteriormente se pensava ser possível apenas aos deuses: Criar vida, mudar o nosso genoma, reprogramar o nosso cérebro (!) e fazer a morte morrer" (Alexandre; Besnier 2017, 117). Estas palavras também devem ser levadas a sério e não devem ser descartadas como a algaraviada desconexa de um doente mental. Por exemplo, há alguns anos, o especialista em robótica Anthony Levandowski fundou uma igreja, na qual uma inteligência artificial deve ser adorada com toda a seriedade como uma divindade! (16) Então estas pessoas estão mesmo a falar a sério! Ainda mais absurda é a construção do chamado 'transumanismo cristão', representado pelo teólogo Christopher J. Benek (17), que "gostaria que as máquinas inteligentes pudessem receber o baptismo quando expressassem o desejo de fazê-lo" (ibidem, 22). Com um grau tão elevado de absurdo, quase se deseja que o transumanismo seja condenado como heresia herética por uma bula papal!

O transumanismo, entendido como uma religião, liga-se, como sugere Alexandre, às ideias de salvação das religiões tradicionais. Mas enquanto as religiões falavam/falam de salvação, também é de notar que em algumas tradições religiosas a ideia de salvação estava ligada a um momento transcendente (apesar da justificada crítica da religião, ou crítica da ideologia, as religiões não são necessariamente reaccionárias em si mesmas, como supõe certo "ateísmo primário"). O momento transcendente pode ser interpretado como um certo desacordo com o mundo e suas estruturas de dominação (cf. Böttcher 2019). O 'Reino de Deus' como horizonte transcendente não deve, portanto, ser entendido como a continuação ou totalização da dominação humana, mas como a sua negação. Nas fantasias transumanistas, porém, nenhum momento transcendente é considerado, como, por exemplo, um desejo de negar a dominação e de se libertar dela. Em vez disso, o ser humano luta pela sua própria negação, para se conformar e provar a si mesmo numa constituição fetichista que criou, para se submeter completamente à dominação, para que nada "não idêntico" permaneça, para que todas as tensões e contradições entre indivíduo e sujeito sejam extintas. Isto inclui a possibilidade de destruição do ser humano em geral, como escreve Jansen: "A vanguarda religiosa do Ocidente já não reconhece nenhum direito significativo de existir ao Homo Sapiens, de modo que as estratégias contemporâneas de salvação equivalem a uma transformação radical, ou melhor, a uma auto-abolição/autodestruição da espécie através das tecnologias, como se a humanidade, mais ou menos conscientemente, estivesse tentando causar a si mesma um apocalipse, para se salvar a si mesma de si mesma" (Jansen 2018, 203, destaque no original).

O aspecto repressivo da ideologia transumanista é que o ser humano tem de submeter-se completamente à dinâmica de valorização do capitalismo. Isto inclui a possibilidade da sua própria destruição. Ou o ser humano é finalmente substituído pela máquina ou pela inteligência artificial, ou ele próprio se torna uma máquina. Como o próprio corpo é frágil e se revela um factor perturbador na mania da optimização, é óbvia a fantasia de querer livrar-se de toda a corporeidade. As fantasias de imortalidade ou de imortalização dos transumanistas também teriam de ser vistas neste contexto: Na ideologia transumanista, sustenta-se que o ser humano deve alcançar a imortalidade tornando-se ele próprio uma máquina. A razão dada é que a mente humana pode ser reduzida, em última análise, a um programa de computador. Sendo isso verdade, o espírito seria copiado repetidamente para novos corpos artificiais (ou outros suportes de dados artificiais) e, assim, o ser humano deixaria de existir "com base em proteínas" e passaria a existir "com base em silício", podendo ser copiado à vontade – ou seja, seria imortal. Um ser humano que largou assim a sua corporeidade, isto é, que trocou o seu "wetware" (!), como é chamado no desumano jargão transumanista, por hardware, e que copiou o que supostamente constitui um ser humano, ou seja o seu "conteúdo informativo" para este último, alcançaria assim a imortalidade, sendo poupado às fragilidades dos corpos reais (o facto de o hardware também não ser indestrutível e de poderem ocorrer erros durante a cópia estranhamente não é tido em conta). Obviamente, isto leva ao extremo o dualismo das substâncias corpo e espírito, como já defendido por Descartes (res extensa e res cogitans), (sendo que os transumanistas não acreditam numa alma imortal). O dualismo de substâncias expressa-se aqui como ódio a todos os seres vivos, ao lado corporal da existência humana em geral. (18)

Que os transumanistas defendam tão abertamente tal coisa também tem a ver com o facto de que, no meio em que essas pessoas se movem, está bem vivo o desejo de se tornar uma máquina, de querer fundir-se com a máquina. Esse desejo surge porque a compulsão do capitalismo para optimizar, a necessidade permanente de funcionar, pensando na forma de uma "racionalidade guiada por regras" (Schnetker 2019, 69) é evidente nestes meios. O ódio ao corpóreo como expressão de auto-ajustamento assume proporções tão flagrantes porque as pessoas já não se podem imaginar como outra coisa que não seja uma máquina. As suas "partes" não maquinais devem, portanto, ser ainda mais reprimidas e repelidas com mais vigor. Nesta cena considera-se "uma afronta ser um macaco sem pêlo atormentado por distorções cognitivas, arruinado com a corporeidade, e não um ser espiritual matematicamente racional" (ibidem). Os seguidores do transumanismo defendem assim uma ideologia da qual se deduz que a "situação corporal deve ser entendida como fraqueza e deficiência, e tendem a lutar para existir como um abstracto desencarnado". Eles medem a realidade e a sua própria vida em relação a um padrão pelo qual ela só pode ser sempre vista como deficiente. E, como a existência física de pessoas reais é vista principalmente como uma deficiência, esta [...] pode ser tratada como um resto a ser cortado. Portanto, a reivindicação é ser uma máquina, a fim de ganhar controle completo sobre si mesmo. [...] No entanto, esta reivindicação falha continuamente perante a realidade" (Schnetker 2019, 55, destaque TM).

O terror virtuoso da compulsão à optimização e o ódio a todas as coisas corpóreas do transumanismo é, obviamente, a versão mais moderna do terror do chicote no capitalismo. Não é de admirar, então, que alguns se entreguem a dietas absurdas. Algumas pessoas "alimentam-se" com cocktails nutritivos que podem ser rapidamente despejados pela garganta abaixo, como "Soylent" (alguém se poderá lembrar do filme distópico "Soylent Green"!), ou "huel", uma abreviatura para "human fuel" ou combustível humano (!). A alimentação como prática social e como experiência corporal é para ser racionalizada. Afinal, é uma enorme perda de tempo, até mesmo uma imposição para os nerds narcisistas, ter que passar tempo junto com outras pessoas enquanto jantam e se divertem. A incapacidade de gozo é uma competência chave no meio transumanista. Como Marx observou uma vez com desdém, "o trabalhador, como mero meio de produção, seria abastecido de alimentos [...] como a caldeira a vapor com carvão e a maquinaria com sebo ou óleo" (Marx 2005, 280), para que a azáfama pudesse continuar imediatamente. O trabalhador é parte da máquina, ou seja, é utilizado pela máquina e é tratado como um acessório da própria máquina. É provavelmente uma ironia da história que as pessoas de hoje experimentem tais imposições do terror capitalista como expressão da sua "liberdade" e "personalidade". Portanto, estamos aqui perante uma espécie de "ascética intramundana" na mania da optimização, que ainda é mais massivamente estimulada e desenvolvida pela ideologia transumanista. É, por isso, lógico que o terror do calvinismo e do utilitarismo de Jeremy Bentham (como calvinismo secularizado) sejam considerados precursores históricos do transumanismo, ao lado da eugenia e da higiene racial. Em contraste com os próprios transumanistas, que erroneamente acreditam que o humanismo do Renascimento foi o precursor espiritual do transumanismo (cf. Schnetker 2019, 101ss. assim como Jansen 2015, 283ss.).

No entanto, deve ser enfatizado que a relação do transumanismo com o protestantismo não é apenas dum passado distante, mas também claramente presente hoje: por exemplo, no pensamento apocalíptico de que o "fim dos tempos" está próximo, que é típico do protestantismo norte-americano e que pode ser encontrado nos vários cenários apocalípticos do transumanismo (a IA "ressuscita" e destrói a humanidade; a "nanotecnologia", na forma de robôs microscopicamente pequenos e auto-replicáveis, fica fora de controle e desmantela o mundo inteiro) (cf. Schummer 2006). Este pensamento apocalíptico do transumanismo, que até deseja o apocalipse e, portanto, a sua própria destruição, faz do transumanismo um culto da morte, semelhante ao culto da morte dos islamistas (Konicz 2018). Os transumanistas são algo como jihadistas sem barba, ou seja, "talibãs high-tech" (ibid.)

 

5. O transumanismo como espectáculo de masturbação narcisista

A hostilidade do transumanismo ao corpo e a mania da optimização da vida não permanece sem consequências para o lado carnal e sexual da existência humana. A consequência é a remoção do físico do sexual. Assim, a sexualidade torna-se um espectáculo narcisista não-físico. Ray Kurzweil delira sobre o cibersexo em suas visões do futuro. Que deve ser feito através da 'realidade virtual' (ou seja, hoje em dia, através de capacetes de realidade virtual, onde um ambiente virtualmente gerado pode ser visto em todas as direcções) ou através da comunicação audiovisual (ou seja, hoje em dia, através do Skype). Mais tarde, seriam adicionados toques virtuais e, claro, no futuro, experiências virtuais através de neuroimplantes que simulam toda uma realidade, como na trilogia cinematográfica "Matrix". No final, os robôs sexuais (que deveriam acabar por ser indistinguíveis de um ser humano) e a "nanotecnologia" (ver Schummer 2011) também entrariam em jogo. Mais uma vez, as fantasias de controle total ou disponibilidade total sobre a natureza tornam-se óbvias. A oscilação entre afirmações ascéticas e anseios hedonistas também é marcante. Segundo Kurzweil, "No final da primeira década do século XXI, a realidade virtual permitirá que se esteja de modo completamente real, tanto audível como visualmente, com um amante, uma profissional do sexo ou um parceiro simulado (!). Será possível fazer qualquer coisa (!) com uma parceira, excepto tocá-la – uma limitação reconhecidamente séria. Embora o toque virtual (!) já tenha sido introduzido neste momento, o ambiente virtual abrangente, altamente realista, em termos visuais, auditivos e tácteis, só será completamente aperfeiçoado na segunda década do século XXI. A partir desse ponto, o sexo virtual entrará em verdadeira concorrência com o sexo real. Os casais poderão ter sexo virtual independentemente da sua distância real. E mesmo que estejam perto, o sexo virtual será em alguns aspectos melhor (!) e em todo o caso mais seguro (!). O sexo virtual transmitirá sentimentos mais intensos (!) e agradáveis (!) do que o sexo convencional, e proporcionará experiências físicas que são hoje desconhecidas. Naturalmente, o sexo virtual também é o sexo definitivamente mais seguro (!), pois não há risco de gravidez ou infecção" (Kurzweil 1999, 233).

É claro que a realidade virtual pode tornar possível ao yuppie (e mais ainda ao 'incel') não lidar mais com a realidade nem, portanto, com parceiros reais, ou seja, não entrar numa libidinosa relação de objecto, mas usar parceiros apenas como matéria-prima para o seu próprio narcisismo. Kurzweil continua: "Hoje em dia, um amante pode imaginar na sua fantasia que o seu parceiro é outra pessoa, mas no coito virtual você não precisa de usar a imaginação. Você pode então facilmente mudar a aparência física e outras características de si mesmo e do seu parceiro. O utilizador (!) pode fazer com que o parceiro sexual se pareça com a sua estrela favorita, sem que o parceiro tenha permitido (!) ou mesmo sabido (!) isso. É claro que se deve estar ciente de que o parceiro pode fazer o mesmo" (ibid.).

Que bom aprender sobre as possibilidades do sexo em grupo: "O sexo em grupo terá um novo significado, pois várias pessoas podem compartilhar a experiência de um parceiro ao mesmo tempo. [...] Todos os participantes que compartilham um corpo virtual terão então a mesma experiência visual, auditiva e táctil ao controlarem juntos o único corpo virtual [...]. Uma sala inteira (!) cheia de pessoas [...] poderia assim assumir um corpo virtual sexualmente envolvido com uma performer" (ibid., 234). Que 'maravilha' que devido a "ligações de comunicação sem fios com grande largura de banda [...] nem o cliente nem a profissional do sexo tenham de sair (!) do seu apartamento" (ibid.). Então, finalmente o pequeno burguês pós-moderno, que quer ter tudo e ainda não consegue desfrutar de nada, pode finalmente estupidificar na sua bolha de filtragem! O que diria Kurzweil sobre violação em grupo virtual (embora a sua citação já soe exactamente ao mesmo) ou pedofilia virtual? Ou à decapitação virtual de seres humanos? A ideia de que tais extrapolações são uma expressão da barbárie, na medida em que a violência é vivida na realidade virtual de uma forma que ainda não pode ser vivida na realidade, não é algo que ocorra a Kurzweil. Ele também se pergunta como a realidade virtual afecta a realidade real e, sobretudo, como ainda deve ser possível viver relações sociais reais num mundo virtualizado. A fuga para a virtualidade é expressão de um empobrecimento psicossocial fundamental no capitalismo tardio. As fantasias de Kurzweil são extrapolações do actual mundo de fuga virtual (World of Warcraft, Second Life) e da miséria geral nas chamadas redes sociais. Para Kurzweil e seus próximos, o empobrecimento narcisista dos seres humanos seria provavelmente apenas um problema técnico a ser resolvido por uma inteligência artificial.

À semelhança das fantasias de Moravec de que inteligências artificiais se expandem sem corpo para todo o universo, também as fantasias de Kurzweil não têm limites: "A partir da quarta década [do século XXI, TM] as experiências virtuais tornar-se-ão possíveis através de neuroimplantes. Graças a esta tecnologia será possível ter quase qualquer tipo de experiência com quase qualquer pessoa, real ou imaginária e a qualquer momento. Será muito parecido com as chat rooms de hoje na Internet, excepto que já se terá o equipamento necessário na cabeça e se poderá fazer muito mais do que apenas conversar. Uma pessoa não está mais sujeita às limitações do seu corpo natural, (!) já que todas as pessoas envolvidas podem assumir qualquer forma física desejada. Uma variedade de experiências torna-se possível: um homem pode sentir o que é ser mulher e vice-versa. Também não há nenhuma razão para que uma pessoa não seja homem e mulher ao mesmo tempo quando realiza, ou pelo menos realiza virtualmente, as suas fantasias sonhadas sozinha" (ibidem, 236).

Dois momentos convergem aqui: Por um lado, uma rejeição quase neurótica de qualquer tipo de corporeidade, ou seja, o medo de ter que interagir com alguém de uma forma real, de interagir com alguém corporalmente (com todas as possíveis "consequências corporais")! Por outro lado, a fantasia obsessiva do sexo virtual, que na megalomania dos transumanistas equivale possivelmente a querer "foder" virtualmente mais ou menos com todo o universo simultaneamente (talvez ainda quase à velocidade da luz). Mais uma vez se torna clara a megalomania androcêntrica da ideologia transumanista.

A atitude extremamente ascética dos transumanistas em relação ao sexual também se enquadra na sua intenção de fabricar seres humanos, de querer cloná-los (como Kurzweil: cf. Jansen 2015, 222f.), isto é, de produzir seres humanos assexuadamente, e de preferência também num "útero artificial" (a chamada "ectogénese", cf. Meyer 2018). Jean-Michel Besnier vê uma conexão directa entre a ilusão transumanista da imortalidade e a negação da sexualidade: "A obsessão com a longevidade, mesmo com a imortalidade, é de qualquer modo prejudicial à causa da reprodução sexual, pois esta está mais virada para a diversificação do que para a duplicação e, consequentemente, para a renovação e a morte, para assegurar a vida. Mas os transumanistas não apreciam a vida, e, sonhando com a imortalidade, estão prontos a eliminar a reprodução sexual. Isso não significa necessariamente que eles queiram renunciar à sexualidade, mas que gostariam de reduzi-la aos automatismos da pornografia [...], que eles associam à cibersexualidade [...]”. (Alexandre; Besnier 2017, 31)

 

6. Conclusão

Seja qual for a situação, o transumanista está sempre preocupado com a optimização e a expansão ilimitadas. Nos cenários delineados, as fantasias de perpetuação do sujeito burguês e a negação da crise tornam-se particularmente claras. A ideologia transumanista pode assim ser vista como o movimento de fim-em-si do capital que se tornou alucinação. Como isto não entra no centro da crítica, também nenhum dos transumanistas está em posição de pôr em causa o determinismo do desenvolvimento tecnológico que é preciso substituir. Pelo contrário, exige-se que o ser humano tenha de se adaptar completamente ao desenvolvimento técnico, e para isso o ser humano tem de mudar biologicamente, o que significa que a sua existência como tal é posta em causa. Em última análise, portanto, é o próprio ser humano, não apenas o seu trabalho, que deve ser substituído pela tecnologia. Assim, o ser humano já nem sequer é "vida nua" (Agamben), mas sim "wetware" a ser descartado.

O transumanismo é a expressão visível de uma sociedade que perde qualquer capacidade de auto-reflexão e de crítica porque se submete de boa vontade aos artefactos que ela própria produziu e considera o capitalismo como um facto natural inelutável. Nas suas obsessões com o domínio futuro da inteligência artificial ou das máquinas, os transumanistas não conseguem perceber que o seu determinismo tecnológico, que Kurzweil estiliza como a continuação da evolução biológica, é em si mesmo a expressão de uma sociedade fetichista em que "as máquinas" dominam sobre os seus criadores. Que o determinismo do desenvolvimento técnico defendido pelos transumanistas já é uma expressão do domínio das coisas sobre as pessoas, domínio que, portanto, não reside de modo nenhum num futuro fictício – esta contradição não é de todo notória para os transumanistas (ver também Konicz 2018). O que os transumanistas atribuem a uma "super inteligência" fictícia (Bostrom) é o que eles próprios acabam por representar: a subjugação do ser humano às condições sociais, com as suas exigências repressivas e cada vez mais insustentáveis; uma subjugação que inclui a auto-abolição. Aquilo contra o que eles advertem (se é que o fazem) é aquilo por que eles próprios lutam: isto assume características absurdamente paradoxais na exigência de que o ser humano se torne um ciborgue (isto é, que se suprima a si mesmo) para que possa fazer frente à inteligência artificial no futuro (para que ele não seja suprimido). (19) A loucura do transumanismo manifesta-se numa atitude de submissão e simultaneamente em fantasias de omnipotência. Deste modo, os transumanistas supostamente prolongam a imanência do capitalismo até ao infinito. O que é ameaçador no transumanismo não é que a fantasiosa tomada do poder por uma inteligência artificial ou a destruição do mundo por uma "nanotecnologia" fora de controle se torne realidade, mas o facto de o transumanismo fornecer a ideologia para o capital dominar definitivamente o mundo e a humanidade e assim completar o seu trabalho de destruição. As fantasias transumanistas não devem, portanto, ser ridicularizadas pelos seus fantasmas tipo ficção científica, mas devem ser levadas a sério na sua mania de submissão e destruição.

Resumindo, o transumanismo – como a eugenia e a higiene racial antes dele – é uma delirante construção misantrópica com "aparência científica". Em contraste com a eugenia e a higiene racial, para o transumanismo não se trata de separar e "exterminar" indivíduos ou grupos, mas é a humanidade como tal que se pretende que seja vista como uma "existência que é um peso morto" a ser ultrapassada. O transumanista é assim uma espécie de "sinistro sacerdote do inferno", que pretende massacrar todos os seres humanos no altar de Moloch, para glória do seu pretenso deus, ou seja, para a glória do movimento de fim-em-si do capital.

 

Bibliografia

Alexandre, Laurent; Besnier, Jean-Michel: Können Roboter Liebe machen? Transhumanismus in zwölf Fragen [Os robôs podem fazer amor? Transumanismo em doze questões], Wien 2016.

Becker, Philipp von: Der neue Glaube an die Unsterblichkeit – Transhumanismus, Biotechnik und digitaler Kapitalismus [A Nova Crença na Imortalidade – Transumanismo, Biotecnologia e Capitalismo Digital], Wien 2015.

Biskamp, Floris: Vom Naturalismus zur Religion – Über die antigenderistische Radikalisierung des Ulrich Kutschera [Do Naturalismo à Religião – Sobre a Radicalização Antigénero de Ulrich Kutschera], in: Feinbild Emanzipation – Antifeminismus an der Hochschule [Emancipação de fino recorte – Antifeminismo na Universidade], Frankfurt 2019, 38–43, online: https://asta-frankfurt.de/sites/default/files/dateien/feindbild-emanzipation-antifeminismus-hochschule/feindbildemanzipationweb2.pdf

Bostrom, Nick: Die Zukunft der Menschheit [O futuro da humanidade], Frankfurt 2018a.

Bostrom, Nick: Superintelligenz – Szenarien einer kommenden Revolution, 3. Aufl. Berlin 2018b; original Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies Oxford 2014.

Böttcher, Herbert: Hilft in der Krise nur noch beten? Zur philosophischen Flucht in paulischen Messianismus [Rezar ajuda na crise? – Sobre a fuga filosófica para o messianismo paulino], in: exit! – Krise und Kritik der Warengesellschaft Nr.16, Springe 2019, 86–181.

Braun, Kathrin; Kremer, Elisabeth: Asketischer Eros und die Rekonstruktion der Natur zur Maschine [O Eros ascético e a reconstrução da natureza como máquina], Oldenburg 1987.

Feit, Margret: Die »Neue Rechte« in der Bundesrepublik: Organisation – Ideologie – Strategie [A " Nova Direita " na República Federal: Organização – Ideologia – Estratégia], Frankfurt/New York 1987.

Fischer, Klaus: Drei Grundirrtümer der Maschinentheorie des Bewußtseins [Três erros fundamentais da teoria mecânica da consciência], in: Köhler, Wolfgang R.; Mutschler, Hans-Dieter (Hg.): Ist der Geist berechenbar? – Philosophische Reflexionen [O espírito é calculável? – Reflexões filosóficas], Darmstadt 2003, 33–57.

Hagemeister, Michael: »Unser Körper muss unser Werk sein« – Beherrschung der Natur und Überwindung des Todes in russischen Projekten des frühen 20. Jahrhunderts ["O nosso corpo tem de ser trabalho nosso" – Dominação da natureza e ultrapassagem da morte em projectos russos do início do século XX.], in: Groy, Boris; Hagemeister, Michael; von der Heiden, Anne (Hg.): Die neue Menschheit – Biopolitische Utopien in Russland zu Beginn des 20. Jahrhunderts [A nova humanidade – Utopias biopolíticas na Rússia no início do século XX], Frankfurt 2005, 19–67.

Heil, Reinhard: Human Enhancement – Eine Motivsuche bei J.D. Bernal, J.B.S. Haldane und J.S. Huxley [Human Enhancement – Uma pesquisa de motivos em J.D. Bernal, J.B.S. Haldane e J.S. Huxley], in: Coennen, Christohper; Gammel, Stefan; Heil, Reinhard; Woyke, Andreas (Hg.): Die Debatte über »Human Enhancement« – Historische, philosophische und ethische Aspekte der technologischen Verbesserung des Menschen [O debate sobre "Human Enhancement" – Aspectos históricos, filosóficos e éticos do aperfeiçoamento tecnológico dos seres humanos], Bielefeld 2012, 41–62.

Heintz, Bettina: Die Herrschaft der Regel – Zur Grundlagengeschichte des Computers [A dominação da regra – Para a história básica do computador], Frankfurt/New York 1993.

Irrgang, Bernhard; Klawitter, Jörg: Künstliche Intelligenz – Technologischer Traum oder gesellschaftliches Trauma? [Inteligência artificial – Sonho tecnológico ou trauma social?], in: dies. (Hg.): Edition Universitas: Künstliche Intelligenz, Stuttgart 1990, 7–54.

Janich, Peter: Was ist Information – Kritik einer Legende [O que é informação – Crítica de uma lenda], Frankfurt 2006.

Jansen markus: digitale herrschaft – über das zeitalter der globalen kontrolle und wie transhumanismus und synthetische biologie das leben neu definieren [Dominação digital – Sobre a era do controle global e como o transumanismo e a biologia sintética estão redefinindo a vida], stuttgart 2015.

Jansen, Markus: Radikale Paradiese – Die Moderne und der Traum von der perfekten Welt [Paraísos radicais – A modernidade e o sonho do mundo perfeito], Würzburg 2018.

Kay, Lily E.: Das Buch des Lebens – Wer schrieb den genetischen Code, Frankfurt 2008. Original: Who Wrote the Book of Life? 1999.

Kohn-Waechter, Gudrun: Ersatzwelt, totale Herrschaft, Risikolust – Elemente eines modernen Technikdiskurses am Beispiel von John Desmond Bernal [Mundo de substituição, dominação total, assunção de riscos – Elementos de um discurso moderno sobre tecnologia usando o exemplo de John Desmond Bernal], in: Emmerich, Wolfgang; Wege, Carl (Hg.): Der Technikdiskurs in der Hitler-Stalin-Ära [O discurso da tecnologia na era Hitler-Stalin], Stuttgart/Weimar 1995, 47–71.

Konicz, Tomasz: KI und Kapital, (2018) auf exit-online.org. Trad. port.: Inteligência artificial e capital, online: http://www.obeco-online.org/tomasz_konicz9.htm

Kurz, Robert: Schwarzbuch Kapitalismus – Ein Abgesang auf die Marktwirtschaft, Frankfurt 1999, auch online: https://exit-online.org/pdf/schwarzbuch.pdf. Trad. port. em curso: O livro negro do capitalismo. Um canto de despedida da economia de mercado, online: http://www.obeco-online.org/livro_negro_capitalismo.html

Kurzweil, Ray: Homo s@piens – Leben im 21. Jahrhundert – Was bleibt vom Menschen?, Köln 2001; original: The Age of Spiritual Machines, London 1999.

Lupton, Deborah: The Quantified Self – A Sociology of Self-Tracking, Cambridge/Malden 2016.

Marx, Karl: Das Kapital – Kritik der politischen Ökonomie (Bd.1, MEW 23), Berlin 2005, 21. Aufl.

Meyer, Thomas: Zwischen Ektogenese und Mütterglück – Zur Reproduktion der menschlichen Gattung im warenproduzierenden Patriarchat (2018) auf exit-online.org. Trad. port.: Entre a ectogénese e a felicidade maternal. Sobre a reprodução do género humano na crise do patriarcado produtor de mercadorias, online: http://www.obeco-online.org/thomas_meyer9.htm

Moravec, Hans: Computer übernehmen die Macht – Vom Siegeszug der Künstlichen Intelligenz, Hamburg 1999; original Robot: Mere Machine to Transcendent Mind, Oxford 1998.

Rabinbach, Anson: Motor Mensch – Kraft, Ermüdung und die Ursprünge der Moderne, Wien 2001; original The Human Motor: Energy, Fatigue, and the Origins of Modernity, New York 1990.

Roth, Karl-Heinz: Sozialer Fortschritt durch Menschenzüchtung? Der Genetiker und Eugeniker H. J. Muller (18901967) [Progresso social através da criação de seres humanos? O geneticista e eugenista H. J. Muller (1890-1967)], in: Kollek, Regine; Hansen, Friedrich: Gen-Technologie – Die neue soziale Waffe [Engenharia Genética – A nova arma social], Hamburg 1985, 120151.

Savulescu, Julian; Ranisch, Robert: Ethik und Enhancement [Ética e Enhancement], in: Savulescu, Julian; Knoepssler, Nikolaus (Hg.): Der neue Mensch? – Enhancement und Genetik, Freiburg/München 2009, 2153.

Schnetker, Max Franz Johann: Transhumanistische Mythologie – Rechte Utopien einer technologischen Erlösung durch Künstliche Intelligenz [Mitologia transumanista – Utopias de direita de uma salvação tecnológica através da inteligência artificial], Münster 2019.

Schulze, Annett; Schäfer, Thorsten (Hg.): Zur Re-Biologisierung der Gesellschaft – Menschenfeindliche Konstruktionen im Ökologischen und im Sozialen [Sobre a rebiologização da sociedade – Construções misantrópicas nas esferas ecológica e social], aschassenburg 2012.

Schummer, Joachim: Nano-Erlösung oder Nano-Armageddon? – Technikethik im christlichen Fundamentalismus [Nano-redenção ou nano-Armagedão? – A ética da técnica no fundamentalismo cristão] (2006), online: http://www.joachimschummer.net/papers/2006_NanoTheology_Nordmann-et-al.pdf.

Schummer, Joachim: Nanotechnologie: Die Konstruktion Neuer Technologien als selbsterfüllende Prophezeiung [Nanotecnologia: A construção de novas tecnologias como uma profecia auto-realizável] (2011), online: http://www.joachimschummer.net/papers/2011_Nano-NeuTech_Kehrt-et-al.pdf.

Selke, Stefan: Vom vermessenen zum verbesserten Menschen? Life-logging zwischen Selbstkontrolle und Selbstoptimierung [Do ser humano mal medido ao ser humano melhorado? O Life-logging entre o autocontrole e a auto-optimização], in: Beinsteiner, Andreas; Kohn, Tanja (Hg.): Körperphantasien – Technisierung, Optimierung, Transhumanismus [Fantasias corporais – Tecnicização, optimização, transumanismo], Innsbruck 2016, 131151.

Serebrovskij, Aleksandr: Anthropogenetik und Eugenik in der sozialistischen Gesellschaft [Antropogenética e eugenia na sociedade socialista], in: Weß, Ludger: Die Träume der Genetik – Gentechnische Utopien von sozialem Fortschritt [Os sonhos da genética – Utopias de progresso social da engenharia genética], Hamburg 1989, 117–129, zuerst 1929.

Shumeiko, Larisa: Eugenik in Russland [Eugenia na Rússia], in: Höxtermann, Ekkehard; Kaasch, Joachim; Kaasch, Michael (Hg.): Verhandlungen zur Geschichte und Theorie der Biologie Band 10: Von der »Entwicklungsmechanik« zur Entwicklungsbiologie [Conferências sobre a história e a teoria da biologia Volume 10: Da "Mecânica do Desenvolvimento" à Biologia do Desenvolvimento], Berlin 2004, 315–340.

Sierck, Udo; Radtke, Nati: Die Wohltätermafia – Vom Erbgesundheitsgericht zur Humangenetischen Beratung [A máfia benfeitora – Do tribunal da saúde hereditária ao aconselhamento em genética humana], Frankfurt 1989, 5. erw. Aufl.

Then, Christoph: Dolly ist tot – Biotechnologie am Wendepunkt [Dolly está morta – A biotecnologia num ponto de viragem], Zürich 2008.

Trus, Armin: Der »Heilige Krieg« der Eugeniker [A "guerra santa" dos eugenistas], in: Geschichte und Kritik – Beiträge zur Gesellschaft, Politik und Ideologie in Deutschland [História e Crítica – Contribuições para a sociedade, política e ideologia na Alemanha], Giessen 2002, 245–286.

van Loenen, Gerbert: Das ist doch kein Leben mehr! – Warum aktive Sterbehilfe zu Fremdbestimmung führt [Isto já não é vida! – Por que a eutanásia activa leva à heteronomia], 2. Aufl. Frankfurt 2015.

Wagner, Thomas: Robokratie – Google, das Silicon Valley und der Mensch als Auslaufmodell [Robocracia – Google, Silicon Valley e o ser humano como modelo descontinuado], 2. Aufl. Köln 2016.

Weingart, Peter; Kroll, Jürgen; Bayertz, Kurt: Rasse, Blut und Gene – Geschichte der Eugenik und Rassenhygiene in Deutschland [Raça, sangue e genes – História da eugenia e da higiene racial na Alemanha], Frankfurt 1992.

Weß, Ludger: Die Träume der Genetik – Gentechnische Utopien von sozialem Fortschritt [Os sonhos da genética – Utopias genéticas de progresso social], Hamburg 1989.

Wichterich, Christa: Der Mythos der Überbevölkerung als Mittel zur Kolonisierung der Frauen in der Dritten Welt [O mito da superpopulação como meio de colonizar as mulheres no Terceiro Mundo], in: Beiträge zur feministischen Theorie und Praxis Nr. 14, Köln 1985, 918.

 

 

 

Notas

(1) O debate sobre a ciência e a pseudociência ou esoterismo (Existem critérios para distinguir entre estes e, em caso afirmativo, quais? etc. etc.) não será por mim levado em consideração neste momento, especialmente porque, de qualquer modo, no transumanismo ambos se fundem.

(2) O entrismo era o que os trotskistas chamavam à 'infiltração' de organizações não trotskistas com o objectivo de mudar o discurso dentro dessas organizações, para então melhor 'assumi-las' como trotskistas. É notável que o transumanista Laurent Alexandre use o vocabulário trotskista.

(3) O livro de Alexandre e Besnier, ao qual me referirei várias vezes neste texto, é um diálogo escrito entre os dois autores.

(4) Isto também pode ser deixado claro através de uma "política científica" apropriada e da sua propaganda. Por exemplo, com a propaganda sobre nanotecnologia desde os anos noventa: Algumas pessoas ficariam surpreendidas se até aos anos 90 o termo "nanotecnologia" fosse menos um termo científico e mais um termo da indústria cultural. Quando a propaganda sobre nanotecnologia começou, a arbitrariedade deste termo, sob o qual todo tipo de tópicos da química e da física do estado sólido foram subsumidos e, portanto, não representavam nada de realmente novo em termos de conteúdo, tornou-se óbvia. Claro que muitas áreas devem ser agrupadas sob este termo, para que, financiadas em conjunto, possam trabalhar juntas e estimular o capital, ver Schummer 2011.

(5) Neste ponto, não posso entrar mais no conceito de informação em si, ver Janich 2006.

(6) Organizado pelo grupo empresarial CIBa (Indústria Química de Basileia)

(7) Não posso ir mais longe aqui sobre Muller, cf. Roth 1985; Weß 1989.

(8) Disrupção é o termo usado para descrever um nível de "inovação" que não só fornece um novo produto, mas também transforma processos de produção inteiros para que, idealmente, indústrias inteiras se tornem completamente redundantes. Os ideólogos de Silicon Valley, aos quais os transumanistas também pertencem, formulam as suas reivindicações sempre em superlativos, ou seja, eles são especialistas em megalomania.

(9) Ray Kurzweil é não apenas engenheiro-chefe de software do Google, mas também consultor do exército americano. Mas existem sobreposições não só em termos pessoais: Os Big Data e a IA são usados, como é sabido, nas chamadas guerras de drones.

(10) A chamada Fundação Giordano Bruno refere-se a Julian Huxley (o irmão de Aldous Huxley) com o seu "humanismo evolutivo". O termo 'transumanismo' (bem como 'humanismo evolutivo') remonta a J. Huxley.

(11) No entanto, deve ser enfatizado que as esterilizações forçadas não foram simplesmente interrompidas após o terror dos nazis. Elas foram certamente aplicadas a sujeitos "indesejáveis", como mostrou o "caso Stoeckenius" nos anos 80, ver Sierck; Radtke 1989.

(12) Entretanto, já foi possível modificar geneticamente as células germinativas humanas e depois fazê-las fundir para formar o zigoto: ver, por exemplo, Jan Osterkamp: Nebenwirkung des CRISPR-Menschenversuchs befürchtet [Temido o efeito colateral da experiência CRISPR em humanos], spektrum.de de 22.02.2019.

(13) Para não ser mal interpretado: É claro que não estou aqui a falar contra o direito ao aborto, especialmente porque este direito é combatido por reaccionários de todo o tipo, na medida em que este direito existe! Mas deve ser salientado que as decisões livres para fazer um aborto nem sempre são tão livres, sendo isso muitas vezes ignorado.

(14) À semelhança das ilusões anti-semitas, não serve de muito mostrar que os Protocolos dos Sábios de Sião são uma farsa. Assim, o que se pretende a seguir também não é mostrar que a visão de mundo "materialista vulgar" dos transumanistas (tudo é essencialmente informação, e a vida não é mais do que um algoritmo programável, etc.) está errada.

(15) Florian Rötzer: USA: Rekordzahl von Toten durch Opioid-Überdosierungen im Jahr 2017 [EUA: número recorde de mortes devido a overdoses de opióides em 2017], Telepolis de 16.08.2018.

(16) Ver: https://www.wired.com/story/god-is-a-bot-and-anthony-levandowski-is-his-messenger/ .

(17) Ver https://www.christopherbenek.com/.

(18) Sobre Descartes ver Braun; Kremer 1987.

(19) A empresa de Elon Musk "Neuralink", por exemplo, está planeando desenvolver uma interface cérebro-computador, um cordão neural ("neural lace"), pelo qual o cérebro deve ser "optimizado", ver Rolfe Winkler: Elon Musk Launches Neuralink to Connect Brains With Computers, Wall Street Journal, 27.3.2017.

 

 

 

Original Zwischen Selbstvernichtung und technokratischem Machbarkeitswahn – Transhumanismus als Rassenhygiene von heute in:www.exit-online.org. Tradução de Boaventura Antunes

  

http://www.obeco-online.org/

http://www.exit-online.org/