Entrevistas com

Robert Kurz

Superação da Forma

Entrevista de Wilhelm Beermann

a Robert Kurz

"Acho que há aqui um mal-entendido. A crítica do capital não é automaticamente uma crítica da forma social, da própria forma da mercadoria. Esse é o problema central. Referir-se à forma da universalidade, no sentido em que se diz que há aqui uma autocontradição, isto é, que a forma da universalidade não é tão universal como diz – isso é um mal-entendido para mim. Pois a forma que está aqui em questão, a conotação que ressoa aqui, é naturalmente a universalidade de tudo o que tem o rosto humano, num sentido positivo. Mas se a virarmos e dissermos que esta universalidade, esta abstração da forma, é que é em si negativa, então também podemos identificá-la com a forma da mercadoria, sendo que todos estamos entretanto na forma da mercadoria, e também na subjectividade. E agora, na medida em que elas hoje se tornam assim, ou se tornaram reais, a negatividade dessa universalidade também emerge, e terá de ser criticada como tal. Assim, não mais em sua autocontradição, onde a universalidade ainda teria de ser redimida, mas na superação dessa universalidade abstracta em si e, portanto, na superação da liberdade e da igualdade, que como abstrações puras que são nada mais reflectem do que a liberdade e a igualdade da própria forma. Isso – penso eu – é uma diferença decisiva relativamente a Theunissen. O que ele refere, na verdade, é apenas a história da imposição, na qual ainda fazia sentido a queixa em relação às massas de trabalhadores, aos povos coloniais, etc., que ainda não estavam na forma da mercadoria; pois, naturalmente, não pode haver retorno para trás dessa modernidade. E os conteúdos de emancipação que estão nessa modernidade foram reclamados também por aqueles que estavam fora. Mas este é o problema da história da imposição da própria forma da mercadoria, que as massas subordinadas, os povos coloniais, e, não menos importante, as mulheres, reclamaram para entrar nesta universalidade da forma da mercadoria como sujeitos plenamente válidos, e só neste contexto se encontra a referência central da autocontradição. Mas, na medida em que isso se concretizou, a própria forma se torna o problema."

A Superação da Forma - (Entrevista de Wilhelm Beermann a Robert Kurz; Maio de 1992) Deutsch

 

ENTREVISTA À REVISTA ON-LINE “TELEPOLIS” (18-19.07.2010)

(Hannover, Alemanha)

 

A entrevista seguinte, organizada por Peter Jellen, foi publicada em duas partes na "Telepolis" de 18 e 19 em Julho de 2010.

 

Sr. Kurz, nos últimos três anos, a crise económica deu origem a três fases de transformação: da crise do imobiliário à crise financeira, da crise financeira à crise económica e da crise económica à crise monetária. Até que ponto é possível explicar essas três fases de escalada da crise com o seu conceito de crise económica geral do capitalismo?

 

Essas três fases de transformação constituem apenas a aparência dos fenómenos. A crise do imobiliário foi o detonador de uma crise de endividamento e financeira que há muito estava latente. Ela não teve origem nos chamados excessos especulativos contra uma economia normal em si "saudável", pelo contrário, as bolhas de dívida e as bolhas financeiras é que foram resultado de uma falta de valorização real do capital. Desde logo, a superstrutura do crédito não é nenhum factor externo, mas sim parte integrante da produção capitalista de mercadorias e com ela entrosada. Nas últimas duas décadas, esta relação interna tem aumentado, até à dependência estrutural da chamada economia real relativamente aos mercados financeiros. Por isso a crise financeira tinha de levar a uma queda histórica da economia...

Entrevista à revista on-line "TELEPOLIS" - Robert Kurz; Julho de 2010 Deutsch

A TEORIA DE MARX, A CRISE E A ABOLIÇÃO DO CAPITALISMO

Perguntas e respostas sobre a situação histórica da crítica social radical

Nota: A entrevista que se segue constitui a introdução a uma colectânea de análises e ensaios do autor, a publicar em França.

A crítica do valor é sempre confrontada com a seguinte objecção: Se não houver um sujeito de classe revolucionário, um grupo social por natureza portador da consciência, que interesses haverá então que levem a querer uma sociedade fundamentalmente humana e verdadeiramente histórica?

O conceito de sujeito, no fundo, é paradoxal, é um conceito fetichista. Por um lado, o sujeito é entendido como uma instância de pensamento e de acção autónomos. Por outro lado, porém, este mesmo sujeito, justamente na sua qualidade de sujeito revolucionário de classe, deve ser condicionado de modo puramente objectivo. Ele deve ter "objectivamente" uma "missão histórica", independentemente de os seus titulares empíricos saberem disso ou não. A suposta autonomia de pensamento e de acção desmente-se a si mesma se assenta numa pré-determinação inconsciente. É como se a crítica radical não fosse uma acção da consciência, livre e não-determinada, mas sim um mecanismo causalmente condicionado, como o tempo ou a digestão. A função da consciência seria então, apenas, consumar conscientemente a própria causalidade. Mas essa é precisamente a determinação fetichista do pensamento e da acção no domínio do capital. Se a emancipação enquanto sujeito, embora consciente, só deve ocorrer como um processo natural ou mecânico, então será o contrário de si mesma. Pode-se determinar objectivamente os mecanismos cegos do capital, mas não a libertação da falsa objectividade, libertação essa que não pode voltar a ser de novo objectiva. A libertação é um facto histórico e, portanto, não pode ser teoricamente “deduzida”, como a queda tendencial da taxa de lucro. O famoso "sujeito objectivo" do marxismo tradicional não é senão uma categoria do próprio capital, ou uma função do "sujeito automático" (Marx) do trabalho abstracto e do valor. Não existe nenhum grupo social no capitalismo que tenha uma pré-determinação ontológica transcendente. Todos os grupos sociais são pré-formados pelo valor e, portanto, constituídos de modo capitalista. Quando se fala de "interesses" é preciso fazer uma distinção. Há, por um lado, os interesses vitais das pessoas, de conteúdos materiais, sociais e culturais, que são idênticos às suas necessidades históricas. Estes conteúdos estão, por outro lado, amarrados à forma capitalista. O conteúdo real das necessidades é assim visto como secundário; apenas o interesse capitalista, constituído sob a forma de dinheiro (salário e lucro), é imediatamente percebido. Claro que é inevitável que as necessidades reais ou interesses vitais sejam reivindicados em primeiro lugar na forma capitalista vigente. No entanto, se a diferença entre o conteúdo e a forma deixar de ser vista, esse interesse vira-se contra os seus titulares: estes tornam então os seus interesses dependentes, para a vida e para a morte, de que a valorização do capital funcione. Reduzem-se a si mesmos a um “sujeito objectivo" que entrega a sua vida às leis do capital e considera essa submissão normal. Pelo contrário, é importante declarar o conteúdo real das necessidades como absolutamente inegociável. Somente então existe a possibilidade de intensificar a tensão entre a forma capitalista e este conteúdo, até à crítica que transcenda para além do capital. Isso não será acto de um "sujeito objectivo”, mas de seres humanos, que apenas querem sê-lo e nada mais. Um movimento emancipatório não tem qualquer fundamento ontológico pré-consciente, pelo contrário, tem de constituir-se a si mesmo, “sem rede nem fundo duplo”.

A teoria de Marx, a crise e a abolição do capitalismo - Robert Kurz; Maio de 2010 Deutsch

Entrevista à revista brasileira “IHU online”

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, S. Leopoldo, Porto Alegre  

Entrevista à Revista Brasileira "IHU online" - Robert Kurz; Março de 2009 Deutsch Español Revista IHU

ENTREVISTA À REVISTA ONLINE PORTUGUESA “SHIFT”, ZION EDIÇÕES

Estamos, portanto, perante uma “ruptura estrutural” de ordem superior. Se até agora se falava de uma “crise estrutural” do capital, por exemplo no contexto da “teoria das ondas longas”, era apenas em relação à “transição” para um novo “modelo de acumulação”. A crise devia ter apenas a função de “limpeza”, a fim de abrir caminho para o próximo surto histórico de valorização em nova base tecnológica. Esse foi o famoso conceito do economista Joseph Schumpeter da potência do capital como “destruição criativa”. Mas o final da era fordista não trouxe qualquer ruptura estrutural “criativa”, no sentido de um novo “modelo de acumulação”. A muito invocada transição para o chamado “pós-fordismo” não passava de uma fórmula vazia. O que então aconteceu não foi senão a transição para a era historicamente breve da famigerada “economia das bolhas financeiras”, em que o sistema de crédito foi inflado, muito para além da capacidade minguante de produção real de valor, de maneira historicamente sem precedentes.

Entrevista à Revista Online Portuguesa "SHIFT", ZION EDIÇÕES - Robert Kurz; Novembro de 2008 Deutsch Italiano

ENTREVISTA À REVISTA ON-LINE “TELEPOLIS”

(Hannover, Alemanha)

Entrevista à REVISTA ON-LINE "TELEPOLIS" - (Robert Kurz; Outubro 2008) Deutsch English

ENTREVISTA À REVISTA IHU ON-LINE

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, S. Leopoldo, Porto Alegre, Brasil

Entrevista à REVISTA IHU ON-LINE - (Robert Kurz; Outubro 2008) Deutsch Revista IHU

Entrevista com Robert Kurz

REVISTA CARTA CAPITAL (S. PAULO)

Quando O Colapso da Modernização foi publicado, no início dos anos 90, o sociólogo e ensaísta alemão Robert Kurz foi chamado de catastrofista por seus críticos. Não era para menos. Sua tese central, ainda hoje presente em artigos e livros, afirma que o capitalismo mundial encontra-se em rota de colisão desde o surgimento da microeletrônica. As novas tecnologias aumentaram de forma exponencial a capacidade produtiva das empresas, argumenta Kurz, na mesma medida em que passaram a demandar cada vez menos mão-de-obra. Um movimento inverso, portanto, ao do fordismo, quando a produção crescente puxava o número de empregos e garantia renda para o consumo, em um ciclo virtuoso do capital.

Os tempos são outros, garante Kurz, e hoje o resultado dessa equação não leva a nada de bom: avançando contra seus limites econômicos e ambientais, o capitalismo evolui rumo a um ‘acidente fatal’, cujos indícios são as sucessivas crises financeiras que têm colocado em alerta as economias centrais. “Se a humanidade não encontrar o freio de emergência, este trem poderá descarrilar”, afirma na entrevista a seguir. (Luiz Antonio Cintra)

Entervista Carta Capital (S. Paulo)  - Robert Kurz; Maio de 2008 CARTA CAPITAl Deutsch

RESPOSTAS À "JÜDISCHE ZEITUNG [REVISTA JUDAICA]"

Robert Kurz - Respostas à "Jüdische Zeitung [Revista Judaica]" - Setembro de 2006 Deutsch

Robert Kurz em entrevista a José Galisi Filho

Revista Trópico, Setembro de 2006

Quando se fala no fim da modernização, à qual paradigma estamos ainda nos referindo?

Robert Kurz: O conceito de moderno é bastante mutável e apreendido de maneiras inteiramente distintas, dependendo do contexto no qual se argumenta. Entre os históriadores, por exemplo, existe o conceito de "pré-moderno", datado entre os séculos 16 e 17, e o moderno compreenderia todo o processo histórico a partir dessa época. Já na filosofia, o início do moderno é frequentemente assimilado ao Esclarecimento (ou Iluminismo) do século 18, ao qual todas as teorias e ideologias posteriores até hoje se referem direta ou indiretamente. Para a maioria dos economistas e sociólogos, por sua vez, o moderno começaria com a industrialização no início do século 19, da qual se origina uma história das diversas revoluções industriais, que culminaria hoje na terceira revolução industrial da microletrônica.

No campo da arte e da cultura, o conceito de moderno se estabelece de maneira marcante na reflexão apenas no século 20, antes da Primeira Guerra Mundial, não se estendendo como "clássico moderno" além das décadas de 50 e 60, quando parece se esgotar e desembocar no assim chamado pós-moderno.

Do campo da arte e do aparelho cultural, o tema do fim do moderno e do início de um pós-moderno estendeu-se, neste entretempo, para a filosofia, as teorias da história, a sociologia e até para a economia. A "nova economia" do capitalismo-cassino-internet foi descrita como um paradigma socioeconômico pós-moderno, como uma nova era de acumulação de capital e prosperidade, cuja bolha, de maneira patética, já estourou há alguns anos.

A desorientação parece tão completa, que Juergen Habermas já proclamava, no início dos anos 80, uma "nova intransparência". O problema consiste no fato de que, no desenvolvimento do moderno, a perspectiva da totalidade social e da história se torna cada vez mais fugidia. As ciências sociais se "diferenciaram", as teorias referem-se cada vez mais apenas a "partes do sistema". O conjunto se perdeu, e desse refluxo e vazio o pós-moderno fez precisamente soar sua hora no culto desta desconexão.

Robert Kurz em entrevista a José Galisi Filho; Setembro de 2006 English

Robert Kurz em entrevista a Sonia Montaño

Revista IHU On-Line, nº 188, 10.07.2006

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, S. Leopoldo, Porto Alegre, Brasil

A crítica radical também é uma crítica da moderna metafísica real, dos fundamentos do iluminismo, da vida quotidiana? Em que sentido?

Naturalmente, a crítica do valor também é uma crítica da vida quotidiana determinada por ele. A "abstracção real" social atingiu, no processo da modernização capitalista, todas as esferas da vida, da arquitectura, da estética e da cultura até dos hábitos alimentares (agro-business, fast food) e das relações pessoais. A nova crise global acelera a libertação do "indivíduo abstracto", no qual, ainda assim, a dissociação entre os sexos continua em acção. O valor e a concorrência universal a ele associada penetram até à intimidade e destroem todos os vínculos. As pessoas tornam-se susceptíveis e auto-referenciadas; o carácter narcisista e histérico pessoal e social dissemina-se em todas as situações sociais. A histericização da sociedade da crise nem sequer se detém diante da política, da ciência, dos grupos de crítica teórica, e nem mesmo do amor e da amizade. A denúncia pessoal e a ruptura pessoal substituem em toda parte a discussão do conteúdo. Sentimentos de concorrência, medo da ligação e do "compromisso", disposição psicodinâmica abstracta para o conflito em todos os sentidos e ânsia de "validação" pessoal ameaçam submergir qualquer conteúdo e até a própria crítica radical. Mesmo conteúdos teóricos e até os próprios sentimentos para com outras pessoas não passam de fichas de jogo intercambiáveis na "luta pelas posições". Os indivíduos tornam-se tão imprevisíveis como o clima e os mercados financeiros. Essa tendência sociopsíquica é socialmente condicionada e só pode ser suplantada no processo da revolução social, e não pela pedagogia, nem pelo controle social coercivo, na retorta de projectos neo-utópicos de "reforma da vida". Não obstante, é preciso descobrir como se pode opor resistência a essa tendência da crise interna do sujeito dentro dos movimentos sociais e dos grupos de reflexão teórica, para manter a capacidade de acção na crítica teórica e prática das relações em geral.

Robert Kurz em entrevista a Sónia Montano; Julho 2006 Deutsch

Robert Kurz em entrevista a Sónia Montano

Revista IHU On-Line (S. Leopoldo, Porto Alegre, Brasil), nº 136, 24.10.2005

5. Que tipo de compreensão da sociedade e do trabalho existe por trás de um trabalho colectivo "sem direitos de autor", que pode ser apropriado e modificado à vontade, uma vez que se realiza sem a mediação do dinheiro?

Trata-se de um utopismo neo-pequeno-burguês, que se restringe à esfera da circulação. O que aqui é designado como "produção", não é mais do que um prolongamento da circulação e do consumo. A Internet é essencialmente um meio de circulação. Por isso, esse utopismo também pretende suplantar o dinheiro puramente na circulação, enquanto "dar e receber" sem custos e sem controle, enquanto o "trabalho" é mantido como ilusão, ao invés de criticá-lo. O propagado carácter "imaterial" se refere aí a um manuseamento meramente combinatório de módulos pré-fabricados. Uma vez que continuam pressupostas as condições sociais do capitalismo, só podem ser sujeitos da concorrência os que exercem a pretensa "livre apropriação". A "disponibilidade abstracta" de textos e de outros produtos, separada do conteúdo da "apropriação", é apenas o prolongamento do formalismo jurídico vazio, mas sem "direitos de autor" individuais. Os produtores intelectuais são transformados em caça livre; cada galo concorrente pode copiar sem receio e apresentar os produtos como seus. A crise do "trabalho abstracto" é também uma crise da identidade masculina; por isso esta ideologia se dirige não por último contra as autoras, que devem ser intelectualmente despojadas por homens precarizados. Isso não é emancipação, mas sim falta de vergonha. Ao mesmo tempo, é uma pretensão de poder formal. A força repressiva das empresas só é substituída pelo poder igualmente repressivo de um colectivo coercivo de sujeitos da concorrência desenfreada. Não existe uma mudança emancipatória através dum princípio formal geral e abstracto. Coisa diferente seria um acordo livre de indivíduos, que se unissem numa associação, em que determinadas regras capitalistas seriam desactivadas (por exemplo, o livre aproveitamento de recursos de uma biblioteca administrada colectivamente). Tais elementos de uma concreta contracultura não têm, no entanto, nada a ver com um formalismo abstracto como o princípio do "copyleft".

Robert Kurz em entrevista a Sónia Montano; Outubro 2005 Deutsch

Agência Carta Maior - Entrevista com Robert Kurz (Vídeo); Janeiro de 2005

RUMO À BARBÁRIE

Entrevista com ROBERT KURZ Revista FORUM, nº 24

Rumo à Barbárie - Entrevista - (Robert Kurz; Janeiro 2005)

EUA fazem guerras para manter controle da ordem global

Em entrevista exclusiva, o filósofo e historiador alemão Robert Kurz, que participa pela primeira vez do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, diz que as guerras promovidas pelos EUA criam um regime de estado de sítio global que controla a maioria "inutilizável" da população mundial.

EUA fazem guerras para manter controle da ordem global (Entrevista) - (Robert Kurz; Janeiro 2005) Español

"O COLAPSO DA MODERNIZAÇÃO" - 15 ANOS DEPOIS

Entrevista à Revista "Reportagem", São Paulo, Outubro de 2004

A humanidade não está preparada, mas tampouco tem outra escolha.

"O COLAPSO DA MODERNIZAÇÃO" - 15 anos depois  (Entrevista) - (Robert Kurz; Novembro 2004) (pdf) Deutsch Español

Imperialismo RELOADED?! (vídeo) - (Robert Kurz - Junho de 2004) Deutsch  Português

Parlamento deixou de responder às questões sociais

Em que consiste a teoria da Crítica Radical? Esse novo conceito levaria a não acreditar no parlamento?

Robert Kurz - Penso que o problema é a crise da política, as instituições, não apenas os partidos políticos, mas os próprios governos, que perderam no processo da globalização a capacidade para a regulação da sociedade. Quer dizer, a antiga relação de economia e política já não existe mais. Com isso, também as relações sociais passaram a atuar diretamente no mercado mundial e o mercado mundial está diretamente incrustado nos pólos da sociedade e, inclusive, nas suas microestruturas. Por essa razão, digo que os movimentos sociais que queiram produzir efeitos não podem mais trilhar o caminho antigo da política tradicional. Em todos os parlamentos, em todos os governos, são instituições nacionalmente restritas.

Entrevista ao Diário do Nordeste - Fortaleza - (Robert Kurz; Setembro de 2004)

IHU On-Line - Como caracterizaria a sociedade a qual o grupo Krisis aposta?

Robert Kurz - Infelizmente, tenho que dizer que o grupo crise (Krisis) vigente até agora, não mais existe. O grupo se desfez, porque havia divergências sobre a crítica do Iluminismo social e a forma de sujeito moderna masculina. A respeito disso, algumas pessoas queriam ter o mérito de nossa polêmica. A maioria da até agora atual redação de Krisis publica uma nova revista teórica chamada EXIT!. Tais quebras já conhecemos da história dos esquerdos. Ao que parece, eles não se deixam intimidar sob as novas exigências. Uns ficam parados, outros vão adiante. Mas isso não muda nada no caráter social da iniciativa. O novo grupo também é uma associação livre para a teoria crítica fora das instituições acadêmicas. Nós não somos, no sentido dogmático da palavra, anti-acadêmicos, mas sim, também contamos com pessoas do serviço institucional de ciências. Trata-se de saber se se levará a crítica emancipatória para as universidades. Isto só será possível através de uma posição independente institucional e não só de conteúdos. Talvez isto seja o futuro das reflexões críticas intelectuais, a saber, a auto-organização em grupos autônomos, os quais se desliguem das tutelas burocráticas.

Entrevista ao Unisinos - (Robert Kurz; Abril 2004) Deutsch Español English

Fazemos hoje, voluntariamente, coisas que antes os homens se recusavam a fazer ou, pelo menos, de que reclamavam, tendo de ser chicoteados para realizá-las.

A crítica radical de Robert Kurz - Entrevista - (Robert Kurz; 2001)

"...O fim do capitalismo está definido pela chamada terceira revolução industrial - a revolução tecnológica, eletrônica. Uma grande quantidade de força de trabalho é expulsada da produção industrial, que não consegue reabsorver. Não há um processo de compensação, mas um processo de expulsão contínua. A acumulação de capital não é outra coisa que a transformação do trabalho em valor, do trabalho em dinheiro. Por isso, a expulsão da força de trabalho nessa quantidade, nessas dimensões, não encontra limites. Eis a causa de, hoje em dia, as condições da economia real serem cada vez menores às condições do capital fictício, da especulação...

O "capitalismo cassino" levará ao fim - Entrevista - (Robert Kurz; Novembro 2000)

A Internet continuará sendo uma mídia subversiva. Quanto mais importante o papel tecnológico da rede, menores serão as possibilidades de controle pelo Estado, polícia ou conglomerados. Ninguém conseguirá pôr "ordem" durante muito tempo nesta mídia universal. As relações capitalistas de direito e propriedade também não podem mais ser impostas com rigor na Internet.

A Nova Economia e a Internet -Entrevista - (Robert Kurz; Novembro 2000)

Uma vida humana? Só sem mercado, estado e trabalho. Robert Kurz fala sobre o seu novo livro; "O Livro Negro do Capitalismo" Schwarzbuch Kapitalismus: ein Abgesang auf die Marktwirtschaft Frankfurt am Main, Eichborn Verlag, 1999

Robert Kurz fala sobre o Livro Negro do Capitalismo (2000) Español

"O Estado, por sua vez, também no socialismo de Estado não ultrapassou essa racionalidade administrativa das empresas individuais... Penso que isso é um tabu que mostra o quanto somos supersticiosos, como os "selvagens". Isto é, em relação ao moderno fetichismo do mercado e do Estado, somos supersticiosos e temos medo, como aquelas pessoas que acreditam em espíritos malignos."

Robert Kurz - Entrevista à Revista Adusp (Dezembro 1998)

Como o homem pode ser feliz, se é que ele pode ser feliz?
Kurz – Isso é uma história antiga na filosofia... Não existe uma felicidade absoluta. Se houvesse, ela seria igual à infelicidade. Eu acho que você só pode ver a felicidade em relação a alguma coisa. Na nossa sociedade, hoje em dia, há um conceito errôneo de felicidade: "a felicidade é poder comprar bastante". Porém, o mais importante são as relações humanas, que libertam. Para tal você não precisa acabar com os bens de consumo. Mas se você é infeliz nas relações humanas, não consegue a felicidade por meio de uma mountain bike ou de um videocassete...

Robert Kurz - Entrevista à Revista ISTO É (Novembro 1998)

Sociólogo comenta ação contra Microsoft. Monopólio vencerá governos, diz Kurz

Robert Kurz - Entrevista à Folha de S. Paulo (Julho 1998)

"A condição estrutural dessa crise é a globalização do capital monetário e a rede transnacional dos mercados financeiros, possibilitada pela tecnologia microeletrônica. As transações financeiras podem cruzar o globo em poucos segundos, e as crises financeiras locais se propalam com igual rapidez. O motivo da crise é a especulação dos grandes "hedge funds" com as "taxas de câmbio políticas" dos chamados países em desenvolvimento ou "new industrialized countries" (NICs). Os administradores de fundos chegaram à conclusão de que a industrialização voltada às exportações destes novatos já se esgotou e que as moedas desses países, atreladas ao dólar, estão em seu todo supervalorizadas. Mas a causa profunda da crise, segundo meu ponto de vista, está no fato de que os próprios países ocidentais industrializados atingiram, já desde a década de 80, os seus limites internos absolutos de crescimento. Numa visão sinóptica, trata-se de um problema de fundamento do sistema capitalista mundial, que destrói a si mesmo..."

Robert Kurz - Entrevista à Folha de S. Paulo (Dezembro 1997)

"A antiga definição "exploração" sugere que os produtos estão sendo tirados dos trabalhadores e dados a outrem. Mas o problema é bem mais complexo. O capitalismo não é primordialmente uma sociedade na qual uns trabalham e outros aproveitam. Ele confundiu a relação entre meio e objectivo. O trabalho não é um meio para alcançar objectivos pessoais, mas auto-referência absurda de um sistema no qual as pessoas têm sido reduzidas a um meio. Nem os empresários são os sujeitos, mas sim peças de um mecanismo económico irracional. Por isso seria melhor, em vez de falar de simples exploração, usar o termo de desgaste abstracto da força de trabalho humano de uma forma mais pensada. Os homens são objectos de outros homens somente em segundo plano - em primeiro plano são o material de um mecanismo social. Essa teoria deve ser criticada radicalmente..."

Robert Kurz - Entrevista à Revista E (Dezembro 1997)

"No outro livro, "O Colapso da Modernização", procuro em várias passagens mostrar que, no mesmo sentido em que Marx falou da missão civilizatória do capital, esse desenvolvimento sempre comportou aspectos positivos, até emancipatórios..."

Robert Kurz - Entrevista à Folha de S. Paulo (Fevereiro 1994)

"O Leste concebeu-se como "mercado planificado", a autocompreensão do Ocidente favorece (ao menos no plano ideológico) o "mercado livre da economia concorrencial".

O colapso da modernização - Entrevista - (Robert Kurz; 1993)

"Sem dúvida nenhuma. Vejo a Escola de Frankfurt como uma base para todo o meu pensamento. Mas há dois procedimentos dentro da esquerda na Alemanha, ou na Europa, que seria melhor que deles nos afastássemos. Um deles é o das pessoas que aprenderam a idéia, mas estão colodas à idéia e ficam administrando o legado da Escola de Frankfurt. Outro procedimento é aquele das pessoas que acabam descartando as idéias da Escola de Frankfurt como se fossem uma camisa suja que precisa ser jogada no lixo. Toda idéia morre se ela não for levada adiante. É preciso conhecer as idéias de Adorno e Horkheimer, mas é preciso também retrabalhá-las, para que não morram."

Robert Kurz - Entrevista à Folha de S. Paulo (Setembro 1992)

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