Udo Winkel
No centenário da eclosão da I Guerra Mundial surgiu uma enchente de análises e literatura de memórias. Ela é repetida e incorrectamente designada como “ruptura civilizacional”, embora o capitalismo se tenha desenvolvido com violência brutal desde o seu nascimento na “acumulação primitiva” (Marx). Só a dimensão mudou, com artilharia, gás venenoso e depois também aviões e tanques.
Frederich Engels escreveu perspicazmente em 1887: “Oito a dez milhões de soldados se exterminarão mutuamente e deixarão a Europa arrasada como nenhuma nuvem de gafanhotos seria capaz. As devastações da Guerra dos Trinta Anos condensadas em três ou quatro anos e espalhadas por todo o continente; fome, epidemia, barbárie geral de exércitos e de massas provocadas por puro desespero; caos completo em nossos negócios, comércio e indústria, terminando em bancarrota geral; colapso dos velhos Estados e da sua sabedoria tradicional, de tal forma que as coroas rolarão nas valetas às dúzias e não haverá ninguém disponível para recolhê-las; absoluta impossibilidade de antever onde tudo isto terminará e quem serão os vitoriosos nessa luta...” (MEW 21, p. 350 sg.).
Na discussão registada após a guerra, as análises e a literatura de justificação insistiram em atribuir ao adversário a culpa da eclosão da guerra. Depois, desde meados dos anos vinte, impôs-se afirmação de um “escorregamento” geral, mais no sentido de não haver culpa.
Também após a II Guerra Mundial a corporação alemã de historiadores se agarrou a esta ideia. Se já não se conseguia negar a culpa alemã na Segunda Guerra Mundial, negava-se pelo menos na Primeira. A honra de ter destroçado esta pandilha cabe a um historiador tradicional, nem sequer de esquerda: Fritz Fischer, que através do estudo das fontes, por exemplo dos diários de Riezler, pôs fim a este idílio nos anos sessenta com a análise significativamente entitulada Der Griff zur Weltmacht [A luta pelo poder mundial]. Quem ainda não conhece a obra de Fischer pode agora adquiri-la também em livro de bolso.
Desde então a discussão anda entre a maioria dos que negam a culpa alemã na guerra e uma minoria que a considera provada. Em 2012 o historiador australiano Christopher Clark reanimou a tese do “escorregamento” com a sua obra The Sleepwalkers [Sonâmbulos].
Vejamos agora as publicações surgidas no centenário:
Pode ser recomendada a análise abrangente de Volker Ulrich: Die nervöse Großmacht 1871-1918. Aufstieg und Untergang des deutschen Kaiserreichs [A grande potência nervosa 1871-1918. Ascensão e queda do Império Alemão] (Fischer TB 19784, Frankfurt a. M. 2013, 766 pags., 14,99 €), uma nova edição alargada da 1ª edição de 1997. Ulrich, que foi durante muitos anos responsável pela página de história do jornal DIE ZEIT e sempre apresentou trabalhos interessantes, escreveu uma análise excelente e exaustiva do Império Alemão, da sua fundação até ao colapso.
Sobre a situação geral da Europa nas vésperas da I Guerra Mundial, o historiador Philipp Blom, que vive em Viena, apresentou uma útil exposição de conjunto, cuja primeira edição remonta a 2009: Der taumelnde Kontinent, Europa 1900-1914 [O Continente Cambaleante. Europa 1900-1914] (dtv 34678, Deutscher Taschenbuch Verlag, München 2014, 528 pags., 14,90 €).
Com Der Erste Weltkrieg. Eine Kurze Geschischte [A I Guerra Mundial. História breve] (Reclam Verlg, Stuttgart 2014, 300 pags., 22,95 €), de Gerhard Henke-Bockschatz, fica bem servido quem pretender informar-se.
Há mais exposições curtas recomendáveis. Designadamente: Gerd Fesser, Deutschland und der Erste Weltkrieg [A Alemanha e a I Guerra Mundial] (PapyRossa Verlag, Köln, 2014, 123 pags., 9,90 €, uma exposição sucinta e consistente; Annika Mombauer: Die Julikrise. Europas Weg in der Erste Weltkrieg [A crise de Julho. O percurso da Europa na I Guerra Mundial] (BS 2528, Verlag C. H. Beck, München 2014, 128 pags., 8,95 €), bem como Gerd Krumeich: Der Erste Weltkrieg. Die 101 wichtigste Fragen [A I Guerra Mundial. As 101 questões mais importantes] (Beck-Paperback 7042, Verlar C. H. Beck, München 2014, 155 pags,. 10,95 €) com informações úteis. Finalmente surgiu em 5ª edição actualizada e alargada, de Volker Berghahn, Der Erste Weltkrieg [A I Guerra Mundial] (Beck Wissen 2312, Verlag C. H. Beck, München 2014, 110 pags., 8,95 €)
Com Schönheit und Schrecken [Beleza e terror] Peter Englund oferece “uma história da I Guerra Mundial contada em 19 destinos” (rororo TB 62623, Rowohlt TB-Verlag, Reinbeck b. Hamburg 2013, 701 pags., 14,99 €, 1ª ed. 2011)
Finalmente merece ser recomendado o esplêndido romance em quatro volumes de Alfred Döblin, apresentado agora numa edição de bolso no centenário da guerra: November 1918. Eine Deutsche Revolution: (1) Bürger und Soldaten; (2) Verratenes Volk; (3) Heimkehr der Fronttruppen; (4) Karl und Rosa [Novembro de 1918. Uma revolução alemã: (1) Cidadãos e soldados; (2) Povo atraiçoado; (3) Regresso a casa das tropas da frente; (4) Karl e Rosa] (Fischer TB 90468 a 90471, Fischer Verlag, Frankfurt a. M. 2013, 445/505/585/797 pags., 10,99/10,99/10,99/13/99 €).
Há que acrescentar que em Abril de 2014 saíu em tradução alemã a obra de 2003 de Hew Strachan: Der Erste Weltkrieg. Eine illustrierte Geschichte [A I Guerra Mundial. História ilustrada; original: The First World War: A New Illustrated History] (Goldmann TB 15397, Goldmann Verlag, München 2014, 447 pags,. 12,99 €). O livro, além de uma exposição baseada em fontes, inclui também mapas e as primeiras fotografias a cores do lado dos aliados ocidentais.
Original DER 1. WELTKRIEG Publicado na revista EXIT! Krise und Kritik der Warengesellschaft, nº 12 (11/2014), pag. 174-175, [EXIT! Crise e Crítica da Sociedade da Mercadoria, nº 12 (11/2014)], ISBN 978-3-89502-374-3, 192 p., 13 Euro, Editora: Horlemann Verlag, Heynstr. 28, 13187 Berlin, Deutschland, Tel +49-(0)30 49307639, E-mail: info@horlemann-verlag.de, http://www.horlemann.info/.