O TABU DA ABSTRACÇÃO NO FEMINISMO
Como se esquece o universal do patriarcado produtor de mercadorias
“A dignidade dela está em ser ignorada”
Jean-Jacques Rousseau
Introdução * Breve esboço da elaboração teórica feminista desde "68" * O problema da obsessão de auto-relativização no feminismo e a dissociação-valor como princípio fundamental do patriarcado produtor de mercadorias * O problema fundamental do relativismo e a inevitabilidade da abstracção dialecticamente mediada no contexto da crítica da dissociação e do valor * Auto-afirmação em vez de autonegação como pressuposto da auto-relativização * O patriarcado produtor de mercadorias esquecido * Bibliogafia
Introdução
Nos anos noventa a teoria feminista, agora transformada em teoria do género, sofreu uma mudança de paradigma: deixou de se denunciar a neutralidade sexual dos projectos teóricos e passou a focar-se a construção ou desconstrução da masculinidade e da feminilidade, abstraindo do facto de o homem ser simplesmente estabelecido como o universal nas concepções androcêntricas (que continuam a constituir o mainstream). A crítica feminista anterior tornou-se ela própria suspeita de reproduzir novamente a relação assimétrica de género justamente através da sua nomeação.
Até bem dentro dos anos oitenta, ainda procurámos afirmar-nos contrariando a tese de esquerda da contradição secundária (se bem que muitas vezes de modo problemático, a meu ver). As pesquisas queer e de género experimentaram então uma ascensão meteórica. Simultaneamente deu-se uma mudança de rumo para análises sociologicamente descritivas, cujas representantes projectam a imagem de seriedade particularmente científica com a descrição precisa de contradições, diferenças, ambivalências e desigualdades. Desde então qualquer esforço de conceito é acusado de inadmissível agravamento do “essencialismo” de modo no fundo mais ou menos inconsciente. Torna-se assim impossível a teorização e o questionamento necessariamente RADICAIS da relação hierárquica de género, que continua a dominar à escala mundial, mesmo na decadência do patriarcado produtor de mercadorias.
Breve esboço da elaboração teórica feminista desde "68"
Depois do arremesso de tomates de Helke Sander em 1968, que deve ter tornado claro para os camaradas homens que as mulheres não se limitavam a saber fazer café, constituiu-se um novo e amplo movimento de mulheres. Nos anos setenta a relação entre um patriarcado admitido à escala mundial e o capitalismo esteve no centro da elaboração teórica feminista. Neste contexto, tratou-se também da questão de saber se o trabalho doméstico criaria valor. Os debates sobre o assunto evidenciaram que tais hipóteses assentavam numa tacanhez economicista (cf. Beer, 1991, p. 47 sg.). Trabalho de casa, amor, educação das crianças, cuidar e assistir têm uma qualidade própria que não pode ser compreendida economicamente sem mais.
Desde meados dos anos setenta deram que falar os chamados “novos movimentos sociais” (movimento alternativo, das mulheres, ecológico, da paz). A política já antes era proclamada na primeira pessoa, na sequência do movimento de 68, mas agora por maioria de razão. Foram discutidos acaloradamente os postulados metódicos da pesquisa científica feminista das mulheres, então formulados por Maria Mies, cujo cerne reside no postulado da preocupação ou da parcialidade. Na discussão em torno da Casa das Mulheres de Colónia, as protagonistas ou cientistas feministas e as mulheres vítimas de violência foram declaradas atingidas e com os mesmos direitos, no sentido da investigação-acção (então em maré alta e não apenas no feminismo). Deste modo se deveria romper a relação sujeito-objecto científico (Mies, 1978). Na minha opinião, este ponto de vista da preocupação imediata, para o qual não existe verdadeiramente uma totalidade social de algum modo supra-individual (cf. também Beer, 1987a), no fundo não foi abandonado, mas sim traduzido na forma das teorias do ponto de vista, também sobre as situações (das mulheres) à escala internacional (para artigo síntese cf. Seifert, 1992, p. 257 sg.), mesmo se então se trata logo de insistir na objectividade científico-burguesa no contexto marxista (Beer, 1987).
Na Alemanha deram que falar sobretudo as mulheres do grupo de Bielefeld (Maria Mies, Veronika Bennholdt-Thomsen, Claudia von Werlhof). O conceito de dona de casa explorada foi por elas estendido também às colónias, à natureza e mesmo ao trabalhador assalariado despedido. A relação hierárquica de género tornou-se uma espécie de nova contradição principal. Em termos de prática política isso correspondia à divulgação de uma perspectiva de subsistência (Werlhof/Mies/Bennholdt-Thomsen, 1983), ou seja, a um “cuidar de si” em pequenos contextos razoáveis, na base das “qualidades femininas”. Um feminismo da diferença no sentido da diferença de género, em muitos aspectos problemático, desfrutou de uma posição hegemónica até bem dentro dos anos oitenta. O livro de Carol Gilligan In a different voice (Die andere Stimme na versão alemã) foi controversamente discutido; segundo ele verifica-se nas mulheres um sentimento de justiça diferente, directo, pessoal e concreto, ao contrário do sentimento de justiça estéril e abstracto dos homens (Gilligan, 1984). Nesse tempo também houve muitos debates sobre o matriarcado. No fim dos anos oitenta surgiram também muitos trabalhos e ensaios sobre o tema “filosofia feminista” no contexto de tal pensamento da diferença de género.
Por outro lado, começou também a desenvolver-se nos anos oitenta um debate sobre a relação entre classe e género que, ao contrário do grupo de Bielefeld, exigia uma elaboração teórica (marxista) séria. O género foi aqui elevado de modo sociologista a princípio estrutural, análogo ao princípio estrutural classe (cf. Beer, 1987b). De par com isso vinha já o discurso entretanto tornado hegemónico do género e da sua desconstrução que, em posição frontalmente contrária ao feminismo da diferença sexual e à sua denúncia da neutralidade sexual, erigiu como fundamento precisamente a inversa (des)contrução radical do género. As teorias de referência são desde então sobretudo a análise do discurso de Foucault, mas também abordagens interaccionistas e etnometodológicas, que continuam igualmente em alta.
Desde a segunda metade dos anos oitenta também o tema “diferenças entre mulheres” se divulgou, tendo sido proclamada uma dependência do género do contexto histórico e cultural. Supostamente eram as objecções das “outras” mulheres não brancas que coagiam o movimento de mulheres brancas à auto-limitação (cf. para uma crítica: Sommerbauer, 2003). Afinal com preocupação é que se entende bem. Gudrun-Axeli Knapp falou da “diferença esquecida” no fim dos anos oitenta (1988). No entanto pode supor-se que o próprio movimento ocidental das mulheres, na sequência de uma pluralização pós-moderna de projectos de vida baseados no consumo e de duvidosos direitos de participação alcançados, perdeu o interesse no seu tema em sentido estrito. A tematização da culpa ou cumplicidade das mulheres, que ocorreu na Alemanha na segunda metade dos anos oitenta não em último lugar relativamente ao nacional-socialismo, foi assim apenas um estádio passageiro para a moderação do género auto-administrada e de uma irrelevância ostensiva. É assim que recentemente não por acaso dão que falar as chamadas meninas alfa (criticadas pelo feminismo do género talvez porque também trazem este à reconhecibilidade), as quais problematizam a relação de género apenas do ponto de vista do interesse particular imanente (cf., por ex., Haaf/Klingner/Streidl, 2008). Deste modo particular e insignificante procuram assim as mulheres conseguir uma patética universalidade imanente, alinhando na dança de roda da concorrência capitalista.
De facto deveria ser entretanto atribuído às mulheres no período seguinte um papel reforçado de administradoras de crises e de “mulheres dos escombros”, de modo a torná-las simultaneamente responsáveis pelo dinheiro e pela sobrevivência; seja no plano inferior, como promotoras de grupos de ajuda e não só no chamado terceiro mundo, seja na economia e na política, campos em que nolens volens lhes são dirigidos cumprimentos pelo seu tipo de governamentalidade, tanto no nível inferior como no superior, agora que a ordem capitalista masculina está a desconjuntar-se (cf. Scholz, 2000). Poderia interpretar-se esta tendência no sentido de uma “revolução passiva”, na expressão de Frigga Haug com referência a Gramsci e tendo em conta as relações de género pós-modernas (Haug, 2009, p. 404). Desde o crash financeiro de 2008 cresceu de modo particularmente suspeito o apelo á participação das mulheres no poder e à imposição legal de quotas; suspeito no sentido de atribuição de capacidades “femininas” de co-gestão “altruísta” de crises, mesmo fora dos estereótipos de género tradicionais.
Com o começo da década de 2000 reforçou-se o tema da “interseccionalidade”, isto é, da relação sobretudo de “raça”, classe, género, bem como da incapacidade e da velhice. Assim, reconheceu-se entretanto a relevância de outras determinantes; o fundo continua a ser portanto a preocupação, a identidade, a ligação à localização social e cultural, que agora no entanto é tratada num plano meso da estrutura sociológica. Assim, em Gudrun Axeli-Knapp, que não por acaso desempenha um papel significativo na paisagem do feminismo sociologista por cá, a sociedade surge, numa interpretação particular de Adorno, de modo reducionista e sociologista como mero conceito relacional, como contexto de entrelaçamento histórico, como relação recíproca de esferas sociais (economia, política, ciência, privacidade); ou seja, no fundo despida de qualquer princípio essencial e formal abrangente (ver Knapp, 2008, particularmente p. 141 sg.). Uma crítica fundamental do capitalismo e do patriarcado é assim mudada para um entendimento da sociedade sociologicamente minimizador, de oposição apenas aparente, porque no fundamental compatível com as piores situações.
Apenas a partir da segunda metade da década de 2000 ocorreu também de novo uma certa reflexão sobre a relação de género fundamental no contexto da crítica do capitalismo, o que poderá dever-se a um agravamento da situação social e neste contexto também a um certo renascimento de Marx, na senda do desabar da crise massivamente nos últimos anos. “Mulheres, pensai economicamente” (Nancy Fraser) e outras palavras de ordem semelhantes foram desde então proferidas. Mesmo nos círculos queer gostar-se-ia agora (a meu ver de forma simplista) de redescobrir a antiga tematização da relação entre as esferas da produção e da reprodução para a definição teórica da relação hierárquica de género (vd., por ex., Winker, 2007). No entanto um pensamento em contradições, ambivalências, diferenças, particularidades etc. continua a dominar agora como antes o discurso do feminismo teórico, mesmo no interior desta reflexão. Se olharmos a sua história mais recente, o feminismo parece doido precisamente pelo detalhado, pelo individual e pelo particular, muito longe de reconhecer a relação hierárquica de género como princípio social fundamental no nível de abstracção apropriado.
O problema da obsessão de auto-relativização no feminismo e a dissociação-valor como princípio fundamental do patriarcado produtor de mercadorias
É elucidativo pôr tais tendências e esta viragem que se tornou visível desde o início dos anos noventa em ligação como a ascensão do neoliberalismo e o colapso do bloco de leste. Marx foi então considerado definitivamente arrumado, as grandes teorias foram em geral postas em questão. Nos círculos pós-modernos e nos correspondentes empreendimentos científicos invoca-se sobretudo teorias pós-estruturalistas, com Foucault no topo quase sem concorrência. O processo da globalização parecia além disso tornar quase inevitáveis as indecisas conceptualidades trans- ou entre- – o que supostamente até transparece no plano das manifestações sociais superficiais. Poderia ser também considerado neste contexto o desaparecimento da filosofia feminista antes de ter sequer entrado propriamente na ordem do dia e, portanto, o fim da sua pretensão de confrontar a teoria social, a história intelectual, a teoria do conhecimento, a estética etc. com a relação hierárquica de género e, sobretudo, antes de tornar patentes os padrões androcênticos do pensamento escondidos (Nagel-Docekal, 2000, p. 13 sgs.).
Além disso, na sequência das tendências de individualização pós-modernas, para alguns a questão do género apresentava-se tão bem resolvida nos anos noventa que tal exigência era considerada obsoleta. Mesmo se eram sobretudo as mulheres que continuavam a ser responsáveis pelas actividades da reprodução, no entanto elas foram sendo progressivamente integradas no domínio profissional, o seu nível de escolaridade equiparou-se ao dos homens, surgiram oportunidades de carreira pelo menos nos níveis intermédios, o que levou a que as ideias tradicionais de feminilidade fossem sentidas como um desaforo. Eu não sou isto! Também esse sentimento se deveria tornar uma fonte para o nascimento do desconstrutivismo – assim se pôde argumentar de certa maneira em termos de sociologia da ciência, ou seja, a partir de uma posição a cuja tacanhez voltarei. Simultaneamente avançavam homens parcialmente entendidos em género e compreensivos com as feministas, que pareciam tomar isso a sério.
Penso todavia que tais tendências sociais e os correspondentes sentimentos não são suficientes para conseguir esclarecer porque foram desperdiçadas tão prontamente e com tão boa vontade as oportunidades, talvez pela primeira vez na história, de esclarecer teoricamente do lado feminista a relação hierárquica de género, e porque foi sentida já quase como solução a absorção da teoria do discurso ou da linguagem. A relação hierárquica de género, enquanto meramente construída, pôde então ser exonerada da sua posição central e foi considerada apenas como uma entre muitas relações de desigualdade. Aqui, precisamente na hipótese de uma pura construção do género, se viu também que as mulheres tinham uma queda para as pequenas coisas, para o detalhe, a diferença etc. o que já antes se tinha visto no favorecimento dos conceitos de subsistência. Na síntese de Barrett/Phillips, no início dos anos noventa: “No ataque arrebatador aos modelos falsamente universalizantes, hiper-generalizantes e hiper-ambiciosos do liberalismo, do humanismo e do marxismo, muitas feministas viraram-se decididamente para os projectos de crítica pós-estruturalista e pós-moderna. No contexto deste entendimento muitas feministas decidiram-se pela análise do local, do específico e do particular” (Barrett/Phillips, cit. por Sommerbauer, 2003, p. 38).
Mas é nisso mesmo que se revela fatalmente uma estrutura de pensamento que já no século XVIII foi imputada às mulheres, supostamente menos inteligentes, a partir do ponto de vista de um universalismo androcêntrico. Assim escrevia o barão iluminista Knigge em 1788: “Exijo duma dama esprit de détail (!)… tolerância, transigência e paciência” (Knigge, 2009, p. 159 sg.). A tendência para o específico e para o particular, para o detalhe sem “pretensão de generalidade”, deveria pois ornamentar a feminilidade no sentido de “transigência e paciência”. Em 1890, portanto um século depois, George Simmel (e não só ele) confirmou de forma consideravelmente mais elaborada a Psicologia da Mulher: “Onde…não é possível conseguir entender e ganhar interesse por um ideal sem mais elevada abstracção autónoma, as mulheres falham no entendimento e no interesse, seja na ciência, nos ideais políticos mais altos, ou naquela moralidade que ignora o próximo e o pormenor para tratar dum âmbito mais vasto” (Simmel, 1985a, p. 42). E ele constata ainda: “As mulheres também (conseguem) melhor acomodar-se a meias relações, relações indecisas, possivelmente em mais profunda conexão com a qualidade da sua razão teórica, gostam de arranjar-se sem conceitos rigorosos e claramente definidos. Um estado tão indeciso e consistindo apenas em transição, como o noivado, que o homem na melhor das hipóteses considera insatisfatório e incómodo, procurando abreviá-lo o mais possível, é para a jovem em regra pleno de felicidade, conseguindo ela adaptar-se com toda a sua alma a essa situação de meio-termo” (Simmel, 1985a, p. 44 sg.).
Knapp/Wetterer descrevem a paisagem feminista no início da década de 2000 precisamente no sentido destas “relações meio indecisas”: “A controvérsia com as implicações normativas da crítica feminista, em que tinham sido generalizadas as experiências mais frequentes de determinados grupos de mulheres (mulheres brancas heterossexuais de classe média), desencadeou uma dinâmica de reflexividade na discussão feminista internacional que procura algo idêntico noutros domínios das ciências humanas e sociais: quem reclama a partir de onde falar por quem na base de que experiências? De que maneira a situação social marca a percepção do mundo? O que se pode generalizar e por que razões?... A espargata extrema entre a crítica da política normativa e a reflexividade auto-crítica feita actualmente pela teoria feminista equivale a uma prova de fogo. Vista em termos positivos, ela fundamenta no entanto a oportunidade de futuramente se conseguir manter vivo, se possível, o valor cultural-científico e social dessa anterior constelação no posterior trabalho relacionado com a diferença e a desigualdade… O ‘nós’ contido em perspectiva na pretensão feminista supõe horizontes de problemas diferentes que têm de ser repetidamente diferenciados, concretizados, relacionados, relativizados e redefinidos no processamento da desigualdade e da diferença” (Knapp/Wetterer, 2001, p. 11).
Simmel foi frequentemente acusado no feminismo e com razão de “essencialismo” e da reprodução das relações tradicionais de género. No entanto não se pode deixar de constatar perante o desenvolvimento das últimas décadas que o próprio feminismo está profundamente preso a tais estruturas. O pensamento feminino da diferença repetidamente atribuído pelo universalismo androcêntrico dominante reproduz-se mais uma vez na pós-modernidade e justamente na desconstrução da feminilidade. Este pensamento pensa em “muitas mulheres” e até mesmo em “muitos géneros”; até chegar às identidades transexuais nos contextos feministas queer.
Poderá parecer completamente errado e até mesmo grotesco atribuir precisamente a Judith Butler uma espécie de “persistência no noivado”; mas, se virmos bem, ela não só se sente bem no noivado de Simmel, mas é mesmo A teórica do noivado em si, entendido como símbolo da ontologização da posição intermédia do género nas teorias queer e de género. Esta paixão pela “posição intermédia” e o ressentimento contra “conceitos rigorosos e claramente definidos”, que Simmel considera um estado de espírito fundamental das mulheres, são expostos louvavelmente com toda a clareza quando Christina Thürmer-Rohr formula recentemente o pensamento fundamental essencial das teorias de género e queer no sentido de Butler: “A teoria desconstrutivista dos géneros não só recusa a ordem sexual bipolar, mas desanca em todas as categorias consolidadas como ‘masculino’, ‘feminina’, ‘lésbica’, ‘homossexual’, ‘heterossexual’, ‘bissexual’ etc., colocando-se portanto transversalmente a todas as classificações fixadas no padrão da heteronormatividade. O potencial crítico reside no facto de dar idêntico valor às diferentes formas de vida e de tomar a sério o ‘género’ na sua pluralidade e ambiguidade”. Um tal “pensamento (significa) fazer sempre uma ‘nova tentativa’, ser sempre incompleto, especulativo e correr riscos” e ter de “começar repetidamente do princípio”: “Assim poder-se-ia também entender a teoria queer, a mais provocante variante do discurso sobre o género que frequentemente é conservador, como um projecto anti-totalitário, que pretende juntar pluralidade e igualdade… Ele provoca… a defesa do princípio de que não conhecemos nem pretendemos um ‘acesso privilegiado à verdade’… Nos pontos de vista da descategorização (!) não se trata de um ‘terceiro sexo’, mas sim de desistir do pensamento em grandes categorias em geral e de conceber a posição intermédia como ‘mais valia’ e não como defeito” (Thürmer-Rohr, 2008, p. 54 sg.). Será de notar: deve em geral ser posto em questão um pensamento em grandes categorias, e este é equiparado de modo fenomenologicamente reducionista com as categorizações sexuais! Como se a própria Thürmer-Rohr não tivesse já criticado ofensivamente a focagem do pensamento feminista no detalhado e na proximidade (cf., por ex., Thürmer-Rohr, 1994), ela parece agora querer seguir a atribuição de Simmel, na adaptação à pós-modernidade.
Entretanto até se procura puxar esta situação intermédia, esta “mais-valia” (como se “mais-valia” não fosse já uma categoria problemática) mesmo para o plano das ciências naturais e biológicas a fim de emprestar dignidade a tal pensamento. Assim acontece por exemplo no livro de Heins-Jürgen Voß Making sex revisited. Desconstrução do sexo do ponto de vista médico-biológico, de momento extremamente popular nos círculos feministas queer – como se justamente a biologia, como suporte das ciências sociais, não tivesse já constituído sempre a legitimação do poder; como se pode ver justamente nas ideias modernas de masculinidade e de feminilidade (cf., por ex., Honegger, 1991). Uma questionável necessidade de “fundamentação” nas ciências naturais gostaria assim de conferir seriedade às coerções pós-modernas camufladas de liberdade.
Mesmo se hoje as mulheres estão equiparadas aos homens na escolaridade, ou se em parte até atingem uma formação superior (não em último lugar uma acrobacia do pensamento feminista pós-estruturalista, que não por acaso no entanto vem murchando nos últimos tempos, exige algo no trabalho sociológico de abstracção), a teoria feminista no entanto desemboca sobretudo em meras descrições de diferencialidades, relacionalidades, “localidades” etc. e permanece obviamente de todo incapaz de apreender a própria relação hierárquica de género in abstracto. Se já Rousseau no capítulo significativamente curto sobre Sofia do Émile escreveu “A dignidade dela (ou seja, da mulher – R.S.) está em ser ignorada” (Rousseau, 1986, p. 819), uma frase que não por acaso constitui o mote do meu texto, essa “dignidade” parece ter de traduzir-se na renúncia a apreender O CONCEITO FUNDAMENTAL da relação assimétrica de género.
Uma vez que as mulheres há muito provaram, contra as velhas ideologias patriarcais, que são por princípio muito bem capazes do pensamento abstracto, a incapacidade, ou melhor, a relutância tem de residir em algo diferente da mera falta de capacidade de abstracção e tem de estar ancorada nas profundas estruturas patriarcais da socialização da dissociação e do valor, segundo as quais as mulheres devem ser responsáveis em primeiro lugar pelas actividades de reprodução, pelo amor, pela assistência, pelo cuidar e proteger na proximidade, devendo os homens, pelo contrário, ser responsáveis em primeiro lugar pelo trabalho abstracto, pela produção de valor, pela economia e pela política em geral.
Os momentos da reprodução que não podem ou só dificilmente podem ser representados em trabalho abstracto e mais-valia/dinheiro, sendo no entanto necessários, foram dissociados da socialidade oficial, banidos para o concreto imediato incapaz da generalidade e historicamente delegados nas mulheres. E nada de essencial se modifica nesta relação fundamental se as mulheres se ligam à esfera do trabalho abstracto ou da produção de valor sem perderem a atribuição do dissociado. Por isso a dissociação também não se localiza num domínio especial do que é próximo, do que é privado, pelo contrário, ela própria constitui um princípio geral, como tal não designado, que atravessa todas as esferas. Por isso ela também participa na mudança e deve ser concebida como processo histórico, de tal modo que ela assume faces diferentes nas diferentes épocas do desenvolvimento capitalista e portanto também na pós-modernidade, quando, por exemplo, as ideias tradicionais dos papéis sociais perdem força. No entanto a dissociação mantém-se como princípio através da mudança; é o caso da concentração da actividade profissional feminina na esfera da assistência, do pior pagamento às mulheres mesmo nos domínios profissionais não conotados como femininos etc. Assim se mostra que trabalho abstracto ou mais-valia e dissociação sexual estão numa relação dialéctica recíproca, que tem de ser teorizada como princípio da dissociação-valor fundamental e abrangente; apesar de toda a mudança e de todas as diferenciações, que só podem ser esclarecidas tendo como pano de fundo esta conceptualidade fundamental.
A fundamentalidade da relação de dissociação-valor mostra-se precisamente no facto de para ela não haver qualquer correspondente conceito fundamental e geral. Pois, como as esferas públicas gerais da economia, da política e da ciência são conotadas como “masculinas”, esta atribuição reproduz-se no entendimento da teoria como tal, devendo os homens em princípio ser também responsáveis pelo “império do conceito”. E tal como a dissociação se mostra, mesmo estando as mulheres já sempre na esfera pública, o mesmo se aplica à teoria e ao desenvolvimento conceptual: também mesmo na própria elaboração teórica, por assim dizer, apenas a teorização do insusceptível de generalidade é atribuída às mulheres e por elas assumida com manifesto apreço. E também neste sentido, na reprodução teórica da responsabilidade prática pelas actividades dissociadas da reprodução, elas são de certo modo identificadas com o cuidar, tal como até em privado e no sector financeiro lhes seriam reembolsados essencialmente créditos de confiança. Elas parecem assim mais apropriadas que os homens para a gestão da crise num capitalismo em decadência, na medida em que recusam conceptualmente a “universalidade abstracta” (Marx) e por isso também falham a sua crítica precisamente no que diz respeito à relação de género.
Mesmo em contextos históricos modificados, a essência da dissociação-valor surge assim prática e teoricamente, e tem de ser nomeada, precisamente se a actual forma de manifestação não deve ser negligenciada. Pois juntamente com a referência temporal seria negada a verdade da “essência” enquanto processo, o qual no entanto terá de ser definido apenas se com ele conseguir construir-se uma referência temporal. Neste contexto também poderia tematizar-se detalhadamente um inconsciente socialmente androcêntrico em sentido psicossocial, nomeadamente na medida em que ele na sua estrutura profunda possibilita hoje relações capitalistas patriarcais, mesmo em forma modificada. Não posso aqui alongar-me sobre isso, mas a tematização deste problema continua a ser um desiderato. Pois a investigação mais precisa de tal inconsciente social poderia perfeitamente explicar porque se pode também constatar no feminismo até hoje essa tendência para o particular e para o detalhado, e porque se procura de preferência evitar a problematização das grandes estruturas abrangentes, mesmo até relativamente à própria relação hierárquica de género. No caso é estranha também a predilecção feminista por pensadores (masculinos) como teóricos de referência que por sua vez prestam homenagem às diferenças, às contradições, ao particular etc., fundamentando no entanto esta mesma orientação de modo geral e universalista; mesmo tendo como pano de fundo a linguagem e o discurso nas orientações pós-estruturalistas.
Assim parece-me também que a leitura (crítica) de Simmel é muito mais elucidativa para a análise do carácter patriarcal da modernidade do que a leitura de Butler, que simplesmente está submetida à própria estrutura constatada por Simmel, ainda que essa estrutura também possa ser formulada por ele de modo questionável, como quase ontológica. No entanto a historicização crítica da atribuição de certo modo naturalizada feita por Simmel só é possível tomando a sério o “desaforo da universalidade” de uma estrutura profundamente colocada que vai até ao inconsciente e virando-a contra a afirmação da referida atribuição, em vez de a escamotear, justamente assim a reproduzindo simplesmente.
O problema fundamental do relativismo e a inevitabilidade da abstracção dialecticamente mediada no contexto da crítica da dissociação e do valor
A perspectiva limitada do pequenino favorecida por grande parte do feminismo impede que se veja que as sociedades são quase sempre constituídas com hierarquia de género pelo menos desde a modernidade. Como era antes, será incerto; ainda que se conheçam algumas sociedades que provam que não tem de ser sempre assim e que a dominação masculina não representa qualquer constante antropológica (cf. Arbeitsgruppe Ethnologie Wien, 1989, p. 15).
Até os esboços construtivistas constatam repetidamente que a relação de género teria de ser examinada na sua “infinita variedade e monótona semelhança” (assim, por ex., Gildemeister/Wetterer com recurso a Gayle Rubin, 1992, p. 217). Em vez disso parece que se entendeu tematizar apenas a “infinita variedade”, sem querer sequer ver a generalidade, que é a única que faz a “variedade”. Decisivo é, portanto, agarrar o patriarcado produtor de mercadorias como tal no seu carácter mundial; e desde logo independentemente da hipostasiação das diferenças culturais que se pode verificar frequentemente no feminismo. Caso contrário, tornada a-conceptual essa “monotonia”, em todo o caso constatada inconsequentemente, ela ameaça ajudar uma furtiva hipótese de relações de género concebidas no fundo antropologicamente.
Com isto não pretendo de modo nenhum contestar diferenças de qualquer espécie; mas estas só podem ser definidas quando está claro em relação a que estrutura geral da lógica da formação histórica elas ocorrem. Mas, se se trata do plano estrutural, no feminismo atinge-se quando muito apenas até ao plano meso de cruzamentos e sobreposições sociológicas, perante o pano de fundo de uma vaga ideia de sociedade meramente “relacional”, por exemplo nos conceitos da interseccionalidade, como o nome já indica. O todo não tem mais qualquer conceito, e muito menos no que respeita à relação de género. No fundo, fica-se preso no ponto de partida da “teoria do ponto de vista”, que agora só pode ser melhorado indo do plano da identidade imediata para o plano da conceptualidade sociológica. Partindo de tais hipóteses da lógica do posicionamento, qualquer posição tem então igual direito, deixando de se ter em conta a totalidade social.
O fundamento epistémico deste pensamento é no fundo o da sociologia da ciência, que teve grande expansão na Alemanha no início do século XX; já então perante a falha das ideias do marxismo vulgar. A hipótese fundamental da sociologia da ciência era também de que a verdade seria sempre relativa, porque sempre fundamentada na “lógica do ponto de vista”. O universal abrangente deveria então ser salvo de modo a-histórico e ideologicamente soprado, através do embutir das diferenças na corrente ontológica da cultura, da “vida”, afinal então sobretudo através da “comunidade do povo alemão” como razão de fundo (para uma perspectiva sobre isto vide Lenk, 1972). As implicações especificamente alemãs no período entre guerras poderão hoje ser rejeitadas com horror, no entanto o ancoramento epistémico no relativismo ou nas diferenças de ponto de vista, por um lado, e no culturalismo ou modelos de filosofia da vida, por outro, é perfeitamente semelhante, ainda que não se queira reconhecer ou admitir o parentesco.
Tais posições também no feminismo foram ocasionalmente combatidas, embora cada vez mais raramente de há muito tempo para cá. Assim escreve Cornelia Klinger: “Sem a correcção filosófica, a situação incontestavelmente necessária do local da ciência e do conhecimento seria levada ao absurdo pela sua absolutização. Em vez de situação tratar-se-ia de uma prisão sem saída, onde de resto se perderia precisamente o que é habitualmente considerado como supremacia da ideia do saber situado face ao ‘view from nowhere’, nomeadamente o reconhecimento da relatividade da própria posição” (Klinger, 1998, p. 251).
No entanto já Adorno (com quem Klinger de certa maneira também gostaria de se ligar) achava tal crítica, que também se encontra relativamente a uma sociologia da ciência tradicional, antes de mais “pobre”, na sua argumentação na lógica formal. Ele fez notar que a crítica meramente formal do relativismo confunde “… a negação universal de um princípio com a sua própria elevação a afirmação, sem levar em conta a diferença específica da importância de cada caso. Talvez fosse mais fecundo reconhecer o relativismo como uma figura limitada da consciência. De início a consciência assume a figura do individualismo burguês, que considera a consciência individual mediada por sua parte como algo derradeiro, e por isso atribui às opiniões de cada um dos indivíduos particulares o mesmo direito, como se não houvesse nenhum critério de verdade… No entanto o relativismo é nulo, porque aquilo que ele toma de um lado por arbitrário e contingente e de outro lado por irredutível emerge ele mesmo da objectividade – justamente da objectividade de uma sociedade individualista – e precisa ser deduzido enquanto aparência socialmente necessária. Os modos de reacção que segundo uma doutrina relativista são peculiares de cada indivíduo são pré-formados, quase sempre um balir; em particular o estereótipo da relatividade… À tese abstracta da condicionalidade de todo o pensamento é preciso lembrar concretamente a sua própria condicionalidade, a ofuscação em relação ao momento supra-individual pelo qual apenas a consciência individual se torna pensamento. Por detrás dessa tese encontra-se o desprezo do espírito em favor do predomínio das relações materiais como a única coisa que conta aí (Adorno, 1966, p. 46 [2009, p. 38]). Que por exemplo Pareto associe a mesma perspectiva relativista a interesses de grupo e que Mannheim propagandeie a supremacia de uma “inteligência em flutuação livre” perante o pano de fundo da “limitação existencial” dos diferentes pontos de vista não constitui qualquer problema adicional para Adorno: “Na verdade as perspectivas divergentes possuem sua lei na estrutura do processo social como uma totalidade pré-ordenada” (Adorno, 1966, p. 47 [2009, p. 39]). E é precisamente neste contexto que o definido historicamente é obnubilado pela sociologia da ciência. As maneiras de ver da sociologia da ciência tradicional e pós-modernas/pós-estruturalistas têm obviamente múltiplos pontos comuns, não podendo eu aqui abordar as diferenças; em todo o caso este ponto de vista relativizador parece repetir-se também no feminismo, no discurso sobre diferentes mulheres, grupos de mulheres e situações de mulheres, justamente agora e mesmo à escala internacional. Também aqui se considera que a verdade estará sempre em suspenso e será sempre relativa.
Obviamente que também o próprio Adorno, apesar da sua justa crítica não meramente formal ao relativismo, permanece ainda preso num pensamento androcêntrico. Vendo bem, no caso dele trata-se do indivíduo masculino nos centros capitalistas que na doutrina relativista esquece que a sua própria universalidade também é constituída androcentricamente. A relação dialéctica desta com o feminino dissociado deveria ser conceptualmente determinada ao nível de abstracção do todo social. Mas uma ideologia feminista da localização, pelo contrário, de tal modo se imagina o mais longe possível do universalismo androcêntrico que propaga com ingénua alegria feminista um relativismo supostamente descoberto virgem, mas que ele próprio está ancorado no pensamento androcêntrico (historicamente na sociologia da ciência).
Tal como o “momento supra-individual” de que fala Adorno, seria assim de fazer valer a dissociação-valor como princípio social fundamental, de certo modo como a mais elevada abstracção, mesmo se a teoria da dissociação e do valor por mim representada (vd. Scholz, 2000) bem que possui um determinado entendimento efectivamente diferente, no sentido de ter de se limitar a si mesma, questão a que também voltarei. Mas em vez disso parece-me que, precisamente no feminismo como talvez em mais lado nenhum, está a ser cuidado, assistido e celebrado um pensamento relativista da diferença incapaz da crítica decisiva.
A crítica da dissociação e do valor seguramente que tem um dos seus pressupostos não em último lugar na teoria crítica de Adorno. No entanto não pode contentar-se com ela. Aqui surge um paradoxo fundamental se a relação hierárquica de género como tal deve ser tematizada. A teoria feminista, no que respeita à sua autolegitimação teórica e científica, é em primeiro lugar obrigada a recorrer a elaborações conceptuais androcêntricas. Uma vez que o feminino, a relação de género, desde o iluminismo que é determinado como o “outro da teoria” e portanto necessariamente que não surge, tem de ser ele próprio tematizado como princípio social fundamental num alto nível de abstracção, como procura fazer a teoria da dissociação e do valor. Só assim a verdade desta determinação não fica para trás, mesmo se leva consigo a sua inverdade, por ser simultaneamente formulada como universalidade androcêntrica. Mas seria completamente erróneo perante este problema do universalismo cair demasiado apressadamente no particular, no detalhado, nas diferenças, no “concreto” e na “praxis da vida plena”, o que já sempre coube ideologicamente às mulheres, como suposta origem do ser no patriarcado produtor de mercadorias. Só ao mesmo nível de abstracção da elaboração conceptual dominante a crítica da dissociação e do valor se consegue articular com seriedade e só neste metaplano ela consegue trazer à universalidade abstracta fechada em si uma correcção estranha ao pensamento androcentricamente universalista.
Auto-afirmação em vez de autonegação como pressuposto da auto-relativização
Mas, como se viu, de momento mantém-se no feminismo um enorme receio de problematizar a relação hierárquica de género no nível de abstracção adequado. Em vez disso faz-se uma grande reverência perante o empreendimento académico e um desvio para a pesquisa de género supostamente com seriedade científica mas insignificante como teoria social, pesquisa de género que entretanto ela própria ameaça esgotar-se e não incomoda verdadeiramente ninguém. Nesta situação o (pós-)feminismo consegue, como quem não quer a coisa, “estar presente” de certa maneira sem problemas, ofuscado pela “grande luminosidade”, ou seja, pela múltipla visibilidade de mulheres hoje, no sentido do baile de máscaras pós-moderno, que se limita a simular uma liberdade feminina; como diz McRobbie recorrendo a Deleuze (MacRobbie, 2010, 99). Ao que corresponde simultaneamente a tendência para tornar de novo invisível o problema fundamental da relação assimétrica de género. Um ponto de vista no feminismo que continuamente recorre em primeiro lugar a diferenças, ambivalências, particularidades, localidades etc. não só ajuda tais tendências, mas estas exprimem-se justamente através dele. Nesse sentido não devia verdadeiramente surpreender que se faça notar uma tendência para a eliminação do feminismo e da própria temática do género, como está à vista por exemplo no Institut für Sozialpsychologie de Hannover; mas também numa indiferença geral perante os resultados da pesquisa de género, por exemplo na sociologia das organizações (vd. Aulenbacher, Fleig, Riegraf, 2010).
Tendo em mente uma perspectiva emancipatória que vá mais longe, tem portanto de se recusar que se desista conceptualmente do princípio fundamental da relação hierárquica de género e que o mesmo se torne difuso em relativizações. Este ponto de vista hoje dominante deve ser revertido. Pois a esfera do feminismo, já sempre extremamente marginal, corre o risco de se decompor internamente com a afirmação precipitada e teoricamente insuficiente de que não poderia fundamentar-se a si mesmo de modo válido para todos e universalista, porque as mulheres e as circunstâncias no mundo são sempre “muitas”. Contra isso seria de erguer a afirmação da relação de dissociação-valor como princípio base que, como relação abrangente e socialmente concebida, representa para o capitalismo uma grandeza abstracta histórica específica em geral, cuja universalidade não pode ser apreendida numa dimensão biologística-antropológica.
Mas o conceito em si fechado de totalidade e de generalidade do universalismo androcêntrico é quebrado no próprio plano geral com o conceito de dissociação-valor, de tal maneira que este princípio teórico não só consegue desde logo aceder às diferenças (e seu posicionamento hierárquico), às particularidades que não são produzidas numa mera “relação de derivação”, mas é mesmo obrigado a tê-las em conta a partir de si mesmo. Apenas de tal modo consegue a teoria crítica da dissociação e do valor aceder ao seu necessário autodesmentido interno, como um universal que radica necessariamente no pensamento conceptual androcêntrico, sem se tornar ela própria “falsa” e “inverídica” na sua universalidade (negativa), que no entanto deve ser mantida. E só perante este pano de fundo é possível a sua auto-relativização, enquanto formulação fundamental de um paradoxo; mas ela própria imprescindível num plano de grande conceito, o que significa de facto que ela consegue simultaneamente acompanhar em termos materiais e de conteúdo na sua qualidade própria o “concreto” e o particular, o chamado plano micro, tal como a análise crítica do já referido posicionamento hierárquico das diferenças (o que nas palavras da sociologia é tratado com as expressões “Perspectivas da diferença e perspectivas da desigualdade” – numa vista geral: Lindner, 2010, p. 182 sg.).
Trata-se portanto da reformulação feminista da dialéctica negativa de Adorno, que ele próprio para começar apenas pôde formular a sua crítica de modo androcentricamente universal, sendo verdade que ainda meteu a relação de género no meio da Dialéctica do iluminismo, por exemplo, mas apenas descritivamente. Agora é precisamente a própria dissociação-valor que pode ser pensada como a mais elevada abstracção. A teoria crítica da dissociação e do valor, no entanto, enquanto crítica imanente do universalismo androcêntrico, que ela defronta no seu próprio nível de abstracção sem simplesmente o reproduzir, está obrigada a “pensar contra si mesma” neste sentido aconteça o que acontecer, para poder ser ela própria e assim ir além de si mesma em mediação dialéctica NEGATIVA. NISTO ela está mais uma vez em unidade com Adorno quando ele escreve: “A teoria de uma segunda natureza, já tingida criticamente em Hegel, não se perdeu para uma dialéctica negativa. Ela assume a imediatidade não-mediada, as formações que a sociedade e o seu desenvolvimento apresentam para o pensamento, tel quel, para libertar por meio de análise suas mediações segundo a medida da diferença imanente dos fenómenos em relação àquilo que eles pretendem ser a partir de si mesmos” (Adorno, 1966, p. 48 [2009, p. 40]). Por conseguinte é igualmente válido que: “Na medida em que a lógica hegeliana já tem sempre a ver com o medium do conceito e ela mesma só reflecte de maneira universal sobre a relação do conceito com o seu conteúdo, o elemento não conceptual, ela já está anteriormente assegurada da absolutidade do conceito que ela se compromete a demonstrar. No entanto, quanto mais criticamente se compreende a autonomia da subjectividade, quanto mais ela se torna consciente de si enquanto algo por sua parte mediatizado, tanto mais imperativa se torna a obrigação do pensamento de confrontar-se com aquilo que lhe proporciona a firmeza que não possui em si mesmo. De outro modo não haveria nem mesmo aquela dinâmica com a qual a dialéctica movimenta o peso daquilo que é firme. Não se deve recusar pura e simplesmente toda experiência que se apresenta de maneira primária” (Adorno, 1966, p. 49 [2009, p. 41]). No entanto, por maioria de razão é válido que a própria imediatidade deve ser concebida como mediada: “Para a dialéctica, a imediatidade não permanece como aquilo pelo que ela se apresenta imediatamente. Ela se transforma em momento ao invés de ser fundamento” (Adorno, 1966, p. 50 [2009, p. 41]).
Este modo de proceder está de resto ligado a uma des-hierarquização entre o plano da forma geral e a superfície empírica. Porém, quando não se elimina o plano da forma geral, mas se insiste na mediação entre os dois, também ambos têm a sua justificação, tal como por outro lado não podem ambos ser postos como um só, sendo um substituído pelo outro (cf. Scholz, 2009). Isto é tanto mais válido quanto a teoria crítica da dissociação e do valor além disso já não pode assegurar o “velho” estatuto androcêntrico do sujeito. Assim vistas, também as diferenças e o correspondente efeito cumulativo relativamente a “raça”, classe, género, homofobia etc. têm lugar no plano micro identitário, bem como num plano meso sociológico; pressupondo-se, no entanto, que são vistas perante o pano de fundo desta mediação em conexão com o contexto total, o qual também tem de ser conceptualmente definido como tal. Por isso a crítica da dissociação e do valor já por si tem sempre de satisfazer os protestos em referência às particularidades do sexismo, do racismo, do anti-semitismo e das disparidades económicas (ver sobre isto detalhadamente Scholz, 2005).
Assim, o contexto da dissociação-valor não deve ser entendido como mero conceito sociologicamente limitado, no sentido da estrita relação de género, mas sim como um contexto global já sempre abrangente e determinando o todo social, que simultaneamente, sendo em si quebrado, não pode ser outra vez uma nova contradição principal no sentido anterior; à semelhança, por exemplo, da correspondente conceptualidade do marxismo do movimento operário. Precisamente por isso, hoje, no fim da era da hipostasiação da diferença e da relação, trata-se antes de mais de tematizar novamente a dissociação-valor como princípio social fundamental; e bem que para lá de qualquer instrumentalização do geral por um entendimento redutor a favor dos interesses de classe média branca no feminismo, uma vez que a teoria não mais androcentricamente afirmativa do todo em si quebrado tem de dar seguimento ao diferente e ao separado dela já a partir de si mesma. Só assim, aliás, pode ela existir na sua maneira paradoxal. Mas ela é COMO TAL impreterível na determinação do PRINCÍPIO FUNDAMENTAL negativo e abrangente.
O patriarcado produtor de mercadorias esquecido
Assim, se o conceito de dissociação-valor deve ser considerado por assim dizer como GRANDEZA FILOSÓFICA, no sentido de princípio social fundamental que determina toda a sociedade (mundial), e por isso tem de ser tematizado para lá de qualquer interesse feminista particular – então esta problemática não pode obviamente voltar a ser tratada apenas no contexto particular do debate feminista. Pelo contrário, essa grandeza filosófica terá de constituir a base da teoria crítica em geral, por causa do seu carácter abrangente. Só desta maneira se torna claro que a dissociação-valor não trata simplesmente da relação hierárquica de género em sentido estritamente sociológico, mas sim do todo da relação social. Nessa medida a dissociação-valor já não pode ser tratada como “aspecto” da elaboração teórica geral no plano da mera constituição do sujeito, como pensam alguns, por exemplo os representantes de uma certa crítica do valor de resto entendida de modo universalista. Trata-se nada menos que da verdade do falso todo, que agora no entanto tem de ser concebido de novo.
Isto não tem nada a ver com meras obrigações morais de se “declarar” feminista, nos termos da campanha a que também se sentem obrigados homens de orientação até aqui universalista marxista, na sua infinita benevolência para com os desejos das pobres mulheres discriminadas. É a própria coisa que tem de ser resgatada logo na conceptualidade teórica fundamental. Não se trata, portanto, apenas de teoria feminista com o objectivo da “libertação da mulher” (na maior parte das vezes explícita ou implicitamente pensada imanente ao capitalismo) nem das correspondentes tematizações no plano do sujeito, mas sim de muito mais. Mas até se trata disso também. Significativamente congressos da esquerda radical como o Congresso No-Way-Out de 2007, o Congresso “Trabalho e Crise” de 2010, ou o “Congresso do Comunismo” no mesmo ano, com Zizek, Negri e Badiou, desenrascam-se agora cada vez mais sem participação de mulheres de qualquer “raça” ou classe. Nas recensões sobre novas leituras de Marx quase não aparecem reformulações feministas da teoria de Marx. Tudo isto não promete nada de bom para os respectivos processos de inovação na elaboração teórica, mesmo que a dimensão feminista tivesse de ser metida no meio como álibi, mas não no plano fundamental da teoria social.
Já no princípio dos anos de 1980 escrevia Heidi Hartmann: “O casamento do marxismo com o feminismo foi exactamente como o casamento dum homem com uma mulher nos termos estabelecidos no direito civil inglês: marxismo e feminismo são um só, e este um é o marxismo” (Hartmann, cit. em Sommerbauer, 2003, p. 53). Nesse caso devem ser questionados os desenvolvimentos feministas, por exemplo da teoria da regulação, e postas sob suspeita as ideias de todo o tipo sobre economia, Estado, direito e género que, com uma introdução superficial por exemplo da crítica da “heteronormatividade”, sugerem consciência do problema, que no entanto não poderia ser encontrada no plano da determinação da forma social fundamental.
Mas um feminismo desconstrutivista do género e da diferença, que se dá por satisfeito com “posicionamentos meso” sociológicos, já ajudou nas últimas décadas as ideias de teoria social e de crítica social concebidas em grande parte androcentricamente (pelo menos no fundamental) que hoje grassam de novo às claras. Tacitamente não se toma em consideração uma lógica da atribuição que tinha sido formulada repetidamente por Poullain de la Barre já no século XVIII, por George Simmel e Simone de Beauvoir, até às feministas pré-feminismo do género. Deste modo por maioria de razão é de novo reproduzida uma lógica androcêntrica com a qual se aspira a lidar no desconstrutivismo precisamente através da sua “desnomeação”; ou seja, uma estrutura com a qual não se pode lidar com um entendimento estrutural sócio-filosófico convencional, como as antigas teorias ainda sabiam perfeitamente, se fossem razoavelmente reflectidas. Simmel pode aqui ser citado mais uma vez como caso representativo. Ele descreve esta estrutura da seguinte maneira: “Uma vez que, nos ideais sonhados e no estabelecimento de objectivos, nos trabalhos e nas combinações de sentimentos, o momento diferencial da masculinidade desaparece mais facilmente da consciência dos seus portadores do que acontece com o correspondente momento da feminilidade – pois o homem, enquanto senhor, não está vinculado nas suas condições de vida a qualquer interesse tão vital na sua relação com o feminino como o que a mulher tem de ter na sua relação com o masculino – por isso para nós as expressões masculinas da vida facilmente se elevam à esfera de uma objectividade e validade supra-específica e neutral (cuja coloração específica, onde porventura se nota, é subclassificada como algo de individual e acidental” (Simmel, 1985b, p. 201
Sob as condições de uma neutralização ideológica do género no feminismo desconstrutivista as estruturas de associação masculina podem agora passar novamente despercebidas. Precisamente nos contextos de esquerda parece pressentir-se uma vez mais a brisa matinal e, quando a coisa se torna “séria” na teoria, pode sugerir-se novamente às mulheres que não devem fazer ondas, pois agora voltam a estar na ordem do dia problemas e dimensões quase ”objectivos” e “universais”; de resto, apesar de todas as tendências para transformar o masculino precarizado em doméstico, ou talvez precisamente por causa delas (cf. Werlhof, 1983).
Já no início do século XX, o clássico da apologia da associação masculina, Hans Blüher, escrevia com grande franqueza: “Uma vez que os trabalhos criativos provêm das associações masculinas e a associação masculina sofre uma completa deformação de estilo se entrar nela uma só mulher, mesmo a mais inteligente e a melhor do mundo, como membro de pleno direito e protegida pelo direito, por isso o mínimo da exigência antifeminista deve ser: rejeição de qualquer invasão de mulheres nas associações masculinas” (Blüher, cit. em Kreisky, 1995, p. 106). Eva Kreisky constata aqui que: “‘Associação masculina’ nunca é só aquela que se declara como tal. As associações masculinas nas sociedades modernas exprimem-se sobretudo de múltiplas maneiras informais e latentes, que muitas vezes apenas factualmente funcionam à maneira de associação masculina… Exclusão das mulheres e reserva de admissão aos homens podem ser intencionais ou não. Mas em todo o caso as mulheres são excluídas. As associações masculinas são um instrumento de angariação de poder masculino e de manutenção de poder masculino. Avistar formas ‘mais flexíveis’ de associações masculinas limitaria consideravelmente as possibilidades analíticas do conceito de associação masculina” (Kreisky, 1995, p. 109). Bem entendido que não se trata aqui de uma definição essencial “da” mulher e “do” homem, mas sim de uma estrutura androcêntrica fundamental historicamente determinada, mesmo se os indivíduos particulares nela não são completamente absorvidos.
A função das mulheres como gestoras da crise, mesmo nas alavancas do poder, quando as estruturas elementares do patriarcado capitalista se desfazem, não está assim em contradição com esta estrutura fundamental, mas implica decididamente tais relações neopatriarcais. Pesquisas em política, economia e outros domínios públicos provavelmente teriam demonstrado que, mesmo nas situações condicionadas pela crise de entrada forçada das mulheres a partir de cima nestes domínios, elas continuam tal como antes a conseguir entrar apenas para passarem pelas varetas perante as estruturas de associação masculina. E de facto investigações recentes sobre a questão de saber se se verifica a erosão ou a reprodução das relações tradicionais de género comprovam esta mesma tendência; obviamente que por regra sem se dar ideia disso, porque presas compulsivamente no plano de uma análise sociologicamente descritiva. As codificações sexuais, portanto, de modo nenhum desapareceram – especialmente no quotidiano (cf., por ex., Wetterer, 2007, p. 201 sg.).
Isto tem uma consequência que, no entanto, não é retirada imediatamente: a guerra dos sexos e a respectiva concorrência enfurecem-se hoje sobretudo abaixo da superfície. Ao que, todavia, não raramente se responde com o conceito sociologicamente quase (sexualmente) neutro de “fecho” do mercado de trabalho, com a simultânea confusão, por outro lado, perante uma certa permeabilidade às mulheres dos domínios profissionais tradicionalmente masculinos e particularmente nas posições de poder intermédio. Apesar disso, em todo o caso tais pesquisas deixam claro que não se verifica uma construção por assim dizer mais calma da igualdade de direitos no sentido do homo oeconomicus induzida pelo (neo)liberalismo, como algumas posições marxistas já sempre supõem relativamente à relação de género.
Além disso, obviamente, também têm de ser apreendidas na e apesar da sua fragilidade tendências sociais codificadas como universais que conduziram à relativização pós-moderna da relação hierárquica de género, mesmo a partir da dinâmica da dissociação–valor como contradição em processamento histórico. Como cliché pode constatar-se que globalização, colapso do bloco de leste, individualização pós-moderna, erosão da relação de género tradicional, constituição de relações transversais e de hibridades de diversos tipos etc. constituem mesmo desenvolvimentos reais, que no entanto só podem ser esclarecidos de todo tendo como pano de fundo um patriarcado produtor de mercadorias entendido como processo à escala mundial. Com isto voltamos ao princípio das nossas reflexões. Se Gudrun-Axeli Knapp em 1988 reclamou um olhar sobre a “diferença esquecida”, ou seja, sobre a diferença entre mulheres, hoje, pelo contrário, tem de se dirigir a atenção fortemente para o “patriarcado produtor de mercadorias esquecido”. O estatuto conceptual do feminismo até agora vigente, de ficar sem dançar por não ter par, qual inocência neutra transferida para o ser do género, não pode ser assim mantido em “muitos” aspectos.
Bibliografia
Adorno, Theodor W.: Negative Dialektik, Frankfurt/Main, 1966 [Dialética Negativa, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2009].
Arbeitsgruppe Ethnologie Wien: Einleitung. In: Arbeitsgruppe Ethnologie Wien (Hrsg.): Von fremden Frauen [Mulheres estranhas]. Frankfurt/Main, 1989, p. 9-28.
Aulenbacher, Brigitte/Fleig, Anne/Riegraf, Birgit: Einleitung. Organisation, Geschlecht, soziale Ungleichheiten: Warum ein Heft zu diesem Thema? [Introdução. Organização, género, desigualdades sociais. Porquê um número da revista sobre este tema?] In: Feministische Studien, Heft 1 (2010) (online version: http://feministische-studien.de/index
Beer, Ursula a): Objektivität und Parteilichkeit – ein Widerspruch in feministischer Forschung? Zur Erkenntnisproblematik von Gesellschaftsstruktur [Objectividade e parcialidade. Uma contradição na pesquisa feminista? A problemática do conhecimento da estrutura social]. In: Beer, Ursula (Hrsg.): Klasse Geschlecht. Feministische Gesellschaftanalyse und Wissenschaftkritik [O género classe. Análises sociais feministas e crítica da ciência], Bielefeld, 1987, p. 162-212.
Beer, Ursula (Hrsg.) b): Klasse Geschlecht. Feministische Gesellschaftanalyse und Wissenschaftkritik [O género classe. Análises sociais feministas e crítica da ciência], Bielefeld, 1987
Beer, Ursula: Geschlecht Struktur Geschichte. Soziale Konstruktion des Geschlechterverhältnisses [Género, Estrutura, História. Construção social da relação de género], Frankfurt/Main, 1991.
Gildemeister, Regine/Wetterer, Angelika: Wie Geschlechter gemacht werden. Die soziale Konstruktion der Zweigeschlechtlichkeit und ihre Reifizierung in der Frauenforschung [Como se constroem os sexos. A construção social da bissexualidade e a sua reificação nos estudos sobre a mulher]. In: Knapp, Gudrun-Axeli/Wetterer, Angelika (Hrsg.): Traditionen Brüche. Entwicklungen feministischer Theorie [Rupturas das tradições. Desenvolvimentos das teorias feministas], Freiburg i. Breisgau, 1992, p. 201-254.
Gilligan, Carol: Die andere Stimme. Lebenskonflikte und Moral der Frau [Uma voz diferente. Conflitos da vida e moral da mulher]. München, 1984 [Original: In a Different Voice, 1982]
Haaf, Meridith/Klinger, Susanne/Streidl, Barbara: Wir Alfamädchen. Warum der Feminismus das Leben schöner macht [Nós as meninas alfa. Porque torna o feminismo a vida mais bela], Hamburg, 2008.
Haug, Frigga: Feministischer Initiative zurück gewinnen – eine Diskussion mit Nancy Fraser [Recuperar a iniciativa feminista – Uma discussão com Nancy Fraser]. In: Das Argument 281 (2009) p. 393-408.
Honegger, Claudia: Die Ordnung der Geschlechter. Die Wissenschaft von Menschen und das Weib [A ordem dos sexos. A ciência dos humanos e a mulher], Frankfurt/Main, 1991.
Klinger, Cornelia: Feministische Philosophie als Dekonstruktion und Kritische Theorie. Einige abstrakte und spekulative Überlegungen [Filosofia feminista como desconstrução e teoria crítica. Considerações abstractas e especulativas]. In: Gudrun-Axeli Knapp (Hrsg.): Kurskorrekturen. Feminismus zwischen kritischeer Theorie und Postmoderne [Correcções de rota. O feminismo entre a teoria crítica e a pós-modernidade], Frankfurt/Main, 1998, p. 242-256.
Knapp, Gudrun-Axeli: Die vergessene Differenz [A diferença esquecida], in Feministische Studien, Heft 1, (1988)
Knapp, Gudrun-Axeli: Verhältnisbestimmungen: Geschlecht, Klasse, Ethnizität im gesellschafttheoretischer Perspektive [Determinações de relação: Género, classe, etnicidade na perspectiva da teoria social]. In: Knapp, Gudrun-Axeli, Klinger, Cornelia (Hrgs.): Überkreuzungen. Fremdheit, Ungleichheit, Differenz [Intersecções. Estranheza, desigualdade, diferença], Münster, 2008, p. 138-170.
Knapp, Gudrun-Axeli/Wetterer, Angelika: Einleitung [Introdução]. In: Knapp, Gudrun-Axeli/Wetterer, Angelika (Hrsg.): Soziale Verortung der Geschlechter. Gesellschaftstheorie und feministische Kritik [Colocação social dos géneros. Teoria social do género e crítica feminista], Münster, 2001, p. 7-14.
Knigge, Adolph, Freiherr: Über den Umgang mit Menschen [Sobre as relações humanas], 2009
Kreisky, Eva: Der Stoff, aus dem die Staaten sind. Zur männerbündischen Fundierung politischer Ordnung [A matéria de que são feitos os Estados. Sobre a fundação da ordem política nas associações masculinas]. In: Becker-Schmidt, Regina/Knapp, Gudrun-Axeli (Hrsg.): Das Geschlechterverhältnis in den Sozialwissenschaften [A relação de género nas ciências sociais], Frankfurt/Main, 1995, p. 85-124.
Lenk, Kurt: Marx in den Wissenssoziologie. Studien zur rezeption der Marxschen Ideologiekritik [Marx na sociologia da ciência. Estudos sobre a recepção da crítica da ideologia de Marx], Neuwied/Berlin, 1972.
Lindner, Urs: Macht Arbeitsteilung Sinn? Zur Relevanz von Marx für die gegenwärtige Sozialtheorie [A divisão do trabalho faz sentido? Sobre a relevância de Marx para a actual teoria social]. In: Bude, Heinz/Damitz, Ralf M./Koch, Andre (Hrsg.): Marx, ein toter Hund? Gesellschafstheorie reloaded [Marx, um cão morto? Teoria social reloaded], Hamburg, 2010, p. 175-198.
Mies, Maria: Methodische Postulate zur Frauenforschung – dargestellt am Beispiel der Gewalt gegen Frauen [Postulados metódicos da pesquisa feminista – expostos no exemplo da violência contra as mulheres]. In: beiträge zur feministischen theorie und praxis, Heft 1 (1978), p. 41-63.
Nagl-Docekal, Herta: Feministische Philosophie. Ergebnisse, Probleme, Perspektiven [Filosofia feminista. Resultados, problemas, perspectivas], Frankfurt/Main, 2000.
McRobbie, Angela: Top Girls. Feminismus und der Aufstieg des neoliberalen Geschlechterregimes [Top Girls. O feminismo e a ascensão do regime de género neoliberal]. Wiesbaden, 2010 [Original: The Aftermath of Feminism. Gender, Culture and Social Change, Sage, 2008].
Rousseau, Jean-Jacques: Emile oder über die Erziehung, Stuttgart, 1986 [Émile ou da educação, Ed. Bertrand Brasil, 1992].
Scholz, Roswitha: Das Geschlecht des Kapitalismus. Feministische Theorien und die postmoderne Metamorphose des Patriarchats [O Sexo do Capitalismo. Teorias Feministas e Metamorfose Pós-Moderna do Patriarcado], Bad Honnef, 2000.
Scholz, Roswitha: Differenzen der Krise – Krise der Differenzen. Die neue Gesellschaftskritik im globalen Zeitalter und der Zusammenhang von „Rasse”, Klasse, Geschlecht und postmoderner Individualisierung [Diferenças da crise – Crise das diferenças. A nova crítica social na era global e a conexão de "raça", classe, sexo e individualização pós-moderna], Bad Honnef, 2005.
Scholz, Roswitha: Gesellschaftliche Form und konkrete Totalität. Zur Dringlichkeit eines dialektischen Realismus heute [Forma social e totalidade concreta. Na urgência de um realismo dialéctico hoje] in EXIT! 6 (2009) p. 55-100.
Seifert, Ruth: Entwicklungslinien und Probleme der feministischen Theoriebildung. Warum an der Rationalität kein weg vorbei fürt [Linhas de desenvolvimento e problemas da elaboração teórica feminista. Porque não conduz nenhum caminho à racionalidade]. In: KnappGudrun-Axeli/Wetterer, Angelika (Hrgs.): TraditionsBrüche. Entwicklungen feministischer Theorie [Rupturas da tradição. Desenvolvimentos da teoria feminista], Freiburg i. Breisgau, 1992, p. 255-286.
Simmel, George a): Zur Psycologie der Frau [A psicologia da mulher]. In Simmel, George: Schriften zur Philosophie und Soziologie der Geschlechter [Escritos sobre filosofia e sociologia dos sexos], Frankfurt/Main, 1985, p. 27-59.
Simmel, George b): Das Relative und das Absolute im Geschlechter-Problem [O relativo e o absoluto no problema sexual]. In Simmel, George: Schriften zur Philosophie und Soziologie der Geschlechter [Escritos sobre filosofia e sociologia dos sexos], Frankfurt/Main, 1985, p. 200-223.
Sommerbauer, Jutta: Differenzen zwischen Frauen. Zur Positionsbestimmung und Kritik des postmodernen Feminismus [Diferenças entre mulheres. Para a determinação da posição e a crítica do feminismo pós-moderno]. Münster, 2003.
Thürmer-Rohr, Christina: Befreiung im Singular [Libertação no singular]. In: Thürmer-Rohr, Christina: Verloren Narrenfreiheit [A liberdade perdida de fazer o que se quiser], 1994, p. 13-28.
Thürmer-Rohr, Christina: Die Wahreit über eine zweigeschlechtliche Welt gibt es nicht [A verdade sobre um mundo de dois sexos não existe]. In: Buchmayr, Christina (Hrgs.): Alles Gender? Feministischen Standortbestimmungen [Tudo é género? Definições de localização feministas], 2008, p. 50-64.
Voß, Heins-Jürgen: Making sex revisited. Dekonstruktion des Geschlechts aus biologisch-medizinischer Sicht [Making sex revisited. Desconstrução do sexo do ponto de vista médico-biológico], Bielefeld, 2010.
Werlhof, Claudia von: Der Proletarier is tot, es lebe die Hausfrau [O proletário está morto, viva a dona de casa]. In: Werlhof, Claudia von/Bennholdt-Thomsen, Veronika/Mies, Maria (Hrgs.): Frauen dis letzte Kolonie [Mulheres, a última colónia], Reinbeck, 1983, p. 113-136.
Werlhof, Claudia von/Bennholdt-Thomsen, Veronika/Mies, Maria: Frauen dis letzte Kolonie [Mulheres, a última colónia], Reinbeck, 1983.
Wetterer, Angelika: Erosion oder Reproduktion geschlechtischer Differenzierungen? Zentrale Ergebnisse des Forschungsschwerpunkts “Professionalisierung, Organisation, Geschlecht” im Überblick [Erosão ou reprodução das diferenciações sexuais? Panorama das conclusões centrais do ponto de pesquisa “profisionalização, organização, género”]. In: Gildemeister, Regine/Wetterer, Angelika (Hrgs.): Erosion oder Reproduktion geschlechtischer Differenzierungen? Widersprüliche Entwicklungen in professionalisierten Berufsfeldern und Organisationen [Erosão ou reprodução das diferenciações sexuais? Desenvolvimentos contraditórios em áreas ocupacionais e organizações profissionalizadas], Munster, 2007, p. 189-214.
Winker, Gabriele: Traditionelle Geschlechterordnung unter neolibalem Druck. Veränderte Verwertungs- und Reproduktionsbedingungen der Arbeitskraft [O ordenamento tradicional de género sob pressão neoliberal. Mudança nas condições de valorização e de reprodução da força de trabalho], in: Groß, Melanie/Winker, Gabriele (Hg): Queer- Feministische Kritiken neoliberaler Verhältnisse [Críticas queer feministas às condições neoliberais], Münster, 2007, p. 15-50.
Original DAS ABSTRAKTIONSTABU IM FEMINISMUS. Wie das Allgemeine des Warenproduzierenden Patriarchats vergessen wird. Publicado na revista EXIT! Krise und Kritik der Warengesellschaft, 8 (7/2011) [EXIT! Crise e Crítica da Sociedade da Mercadoria, nº 8 (7/2011)], ISBN 978-895002-322-4, 260 p., 13 Euro, Editora: Horlemann Verlag, Grüner Weg 11, 53572 Unkel, Deutschland, Tel +49 (0) 22 24 55 89, Fax +49 (0) 22 24 54 29, http://www.horlemann.info/. Tradução de Boaventura Antunes (01/2012)