A entrega das chaves

 

Como o centro democrático na Alemanha em crise está a abrir caminho para o fascismo

 

Tomasz Konicz

 

A facilidade e ausência de atritos com que a fascização da República Federal está a ocorrer na campanha eleitoral de 2025 podem ser absolutamente vertiginosas. Está a acontecer em rápida sucessão e é quase impossível fazer uma pausa para respirar ou reflectir. Erich Kästner comparou a dinâmica fascista antes da transferência de poder em 1933 a uma bola de neve, que com o tempo degenerou numa avalanche quase impossível de parar. A Alemanha foi agora apanhada por essa avalanche castanha. Não foram eficazes as grandes manifestações antifascistas do ano passado,1 que foram iniciadas em resposta a planos de deportação inconstitucionais no campo da AfD. Não se vislumbra uma proibição da AfD, que agora incluiu abertamente no seu manifesto eleitoral as deportações em massa referidas como “remigração”.2

Um regime decididamente fascista parece bastante realista a partir da legislatura de 2029, como a AfD também prevê nos seus documentos estratégicos. No país dos perpetradores, os seus herdeiros políticos estão a preparar-se para “tomar o poder” novamente. Mas este não é realmente o factor decisivo. Porque são precisamente as forças do centro democrático que permitem uma transição sem esforço e sem atritos para a administração fascista das crises. O ventre de onde ela saiu a rastejar ainda é fértil – mas desta vez nem parece haver dores de parto.

Por um lado, há os partidos democráticos de direita, como a conservadora CDU e o economicamente liberal FDP, que há muito se encontram numa concorrência fascistóide para ultrapassar a AfD. Mas também os outros partidos, como o SPD, os Verdes e o Partido da Esquerda, há muito capitularam perante a hegemonia da direita e adaptaram a sua retórica em conformidade. A figura ridícula do líder do FDP, Christian Lindner, a escrever cartas de amor quase libertárias de direita a Elon Musk,3 para se ver simplesmente afastado da ribalta pela AfD,4 é apenas um sintoma da tendência geral do centro neoliberal para o fascismo – que acaba por devorá-lo.

A CDU alarga a exigência fascista de deportações em massa de pessoas com antecedentes migratórios para incluir a exigência de retirada da cidadania a cidadãos com dupla nacionalidade que tenham cometido infracções penais.5 O endurecimento permanente do regime de internamento para refugiados, que é prosseguido por todos os partidos sob pressão da AfD, chegou agora ao lema “cama, pão e sabão”.6 Idade de responsabilidade criminal a partir dos 12 anos,7 o trabalho forçado para os desempregados, que já foi introduzido pela CDU e pela AfD em Schwerin,8 as tentativas públicas de reabilitação das SS,9 e assim sucessivamente – não há mais escândalos quando os tabus civilizacionais são quebrados diariamente, depois de a sociedade alemã ter sido completamente engolida pela avalanche fascista.

A AfD conseguiu a sua vitória ideológica final após o atentado islâmico em Solingen, no Outono de 2024,10 quando o Presidente Federal Steinmeier declarou  como inimigo público número um os refugiados e não o extremismo. Ao fazê-lo, a figura maior da República Federal estava simplesmente a seguir a lógica fascista, a personificação das causas da crise – e isto num ano em que as infracções da extrema-direita atingiram um novo máximo histórico, muito superior ao nível das infracções islâmicas (para além do facto de o islamismo ser apenas uma forma de ideologia de crise fascista específica da esfera cultural islâmica,11 que é desencadeada em tempos de crise através de mecanismos semelhantes – extremismo do centro, mania de identidade, concorrência de crise). O slogan “Refugiados fora!” é actualmente doutrina do Estado alemão.

Tudo isto tem a sua perversa lógica de crise no interior do capitalismo. O processo de crise global está a fazer com que a máquina de valorização capitalista gagueje cada vez mais nos centros, incluindo na RFA – e no seio das suas elites funcionais está a ser organizada uma entrega das chaves quase sem atritos, o que acaba por alterar o modo de administração das crises. Desta vez, o fascismo espumante, como forma terrorista de crise da dominação capitalista, é acompanhado por uma transformação oportunista de todo o sistema político, que tenta adaptar-se a ele através do autoritarismo, da produção de ressentimento e do populismo. A “entrega das chaves” ao fascismo, para manter a metáfora, está também a ocorrer no seio dos partidos democráticos.

 

Como a democracia devora os seus filhos

É chocante para as classes médias liberais e para os patriotas constitucionais que acreditam na democracia o facto de a transição da administração das crises democrática para a administração das crises autoritário-fascista ser tão perfeita. Isto aplica-se não só à RFA, mas sobretudo aos EUA. O teórico da crise Robert Kurz já nos anos 90, no seu ensaio A democracia devora os seus filhos. Notas sobre o novo radicalismo de direita,12 previu correctamente esta evolução. A democracia capitalista baseia-se na concorrência geral do mercado, que acaba por aperfeiçoar o processo fetichista de valorização desenfreada do capital. Todo o discurso democrático da “concorrência entre partidos democráticos” gira sobretudo em torno da economia, ou seja, da optimização da valorização do capital. A constituição absurda e orwelliana da democracia capitalista baseia-se precisamente no facto de os ocupantes do moinho de degraus capitalista aperfeiçoarem a sua exploração e submissão às premissas do processo de valorização do capital por sua própria iniciativa.

Mas assim que o sistema começa a gaguejar, devido à intensificação das contradições internas e externas do processo de valorização, assim que as gratificações materiais da sua submissão deixam de existir para partes substanciais das classes médias, os esforços para levar a lógica da valorização a um extremo bárbaro começam quase naturalmente – a partir da lógica interna do discurso democrático. O aumento da submissão à intensificação dos constrangimentos do capital, induzido pela crise, é então acompanhado pela exclusão e, em última análise, pela erradicação dos concorrentes ou dos sectores economicamente supérfluos da população – que são ideologizados como personificações do processo de crise.

Dois grupos populacionais estão na mira destas permanentes campanhas de difamação da direita: Para além dos refugiados e das pessoas com antecedentes migratórios, são sobretudo os desempregados e as camadas marginalizadas da população que mais uma vez são transformados em imagens do inimigo – tal como aconteceu no início do século XXI com a aplicação das infames leis laborais Hartz IV.13 O endurecimento das medidas e o aumento da repressão contra os refugiados, em particular durante a campanha de difamação no final de 2023,14 – vai agora ser aplicado também contra os “locais” marginalizados. Mas potencialmente todos os grupos economicamente “supérfluos” são visados.

A nova dinamização do fascismo na República Federal, as fronteiras agora quase esbatidas entre o centro e os “extremistas”,15 só podem assim ser entendidas no contexto da mais recente onda de crise na República Federal – o fascismo é acima de tudo uma ideologia de crise. A Alemanha está a atravessar uma crise económica que é exacerbada pelo seu modelo económico fixado na exportação.16 A onda de crises desencadeada pela pandemia abalou a globalização em que se baseavam os campeonatos mundiais de exportação ganhos pela Alemanha.

A inflação obstinada que surgiu a partir de 2020 obrigou os bancos centrais a pôr termo à sua política monetária expansionista, que tinha sido a base da economia neoliberal das bolhas financeiras e dos correspondentes circuitos de défice global durante décadas. O sistema global entrou na era da crise de estagflação.17 Com os estrangulamentos dos fornecimentos e a sobrecarga das cadeias de produção globalizadas, as tendências para o proteccionismo e a desglobalização puderam finalmente afirmar-se durante a pandemia – com os EUA no centro dessas tendências, apoiando-se cada vez mais na integração vertical,18 no nearshoring19 e na reindustrialização. A guerra na Ucrânia funcionou como mais um choque disruptivo do processo globalização.20

 

A ideologia alemã na crise

O modelo económico alemão, que desde a introdução do euro e a implementação do Hartz IV tinha como objectivo a obtenção de excedentes de exportação – ou seja, a exportação de dívida, de desemprego e de desindustrialização – ficou assim sem força. A crise da globalização, à qual a Alemanha-SA se adaptou, constitui o verdadeiro pano de fundo da aceleração da crise económica na República Federal da Alemanha. No entanto, com a indústria exportadora na defensiva, também as forças dentro da elite funcional alemã que se opunham à ascensão da extrema-direita pelos seus próprios interesses económicos estão cada vez mais na defensiva.21 A vitória eleitoral de Trump é particularmente devastadora neste contexto, uma vez que elimina em grande parte a pressão externa para combater as tendências fascistas na República Federal.

Até agora a ideologia da AfD tem estado em conflito com os interesses da indústria exportadora, que sempre teve de assegurar uma boa reputação internacional para a marca Made in Germany – a qual foi prejudicada em 2018, por exemplo, pelos motins-progroms nazis alimentados com metanfetaminas contra migrantes em Chemnitz.22 Isto chegou em grande parte ao fim com a crise da indústria de exportação alemã e o mal-estar económico em curso: enquanto o neoliberalismo pregava a bênção dos mercados abertos, todos os actores relevantes estão actualmente a superar-se uns aos outros em apelos ao encerramento de fronteiras, ao isolamento e a restrições à imigração, após o colapso do boom de exportação de longa data.

É evidente que se trata apenas de um reflexo ideológico da convulsão da crise mundial que se desenrola23 e que dá um impulso ao pré-fascismo alemão – com o desejo de isolamento, populismo, nacionalização, etc. Visto à distância, tudo isto parece absolutamente ridículo. Durante anos, a Alemanha beneficiou da globalização graças a enormes excedentes comerciais, no âmbito da sua política de empobrecer o vizinho exportando dívida e desemprego.24 As contradições da crise do capital eram simplesmente exportadas, enquanto a corporação económica alemã se indignava com as montanhas de dívidas no estrangeiro que os excedentes comerciais alemães inevitavelmente produziam. Agora que estes excedentes de exportação e os desequilíbrios comerciais globais trouxeram consigo as correspondentes consequências proteccionistas, a crise regressa também ao antigo campeão mundial dos excedentes de exportação – e um sentimento de ser enganado está a espalhar-se entre as classes médias ignorantes da crise, cujas causas estão por sua vez a ser localizadas fora da comunidade de desempenho alemã e agora também fora da comunidade nacional.

A Alemanha sofreu, apertou o cinto, passou fome para se adaptar perfeitamente à corrida de ratos da globalização neoliberal – e agora vai sofrer particularmente com a grande viragem para a desglobalização. O ódio da direita às personificações ideológicas das dinâmicas de crise em rápido crescimento, desencadeado por esta mudança de paradigma, centra-se, segundo a tradição comprovada, nos refugiados, nas pessoas com antecedentes migratórios, nos desempregados e nos socialmente desfavorecidos. No contexto do extremismo fascista do centro, que fervilha em tempos de crise, a concorrência de crise darwinista social, nacionalista e por vezes simplesmente racista está agora em grande parte de acordo com a realidade da crise capitalista tardia – enquanto todo o discurso liberal de que a Alemanha precisa de muitos imigrantes está a desaparecer cada vez mais da esfera pública à medida que a crise económica avança.

Quase todas as forças do espectro político na Alemanha seguiram agora a linha da AfD, alucinando que a migração e os refugiados são o mal fundamental da enferma Alemanha-SA – com o que a crise sistémica capitalista e o papel da República Federal no seu desenvolvimento podem ser convenientemente ignorados. Isto também se aplica aos Verdes, cujo candidato a chanceler quer abertamente deportar os refugiados desempregados.25 E também ao chamado Partido da Esquerda, que tenta copiar o populismo de Wagenknecht – que foi o mero acompanhamento ideológico da formação da frente transversal – com toda a seriedade oportunista sob a forma de demagogia social.26 Na questão dos refugiados, a uniformidade de todo o espectro político parece assumir um sabor absolutamente totalitário. Não há praticamente nada que possa travar o caminho da AfD para o poder, agora que o efeito civilizador dos grandes excedentes comerciais na política interna alemã está a diminuir cada vez mais.

No entanto, mesmo a agitação contra o segundo maior inimigo após a eclosão da crise económica – os desempregados – já não poderá contribuir para o desenvolvimento de uma política económica sustentável: A abolição provisória e tímida do trabalho forçado na República Federal, que foi implementada pela chamada coligação do semáforo do SPD, dos Verdes e do FDP, deverá ser novamente revertida sob pressão da direita. De facto, as leis laborais Hartz IV serão reintroduzidas em 2025, se a CDU, o SPD, o FDP, a AfD ou a BSW levarem a sua avante.

 

O súbdito na crise

O reflexo da crise promovido pela direita em várias campanhas de difamação contra os socialmente marginalizados – desde o FDP à CDU e à AfD – consiste num ressurgimento dos métodos sádicos de disciplinamento e de redução dos custos da mercadoria força de trabalho, tal como implementados no início do século XXI no âmbito do programa Hartz IV e da Agenda 2010.27 A fascização da República Federal está, de facto, a regressar ao seu lugar de origem numa escala mais alta, porque a direita alemã sente instintivamente que este programa de submissão esteve na base da sua ascensão política. E é de facto um reflexo autoritário que, perante a crise económica, se manifesta em amplas camadas da população, tal como há cerca de um quarto de século.

O psicólogo social Oliver Decker já em 2010 resumiu esta economificação das ideologias autoritárias e de direita, alimentada pela Agenda 2010, da seguinte forma:28

"A orientação constante para objectivos económicos – ou mais precisamente: a exigência de submissão às suas premissas – reforça um ciclo autoritário. Leva a uma identificação com a economia, em que as exigências de renúncia em seu favor levam ao tipo de agressão autoritária que irrompe contra os mais fracos."

Quanto maior for a pressão sobre o assalariado fixado na autoridade, maior será a sua necessidade de ver os mais fracos serem espremidos e explorados tal como ele próprio. Este “ciclo autoritário”, em interação com os surtos de crise do século XXI, forma também o pântano que abre caminho ao fascismo alemão. O nexo de causalidade entre o empobrecimento e privação de direitos dos desempregados e o agravamento das suas próprias condições de trabalho é ignorado e dá lugar a reflexos irracionais de ódio e sadismo, que preparam o terreno para as ideologias de crise neofascistas.

A “política de renúncia” neoliberal do início do século XXI – submissão às premissas do processo de valorização – promoveu assim a agressão autoritária contra as vítimas da crise em que se baseiam igualmente as ideologias populistas e extremistas de direita. A ideologia neoliberal de submissão, que muitas vezes instrumentalizou um conceito vazio de liberdade, constituiu o terreno fértil para as ideologias de crise da direita. Os conceitos de extremismo do centro e de rebelião conformista são por isso indispensáveis para entender o sucesso da nova direita e do neonacionalismo como herdeiros do neoliberalismo. É precisamente para aí que a direita quer regressar em 2025 perante o agravamento da crise. E este programa de submissão também não lhe fica barato – o aperto do “rendimento do cidadão” já decidido no final de 2024 não conduzirá a poupanças, mas a custos adicionais na ordem das centenas de milhões.29 Falar de abusos em massa por parte dos desempregados não passa de uma quimera ideológica.

O capitalismo, como culto da morte animado pelo fetichismo do capital,30 como religião secular31 que exige o sacrifício humano, assume aqui plenamente o seu carácter. Através do sofrimento, através do sacrifício – de preferência dos membros mais fracos e indefesos da sociedade – a Alemanha pretende recuperar o favor do capital na sua dinâmica contraditória de sujeito automático, que devasta social e ecologicamente a humanidade e o mundo na sua infindável compulsão de valorização. Trabalho forçado, fome, abolição das baixas por doença pagas, campos de trabalho, redução dos custos salariais – todo o velho programa, o mesmo discurso em que se baseava a agitação contra os desempregados preguiçosos quando Hartz IV foi implementado pode ser ouvido novamente.

E não se trata apenas dos partidos de direita, também aqui estamos perante uma uniformidade quase totalitária. Mais uma vez tudo isto tem um toque de ridículo, por exemplo, quando os políticos do SPD usam exactamente as mesmas frases de agitação contra os desempregados que os seus antecessores usaram no início deste milénio. “Não há direito a ser preguiçoso”, a frase inflamada usada pelo então chanceler Gerhard Schröder,32 foi também repetida pelo líder do SPD, Lars Klingbeil, no Outono de 2024.33 Claro que o SPD também se consegue imaginar a apoiar o corte total do rendimento do cidadão e a reintrodução do trabalho forçado, como exige a CDU.

 

A nova disfuncionalidade alemã

O problema interno ao capitalismo deste recurso por reflexo ao sadismo laboral reside apenas no facto de ser agora disfuncional de um ponto de vista puramente económico. Hartz IV e a Agenda 2010 foram bem-sucedidos porque baixaram o preço médio da mercadoria força de trabalho na Alemanha na fase de ascensão da globalização, reduzindo assim os custos unitários do trabalho na República Federal. Na era da globalização, isto permitiu a verdadeira explosão dos excedentes comerciais alemães no início do século XXI – especialmente com a introdução do euro. No entanto esta saída da crise, com que as economias se refugiam numa política de “empobrecer o vizinho”, está agora bloqueada para a Alemanha-SA, perante o crescente proteccionismo e a desglobalização.

Estas medidas só irão agravar a crise social, sem que possa haver qualquer “retorno” a um boom de exportações. Nem os mercados de venda não europeus, nem os dos países da zona euro, ainda a sofrer às mãos do principal sádico da austeridade alemã, Wolfgang Schäuble, voltarão a permitir excedentes comerciais alemães tão extremos. No entanto, o que esta compulsão à repetição sádica do sistema Hartz IV irá certamente trazer é o estabelecimento final do trabalho forçado na RFA – com o qual se irá provavelmente introduzir outra caraterística da administração fascista das crises na crise sistémica manifesta.

Como já foi afirmado várias vezes, esta dinâmica fascista, que está a transformar-se numa avalanche, ganha a sua aparente inevitabilidade pelo facto de surgir muito naturalmente da ideologia neoliberal tardia34 e da identidade nacional capitalista tardia.35 Ignorando a crise social e ecológica irreversível, que o capital tem de falhar porque é ele a sua causa, a ideologia e a prática do pré-fascismo alemão parecem quase inevitáveis, e parecem também ter em conta os interesses dos assalariados, que podem esperar que ela afecte os outros – os marginalizados, os estrangeiros, os refugiados, as minorias, os idosos, os incapazes de trabalhar, os gays, os transexuais etc. etc., que são insultados como “anti-sociais”.

As mentiras monstruosas e simplesmente suicidas em que se baseia este extremismo fascista do centro só se tornam visíveis através de uma reflexão radical sobre o processo de crise – que tem de ser sempre acompanhada de uma fuga à prisão ideológica e identitária do pensamento do capitalismo tardio. As deportações, a repressão, o encerramento das fronteiras e a formação de Estados autoritários não ultrapassarão a crise do capital, nem na sua dimensão económica, nem na sua dimensão ecológica.36 A crise não vem de fora, é de origem interna. O nível de produtividade global, tal como a crise climática – não podem ser bloqueados ou deportados nas fronteiras.

Mesmo o cálculo em que se baseia a mania isolacionista europeia e americana, segundo o qual o Sul global se tornará inabitável primeiro na crise climática e nós no Norte teremos portanto de nos isolar dele desde já, é ilusório, tendo em conta as muitas incógnitas da catástrofe climática que se aproxima. Um colapso da Corrente do Golfo, que pode ocorrer dentro de alguns anos, afectaria a Europa e o Nordeste da América de forma particularmente dura – precisamente as regiões em que a direita tem sido particularmente bem sucedida na popularização do seu isolacionismo potencialmente assassino em massa.37

Se ainda houver uma esquerda para agir como força progressista de acordo com o seu próprio conceito, ela abordará activamente esta verdade simples e óbvia e fará dela a base de uma prática de transformação emancipatória: Só pode haver esperança de manter o processo civilizacional se o capital em agonia for ultrapassado.38 Este é o ponto de Arquimedes que permitirá uma mobilização antifascista bem sucedida com base na realidade da crise. Só assim se poderá combater com êxito o culto fascista da morte. O único interesse que pode ser racionalmente formulado na crise permanente do capitalismo tardio é o interesse numa transformação rápida do sistema.

 

 

1 https://www.konicz.info/2024/01/31/ein-letztes-mal-antifa/ Em português: https://www.konicz.info/2024/02/02/antifascismo-pela-ultima-vez/

2 https://www.t-online.de/nachrichten/deutschland/innenpolitik/id_100571646/afd-parteitag-in-riesa-alice-weidel-laesst-die-maske-fallen.html

3 https://nachrichten.ag/deutschland/lindner-verteidigt-musk-deutschland-braucht-mut-wie-milei/

4 https://www.tagesschau.de/inland/bundestagswahl/parteien/weidel-musk-100.html

5 https://www.focus.de/politik/deutschland/pass-weg-fuer-kriminelle-cdu-legt-nach-laesst-aber-entscheidende-fragen-offen_2de31ee3-ca90-435a-9f8d-ead567469fdc.html

6 https://www.zdf.de/nachrichten/politik/deutschland/merz-asylpolitik-migration-cdu-csu-wahlprogramm-100.html

7 https://www.n-tv.de/ticker/CDU-fordert-schaerferes-Jugendstrafrecht-article25055763.html

8 https://www.focus.de/politik/deutschland/nach-thueringer-vorbild-schwerin-verhaengt-arbeitspflicht-fuer-buergergeld-empfaenger_id_260607674.html

9 https://www.morgenpost.de/politik/article242439534/Nach-Krah-Aussagen-AfD-Politiker-normalisiert-SS-Verbrechen.html

10 https://www.tagesschau.de/inland/gesellschaft/anschlag-solingen-104.html

11 https://www.konicz.info/2021/08/17/von-gruenen-und-braunen-faschisten-2/

12 https://exit-online.org/textanz1.php?tabelle=autoren&index=29&posnr=49

13 https://www.konicz.info/2013/03/15/happy-birthday-schweinesystem/

14 https://www.kontextwochenzeitung.de/debatte/667/die-extreme-mitte-9310.html Em português: https://www.konicz.info/2024/01/18/o-extremo-centro/

15 https://www.konicz.info/2022/10/27/radikalitaet-vs-extremismus/ Em português: https://www.konicz.info/2022/11/09/radicalidade-vs-extremismo/

16 https://www.konicz.info/2024/01/25/leerlauf-der-exportdampfwalze/ Em português: https://www.konicz.info/2024/01/31/o-rolo-compressor-das-exportacoes-em-ponto-morto/

17 https://www.konicz.info/2021/11/16/zurueck-zur-stagflation/.  Em português: https://www.konicz.info/2021/11/18/de-volta-a-estagflacao/

18 https://www.konicz.info/2024/01/09/vertikal-gewinnt/ Em português: https://www.konicz.info/2024/01/11/a-verticalidade-vence/

19 https://www.konicz.info/2023/11/20/neue-kapitalistische-naehe-2-0/ Em português: https://www.konicz.info/2023/11/16/a-nova-proximidade-capitalista/

20 https://www.konicz.info/2022/05/24/eine-neue-krisenqualitaet/ Em português: http://obeco-online.org/tomasz_konicz25.htm

21 https://www.konicz.info/2023/12/26/konjunktur-fuer-faschismus/ Em português: http://obeco-online.org/tomasz_konicz46.htm

22 https://www.saechsische.de/kultur/5-jahre-nach-den-ausschreitungen-neonazi-achse-chemnitz-dortmund-ist-eine-einbahnstrasse-YBFWXIHAFEKUJYZXU3RS2674SY.html

23 https://www.konicz.info/2022/05/24/eine-neue-krisenqualitaet/ Em português: http://obeco-online.org/tomasz_konicz25.htm

24 https://www.konicz.info/2012/12/21/der-exportuberschussweltmeister/

25 https://www.msn.com/de-de/nachrichten/politik/robert-habeck-macht-klare-ansage-an-syrer-ohne-arbeit/ar-AA1x1UyM

26 https://www.konicz.info/2022/11/07/rockin-like-its-1917/ Em português: https://www.konicz.info/2022/11/11/rockin-like-its-1917-2/

27 https://www.konicz.info/2013/03/15/happy-birthday-schweinesystem/

28 https://www.welt.de/politik/deutschland/article10442527/Wirtschafts-Fixierung-schuert-autoritaere-Aggression.html

29 https://www.welt.de/wirtschaft/plus254289756/Buergergeld-351-Millionen-Euro-fuer-Zusatz-Termine-der-heikle-Preis-der-neuen-Haerte.html?utm_source=pocket_reader

30 https://www.konicz.info/2022/10/02/die-subjektlose-herrschaft-des-kapitals-2/

31 https://www.konicz.info/2014/01/07/die-prophezeiung/

32 https://www.manager-magazin.de/unternehmen/artikel/a-126811.html

33 https://web.de/magazine/politik/spd-chef-buergergeld-ansage-recht-faulheit-40110276

34 https://www.kontextwochenzeitung.de/politik/376/neo-aus-liberal-wird-national-5145.html

35 https://konicz.substack.com/p/europa-im-identitaetswahn

36 https://www.konicz.info/2022/01/14/die-klimakrise-und-die-aeusseren-grenzen-des-kapitals/

37 https://www.konicz.info/2024/02/23/von-oekonomischen-und-oekologischen-sachzwaengen/ Em português: https://www.konicz.info/2024/03/04/constrangimentos-economicos-e-constrangimentos-ecologicos/

38 https://www.konicz.info/2022/10/12/emanzipation-in-der-krise/ Em português: http://obeco-online.org/tomasz_konicz30.htm

 

Original “Die Schlüsselübergabe. Wie die demokratische Mitte des krisengeplagten Deutschlands dem Faschismus den Weg ebnet” in exit-online.org. Antes publicado em konicz.info, 18.01.2025. Pré-impressão de passagens do ensaio “Krisenökonomie des deutschen Faschismus. Beobachtungen zur Wechselwirkung von ökonomischer Krisenentfaltung und der Faschisierung Deutschlands im 21. Jahrhundert [Economia de crise do fascismo alemão. Observações sobre a interacção entre a crise económica que se desenrola e a fascização da Alemanha no século XXI]”, a publicar na exit! 22, Primavera de 2025. Tradução de Boaventura Antunes

 

http://www.obeco-online.org/

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