Sobre profetas do crash, putschistas, preparadores e aproveitadores da crise

A ideologia de direita na crise

 

Tomasz Konicz

 

O artigo "Sobre profetas da catástrofe, preparadores e aproveitadores da crise – Ideologia de direita na crise" de Tomasz Konicz tenta delinear os elementos mais importantes da ideologia de crise e da práxis de direita nos últimos anos desde o colapso da bolha imobiliária transatlântica até à crise dos refugiados e à pandemia de coronavírus. Partindo da recepção instrumental da teoria da crise de Marx e da crítica do valor pelos mestres da nova direita, os movimentos, narrativas e ideologias individuais são examinados na sua interacção com os respectivos episódios de crise: Desde as cliques de extrema-direita e putchistas no aparelho de Estado, passando pelo chamado movimento prepper e pela interpretação reaccionária e estruturalmente anti-semita dos acontecimentos da crise por autores de extrema-direita, até à diferenciação sem fim da loucura, no séquito dos protestos de pensamento transversal. Finalmente deve ser salientada a função irracional da ideologia de direita, que é totalmente absorvida nas tendências sociais e ecológicas de autodestruição que o capital está evidentemente a executar na sua crise letal. (Apresentação do texto no editorial da exit! nº 19, 2022)

 

1. Instrumentalização da crítica do valor pelos "mestres" da direita * 2. A luta estatal de Kubitschek na crise * 3. Planos de golpe de Estado e de assassínio em massa * 4. Os preparadores e a desintegração do Estado * 5. Os profetas do crash * 6. Alucinação de crise e pulsão de morte * Bibliografia

 

Estão completamente absorvidos na grande inundação. Quando, no Verão de 2021, partes da Alemanha ocidental, e em particular o distrito de Ahrweiler, na Renânia-Palatinado, foram atingidas por inundações catastróficas sem precedentes históricos, que custaram a vida a 184 pessoas em todo o país, muitos pensadores transversais e gente de direita de diversos matizes entraram imediatamente em cena sob o pretexto de ajuda em catástrofe para se instalarem na região e propagarem as suas ideias alucinadas. Com a ajuda de uma vasta rede de apoiantes, de uma generosa comunidade de adeptos e de estruturas organizativas que se desenvolveram durante os protestos contra o coronavírus, os agitadores e os líderes da cena de direita puderam criar durante dias verdadeiras estruturas paralelas às medidas estatais, por exemplo em Bad Neuenahr-Ahrweiler.

Os relatos (1) da zona sinistrada davam conta de anti-semitas do espectro dos pensadores transversais que declaravam a pequena cidade devastada uma "zona sem máscaras" nos anúncios em altifalantes, de celebridades do pensamento transversal que organizavam campanhas de angariação de fundos, ou de antigos oficiais e polícias tentando arrogar-se poderes policiais. Os grupos de direita tinham montado um verdadeiro "centro de comando" numa escola ocupada, coordenando a partir daí as suas actividades. Esta mistura de malucos, esotéricos, pensadores transversais e extremistas de direita, que desfilavam sobretudo nas manifestações do coronavírus, apresentaram-se em Bad Neuenahr-Ahrweiler como "salvadores do perigo", refere o relatório.

Foi levado para a zona da catástrofe pelos contextos de direita um "veículo da paz", que difundia falsa informação e ideias de pensamento transversal através de altifalantes e que se assemelhava a um carro da polícia na sua pintura com a excepção de que se lia "paz" em vez de polícia. O "agente da paz" disse aos jornalistas que trabalhava para o "movimento paz e verdade" local. Os pensadores transversais até tentaram organizar um infantário. Também estava presente o coronel Maximilian Eder, antigo comandante do KSK no Kosovo, que agora se afundou no pântano castanho dos pensadores transversais e que esteve activo na zona da catástrofe, juntamente com o ex-polícia Karl Hilz e a sua associação "Polícias a favor do esclarecimento", como "Centro de Comando Central e Grupo do Estado-Maior". Os simuladores do aparelho de Estado até se esforçaram por usar uniformes sempre que conseguiram. O médico Bodo Schiffmann, considerado uma figura-chave na cena do pensamento transversal, surgiu como angariador de fundos e financiador.

O Ministério do Interior da Renânia-Palatinado declarou que as actividades da direita na zona da catástrofe correspondem a um "padrão bem conhecido e comum, segundo o qual os extremistas de direita, em particular, tiram partido de situações de crise aguda" para se apresentarem publicamente como "prestadores de cuidados no terreno" e, assim, difundirem "ideias extremistas ou teorias da conspiração" e ancorá-las no "centro da sociedade". No entanto, a reacção rápida da direita às crises é mais do que uma mera táctica. As ideologias e as alucinações da nova direita, juntamente com o seu ambiente de frente transversal, processam a crise do capital de muitas maneiras, desempenhando um papel central nas várias distorções ideológicas e personificações criadas em resposta a novos surtos de crise.

 

A este respeito, o actual curso da crise é caracterizado por uma constelação ideológica absurda:  ideologicamente a direita está totalmente absorvida pela crise, de certo modo abraça-a, tematiza-a ofensivamente e, por vezes, quer utilizá-la como uma oportunidade fascista, enquanto a esquerda, particularmente a alemã, se caracteriza por ignorar a crise na sua maioria motivada por razões oportunistas (cf. Konicz 2020) , deixando o campo em grande parte às forças reaccionárias. E são precisamente os "mentores" intelectuais da nova direita que por vezes referindo-se explicitamente à crítica do valor se esforçam por reinterpretar a crise manifesta do sistema mundial capitalista tardio nos seus próprios termos.

 

1. Instrumentalização da crítica do valor pelos "mestres" da direita

Um leitor declarado de Robert Kurz e dos textos do grupo Krisis é, por exemplo, o influente intelectual francês de direita Alain de Benoist, considerado um importante pioneiro da nova direita. Numa entrevista à revista de direita Sezession, em 2014, Benoist defendeu a leitura de Robert Kurz e de Moishe Postone, pois seria ilusório supor que "a nossa identidade seria menos problemática sem os imigrantes". (2) Por outras palavras, não são apenas os estrangeiros que mancham as "identidades" europeias; o capitalismo, sobretudo o liberalismo, que Benoist critica de forma reaccionária, faz parte da tendência para "alienar" os povos/comunidades das suas identidades. Trenkle e Bedszent já se debruçaram sobre Benoist numa perspectiva crítica do valor, como será referido a seguir. (3)

Benoist entende mal a identidade de um indivíduo, que se forma através da socialização, como algo original, dado pela pertença a um determinado colectivo (nacional), embora tenha o cuidado de não fornecer definições racistas ou culturalistas concretas. O mentor da nova direita deixa deliberadamente um espaço em branco, falando apenas sinistramente de um "carácter orgânico" original, para que os seus seguidores possam determinar este conceito de identidade reificado e colectivista de acordo com a sua própria preferência ideológica.

O que separa agora o átomo do povo da sua identidade ancestral é, segundo Benoist, a alienação produzida pelo sistema capitalista tardio. Este conceito, retomado de Marx e ocupando uma posição bastante periférica na crítica do valor, torna-se assim reaccionário: A superação da alienação, provocada nomeadamente pelo odiado liberalismo, deveria permitir aos europeus recuperar a sua identidade perdida.

A crítica reaccionária de Benoist ao capitalismo é, em última análise, uma espécie de luta da identidade contra o liberalismo, na qual o conceito de alienação é também sequestrado e tornado reaccionário. Neste contexto, é também referida a teoria da crise crítica do valor de Benoist, segundo a qual, de acordo com Trenkle, ele se esforça por apresentar "posições críticas do valor isoladas de uma forma razoavelmente coerente, sem as distorcer ou reinterpretar conscientemente de forma reconhecível". Nesta interpretação selectiva, Benoist limita-se a omitir elementos centrais da crítica do valor como "o carácter fetichista do trabalho, a crítica da ética do trabalho, o nacionalismo e o racismo, o anti-semitismo ou a dissociaçao sexual" (Trenkle) para poder utilizar a "crítica do valor como fonte de abordagens teóricas obscuras da direita radical [...]", como nota Bedszent.

Segundo Trenkle, a descrição concreta que Benoist faz das causas e da dinâmica da crise é "incoerente", porque menciona diferentes fenómenos sem ser capaz de os inserir num contexto teórico consistente. Assim, fala-se da "queda da taxa de lucro", ou mesmo do "derretimento da massa de valor", para além da menção do "subconsumo" estrutural e da "abolição da convertibilidade em ouro" do dólar americano. A partir do limite interno do capital, com o qual ele se depara devido à sua tendência para a dessubstanciação, a nova direita vulgariza assim o "esgotamento do capitalismo", observa Bedszent.

 

2. A luta estatal de Kubitschek na crise

Este conceito nebuloso de crise é também suficiente para a nova direita, para os seus fins reaccionários e/ou autoritários. Basta saber que em breve a crise vai mesmo chegar. A crise é entendida como uma oportunidade para combater o liberalismo. Na Alemanha, por exemplo, é sobretudo o puxador de cordas de direita Götz Kubitschek e os seus cúmplices do "think tank" da nova direita Institut für Staatspolitik [Instituto para a Política do Estado] (IfS). Já em 2004, o órgão do IfS, o Sezession, celebrizou Robert Kurz como "profeta do antimodernismo utópico", cuja teoria da crise era referida precisamente a propósito do colapso dos Estados e da "transformação anómica" na periferia e "mesmo na Europa" , já então em pleno andamento. Kurz foi criticado pelo seu "furor negacionista", que rejeitava tudo o que ainda era "sustentável" e incluía nas suas polémicas o "tradicional e nacional" e os "poderes instituídos".

O IfS considera que o Estado alemão é a "força de suporte" mais importante no caos da crise, mas que, curiosamente, teria de voltar a ser transformado num elemento tradicional. A "realidade concreta do Estado" afasta-se actualmente da "ideia de Estado" de Kubitschek, porque "a própria ordem jurídica se desmoronou" por isso, a "realidade do Estado" tem de ser combatida. Até que ela volte a corresponder à "ideia de Estado" autoritária que é cultivada neste meio da nova direita.

Por conseguinte, o IfS considera que o Estado alemão está em "declínio", uma vez que a sociedade "questiona a pretensão global do Estado, directa e indirectamente". Os grupos de interesse "instrumentalizariam o Estado para os seus interesses particulares" e fariam dele "a sua presa". No entanto, o Estado alemão só pode ser preservado através do reforço da identidade nacional. A crítica à "sociedade multicultural" e ao "abuso histórico-político do passado alemão" está ligada a este facto. (4) Elementos da crítica do valor, que entendem a desintegração do Estado e o domínio dos bandos como momentos do processo de crise capitalista, são aqui misturados pelo IfS com a habitual crítica reaccionária do liberalismo.

Para o IfS, a luta pelo Estado alemão autoritário, que mais uma vez submeta a sociedade à sua "pretensão abrangente", é acima de tudo uma luta por uma nova elite reaccionária, é de certo modo uma luta de elite. O IfS pretende criar esta nova elite através do seu trabalho de formação e das suas actividades de ensino como think tank da nova direita. Para o IfS, a história é feita por "minorias históricas", como afirmou o antigo "director científico" do instituto, Karlheinz Weißmann, tomando emprestado um conceito de Enzensberger. Só esta selecção ideologicamente consolidada possui o "discernimento, o verdadeiro discernimento" para compreender as "ligações reais". O IfS quer formar elites que "afirmem a sua posição contra maiorias esmagadoras, se necessário" e que permaneçam capazes de actuar quando a crise ocorrer a nova direita está, assim, à espera de um surto de crise grave.

A crise é de facto entendida como uma oportunidade para tomar o poder. Assim que a formação social existente entrar numa crise existencial, assim que o Estado e a sociedade estiverem ameaçados de desintegração, a intenção é promover uma mudança fundamental das condições políticas e substituir as elites no poder. Já em 2007 Kubitschek falava de uma "pré-guerra civil" na Alemanha, que tinha de ser ganha: "A luta pela supremacia no seu próprio espaço" era precisamente "uma luta, não uma discussão", em que as coisas não podiam ser civilizadas, segundo Kubitschek: "Se nós, alemães, continuarmos demasiado civilizados para as necessidades da pré-guerra civil, o confronto já está decidido: 'Só os bárbaros se podem defender', diz Nietzsche". O programa estratégico do IfS consiste, portanto, em última análise, em efectuar uma "mudança de elite" autoritária em tempos de crise.

 

3. Planos de golpe de Estado e de assassínio em massa

Os planos de golpe de Estado no aparelho de Estado alemão, na sequência da crise dos refugiados, mostraram como algo deste género poderia ser na prática. Recorde-se: no final de 2018, a investigação mediática revelou a formação de um esquadrão informal de assassinos que se preparava para o golpe, que se diz ter sido formado dentro e fora das estruturas do Estado. Combatentes de elite do Comando das Forças Especiais (KSK) teriam formado o núcleo do grupo conspirador, que contava com várias centenas de membros. Este "exército negro" (Focus) acabou por preparar a implantação de uma ditadura fascista na República Federal Alemã.

A rede tinha planeado um verdadeiro assassínio em massa de opositores políticos em caso de crise. Movidos por um "ódio abissal" contra esquerdistas e refugiados, foram elaboradas listas com fotografias e moradas de alvos que deveriam ser detidos, levados para um determinado local e aí assassinados. O "exército-sombra" no seio do exército federal não só tinha elaborado listas de morte com endereços de opositores políticos, o que se tinha tornado comum nos círculos da extrema-direita, como também já tinham sido armazenadas armas e constituídos stocks secretos de munições, combustível e "alimentos" para poderem actuar de forma independente quando chegasse o "Dia X".

O esquadrão fascista já tinha declarado as chamadas "casas seguras" como bases para a sua tentativa de golpe. Estes potenciais centros de operações, que deveriam servir de centros logísticos para o planeado assassínio em massa, incluíam também o quartel Graf Zeppelin em Calw, onde está estacionado o Kommando Spezialkräfte (KSK). De acordo com testemunhas, a milícia terrorista de extrema-direita pretendia atacar em caso de "crise externa", segundo a Focus: "Desencadeada por ataques de refugiados a crianças e mulheres. Violações, ataques terroristas. Cidades alemãs desorganizadas, perturbação da ordem pública. E a polícia fica impotente perante tudo isto". (5)

Uma nova caça ao homem fascista como a de Chemnitz tolerada pelas forças policiais, a próxima crise económica logo que a economia de exportação alemã entre em colapso, uma catástrofe ambiental desencadeada pela aceleração das alterações climáticas – serviriam obviamente de pretexto para as facções do Estado castanho que se formam no aparelho de Estado atacarem. Numa crise manifesta, os inúmeros "casos individuais" de actividade fascista podem muito rapidamente coagular-se numa rede que actua em conformidade, no sentido de uma "mudança de elites" fascista. E ao mesmo tempo este escândalo tornou claro o que é o fascismo: uma forma de crise abertamente terrorista do domínio capitalista. A tentativa de manter o capitalismo, que atingiu os seus limites internos e externos, com terror e assassínio em massa. A diferença decisiva em relação ao fascismo histórico do século passado, no entanto, é que o fascismo actual não seria capaz, nem com a melhor vontade do mundo, de impor o próximo regime de acumulação. Qualquer tentativa de o fazer acabaria por falhar devido ao limite interno do capital; a mobilização de massas através do trabalho etc. é completamente ilusória. Em vez de uma modernização terrorista, o fascismo de crise traz apenas uma desintegração terrorista (cf. Kurz 1993). Também não há razão para dar o fim de alerta, como a investigação do Estado sobre estas maquinações estatais de direita, que não deu em nada, deixou claro: durante o próximo surto de crise, estes esforços de assassínio em massa no aparelho de Estado alemão, para manter o sistema capitalista tardio em decadência através do assassínio em massa e do terror, são susceptíveis de ganhar mais força.

A plataforma organizativa central desta rede castanha no aparelho de Estado foi designada como Associação Uniter, fundada em 1996, cujos membros, segundo a Focus, desempenharam "um papel central" na construção do "exército sombra" dentro do exército federal. Esta é formalmente uma associação de apoio aos combatentes do KSK, que entretanto também inclui pessoas para além da "força de elite" do exército federal treinada para intervenções no estrangeiro, de acordo com a Focus 2018: "Os requisitos de admissão inicialmente rigorosos relaxaram: hoje, a Uniter tem mais de 1.000 membros, incluindo pára-quedistas, batedores de longo alcance e oficiais das unidades SEK da polícia. Até um funcionário do Gabinete do Estado da Baviera para a Protecção da Constituição e o chefe de segurança de uma grande empresa de aluguer de automóveis pertencem à comunidade Uniter, assim como alguns médicos, advogados e engenheiros." Em termos de pessoal, o fascismo também deve ser entendido como extremismo de centro. O espectro dos membros da associação, que constituiriam a espinha dorsal do "exército negro", vai desde "cidadãos preocupados" até forças policiais e membros do exército federal.

 

4. Os preparadores e a desintegração do Estado

E, no entanto, um elemento novo pode também ser discernido nesta mistura pré-fascista. As "casas seguras", o stock de provisões, o armazenamento de alimentos: O meio em que este grupo de conspiradores se formou inclui também a cena extremista de direita dos chamados "preparadores". Trata-se de redes soltas que se preparam para o colapso da sociedade em caso de crise, associando os esforços de auto-suficiência à militância fascista e ao anseio pela grande "limpeza" na tempestade de aço que se aproxima.

O meio da nova direita, totalmente dedicado à ilusão da sobrevivência isolada numa crise sistémica, funde-se assim perfeitamente com as estruturas terroristas de direita. Desde o início da crise, em 2008, esta cena por vezes militante, que teve origem na direita norte-americana, tem vindo a encontrar cada vez mais adeptos na Alemanha. Como variedade do extremismo fascista do centro, leva a concorrência liberal de sujeitos isolados do mercado a um extremo marcado pela crise: a concorrência é levada ao extremo militarista, até mesmo terrorista, de indivíduos ou pequenos grupos de mentalidade apocalíptica. Em vez de trabalhar para construir novas estruturas de solidariedade, esta ideologia de crise da direita reforça o isolamento dos indivíduos que existe no capitalismo.

Na verdade, a ideologia dos "preparadores" é o reflexo consequente da falsa aparência que o fetichismo mediado pelo mercado tem de deixar no sujeito capitalista tardio, que se percebe como um átomo da concorrência, como uma mónada absolutamente isolada dos seus concorrentes de mercado, embora a socialização anónima através dos mercados mundiais nunca tenha sido tão densa. Cada um parece estar por sua conta, enquanto a densidade e a propensão para a crise da divisão global do trabalho no processo de valorização do capital se tornaram evidentes precisamente na crise de abastecimento de 2021. E, no entanto, os loucos "preparadores" dentro e fora do aparelho de Estado têm a noção, distorcida por teorias de conspiração selvagens, da grave crise em que o capitalismo tardio se encontra, "mais do que" a corrente neoliberal em erosão, que acredita poder simplesmente continuar como dantes.

A ironia destas actividades do Uniter e do parcialmente dissolvido KSK, que fazem parte de uma série crescente de escândalos de direita no aparelho de Estado da República Federal Alemã, é que são indicativas do asselvajamento induzido pela crise do Estado alemão. A direita alemã que, sob a forma do seu "cérebro" Kubitschek e do seu Instituto de Política de Estado, se propôs salvar o Estado alemão, está apenas a executar a sua decadência. Esta deve ser entendida como a influência crescente e a autonomia progressiva de bandos e seguidores, cada um perseguindo os seus próprios interesses dentro das estruturas de poder do Estado e utilizando os meios de poder do Estado como um mero recurso para os seus interesses particulares. O Estado torna-se uma mera "presa" das redes de direita, cujos recursos são por vezes utilizados para obter cal apagada para valas comuns.

 

A República Federal como "Estado falhado"? Estes processos, nos quais as forças militares do Estado desenvolvem uma vida própria, fazem naturalmente lembrar os processos de desintegração do Estado, tal como se desenrolam na periferia do sistema mundial capitalista – e tal como também foram tematizados pelo IfS. É claro que os actores de extrema-direita que se organizam em tais esquadrões assassinos se vêem a si próprios como os grandes "salvadores" de uma Alemanha culturalmente homogénea ou mesmo racialmente pura, que existe apenas como quimera nacional-socialista. Mas uma ilusão semelhante de "salvar" a pátria etnicamente homogénea levou, por exemplo, as milícias fascistas ao golpe de Estado de 2014 na Ucrânia, que conduziu efectivamente o país à guerra civil.

 

5. Os profetas do crash

Para além de planear e legitimar golpes de Estado e assassínios em massa em tempos de crise, o foco ideológico da nova direita é a propagação em massa – e extremamente lucrativa – de uma interpretação reaccionária da crise. O período de crise que se seguiu ao colapso da bolha imobiliária transatlântica em 2008 é o grande momento dos profetas do crash da direita, que sabem amalgamar a crítica truncada do capitalismo, a propaganda de direita e o anti-semitismo estrutural em variações sempre novas.

O economista e autor de best-sellers Max Otte é considerado o actor central deste espectro empreendedor da nova direita, muitas vezes intimamente ligado à casta neoliberal dos economistas alemães. (6) Desde 2006 Otte publicou uma série de livros, alguns dos quais bestsellers, que em variações sempre novas prevêem um aumento iminente da crise ou um colapso económico iminente.

Na obra de Otte é fácil perceber como a regressão neoliberal e uma crítica truncada do capitalismo prepararam o terreno para os sucessos da nova direita, especialmente no grémio dos economistas alemães. As causas dos crescentes episódios de crise, cujo curso Otte é por vezes capaz de descrever correctamente, não são explicitamente localizadas nas contradições sistémicas, nem há quaisquer tentativas de instrumentalizar a crítica do valor, como em Benoist. Em vez disso, os culpados são geralmente localizados nos mercados financeiros, ou a crise torna-se uma mera questão de distribuição, uma vez que os ricos teriam realizado ganhos de riqueza à custa da classe média. Ao mesmo tempo Otte também critica o keynesianismo de crise das últimas décadas, uma vez que apenas adiou os riscos na esfera financeira e não os eliminou.

Otte arranha a superfície dos fenómenos de crise, permanece deliberadamente vago na procura das causas e na nomeação de bodes expiatórios, o que é provavelmente o segredo do sucesso dos seus livros sobre a crise, pois deixa espaço para a imaginação dos leitores, para as interpretações habituais que tendem para o anti-semitismo. A negação de qualquer análise sistémica da crise, os sussurros sombrios sobre as maquinações de fundo que estão a arrastar a "nossa" economia para o abismo caracterizam grande parte da literatura reaccionária sobre o crash. Durante a crise do euro os habituais reflexos racistas contra os "países do Sul" foram também mobilizados e enriquecidos com aspectos economicistas. A vontade reaccionária de regressar ao cheiro a mofo nacional encontra a sua contrapartida na crítica à UE e ao euro, frequentemente misturada com temas ideológicos neoliberais.

Esta argumentação, que se conforma com a classe média e associa a inveja pequeno-burguesa à crítica neoliberal das medidas de estímulo económico e da impressão de dinheiro, faz de Otte o cérebro da política de crise e da política económica da nova direita: Ao mesmo tempo que falava de capitalismo de saque, descrevia os mercados financeiros como uma ameaça à democracia e via a política nas mãos do lobby do capital, também defendia a expulsão da Grécia do euro, criticava o défice de legitimidade da zona euro e assinava uma declaração contra a "imigração ilegal" para a RFA em 2015.

O profeta reaccionário Otte, que, como ele próprio admite, mantém bons contactos com Wagenknecht, move-se na zona cinzenta entre a AfD e a CDU. Membro dos democratas-cristãos desde 1991, foi uma das primeiras personalidades conservadoras da CDU a envolver-se no ambiente da AfD. Em 2018 tornou-se presidente do conselho de administração da Fundação Desiderius Erasmus, próxima da AfD, que só deixou após uma pressão maciça em Janeiro de 2021. Desde Maio de 2021, o profeta do crash é presidente da União dos Valores, que funciona como uma charneira conservadora para a nova direita.

 

Otte é demasiado cauteloso para argumentar de modo abertamente anti-semita. Os momentos de anti-semitismo estrutural são muito mais pronunciados em autores menos conhecidos da frente transversal, como Ernst Wolff as maquinações de Wolff tornam clara a rapidez com que uma pseudo-crítica truncada do capitalismo, centrada nos mercados financeiros e em conspirações obscuras, pode conduzir ao pântano castanho. Actualmente, o autor publica na Promedia Verlag, próxima de Wagenknecht, do editor austríaco Hannes Hofbauer, que se considera de esquerda e que também escreve artigos em publicações nominalmente de esquerda, como o Freitag de Augstein ou o órgão da frente transversal Telepolis.

Entretanto, Hofbauer está a escrever livros que – na linha de Wagenknecht – praticam a "crítica da migração" e que supostamente legitimam o isolamento da Europa a partir de uma perspectiva pseudo-esquerdista. De facto, a propaganda da AfD está a ser feita aqui através de frases feitas de esquerda e social-democratas como a referência à desigualdade global (cf. Hofbauer 2018).

Neste meio de frente transversal Wolff também pode florescer e publicar plenamente actualmente, por exemplo, o seu ajuste de contas com Wall Street, que serve todos os clichés anti-americanos e das teorias da conspiração. A sua primeira obra de 2014, "Weltmacht IMF: Chronik eines Raubzuges" (Poder Mundial do FMI: Crónica de um saque), já estava repleta de insinuações correspondentes que serviam um "estilo latente de teoria da conspiração" e se referiam a sinistros "poderes despersonalizados, serviços secretos e estrategas", como diz uma crítica. (7) O murmúrio sobre conspirações obscuras corresponde à forte personalização dos processos económicos (de crise), que são atribuídos à pulsão de enriquecimento de actores individuais. Na sua porcaria de obra "O Tsunami Financeiro" (2017), os mercados financeiros são estilizados como uma superpotência por detrás da qual se diz que forças sinistras puxam os cordelinhos, controlando a Reserva Federal dos EUA. É claro que Wolff completamente alinhado com a esquerda regressiva vê o fetichismo, o automovimento do capital especialmente nos mercados financeiros como uma ilusão, uma ofuscação deliberada da realidade fornecida pelos media, por detrás da qual se escondem os verdadeiros interesses dos verdadeiros dirigentes dos mercados financeiros. Já em 2016 o autoproclamado especialista em mercados financeiros deu uma palestra no "congresso do conhecimento" da AfD, onde acreditava que o mundo era "completamente dominado pela indústria financeira".

De facto, aqui a "economia financeira" com a Reserva Federal torna-se uma palavra de código para a "conspiração mundial judaica", uma vez que, segundo Wolff, desempenhou um papel oculto e decisivo em quase todos os grandes acontecimentos históricos: A Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa que ficou fora de controlo, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria – todos foram financiados e iniciados pelos poderes por detrás da Reserva Federal e da Costa Leste para lucrarem com eles. Após a derrota dos nazis, a Fed criou Bretton Woods, um sistema "inteiramente adaptado às necessidades de Wall Street e que subjuga o mundo inteiro ao domínio do dólar americano". Wolff dá assim um excelente exemplo de anti-semitismo estrutural, ligando o ressentimento anti-americano da RFA, em ascensão política, à velha crença anti-semita na conspiração mundial judaica, para falar de forças sinistras por detrás da Fed ou de Wall Street, em vez do judeu. No seu livro Wolff of Wall Street (que é uma transcrição do seu programa com Ken Jebsen) há passagens que estão bastante ao nível de Stürmer. Por exemplo, diz: "O sector financeiro, que outrora emergiu da economia real, é agora como um tumor (!) que está gradualmente a drenar toda a vitalidade (!) do seu hospedeiro (!) e atingiu agora uma fase em que só a sua remoção radical (!) pode ajudar a manter o hospedeiro vivo" (Wolff 2020, 18).

 

Uma vez que o anti-semitismo directo não pode ser articulado (demasiado abertamente) na República Federal Alemã, as narrativas de conspiração correspondentes atingem um elevado grau de diferenciação. Poder-se-ia falar de uma variedade de ofertas de mercado que têm uma coisa em comum: a conspiração obscura por detrás das tendências de crise. Um exemplo particularmente bizarro desta diversidade de narrativas de conspiração é dado pelo keynesiano e jornalista do Handelsblatt Norbert Häring, que se entrega a especulações sobre uma grande conspiração monetária. Häring (tal como Wolff) acredita que uma conspiração está a trabalhar para abolir o dinheiro vivo, de modo a que os bancos comerciais possam controlar a criação de dinheiro. Os conspiradores estariam a trabalhar no Tesouro dos Estados Unidos, no BCE, na Universidade de Harvard, no MIT, no Grupo dos Trinta, na Conferência de Bilderberg, na Goldman Sachs, no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial, para retirar o dinheiro aos cidadãos. Também aqui se processa inconscientemente a dinâmica da crise: Esta idealização absurda do dinheiro vivo é motivada pelo medo da expropriação, que aflige sobretudo a pequena burguesia e a classe média alemã devido ao surto de desvalorização iminente.

As tendências anti-semitas também parecem ser virulentas em Häring – cujo delírio, acima de tudo, torna claro quão fino é o gelo civilizacional, especialmente dentro da casta de economistas alemães, que já co-fundou a AfD – como observou o publicitário judeu Alan Posener por ocasião de um debate com o ideólogo da conspiração. Häring, tal como a maioria dos teóricos da conspiração, tem um ligeiro "parti pris contra o judeu", disse Posener, em reacção às acusações de que estaria a criticar o líder da direita do FDP, Wolfgang Kubicki. Häring tem uma opinião semelhante à do seu amigo e parceiro de entrevista Ken Jebsen: "Os que estão lá em cima manipulam-nos para manter o seu domínio mundial". (8)

 

6. Alucinação de crise e pulsão de morte

A ideologia, mesmo nas suas bizarras formas alemãs, tem sempre uma porção de realidade distorcida, que aponta precisamente para a sociedade cheia de contradições em cujo seio é incubada. Isto tornou-se óbvio no decurso da pandemia que produziu um verdadeiro viveiro das mais absurdas narrativas de conspiração com o movimento de direita dos pensadores transversais e que ilustra a desintegração muito avançada da hegemonia ideológica do neoliberalismo. Os seguidores deste grande e muito diversificado movimento conspirativo alemão não são extraterrestres nem reptilóides. As massas que celebram abertamente a sua alucinação pré-fascista são carne da carne apodrecida do capitalismo tardio, são personificações da irracionalidade autodestrutiva do capital que se revela abertamente na crise, e que acaba por conduzir a uma pulsão de morte, como será explicado mais adiante.

O novo movimento de alucinação alemão tem algo para todos: Desde a conspiração de Bill Gates, a crença no homem lagarto, a ideia alucinada de ter chips de controlo implantados através de campanhas de vacinação, até aos absurdos do complexo conspirativo QAnon ou às histórias sobre o "Great Reset" das elites, que afinal apenas reflectem a próxima vaga de crise de uma forma ideologicamente distorcida. Mas todas estas narrativas erróneas podem, de facto, ser reduzidas a um denominador comum: o fetichismo do capital vindo à luz do dia nas suas contradições na crise.

A experiência da heteronomia sob o capital constitui o terreno fértil da mania da conspiração, que tende a derivar para o anti-semitismo. As pessoas que enlouquecem com a escalada das contradições da relação do capital procuram algum tipo de apoio porque sentem que não controlam as suas próprias vidas, porque suspeitam que a humanidade não consegue controlar a sua própria sociedade, porque estão expostas à dinâmica cegamente furiosa do capital em amoque, que devasta regiões inteiras, na verdade o mundo inteiro, tanto social como ecologicamente. É a insanidade de um mundo capitalista tardio irracional, em colapso devido às suas contradições, que encontra a sua expressão político-ideológica na alucinação de massas e é precisamente isso que dá a este movimento pré-fascista de pensadores transversais, a este "novo centro" insano da República Federal Alemã, que na realidade não passa de uma mutação do lixo dos Pegida castanhos, as suas notáveis perspectivas para o futuro.

Mas, na verdade, mesmo estas personificações estruturalmente anti-semitas da dinâmica fetichista do capital também são apenas fenómenos ideológicos de superfície, que têm uma inerente pulsão de morte fascista correspondente à dinâmica de destruição do capital. Isto é evidente não só na luta da direita contra qualquer protecção climática séria, mas também no seu bizarro "medo da vacinação". É precisamente quando os "pensadores transversais" pré-fascistas negam ou minimizam uma pandemia que se torna óbvio que não estão apenas a pôr em perigo os outros, mas também a si próprios. A "batata assada em papel de alumíneo" alemã é um perigo para si própria. É um impulso autodestrutivo, uma pulsão de morte inconsciente, alimentada precisamente pela escalada da crise do capital. A motivação inconsciente e compulsiva de auto-aniquilação do nazi pensador transversal comum reflecte assim o curso global da crise do capital, que se desenrola em amoque e executa por meios racionais o seu insano fim-em-si até à aniquilação do valor.

A pulsão de morte latentemente inerente ao capital, tornada manifesta na sua crise letal, quer transferir o mundo para o nada, para o vazio bocejante que constitui a substância concreta da abstracção real do valor. É um niilismo sem sujeito que se desenvolve como resultado da crise: O mundo deve ser igualado ao olho negro da forma do valor, que está no centro do turbilhão de acumulação desenfreada de trabalho assalariado morto, que assola o mundo há cerca de 300 anos. Por conseguinte, em tempos de crise, mais depressa é remetido para a destruição tudo o que não é passível de ser transformado em mercadoria e valorizado através da venda no mercado, do que é afrouxado o controlo da máquina de valorização mundial sobre os seres humanos e a natureza. A destruição de bens invendáveis em tempos de crise, que, entretanto, são cada vez mais retirados do alcance das pessoas empobrecidas através de regulamentos legais correspondentes (por exemplo, através de leis contra a "busca em contentores de lixo") é apenas o resultado óbvio desta pulsão de auto-aniquilação.

E são precisamente as contradições da socialização capitalista, acentuadas devido à crise, que fazem nascer a vontade inconsciente de morrer em todos os indivíduos com uma fixação na autoridade, que não conseguem imaginar revoltar-se contra o mundo moribundo. O apego da ideologia capitalista tardia ao existente, que está obviamente em processo de decadência, aproxima-se assim de um suicídio, um suicídio por medo da morte do capital. Em última análise, a morte é inconscientemente procurada como uma saída para as crescentes contradições sociais que atravessam cada indivíduo. O nada da morte torna-se assim o último repouso perante a escalada das contradições da crise permanente do capitalismo tardio e o abismo que a acompanha entre a renúncia crescente às pulsões e as exigências sociais que já não podem ser satisfeitas.

Esta pulsão de morte fascista encontra a sua expressão violenta na correspondente forma "molecular" de terror, que muitas vezes se assemelha ao amoque apolítico. Os actos terroristas islâmicos e de extrema-direita são também confusamente semelhantes porque são perpetrados pelo mesmo motivo. O desarranjo mental, que passa de patogénico a patológico, caracteriza muitos dos perpetradores extremistas de direita e islamistas nos centros do sistema mundial. A carreira terrorista destes terroristas amoque, muitas vezes isolados, muitas vezes incapazes de relacionamento e de qualquer modo misóginos, vai assim do comum troll extremista dos fóruns, que povoa os fóruns da Internet às centenas de milhares, até ao perpetrador amoque do assassínio em massa (cf. o artigo de Kim Posster nesta edição da Exit!).

Seguindo o conceito de "guerra civil molecular" de Enzensberger, poder-se-ia falar de uma molecularização do terror – por exemplo, quando um nazi pensador transversal, devidamente condicionado nas redes sociais, dispara sobre um caixa de uma estação de serviço porque este lhe pediu para usar máscara na pandemia. Os criminosos são condicionados a assassinar num enxame de ódio baseado na Internet segregando cada vez mais loucas partículas elementares que levam a cabo a sua própria campanha pessoal de aniquilação por iniciativa própria. Esta tendência poderia ser descrita como individualização do terror se ainda houvesse indivíduos.

Mas não se pode falar de individualismo; trata-se de cascas de sujeito queimadas pela totalitária dissolução dos limites do capital, que nas suas alucinações de aniquilação pessoal executam a tendência de crise sistémica do capitalismo tardio autodestrutivo. Os perpetradores isolados, mentalmente perturbados, pouco capazes de criar laços humanos, agem como átomos sociais anti-sociais, como meras partículas elementares que aprenderam a odiar em "redes sociais" anónimas. Também aqui apenas está a ser levada ao extremo uma característica central da socialização capitalista devido à crise: a concorrência de mercado. Os átomos terroristas do ódio que o capitalismo tardio produz são apenas a consequência lógica da crise da reprodução mediada pelo mercado e pela concorrência no capitalismo, em que cada ser humano é uma mercadoria e todos têm de se comportar como concorrentes uns dos outros.

O termo guerra civil molecular, cunhado por Hans Magnus Enzensberger, resume a crescente transformação da concorrência de mercado em pura alucinação de destruição na actual crise sistémica. Os perpetradores, enquanto átomos (as)sociais, são assim excreções do extremismo desenfreado do centro, que explicita na crise o potencial irracional de destruição que sempre foi inerente ao capitalismo. Este "processamento" alucinado da crise pelos preparadores está a tornar-se a nova corrente dominante.

 

Bibliografia

Bedszent, Gerd: Marx von Rechts? – Über einen Versuch, rechte Krisenbewältigung mit linker Theorie zu unterfüttern, 2019, auf exit-online.org. Trad. port.: Marx de direita? Sobre a tentativa de alimentar a administração da crise de direita com teoria de esquerda, online: http://www.obeco-online.org/gerd_bedszent5.htm

Hofbauer, Hannes: Kritik der Migration [Crítica da migração], Wien 2018.

Konicz, Tomasz: Der linke Blödheitskoeffizient, 2020, auf exit-online.org. Trad. port.: O coeficiente de estupidez da esquerda, online: http://www.obeco-online.org/tomasz_konicz13.htm

Kurz, Robert: Die Demokratie frisst ihre Kinder – Bemerkungen zum neuen Rechtsradikalismus, in: Edition Krisis (Hg.): Rosemarie Babies – Die Demokratie und ihre Rechtsradikalen, Unkel Rhein/Bad Honnef 1993, 11–87.  Trad. port.:  A Democracia Devora Seus Filhos, Consequência, Rio de Janeiro, 2020.

Meyer, Thomas: Kleinbürgerliche Hirne in der Krise – Die ›Zombifizierung‹ des Geistes und der Niedergang des Kapitalismus, 2020, auf exit-online.org.  Trad. port.: Os cérebros pequeno-burgueses na crise – A 'zombieficação' da mente e o declínio do capitalismo, online: http://www.obeco-online.org/thomas_meyer17.htm

Trenkle, Norbert: Die Kopfgeburten des Herrn Alain de Benoist – Anmerkungen zum Versuch einer Aneignung der Wertkritik von Rechts [As propostas irrealistas do mestre Alain de Benoist – Notas sobre a tentativa de apropriação da crítica do valor pela direita], 2019, em krisis.org.

Wolff, Ernst: Wolff of Wall Street: Ernst Wolff erklärt das Finanzsystem [Wolff de Wall Street: Ernst Wolff explica o sistema financeiro], Wien 2020.

 

 

(1) Como os "pensadores transversais" exploram a situação das vítimas das cheias, t-online.de, 20.7.2021.

(2) Alain de Benoist em conversa sobre a obra da sua vida, parte 2, sezession.de, 5.12.2014.

(3) Para uma discussão crítica do valor de Benoist, ver Bedszent 2019 e Trenkle 2019.

(4) "É tudo uma questão de influenciar as mentes" – Instituto para a Política do Estado, bpb.de, 7.7.2016.

(5) A conspiração, focus.de, 17.11.2018.

(6) Para além de Markus Krall, sobre o qual já se escreveu noutro lugar, cf. Meyer 2020. Cf. também as contribuições do sociólogo Andreas Kemper: andreaskemper.org.

(7) Crítica: Weltmacht IMF: Chronik eines Raubzugs, pw-portal.de, 09.04.2015.

(8) Norbert Häring e Ken Jebsen, starke-meinungen.de, 26.11.2017.

 

 

Original “Von Crashpropheten, Putschisten, Preppern und Krisenprofiteuren Rechte Ideologie in der Krise” in revista exit! nº 19, 2022, p. 67-81. Tradução de Boaventura Antunes

 

 

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